• Nenhum resultado encontrado

4 REPRESENTAÇÕES SOBRE FORMA DA TERRA E ESTRUTURAS DO

4.1 UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES DE ESTUDANTES DO ENSINO

4.1.2 Metodologia do levantamento de dados

Conforme mencionado anteriormente, o estudo aqui descrito foi realizado junto a uma turma do 6º ano do Ensino Fundamental, que havia estudado na disciplina Ciências, durante o primeiro semestre, exclusivamente temas de Astronomia. A professora da disciplina para a turma era a autora desse trabalho.

A turma possuía dezenove alunos, sendo que dezessete participaram da pesquisa. Os participantes eram nove meninas e oito meninos, e tinham faixa etária entre dez e treze anos, sendo a idade média do grupo igual a onze anos.

Para o estudo das representações dos alunos bem como de significados construídos pelos mesmos durante a visita, foram utilizados três instrumentos no levantamento dos dados: dois questionários, sendo um aplicado anteriormente à visita e outro após a mesma; o relatório da aula de campo solicitado, como de praxe, pela professora da turma; e uma entrevista semiestruturada desenvolvida com seis dos participantes da visita, após quatro meses de sua realização.

Os questionários aplicados antes e após a visita ao planetário tinham a finalidade de evidenciar alguma alteração ou permanência nas representações dos alunos sobre a forma da Terra e organização das estruturas do Universo, bem como

de oferecer elementos para reflexões acerca de como as representações dos alunos haviam interagido com as atividades propostas.

O primeiro questionário (APÊNDICE A) era composto de dez perguntas, as quais, baseadas na pesquisa de Vosniadou e Brewer (1992), exploravam aspectos sobre a forma da Terra e as estruturas do Universo de forma direta e indireta. Havia desde perguntas mais diretas, como “Para você qual o formato da Terra?”, ou “O que você acha que existe acima da Terra? O que há abaixo? E nos lados da Terra?”, que exigiam respostas curtas, até situações contextualizadas, como pedir para mostrar, através de desenhos, o que acontece com o Sol quando anoitece.

O segundo questionário (APÊNDICE B), aplicado posteriormente à visita, continha quatro questões que descreviam, em sua maioria, situações contextualizadas a respeito da organização dos astros nas estruturas do Universo e sobre a queda de corpos no espaço. A questão envolvendo este último tipo de situação foi baseada numa questão proposta por Nardi e Carvalho (1996) e buscou- se identificar, na resposta à mesma, a relação com a representação que o aluno tinha sobre a forma da Terra, bem como sobre o espaço em torno da mesma. Orientou-se para que as perguntas fossem respondidas predominantemente através de desenhos, com exceção de uma questão em que se pedia que o aluno descrevesse também com palavras o que aconteceria com um objeto abandonado em uma estação espacial.

Com o intuito de identificar de uma forma mais livre os aprendizados construídos e valorizados pelos alunos, e ainda a fim de avaliar a visita como um todo, foram analisados também os relatórios da aula de campo elaborados para a disciplina de Ciências, na escola. A elaboração desses relatórios faz parte já da dinâmica escolar da turma, sendo solicitada sempre que ocorre a realização de aulas de campo. Trata-se de uma ferramenta na qual os alunos registram livremente as atividades desenvolvidas na visita, em geral, e seus aprendizados adquiridos a partir da aula como um todo. Desse modo, permite ao professor evidenciar os aprendizados mais impactantes, assim como alguns aspectos afetivos e sociais proporcionados pela aula de campo, importantes para uma avaliação mais ampla da estratégia didática optada pelo mesmo.

Finalmente, passados quatro meses desde a visita ao Planetário, com o objetivo de esclarecer alguns aspectos das respostas aos questionários e dos relatórios, e de buscar identificar os aprendizados construídos ou consolidados mais fortemente, foram realizadas entrevistas individuais com seis alunos da turma (35%

do total). A realização da entrevista com esses alunos específicos resultou principalmente de resposta positiva dos pais dos mesmos no sentido de autorizar e viabilizar esse momento em datas propostas pela pesquisadora e autora desse trabalho, que na ocasião não mais trabalhava na escola.

A entrevista pode ser melhor caracterizada a partir de quatro diferentes momentos: elaboração de um Mapa de Significado Pessoal4 pelo entrevistado com

relato das principais lembranças que tinha da aula de campo em geral; interações em torno de questionamentos sobre fenômenos observados na sessão que se relacionavam mais diretamente com nossa investigação; caraterização do Universo pelo(a) aluno(a) - verbalmente e fazendo-se uso de objetos e de etiquetas com nomes de astros ou estruturas; e auto avaliação acerca dos aprendizados adquiridos na aula de campo, incluindo-se nessa fase considerações que o aluno eventualmente desejasse fazer acerca dos questionários respondidos anteriormente por ele. Todos esses momentos foram registrados por meio de gravações em áudios e fotografias.

No primeiro momento da entrevista, portanto, iniciava-se a entrevista, com a elaboração de um Mapa de Significado Pessoal pelo aluno: pedia-se a este que colocasse numa folha de papel, em forma de palavras, frases ou desenhos, o que vinha em sua mente ao ler a frase “Visita ao Planetário Barca dos Céus”. À medida que o aluno era solicitado a falar um pouco mais sobre os elementos que usou para se expressar, identificava-se as principais lembranças que tivera, e ele ficava livre para dar continuidade à entrevista.

