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O estudo das atividades realizadas on-line permite um olhar mais sofisticado sobre o tema da inclusão digital, para além do acesso ou não a equipamentos e conexões. Nos últimos anos, inúmeros pesquisadores têm buscado aprofundar as investigações sobre as desigualdades relacionadas ao uso da rede, e que se apresentam como determinantes para os potenciais benefícios e oportunidades resultantes desse uso (DiMaggio, Hargittai, Celeste, & Shafer, 2004;

Hargittai E., 2008; Helsper, 2012; van Deursen & Helsper, 2015).

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As atividades de comunicação seguiram a tendência observada ao longo da série histórica da TIC Domicílios e foram as mais realizadas pelos usuários de Internet brasileiros em 2016, com destaque para o envio de mensagens instantâneas. Realizada por nove em cada dez usuários de Internet no país (Gráfico 20), o uso de mensagens instantâneas é mais frequente entre jovens, sobretudo na faixa etária de 16 a 25 anos (94%), mas também foi citado entre usuários na faixa etária de 60 anos ou mais (83%). A proporção de usuários que enviaram mensagens instantâneas também penetra nas distintas classes sociais: 98% na classe A e 83%

entre usuários das classes DE.

Em 2016, a atividade de conversa por chamada de voz ou vídeo apresentou aumento.

O percentual de usuários que realizaram a atividade é maior segundo as classes, uma vez que ela foi realizada por 79% dos usuários da classe A, e por metade dos usuários das classes DE (50%). Essa diferença pode estar associada com a necessidade de maiores velocidade e consumo de dados demandados por este tipo de uso.

Entre as atividades de comunicação também se destaca o uso de redes sociais, que segue como a segunda mais mencionada pelos usuários de Internet brasileiros. A realização dessa atividade varia conforme a faixa etária, sendo citada por 91% dos jovens com 16 a 24 anos e por pouco mais da metade dos usuários de Internet na faixa de 60 anos ou mais (54%). O uso de redes sociais, contudo, apresenta pouca variação segundo as classes sociais, estando disseminados nas classes A (79%) ou nas DE (72%).

GRÁFICO 20

USUÁRIOS DE INTERNET, POR ATIVIDADES REALIZADAS NA INTERNET (2015 – 2016) Total de usuários da Internet (%)

Conversou por chamada de voz ou vídeo

Enviou e recebeu e-mails

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As atividades relacionadas a conteúdos multimídia também apareceram com frequência em 2016, com destaque para assistir a vídeos, programas, filmes ou séries on-line e ouvir músicas na rede. Apesar de estáveis em relação a 2015, algumas dessas atividades apresentaram aumento em relação a 2014: assistir a vídeos, programas, filmes ou séries on-line (58% em 2014 e 68% em 2016), ouvir músicas on-line (57% em 2014 e 63% em 2016) e acompanhar transmissões de áudio ou vídeo em tempo real (22% em 2014 e 38% em 2016).

Atividades relacionadas a conteúdos multimídia seguem o padrão sociodemográfico semelhante ao das atividades de comunicação, sendo mais frequentes quanto mais alta a classe socioeconômica dos usuários e menos comum quanto maior a faixa etária. Assistir a filmes on-line, por exemplo, foi uma atividade realizada por quatro a cada cinco usuários com 10 a 15 anos (82%) e 16 a 24 anos (80%), mas por apenas 37% dos usuários na faixa etária de 60 anos ou mais. Também foram observadas diferenças entre os usuários de Internet das classes A e B, entre os quais 73% assistiram a filmes on-line, e das classes DE, em que 59%

realizaram essa atividade.

Os resultados da TIC Domicílios também revelam padrões de uso da Internet distintos entre áreas rurais e urbanas. Residentes em áreas urbanas reportaram com maior frequência assistir a vídeos, ouvir músicas on-line e acompanhar transmissões de áudio ou vídeo em tempo real.

As condições de conectividade nos domicílios rurais – com menores velocidades de conexão, maior acesso a conexões móveis e maior percentual de compartilhamento da rede com vizinhos – podem estar entre os fatores que explicam as diferenças entre as atividades realizadas.

Quanto às atividades voltadas à busca de informações, destaca-se a busca de informações sobre produtos e serviços, estável em relação a 2015. Em 2016, a realização dessa atividade foi diretamente proporcional à classe socioeconômica dos usuários de Internet (36% nas classes DE e 87% na classe A). Disparidades segundo as classes socioeconômicas também foram encontradas na atividade de busca de informações relacionadas a saúde ou a serviços de saúde, com percentual maior entre usuários de Internet de classe A (67%) e menor nas classes DE (26%).

