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Ver van Dijk (1993) para uma analise mais detalhada do papel das elites na reprodm;5.o do radsmo Aqui, o papel

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Racismo, media e outras institui�iies de elite

20 Ver van Dijk (1993) para uma analise mais detalhada do papel das elites na reprodm;5.o do radsmo Aqui, o papel

dos media e das suas rela\Oes com outras institui\Oes da elite e tambem discurido.

que "eles" devem ser tratados de um modo "correcto, mas justo", se nao for de um modo que e "para o seu pr6prio bem".

De igual forma, se a investiga�ao central nas ciSncias sociais, especialmente a feita por academicos escolares brancos, se centra nas propriedades dos grupos etnicos consistentes com estere6tipos prevalecentes (crime, desvio, drogas, cultura etnica, etc.), a imprensa seria tambem mostrara de modo proeminente esses "resultados". Relatos que confirmam estere6tipos negativos sao frequentemente noticias de pri­ meira pagina, mesmo que a maioria do trabalho academico dificilmente atinja as pclginas interiores dos jornais. Por outro lado, a pouca investiga�ao critica sabre discrimina<;3o ou racismo sera ou completamente ignorada ou explicitamente atacada coma sendo exagerada, ridkula, metodologicamente debil au simplesmente coma sendo "politicamente" tendenciosa.

Resumindo, a imprensa mainstream faz parte inerente de uma estrutura de poder dos grupos de elite e institui<;6es, cujos modelos da situac;ao etnica dao apoio (muitas vezes muito subtil e indirectamente) ao statu quo etnico de dominiincia do grupo branco. Enquanto que em muitos assuntos a imprensa pode, dentro de certos limites, ter um papel mais critico face a outros grupos de elite, isso raramente acontece no dominio dos assuntos etnicos. Politicos brancos ilustres, academicos, poHcia ou outros envolvidos na defini<;3o dos acontecimentos etnicos rem usualmente acesso imediato aos mass media. Por outro lado, as que siio capazes de dar definic;6es alternativas, como lideres <las minorias ou (outros) anti-racistas, os academicos mais criticos e os representantes dos (pequenos) partidos da oposi<;3o, nao s6 terilo pouco acesso, coma poderao ser explicitamente marginalizados e atacados quando vistas como uma amea<;a a hegemonia moral das elites dominantes, incluindo dos pr6prios media. Aas estudos criticos sabre o envolvimento dos media na reproduc;iio do racismo e negado de uma forma resoluta o acesso a estes; por isso raramente atingem o publico em geral.

Para proteger a sua imagem positiva e a sua face humanitflria, os media e outras elites nao banem completamente os protestos contra o racismo. Fazem-no, no entanto, ao identificar e criticar a extrema-direita como o Unico grupo que esta envolvido no racismo. As suas pr6prias posi<;6es nos assuntos etnicos, embora negativas, aparecerilo sempre nessa apresenta\3o coma sendo mais moderadas, tolerantes e humanas. A critica da direita racista implica assim uma nega\ilo do seu pr6prio racismo. Nao e surpreendente que os partidos racistas, mesmo quando engajados aberta e diariamente na discrimina<;ilo ou no incitamento ao 6dio racial, nao sejam proibidos coma organiza<;6es criminosas. Sao muito Uteis coma fronteiras sociais e politicas do consenso, coma bodes expiat6rios para o racismo geral, e coma ocasi6es para salvar a face. De igual modo, ao ignorarem as muitas formas de discrimina<;ilo quotidiana e de racismo, tambem nas institui<;6es de elite, os media podem levantar acusa\6es ocasionais contra individuos que romperam o consenso de uma forma muito clara, coma nos casos da discrimina<;ilo aberta levada a cabo pelas grandes empresas. As coberturas da imprensa <lesses casos podem ser extensas 88

agentes de mudani;a, a sua posii;ao ideol6gica e sociol6gica parece inconsistente com um papel de liderarn;a; os media raramente iniciam tal mudarn;a.

