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Atitudes e ideologies

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O controlo estrategico do conhecimento constitui um elemento crucial e ao controlo da compreens:io do discurso e, assim, no controlo do acesso ao discurso e ao con­ trapoder critico da contra-interpretai;ao e compreensao. No entanto, para alem do conhecimento, ha outras farinas cruciais no que hoje em dia genericamente se designa coma cognii;:io social,12tais como esquemas (schematas) de opini6es socialmente

partilhadas tradicionalmente conhecidas como atitudes.13 Enquanto o controlo do conhecimento influencia a compreens:io, o controlo das atitudes influencia a avalia­ <;iio. A aceita<;ao da guerra contra o Iraque, hem como a aceita<;ao da Guerra Fria contra os comunistas, anterior iquela, dependem crucialmente da sua legitimidade e justificai;:io, que por sua vez depende dos modos como o inimigo e as suas aci;5es s:io retratados nas noticias. Tai explica as imagens penetrantes e perfeitamente claras

12 Depois de um periodo mais comportamentalista na psicologia social, que se seguiu a abordagens cognitivas iniciais,

os fins dos anos 70 puseram de novo a psicologia social numa orienta\3.o mais cognitiva, com o uso extensivo da teoria cognitiva de esquema. Para uma introdu\3.0 e detalhes, ver Fiske e Taylor ( 1991) e \X'yer e Srull (1984). Encontramos uma abordagem de algum modo diferente na psicologia social francesa, por exemplo, nos estudos das "representa�i'ies sociais" de Moscovici e seus seguidores. Para uma colectiinea deste trabalho, ver Farr e Moscovici (1984). Infelizmente, nao temos espa\O neste texto para mostrar em detalhe o papel vital da cogni\iio social na !nfluencia e poder do discurso em geral, e das notfdas em particular. Embora haja v.irios estudos sabre a psicologia cognitiva das notlcias, niio ha estudos recentes que abordem a compreensao das noticias e a influencia do ponto de vista de uma teoria moderna da cogni\iio social (para uma discussao breve, ver van Dijk 1988a).

JJ O estudo das atitudes, mudani;a de atitudes e persuasiio constitui um capftulo maior na psicologia social tradicional, que gerou uma investiga�l\o experimental maci\a; contudo, e dada pouca aten\l\O as estruturas internas actuais, a organiza�iio e aos usos estratfgicos ou 3.s mudan�as de atitudes. As abordagens contempor.ineas tern um toque mais cognitivo (Eiser e van Der Pligt 1988; Petty, Ostrom e Brock 1981a, 1981b; Zanna, Olson e Herman 1987). Devido ao facto da amilise de o discurso ter sido negligenciada na psicologia social, a maioria dos estudoS sabre mudan\a de atitude, mesmo os que versam sabre a persuasiio verbal, niio tern uma dimensl\o textual evidente on not6ria (para discussiio, ver van Dijk 1990).

de "Impfrios do Mal", terroristas, ditadores, agress.io arbitr:iria e outras formas percebidas de amea,a it seguran,a de cada um e aos seus interesses legitimos. H:i muitos meios diScursivos que sugerem fortemente essas avalia�6es negativas "deles", incluindo fnfases hiperb6licas no comportamento obviamente "mau" e outros lances ret6ricos, coma as metclforas ou as compara�Oes ("Saddam Hussein

e

Hitler") que "nos" definem como vitimas e os definem a "eles" coma agressores do mal. A informa�ao que nao se encaixa neste processo avaliativo e a constru�ao de atitudes n.io ambiguas, como a morte de muitos milhares de iraquianos civis inocentes em consequencia <las bombas (niio tao inteligentes) dos Estados Unidos, serao colocadas em segundo piano, se nao forem completamente ocultadas. 14 Em suma, o controlo <las atitudes pode ser o resultado do controlo dos discursos da comunicac;.io de massa, hem coma dos seus t6picos, significados, estilo e ret6rica; o controlo do, exercido pelos pr6prios jornalistas ou, indirectamente, por aqueles que estes aceitam coma fontes credfveis. Obviamente, esses resultados dependem do acesso a fontes de informac;.io alternativas, do conhecimento e crenc;as produzidos pelas oposi,6es e de ideologias mais fundamentais. Estas ideologias sao definidas como o mecanismo b::isico das cogni�6es sociais de um grupo, isto

