• Nenhum resultado encontrado

Para incluir o uso das TIC e avaliar o significado dos letramentos digitais na edição 2015 do Inaf, foi criado um conjunto de perguntas cujas respostas, ao serem combinadas com resultados de desempenho em um teste cognitivo, nos permitiu explorar algumas das relações existentes entre as condições de alfabetismo da população jovem e adulta brasileira e as práticas sociais denominadas de “novos” letramentos – estas relacionadas às questões de acesso e uso de tecnologias digitais de comunicação e informação e de Internet.

Dentre os entrevistados, constatou-se que rádio (92%) e televisão (94%) são os itens mais frequentemente utilizados nos diferentes grupos de alfabetismo. Verificou-se também que no grupo dos analfabetos, 85% nunca utilizaram um smartphone e 93% nunca utilizaram um tablet. Entretanto, esses percentuais mudam muito quando nos referimos ao grupo que possui nível rudimentar: 53% e 61%, respectivamente. Mesmo com um nível rudimentar de alfabetismo, observamos um uso mais elevado de equipamentos relacionados aos chamados letramentos digitais, especialmente entre os mais jovens.

Dos entrevistados, 48% disseram acessar a Internet todos os dias, sendo que esse percentual se eleva para 70% entre os mais jovens (15 a 24 anos). Vale destacar que entre os analfabetos funcionais da mesma faixa etária, 52% responderam que acessam a rede mesmo tendo muitas limitações no uso da leitura e da escrita. Observamos ainda a maior presença dos jovens no uso da Internet. Enquanto 69% dos jovens analfabetos funcionais disseram acessar a rede, esse índice foi de apenas 16% entre as pessoas do mesmo grupo com 40 anos ou mais, conforme o Gráfico 1.

PORTUGUÊS GRÁFICO 1

ACESSO À INTERNET, POR GRUPOS DE ALFABETISMO E FAIXA ETÁRIA (%) (2015) 100

Fonte: Inaf (Ação Educativa et al., 2015).

Chama atenção também que, de maneira bastante expressiva, a casa é o principal lugar de acesso à Internet para a maioria dos entrevistados, independentemente do nível de alfabetismo, conforme indica o Gráfico 2. No Brasil, também tem destaque o pouco uso da Internet no espaço profissional. O maior uso da rede no trabalho só cresce significativamente nos grupos de maior nível de alfabetismo.

GRÁFICO 2

LOCAL EM QUE ACESSA A INTERNET COM MAIS FREQUÊNCIA, POR NÍVEL DE ALFABETISMO (%) (2015) 100

Fonte: Inaf (Ação Educativa et al., 2015).

PORTUGUÊS

Destaca-se ainda, conforme o Gráfico 3, que entre o grupo de pessoas que foram classificadas com nível rudimentar de alfabetismo, 53% comunicavam-se por e-mail, 79% enviavam mensagens instantâneas e 74% acessavam redes sociais. Mesmo quando se estratifica por renda, não se verifica diferenças tão acentuadas: 85% dos que recebem até um salário mínimo e 87%

dos que ganham acima de cinco salários mínimos acessam as redes sociais. Verifica-se que mesmo o grupo rudimentar tem elevado acesso a plataformas como o Facebook ou ainda WhatsApp. Registra-se que 74% dos que foram classificados no nível rudimentar acessavam as redes sociais, ocorrendo o mesmo com 89% dos que se encontram no nível elementar. Já no que se refere às mensagens instantâneas, 79% dos classificados no grupo rudimentar declaram fazer uso de ferramentas como o WhatsApp. O mesmo ocorre com 93% dos proficientes. No que se refere às redes sociais e aplicativos de mensagem instantânea, há uma ampliação do público participante a despeito de um baixo nível de letramento.

GRÁFICO 3

ATIVIDADES REALIZADAS PELA INTERNET NOS ÚLTIMOS TRÊS MESES POR NÍVEL DE ALFABETISMO (%) (2015)

100 Fonte: Inaf (Ação Educativa et al., 2015).

Há também significativas diferenças por faixa etária, sendo evidente a maior presença dos jovens no uso das redes sociais ou no acesso a blogs ou websites para realizar diferentes tarefas, em detrimento ao pouco do uso reduzido de e-mail por esse público. Enquanto 69% das pessoas com 50 anos ou mais acessam as redes sociais, 93% dos mais jovens fazem uso das mesmas.

PORTUGUÊS GRÁFICO 4

ATIVIDADES REALIZADAS PELA INTERNET NOS ÚLTIMOS TRÊS MESES POR FAIXA ETÁRIA (%) (2015)

100 Fonte: Inaf (Ação Educativa et al., 2015).

Ainda no que se refere às redes sociais, 75% dos entrevistados afirmaram que costumam ler, ouvir ou assistir a algo nesse tipo de plataforma e 66% dizem curtir, seguir ou marcar algo como favorito. Apenas 54% dos entrevistados costumam comentar ou publicar conteúdo próprio. Chama atenção, conforme o Gráfico 5, que no grupo de nível rudimentar, 72% dos entrevistados costumam ler, ouvir ou assistir a algo nas redes sociais, ocorrendo o mesmo com 79% dos proficientes. Ou seja, para realizar essas tarefas, existe maior proximidade entre os mais e menos proficientes. Entretanto, apenas 45% do grupo rudimentar costuma comentar ou publicar algo, sendo que a mesma atividade é realizada por 61% dos mais proficientes. Assim, quando o uso da leitura e da escrita passa a ser mais exigente, aumenta a distância percentual entre os menos e mais proficientes, entre os que podem ou não realizar determinadas tarefas.