As etapas que se seguiram focalizaram três importantes aspectos que se relacionavam com nossa pesquisa: a compreensão que os alunos adquiriram sobre as mudanças no céu quando se deslocavam para outras cidades no desenrolar da sessão; a concepção que eles tinham sobre a organização do Universo em estruturas; e a identificação de aprendizados que eles consideravam relevantes.

Assim, dando prosseguimento à entrevista, caso o aluno não tivesse mencionado esse aspecto em seu mapa, perguntava-se a ele se lembrava de ter percebido alguma mudança na percepção da localização das estrelas à medida que

4Embora o uso desse Mapa tenha sido influenciado pela proposta de Falk e colaboradores (FALK;

MOUSSOURE; COULSON, 1998) para avaliação de aprendizagens em contextos de educação não formal, diferentemente da forma como aqueles autores o utilizaram, no presente estudo não foi solicitado uma reconstrução do Mapa pelo aluno, seu papel na entrevista foi unicamente de descontrair e desencadear as interações posteriores.

eram feitas as simulações de viagens para outros lugares do planeta, durante a sessão. Este questionamento tinha a finalidade de analisar se o aluno fazia alguma relação entre o formato esférico da Terra e as alterações no céu visível, em particular o fato do Cruzeiro do Sul apontar para um ponto cada vez mais alto (o polo Sul celeste), na medida em que nos movíamos para o Sul.

A fim de investigar a outra dimensão conceitual abordada em nosso trabalho, que diz respeito às representações sobre a organização das estruturas do Universo, pedia-se, como terceira etapa da entrevista, para o aluno descrever o que ele compreendia que é o Universo assim como os elementos/astros que o compõem. Após suas respostas, eram disponibilizados objetos esféricos que representavam o Sol e os planetas, além de etiquetas, feitas no momento da entrevista, com nomes de outros astros ou estruturas - tais como estrelas, galáxia, buraco-negro, nebulosa, meteoro - mencionadas pelo participante como parte das coisas que compõem o Universo. Solicitava-se então que ele organizasse aqueles astros e estruturas na forma como achava que eles estavam distribuídos no espaço, e assim tinha-se uma maquete com a representação deles para a organização das estruturas do Universo. Em relação a essa fase, foi feito o registro sistemático da produção de cada aluno através de fotos, para a análise posterior.

No quarto e último momento da entrevista, perguntava-se aos entrevistados sobre os aprendizados em geral que consideravam ter adquirido com a visita, e ainda, sobre temas que gostariam de discutir caso houvesse outra ida ao Planetário. Por fim, pedia-se que analisassem os questionários respondidos anteriormente, e que, caso desejassem, se sentissem livres para fazerem as alterações que achassem necessárias.

De um modo geral, para a análise dos dados obtidos, tanto no caso dos questionários, como dos relatórios e das entrevistas (mais especificamente, suas transcrições), foi utilizada a metodologia da análise de conteúdo (BARDIN, 2011).

Para cada instrumento, inicialmente era feita a leitura flutuante dos dados de cada sujeito, o que possibilitou uma elaboração inicial de diferentes classes ou padrões de respostas que os alunos apresentavam, para cada uma das dimensões investigadas (forma da Terra e estruturas do Universo) com o respectivo instrumento. Após essa classificação inicial, foi feita então uma releitura dos dados de cada aluno, por mais de uma vez, procurando-se identificar indicadores que levavam a categorizar a resposta dele como pertencente a determinada classe.

Nos questionários, especificamente, após a leitura flutuante e categorização dos padrões de respostas encontrados, foi feita uma comparação das respostas de cada sujeito aos questionários I e II, aplicados antes e após a visita, observando-se as possíveis mudanças e persistências de aspectos relacionados às suas representações sobre a forma da Terra e a organização das estruturas do Universo. Aliada à elaboração dos padrões de respostas, foi feita também uma análise quantitativa dos mesmos, a fim de podermos considerar, em nossas reflexões, a frequência com que aparecem bem como as alterações nos mesmos.

Nos relatórios, em razão da diversidade dos dados obtidos, a categorização não remeteu somente às dimensões conceituais investigadas na pesquisa, mas observou os diferentes aspectos valorizados pelos alunos na visita como um todo: a estrutura física do planetário e do local onde ele se situa, as regras e itinerário da visita, as emoções e sensações experimentadas, os questionamentos e reflexões suscitados, os aprendizados teóricos adquiridos, e as impressões sobre os planetaristas. Para cada uma dessas categorias de dados, foi feita uma análise quantitativa de sua frequência entre os sujeitos da pesquisa, a fim de se identificar que aspectos tiveram maior impacto para o grupo como um todo.

Nas entrevistas, a leitura flutuante foi realizada a partir das transcrições delas e das fotos registradas dos objetos manipulados por cada sujeito, sendo destacadas aquelas falas e/ou registros fotográficos que esclareciam dados coletados anteriormente nos questionários e que contribuíam com mais informações associadas às representações sobre a forma da Terra e as estruturas do Universo.

Após a análise individual de cada instrumento, foi feito então o cruzamento dos dados coletados na pesquisa como um todo, a fim de melhor caracterizar as representações dos sujeitos investigados, conforme será discutido na sessão a seguir.