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2.2 CONTRIBUIÇÕES DE ESPAÇOS NÃO FORMAIS PARA O ENSINO FORMAL DA

2.2.1 O potencial pedagógico dos planetários na aprendizagem de temas de

Desde a antiguidade a observação do céu é fonte de grande admiração e deslumbramento para as civilizações, estando os conhecimentos e práticas relacionadas às “coisas do céu” bastante impregnados na fundação de várias culturas. No entanto, na maioria das sociedades, muitos fatores têm dificultado essa prática atualmente, seja a luminosidade das grandes cidades que ofusca o brilho dos astros,

as inesperadas mudanças climáticas da região onde se observa, ou o ritmo frenético das sociedades modernas, entre outros fatores.

Constata-se, assim, uma perda de acesso à contemplação e observação dos fenômenos celestes, práticas estas que potencializam, entre outros importantes fatores, percepções tão relevantes como as que ressaltam Camino (1998) e Jafelice (2010), relacionadas à sensação de infinito e eternidade, e a uma concepção mais abrangente de meio ambiente e da própria cidadania.

Nesse sentido, um primeiro potencial a destacar, em torno do Planetário, é a possibilidade de reduzir a própria perda de acesso ao contato com os fenômenos astronômicos e com isso, tudo o mais que esse contato viabiliza, conforme já discutido neste capítulo.

Enquanto recurso didático, o planetário, segundo Barrio (2002, p. 208) nada mais é que um “aparato capaz de representar los objetos visibles en la esfera celeste y sus movimientos”. Sob essa concepção, trata-se de um aparato utilizado já há algum tempo, havendo evidências de que sua primeira construção tenha ocorrido por volta do ano 250 a.C. sendo realizada por Arquimedes:

El primer Planetario auténtico basado probablemente en las esferas concéntricas de Eudoxio se construyó alrededor de 250 a.C. por Arquímedes y aunque no se conservó, por lo que se conoce de él, parece ser que representaba los movimientos de los planetas, del Sol y de la Luna en sus recorridos irregulares, bien como, eclipses del Sol y de la Luna. Es de suponer que el aparato total se situaba dentro de una esfera metálica y hueca que giraba, accionada por fuerza hidráulica, representando el cielo de estrellas fijas y cuyo interior se podía ver por una abertura (BARRIO, 2002, p. 210). De acordo com Freitas (2015), desde a construção desse primeiro aparato até os dias atuais, muitas adequações e aperfeiçoamentos foram realizados, além de novas técnicas de representação desenvolvidas: as estrelas e planetas antes suspensos ou desenhados na esfera celeste foram dando lugar aos instrumentos tecnológicos e inovadores de projeção, sendo os projetores óptico-mecânicos e os digitais os mais utilizados atualmente. Dessa forma, os planetários foram conquistando seu lugar na sociedade, antes somente como ambientes de contemplação do céu, depois como espaços de divulgação/construção científica e cultural, até que hoje se discute seu caráter educacional, particularmente referente ao ensino de Astronomia.

Vilaça, Langhi e Nardi (2013, p. 6) destacam que “seria um desperdício de potencial pedagógico um planetário atuar unicamente para fins de divulgação científica, ou visando apenas momentos de lazer e turismo”.

Desse modo, apontam que além de desempenhar um importante papel para a divulgação da ciência, o planetário deve ser considerado um espaço relevante no que se refere ao atendimento escolar, apresentando-se, muitas vezes, como um recurso complementar ao ensino de Astronomia, em particular, que geralmente se encontra precário nesse âmbito.

Nesse contexto, Barrio (2002) também indica uma forte relação entre os planetários e o campo da aprendizagem:

[...] los Planetarios se puede operar en los tres campos del aprendizaje: en el pensamiento, proceso cognoscitivo; en el psicomotor cuando ofrecemos experiencias cada vez más interactivas que involucran la acción física; y en el afectivo, de los sentimientos, cuando animamos el movimiento del cielo e intentamos cultivar un sentido de aventura por el conocimiento de la ciência (BARRIO, 2002, p. 229).

Vilaça, Langhi e Nardi (2013) defendem ainda que o planetário também pode ser utilizado como um ambiente de educação formal na medida em que pode proporcionar uma excelente formação docente no que se refere a cursos de formação continuada, os quais além de apontarem novas abordagens para a discussão dos conteúdos, também devem permitir a reflexão e a avaliação das práticas docentes, vindo a fomentar uma mudança nestas.

[...] se todo este processo de ensino e extensão for encarado também como locus de pesquisa, os planetários poderão atuar enquanto centros de formação escolar, científica e cultural. [...] Deste modo, há a sustentabilidade do processo, no sentido de o planetário atuar não apenas enquanto ambiente de ensino formal e não-formal, mas também enquanto ambiente de pesquisa, fornecendo-lhe retornos constantes para melhorias do próprio atendimento, além de possibilitar a construção de conhecimento científico para a área de Ensino (VILAÇA; LANGHI; NARDI, 2013, p. 7).

Torna-se evidente, então, as grandes contribuições que o planetário pode trazer para o âmbito educacional, especialmente para o ensino de Astronomia, na medida em que cada vez mais se busca por estratégias didáticas de ensino que, além de despertar o interesse dos alunos, possibilitem a formação de um ser cidadão, íntegro e humano envolvido com as questões sociais e ambientais que lhe cerca.

Consideramos ainda um diferencial a utilização de recursos do planetário que permitem a simulação de diversos fenômenos em distintas escalas temporais e espaciais, possibilitando ao público assumir diferentes referenciais na observação dos

fenômenos celestes, estratégia defendida por muitos pesquisadores da área (dentre eles: LANCIANO, 2014; CAMINO, 2005; LEITE; HOUSOME, 2009).

Particularmente, no caso dos planetários digitais, como é o Planetário Digital Móvel Barca dos Céus, é possível “afastar-se” da própria Terra e observá-la do espaço a partir de referenciais diversos, o que pode ter implicações relevantes nas representações que os alunos trazem sobre a forma da Terra e ainda, sobre as estruturas do Universo, temáticas investigadas na presente dissertação.