PORTUGUÊS

GRÁFICO 5

ATIVIDADES QUE REALIZA NAS REDES SOCIAIS, POR NÍVEL DE ALFABETISMO (%) (2015)

100 Fonte: Inaf (Ação Educativa et al., 2015).

O uso de ferramentas de busca como Google é frequente para 70% daqueles que possuem nível rudimentar e para 95% daqueles considerados proficientes. Existe um claro aumento desse uso conforme se amplia o nível de alfabetismo, entretanto, mais de dois terços do grupo que está no nível rudimentar também utilizam ferramentas de busca.

Com base no estudo, parece haver um maior potencial de inclusão de grupos com menor nível de alfabetismo nos chamados letramentos digitais. Um grupo significativo de pessoas com baixo nível de alfabetismo faz uso das redes sociais, envia mensagens instantâneas e utiliza a Internet. Isso é ainda mais generalizado entre os mais jovens. Verifica-se também que quanto mais complexa a tarefa ser realizada mais os grupos de menor alfabetismo são excluídos.

Sabemos que o surgimento de novas tecnologias da escrita e de sua reprodução como a criação do livro, da imprensa, dos computadores e tablets, trouxeram mudanças no modo de ler e na maneira como os sujeitos lidam com a informação (Batista, Vóvio, & Kasmirsky, 2015). Nos vários anos de realização do Inaf identifica-se uma redução da leitura em seus suportes tradicionais, reduzindo-se também a frequência a bibliotecas (Batista et al., 2015).

Em 2001, 22% dos entrevistados do Inaf declararam não ler livros, passando para 46,9% em 2011 (Batista et al., 2015).

Nesse sentido, verificamos que o grande uso das tecnologias digitais, em especial das redes sociais, tem um efeito multiplicador no que se refere ao uso da leitura e da escrita, especialmente dos grupos de mais baixo nível de alfabetismo. Não é possível indicar ainda, em um primeiro estudo, em que medida este uso impacta positivamente na elevação do nível de alfabetismo, mas já é possível afirmar que ocorre algum nível de inclusão que se faz em uma dimensão relacionada ao campo dos multiletramentos. No uso das redes sociais, por exemplo, as pessoas não apenas fazem uso da leitura e da escrita tradicional como gravam áudios, utilizam imagens e outros recursos para se comunicar, o que amplia o leque de possibilidades para aqueles que possuem baixo nível de alfabetismo medido com base em usos de suportes

PORTUGUÊS

mais tradicionais, como o livro, as revistas e os jornais. Assim, coloca-se como desafio ampliar o conceito de alfabetismo, tendo em vista essas novas tecnologias e usos de novos suportes que têm capacidade, ainda que em nível rudimentar de leitura e escrita, de incluir um grande número de pessoas.

REFERÊNCIAS

Ação Educativa, Instituto Paulo Montenegro, & Centro de Estudos e Pesquisas em Cultura - Cenpec (2015).

Alfabetismo e letramento no Brasil: 10 anos do Inaf. Belo Horizonte: Autêntica.

Batista, A. A., Vóvio, C. L., & Kasmirsky, P. R. (2015). Práticas de leitura no Brasil, 2001-2011: Um período de transformações. In Ação Educativa, Instituto Paulo Montenegro, & Centro de Estudos e Pesquisas em Cultura - Cenpec, Alfabetismo e letramento no Brasil: 10 anos do Inaf. Belo Horizonte: Autêntica.

Bonamino, A., Coscarelli, C. V., & Ribeiro, A. E. (2015). Alfabetismo e leitura no Pisa, no Enem e no Inaf: Comparando concepções e alcances em matrizes de referência de avaliações de larga escala.

In Ação Educativa, Instituto Paulo Montenegro, & Centro de Estudos e Pesquisas em Cultura - Cenpec, Alfabetismo e letramento no Brasil: 10 anos do Inaf. Belo Horizonte: Autêntica.

Ribeiro, V. M., & Fonseca, M. C. (2010). Matriz de referência para a medição do alfabetismo nos domínios do letramento e do numeramento. Estudos em Avaliação Educacional, 21 (45), 147-168.

Rojo, R. (2015). O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) e os novos letramentos. In Ação Educativa, Instituto Paulo Montenegro, & Centro de Estudos e Pesquisas em Cultura - Cenpec, Alfabetismo e letramento no Brasil: 10 anos do Inaf. Belo Horizonte: Autêntica.

PORTUGUÊS

A NOVA BATALHA EM TORNO DA PROTEÇÃO