Já o compartilhamento de textos, imagens ou vídeos (68%), apesar de permanecer estável em relação a 2015, ainda foi mais comum do que atividades que envolvem criação, como postar na Internet textos, imagens ou vídeos de criação própria (38%) e criação e atualização de blogs, páginas na Internet ou websites (18%).

Em suma, os dados da pesquisa TIC Domicílios 2016 apontam para a existência de um segundo nível de exclusão digital que vai além do acesso à Internet. Diferenças observadas segundo classes socioeconômicas, faixas de renda, escolaridade e faixa etária indicam que os esforços de difusão das oportunidades on-line vão além dos esforços de conectividade.

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COMÉRCIO ELETRÔNICO

As atividades transacionais, como pagamentos e uso de Internet banking, seguem sendo realizadas por um segmento específico e restrito dos brasileiros. Os dados mostram que um quarto dos brasileiros usuários de Internet (25%) fez consultas, pagamentos ou outras transações financeiras na Internet nos três meses anteriores à pesquisa, a mesma proporção observada em 2014 e 2015. A variação por classe socioeconômica é evidente na medida em que 66% dos usuários de Internet de classe A realizaram essa atividade, ante 18% na classe C e apenas 6% nas classes DE.

Em 2016, os dados apontaram estabilidade nos indicadores de compra de produtos ou serviços pela Internet, com 38% dos usuários de Internet tendo realizado essa atividade. De acordo com as estimativas da TIC Domicílios 2016, 40,9 milhões de brasileiros realizaram compras na Internet nos 12 meses que antecederam a pesquisa.9

A proporção de indivíduos que compram on-line varia de acordo com as características socioeconômicas da população, sobretudo por classe. Quatro em cada cinco usuários de Internet da classe A realizaram compras via Internet (81%), enquanto apenas 17% dos usuários de classes DE fizeram o mesmo. A proporção de usuários de Internet que realizam a atividade aumenta a partir dos 16 anos: com exceção da faixa de 10 a 15 anos (12%), as outras faixas apresentaram percentuais próximos a 40%, com resultados que vão de 37% na faixa de 16 a 24 anos a 45% entre usuários com 60 anos ou mais.

Entre os usuários de Internet que não compraram on-line nos 12 meses que antecederam a pesquisa, o principal motivo para isso foi a preferência pela compra pessoal (79%). Também mencionados por mais da metade dos usuários que não realizaram compras estão motivos como a preocupação com privacidade ou segurança (59%), a falta de confiança no produto que vai receber (57%) e a falta de interesse (53%).

Já a pesquisa de preços pela Internet, historicamente a atividade de comércio eletrônico mais comum entre os brasileiros, foi realizada por 60% dos usuários de Internet, percentual estável em relação a 2015. A atividade passa a ser mais comum quanto mais alta a classe e a renda familiar dos indivíduos, se aproximando de 90% entre usuários de Internet de classe A (89%) e com renda superior a dez salários mínimos (87%), enquanto cerca de um terço dos usuários de classes DE (36%) e com renda de até um salário mínimo (36%) realizaram a atividade.

O único indicador de comércio eletrônico que apresentou variações nos últimos anos foi a divulgação e venda de produtos e serviços pela Internet. Realizada por 10% dos usuários de Internet em 2014, o percentual de usuários que realizaram a atividade chegou a 17% em 2016, o que equivale a 18,5 milhões de brasileiros. Conforme mostra o Gráfico 21, a prática não foi comum entre todos os perfis de usuários de Internet, sendo mais frequente principalmente entre jovens adultos de 25 a 34 anos e indivíduos de classe A ou com Ensino Superior. A divulgação e venda de produtos pela Internet permanece estável nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte, e avançou principalmente nas regiões Sudeste (18%) e Nordeste (15%), nas quais as proporções observadas em 2014 eram de 9% e 8%, respectivamente.

9 É importante enfatizar que essa estimativa não se refere ao volume de compras, indicador que não é coletado pela pesquisa, e sim aos compradores únicos, isto é, indivíduos que, no período de referência do estudo, realizaram ao menos uma vez compra de produtos ou serviços pela Internet.

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GRÁFICO 21

USUÁRIOS DE INTERNET QUE JÁ DIVULGARAM OU VENDERAM ALGUM BEM OU SERVIÇO PELA INTERNET NOS ÚLTIMOS 12 MESES, POR ÁREA, REGIÃO, GRAU DE INSTRUÇÃO, FAIXA ETÁRIA E CLASSE SOCIAL (2016) Total de usuários de Internet (%) equivalente a 57 milhões de brasileiros. O uso de governo eletrônico aumenta quanto mais alta a renda familiar dos indivíduos. Chegou a 87% entre indivíduos com renda familiar superior a dez salários mínimos, e a 43% na faixa de renda de até um salário mínimo. A proporção de usuários de governo eletrônico foi mais alta entre indivíduos que pertencem à população economicamente ativa (65%) do que entre os não economicamente ativos (46%), e também entre indivíduos com o Ensino Superior (80%) em relação àqueles que possuem até Ensino Médio (64%) ou Fundamental (36%).