Genero

Exemplos e investigai;iio para apoiar os padr6es de genera abundam. A investigai;iio feminista tern mostrado amplamente a prevalencia do chauvinismo masculino nos

mass media, mesmo hoje, apesar dos modestos ganhos no emprego de mulheres

jornalistas e de produtoras de programas nos media e a aceitai;iio lenta de algumas das grandes exigencias do movimento das mulheres. 21 Apesar dos progressos socio­ econ6micos e das mudani;as ideol6gicas 6bvias, a maior parte do que dissemos para as minorias mantfm-se tambfm, embora de forma menos extrema, para a posii;a'.o das mulheres nos media e nas noticias. A maioria dos jornalistas sa'.o homens, e as mulheres rem menos acesso a posi�5es editoriais mais altas. Como fontes sa'.o menos credfveis, e logo menos citadas, e coma actores <las notfcias rem menos "noticia­ bilidade".

Virtualmente, todos os t6picos maiores s:io ta'.o orientados para os homens como o sao os domfnios sociais e politicos que eles definem. Os assuntos de genero rem pouca "noticiabilidade", a n:io ser que sejam modelados coma formas abertas de conflito ou como faits divers engrai;ados. 0 movimento das mulheres pode ser coberto, ate certo ponto, de uma forma benevolente, desde que na'.o seja "radical" e desde que as posii;oes dos homens niio sejam seriamente ameai;adas. 0 engajamento das mulheres no protesto polftico, por exemplo, contra armas nucleares, e relatado de uma forma c6mica desde que seja divertido, mas e ignorado, atacado ou marginalizado logo que aparei;a como demasiado serio, coma foi o caso das mulheres que sitiaram a base aerea dos Estados Uni dos em Greenham Common no Reino Unido. 22 0 sexismo como um problema estrutural da sociedade e negado ou atenuado, identificado com chauvinistas fora de moda. 0 assedio sexual pode ser coberto em casos espectaculares (como no caso das audii;6es de Hill-Thomas no Congresso dos Estados Unidos), mas e dificil ou relutantemente tornado como um problema diario serio. As contri­ buii;5es especiais <las mulheres tendem a ser ignoradas, especialmente em campos dominados pelos homens coma a polftica ou a ciencia. A sua preseni;a pequena em domfnios sem prestigio, como o crime e a guerra, e raramente reconhecida. Assim, o conteUdo e o estilo <las notfcias continuam a contribuir para atitudes estereotipadas sobre mulheres. 0 feminismo em si e ignorado, problematizado ou marginalizado. De uma forma geral, o pressuposto e de que os leitores sao homens.

11 Para mais detalhes sabre o papel do genera nos media, ver, por exernplo, Creedon (1989) e Tuchman, Daniels e Benet

(1978). Embora haja vllrios estudos sabre mulheres jorna!istas, surpreendentemente existem poucos estudos extensos sabre a representac;:iio das mulheres nos media. Para um estudo recente e mais referencias, ver van Zoonnen (1994).

n Ver Glinther (1988) e Hollingsworth (1986).

da situai;ao, nas entrevistas, nas citai;Oes, nos t6picos e no estilo da cobertura. Os trabalhadores nao sao definidos como fazendo parte da audiencia. Em suma, excepto em explicai;6es negativas dos conflitos ou em noticias sabre negociai;Oes com os seu lideres, os trabalhadores quase n3o sao visfveis.

Norte vs Sul

Na investigai;ao da comunicai;ao de massa tern sido dada muita ateni;ao critica ao fosso de informa<;ao e comunica,ao entre o Norte e o Sul.24 Dentro do quadro de assuntos como a descoloniza,ao, a independencia e o (sub)desenvolvimento, acade­ micos, jornalistas e politicos do Terceiro Mundo, apoiados por academicos crfticos do Primeiro Mundo, tern sublinhado a inexistencia de um balan,o na informa,ao internacional e no fluxo das notfcias. Estas ancllises criticas tfm-se centrado na na­ tureza tendenciosa das notfcias sabre o Terceiro Mundo, na dominiincia das agencias de notfcias ocidentais e das multinacionais de comunicai;ao, na hegemonia cultural do Ocidente (e especialmente dos Estados Unidos), nos programas televisivos, e por af em diante. Dada a ausencia de agencias de notfcias e a falta de correspondentes para os jornais no Terceiro Mundo, a maioria das notfcias sabre estes pafses, mesmo as que saem nos jornais nacionais, e canalizada atraves das agencias do Primeiro Mundo e apresenta inevitavelmente uma perspectiva ocidental. Como foi mostrado antes no caso da cobertura das minorias ftnicas nos Estados Unidos e na Europa, esta perspectiva branca, ocidental1 prefere noticiar acontecimentos que confirmam estere6tipos talhados para as expectativas dos leitores ocidentais.