e,

como sistemas de normas e de valores que controlam a coerencia e o desenvolvimento de atitudes sociais mais especificas.15 As ideologias anti-clrabe, por exemplo, ser.io quase de certeza mais propiciadoras do desenvolvimento de atitudes sabre a Guerra do Gol­ fo, atitudes que por sua vez podem justificar essa guerra contra o agressor clrabe. Sera mostrado como as ideologias sabre rac;:a, classe, gfnero ou regi.io do mundo controlam a produi;ao e a compreens.io das noticias sabre minorias, mulheres, tra­ balhadores ou sabre o Terceiro Mundo.

A partir do momenta em que esses padr6es fundamentais de conhecimento, de atitudes e de ideologias estao devidamente enraizados devido it repeti,ao <las no­ ticias e outras formas de discurso pll.blico, eles "actuar.io" mais por si s6s quando as pessoas tfm de avaliar os acontecimentos noticiados. Depois de algum tempo passado, ha pouca necessidade de manipular de forma visive! o conhecimento espe­ cifico e as opini6es dos leitores em cada um dos casos. Uma vez dados os "factos" (cuidadosamente escolhidos), ainda que apresentados de uma forma aparentemente H Entretanto, apareceu uma literatura vasta sobre a cobertura da Guerra contra o Iraque. Ver, e.g., Greenberg & Gantz (1993), Hackett &Zhao (1994), Iyengar &Simon (1993), Kellner (1992), Media Development {1991), Rojo (1995). Para uma an<llise politica critica, ver tambem Chomsky (1992).

u Esta defini�iio cognitiva de ideologia diverge das abordagens filos6ficas e sociopo!iticas mais vagas desta no�iio, por exemplo, numa perspectiva marxista ou neo-marxista. Billig (1982) e Rosenberg (1988) estiio entre os poucos psic6logos sociais que abordam a ideologia (ver tambfm Billig 1991; Billig et al. 1988), embora esta abordagem esreja centrada actualmente no papel da ret6rica e dlscnrso, e niio na cognii;iio social (para uma abordagem discursiva, ver tambfm Seidel 1988; Thompson 1984; \Vodak 1989). As razOes para restringir a ideologia a um quadro fundamental de cogni�Oes sociais do interesse de grupos reside no facto de querermos distinguir essas ideologias da aci;iio social e polftica (claro que estas siio ideologlcamente monitorlzadas), do discurso, dos objectivos econ6micos e dos lnteresses ou das v<lrias institui'r6es (estatals ou niio) em que, ou arraves das quais, as ideologias siio adquiridas ou reproduzidas (ver,

e.g., Althusser 1971; Larrain 1979). Para estudos sobre ideologia e media, ver, por exemplo, Cohen e Young (1981 ),

Golding e Murdock (1979), Hall et al. (1980) e Kress (1983), entre outros estudos. Ver tambem van Dijk (1995b). 81

objectiva, os leitores produzirao eles mesmos os modelos preferenciais das elites e podem mesmo agir de forma conforme: um consenso activo substituir::i um consen­ timento passivo ou t::icito. Neste caso, o controlo ideol6gico

e

virtualmente total, ou "hegem6nico", precisamente porque o texto e a fala persuasivos passam a nao ser vistos como ideol6gicos, mas como verdades auto-evidentes, como

e

o caso do discurso dominante nos Estados Unidos. Por outro lado, nos paises ex-comunistas da Europa do Leste, o discurso oficial, por ser visto como obviamente ideol6gico, tinha um poder persuasivo muito limitado.

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