Dentre as atividades de governo eletrônico investigadas pela pesquisa, apenas a busca de informações ou realização de serviços relacionados a direitos do trabalhador ou previdência social apresentou variação significativa em 2016 (Gráfico 22). Outras atividades que se destacaram e permaneceram no mesmo patamar observado em 2015 foram os serviços relacionados à educação pública, impostos e taxas governamentais e documentos pessoais.

PORTUGUÊS GRÁFICO 22

USUÁRIOS DE INTERNET, POR TIPO DE INFORMAÇÕES REFERENTES A SERVIÇOS PÚBLICOS PROCURADOS OU SERVIÇOS PÚBLICOS REALIZADOS (2015 – 2016) Total de usuários da Internet com 16 anos ou mais (%)

Direitos do trabalhador ou previdência social, como INSS, FGTS, seguro-desemprego, auxílio-doença ou aposentadoria

Educação pública, como Enem, Prouni, matrícula em escolas ou universidades públicas

Impostos e taxas governamentais, como declaração de imposto de renda, IPVA ou IPTU

Documentos pessoais, como RG, CPF, passaporte, ou carteira de trabalho

Saúde pública, como agendamento de consultas, remédios ou outros serviços do sistema público de saúde

Transporte público ou outros serviços urbanos, como limpeza e conservação de vias, iluminação

Polícia e segurança como boletim de ocorrência, antecedentes criminais ou denúncias

Para cada uma das atividades de governo eletrônico estudadas, foi avaliado o nível de interação que os usuários desses serviços tiveram na rede. As atividades relacionadas a impostos e taxas governamentais foram as que menos demandaram deslocamento a um posto de atendimento, podendo ser realizadas integralmente on-line (10%). Entre os serviços iniciados na Internet e finalizados em um posto de atendimento, o tipo mais citado foi o relacionado a documentos pessoais (9%). Finalmente, os serviços relacionados a direitos do trabalhador ou previdência social, que foram os mais usados em 2016, também foram os que apresentaram maior percentual de usuários de governo eletrônico que apenas buscaram informações na Internet (16%).

Entre os usuários de Internet com 16 anos ou mais que não realizaram nenhum dos serviços de governo investigados na pesquisa, o motivo mais citado para isso foi a preferência pelo contato pessoal (61%), seguido da falta de necessidade para busca de informações ou realização de serviços públicos (52%), a percepção de que o contato com o governo pela Internet é complicado (49%) e pela preocupação com proteção e segurança dos dados (47%). Para a análise de tal resultado também é preciso levar em conta a oferta de serviços transacionais, que ainda não está completamente disseminada nos três níveis de governo – como mostra a pesquisa TIC Governo Eletrônico (CGI.br, 2016b).10

10 De acordo com a pesquisa TIC Governo Eletrônico 2015, a oferta de serviços transacionais – serviços on-line que possibilitam a prestação de serviço pela Internet – é menor do que a oferta de serviços informacionais – divulgação de informações sobre os serviços públicos – em diferentes esferas de governo. Em 2015, o serviço transacional mais citado foi a consulta a processos administrativos e judiciais em andamento tanto entre órgãos públicos federais (73%) quanto estaduais (40%), enquanto o download de documentos e formulários, serviço informacional, foi disponibilizado por 91% dos órgãos federais e 79% dos órgãos estaduais com website.

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A pesquisa TIC Domicílios 2016 também apurou informações sobre as formas de contato que usuários de Internet com 16 anos ou mais tiveram com o governo. Os resultados mostram que poucos brasileiros realizam essas atividades, seja por redes sociais, pelo site ou por e-mail, assim como são poucos os que participam de atividades de governo, seja por votações ou escrevendo sugestões. Desde 2014, quando esse indicador começou a ser estudado na pesquisa, não houve alteração significativa nos resultados, com percentuais ainda abaixo dos 10%.

Tais resultados reforçam que são necessárias medidas para popularizar o contato da população com o governo pela Internet, e divulgar os canais de comunicação disponibilizados – uma vez que serviços desse tipo são bastante ofertados, de acordo com os resultados da pesquisa TIC Governo Eletrônico 2015 (CGI.br, 2016b). Sabe-se que a maior parte dos órgãos públicos, das esferas federal, estadual ou municipal, estava presentes em redes sociais (92% dos órgãos federais, 74% dos estaduais e 66% dos municipais), disponibilizaram endereços de e-mail (98% em órgãos federais, 96% em estaduais e 92% em municipais) ou formulários eletrônicos para contato com o público (90% dos órgãos federais, 76% dos estaduais e 57% dos municipais).