Embora a cobertura mais recente tenha indubitavelmente ultrapassado a idade dos relates dos "golpes e tremores de terra" das dfcadas passadas, as suas carac­ terfsticas globais sao marcadamente diferentes da cobertura dos pafses ocidentais. Guerra, guerra civil, golpes de Estado, opressao, ditadura e violencia sao ainda a materia-prima dos relatos noticiosos sobre o Sul, especialmente quando podem ser interpretados como uma ameai;a ao Primeiro Mundo. 0 mesmo se passa com a pobreza, fome, o subdesenvolvimento, a miseria e - mais recentemente - as catclstrofes ecol6gicas. Se os acontecimentos sao colocados no seu contexto e se sao dadas explica,oes, tendem a atribuir a culpa em primeiro lugar as polfticas "retr6gradas" e ao comportamento das nar;6es, <las organizai;6es e dos politicos do Terceiro Mundo. Ao mesmo tempo, estas explica,6es poem em segundo piano os efeitos directos e indirectos ou os legados do colonialismo ocidental, as praticas corporativas, a intervenr;ao militar1 o comercio internacional e a politica. Por outro !ado, a ajuda ocidental e outras contribui,oes sao enfatizadas e apresentadas como

24 Algumas das maiores monografias e volumes editados a prop6sito do debate sabre o papel dos media nas relai;Oes

entre o Primeiro e o Terceiro Mundos, entre o Norte e o Sul siio Atwood, Bullion e Murphy (1982), Boyd-Barrett (1980), Hamelink (1983a), Richstad e Anderson (1981), Schramm e Atwood (1981), Smith {1980), Stevenson (1988) e UNESCO {1980).

beneficas e raramente como problem.iticas. Como no caso dos assuntos etnicos, o retrato global do Terceiro Mundo e organizado atraves de estrategias combinadas de auto-apresenta<;i'io positiva e de apresenta\i'i:O negativa do outro.

Para esta an.ilise do papel da imprensa nas estruturas de domin:lncia, estas conclus6es globais dao ainda mais fon;a a tese de que a imprensa adopta regra geral a perspectiva das elites e legitima a sua domin:lncia, mesmo numa perspectiva internacional de rela,oes entre Estados e regi5es do mundo. A crftica da sua pr6pria dominiincia e perspectiva no dominio das noticias internacionais, que ocorreu dentro do quadro de varios debates e publica,oes da UNESCO, foi ignorada, ridicularizada, atacada ou marginalizada. As propostas para uma nova ordem de informa<;ao internacional e de comunica<;i'io foram resolutamente rejeitadas com o argumento de que essa nova ordem implicaria uma limita<;ao da "liberdade" da imprensa (ocidental) e das ag@ncias noticiosas. Nao e surpreendente que os mesmos media de uma forma ge­ nerica apoiem tambem a resist@ncia ocidental a propostas.similares para uma nova ordem internacional nos dominios das finan<;as, do comercio e da economia e contra qualquer mudan,a do statu quo que implique um balan,o mais simetrico entre o

Norte e o Sul. Exceptuando os casos de dissidencia marginal, os media ocidentais tern tambem apoiado a maioria das interven<;Oes militares dos paises ocidentais no Terceiro Mundo - por exemplo, nas Carafbas, em Africa, na Asia e no Medio Oriente-, interven<;Oes essas que ate muito recentemente foram legitimadas no qua­ dro de uma ret6rica anticomunista. 25 Desde a queda do comunismo da Europa do Leste, esta ret6rica das noticias tem-se centrado noutros inimigos, coma terroristas e fundamentalistas mu,ulmanos, rellectindo assim a ret6rica prevalecente das elites polfticas.

