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4 REPRESENTAÇÕES SOBRE FORMA DA TERRA E ESTRUTURAS DO

4.1 UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES DE ESTUDANTES DO ENSINO

4.1.1 Atividades desenvolvidas no Planetário durante a Visita da Turma

Na visita da turma investigada ao Planetário Barca dos Céus, foi apresentada inicialmente uma sessão sobre o Reconhecimento do Céu, na qual foram identificadas várias constelações, narradas algumas mitologias, e realizadas simulações de viagens a diferentes lugares do nosso planeta – com demonstração do céu noturno em cada lugar – e a alguns dos outros planetas do Sistema Solar.

A sessão em si, pela própria característica física da cúpula na qual se passa a simulação do céu e pelo projetor digital tridimensional, proporciona uma sensação de maior espacialidade e amplitude do Universo, como também, de acesso ao mesmo, comparada à observação natural a olho nu. Além disso, algumas características específicas da sessão Reconhecimento do Céu merecem destaque ao propormos uma possibilidade de interação com as representações dos sujeitos sobre forma da Terra e estruturas do Universo, temas investigados na presente pesquisa.

As viagens a diferentes lugares do nosso planeta demonstravam que a posição das constelações em relação ao horizonte em uma mesma noite, mudava conforme os lugares da Terra de onde elas eram observadas. Os sujeitos puderam notar, por exemplo, que a constelação do Cruzeiro do Sul em seu ponto mais alto, posicionava- se mais próximo ao horizonte quando observada de Natal-RN, local próximo à linha do Equador, enquanto quando era observada de locais de alta latitude Sul, se afastava

do horizonte, e se aproximava dos locais mais altos da cúpula. Esperava-se que esse comportamento das constelações permitisse uma interação com as representações dos sujeitos sobre forma da Terra, à medida que poderiam interpretar tal comportamento associando-o ao formato esférico da Terra.

Nas viagens a alguns dos outros planetas do Sistema Solar, por sua vez, eram exploradas as características destes e, indiretamente, o modo como os astros estão organizados nessa dimensão mais próxima da Terra, à medida que permitiam uma visão espacial/tridimensional dos planetas visitados, possibilitando assim interações com as representações dos sujeitos sobre as estruturas do Universo. Além disso, outro momento da sessão em que se buscava interagir com essas representações era quando se explorava a definição de constelação, enfatizando-se tratar de um conjunto de estrelas que nos sugeriam um padrão, e que usualmente estas estrelas pareciam estar vizinhas ou até próximas umas das outras, mas que na verdade na grande maioria estavam muito distantes entre elas e da Terra.

Posteriormente à sessão, foram desenvolvidas duas atividades fora da cúpula: o Globo Paralelo e Viagem pelos Astros.

A atividade do Globo Paralelo é inspirada em propostas encontradas na literatura que defendem a necessidade de uma visão “dual” simultânea sobre o espaço, numa perspectiva local e planetária ao mesmo tempo, mais especificamente nos trabalhos de Camino (2011) e Lanciano (2014). Nela, usou-se um globo posicionado de forma aleatória e, partindo de algumas problematizações, direcionou- se os alunos para: identificar no globo os locais da Terra experimentados na sessão (permitindo uma consideração mais explícita da esfericidade da Terra nas viagens realizadas); e alinhar o globo terrestre de forma que ele ficasse paralelo à Terra como ela se encontrava naquele momento no espaço – considerando o lugar (cidade) em que nos encontrávamos e as direções dos pontos cardeais naquele lugar (Figura 17). Com isso buscou-se relacionar o espaço experimentado por meio da visão, a partir de uma perspectiva local e topocêntrica, com o espaço experimentado em um referencial fora da Terra em uma perspectiva planetária mais ampla. A ideia era possibilitar, como defende Lanciano (2014) uma passagem sólida e consistente entre o observado no “aqui e agora”, numa perspectiva local, e uma visão global do sistema Terra-Sol, que, por vezes, se mostra insuficiente nos currículos escolares e livros didáticos, os quais trabalham o espaço a partir de uma visão plana e bidimensional, enquanto que a compreensão dos fenômenos astronômicos exige uma percepção tridimensional.

Figura 17: Alunos interagindo com o globo terrestre na atividade Globo Paralelo.

A atividade Viagem pelos Astros partiu da preocupação em evidenciar fundamentalmente os distanciamentos entre as estrelas, assim como, a distribuição espacial dos astros – estrelas e planetas, principalmente – uma vez que a percepção topocêntrica desses astros contidos na esfera celeste do planetário explorada na sessão, poderia influenciar de maneira equivocada as representações dos sujeitos visitantes sobre as estruturas do Universo.

Figura 18: Planetaristas mediando a atividade Viagem pelos Astros. Em (a), apresenta-se o objeto

didático composto de globo terrestre minúsculo dentro de uma esfera de vidro; e em (b), um dos momentos de visualização de banners com astros e estruturas que eram destacadas durante a

Viagem.

(a) (b)

A atividade foi iniciada com o uso de um objeto didático composto de globo terrestre minúsculo dentro de uma esfera de vidro, a fim de ilustrar a ideia de esfera

celeste partindo da percepção do céu numa perspectiva geocêntrica, muito comum e significativa historicamente (Figura 18.a.). Foi discutido que essa perspectiva era particular, e que a ideia de que os astros estivessem numa esfera imaginária ao redor da Terra permitia apontar a direção dos astros em qualquer lugar a partir de nosso planeta, mas que na realidade eles se encontram em diferentes distâncias de nós. Em seguida, foi proposto aos visitantes uma viagem espacial estabelecendo um distanciamento gradual da Terra, introduzindo-se, ao mesmo tempo, a unidade de distância “ano-luz” para se indicar o afastamento alcançado em relação ao planeta. A introdução da unidade ano-luz foi feita com ilustrações bem plausíveis. À medida que, imaginariamente, os estudantes iam se afastando da Terra, introduzia-se por meio de interações, banners com astros e com estruturas que seriam percebidas a distâncias cada vez maiores (Figura 18.b.): a Lua, como o astro mais próximo; o Sol, como a estrela mais próxima, visto com seus outros planetas; a estrela próxima de Centauro, como a mais próxima após o Sol; aglomerados estelares; nebulosas; uma galáxia – a Via Láctea, em particular; e grupos de galáxias, representando o Universo.