O poder persuasivo desta ret6rica reside na sua aparente plausibilidade e aparen­ te superioridade moral. Liberdade, democracia e direitos humanos estao entre os termos-chave que organizam esta legitima,ao polftica e dos media na perspectiva da elite e respectivas ac,oes em rela,ao aos "outros". 0 problema e que para a maioria dos paises ocidentais, especialrnente para os Estados Unidos, estas e outras no,oes relacionadas foram selectivamente definidas e aplicadas aquelas situa,5es em que os seus interesses estavam a ser amea\ados: por exemplo, na America Cen­ tral e em Africa. A liberdade implica sobretudo liberalismo de mercado e liberdade de investimentos (ocidentais), nao autonomia local ou ausencia de opressao ou de explora,ao. A democracia e defendida s6 para as na,5es em que os lfderes do momenta (quer sejam ditadores ou governos eleitos) si'io vistos como uma amea<;a aos interesses ocidentais. Os direitos humanos siio urn argumento estrategico que se centra sobretudo nas na\6es ou lideres "niio amigos", ao mesmo tempo que sao ignorados no caso dos clientes dos Estados ocidentais.26

l5 Ver Chomsky (1987,1992) e Herman e Chomsky (1988). 16 Ver as referencias dadas na nota 24 para mais literatura.

Se a imprensa niio actua como oponente principal relativamente a politicas gover­ namentais ou corporativas e interesses, niio

e

por falta de poder, mas por causa <las

similaridades fundamentais das suas posic;6es ideol6gicas. E verdade que, par mui­

tos jornalistas tenderem a ser liberais, a oposic;iio na imprensa ocidental

e

comum no que diz respeito a politicas conservadoras especfficas e a acc;6es dos governos

ou neg6cios. Essa critica sugere liberdade e independencia dos media. No entanto,

esses desa:fios permanecem dentro <las fronteiras flexfveis mas claras de dissidencia,

trac;adas pelas polfticas editoriais das organizai;6es dos jornais, cujas ideologias basicas estiio de acordo com as das elites de poder.

Por outras palavras,

e

um facto que a imprensa niio esta a ser controlada por estas

elites de poder. Em vez disso, podemos dizer que as suas ideologias comuns siio produzidas em conjunto, cada uma agindo dentro da sua esfera de influencia e controlo, mas cada uma dependendo tambem da outra. As polfticas internacionais sem apoio da imprensa quase niio podem ser legitimadas e sustidas e siio dificeis de implementar quando o lobby corporativo se op6e. 0 neg6cio internacional e

seriamente posto em causa por uma ma publicidade ou por um antagonismo estatal :firme. E, inversamente, a imprensa mainstream niio pode operar sem a cooperac;iio

das elites polfticas e corporativas.

Assim, a partilha de interesses entre as elites favorece o desenvolvimento de posi­ c;6es ideol6gicas relacionadas, como e tambem o caso do papel da socializac;ao, da educai;iio, da origem de classe, do genera, da etnia ou da orientai;ao polftica similar

da maioria dos grupos de elite. Niio obstante conflitos ·ocasionais, contradic;6es, controvfrsias e direcc;6es de controlo variadas, a imprensa

e

parte inerente desta produc;iio conjunta de um consenso que sustfm o poder da elite, isto

e,

a domincln­ cia de uma pequena minoria do Norte, branca, masculina, heterossexual, da classe media, politicamente "moderada" (isto

e,

mais ou menos conservadora) sabre uma larga maioria de niio ocidentais, niio brancos, mulheres, das classes desfavorecidas,

pobres ou de alguma forma "outros" diferentes. Ea reproduc;ao desta dominancia de elite que explica tambem virtualmente todas as estruturas e estrategias da produc;ao

das noticias e dos relatos noticiosos dos media.

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