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A pesquisa TIC Domicílios, realizada anualmente desde 2005, tem como objetivo principal monitorar a adoção das TIC, mais especificamente o acesso e o uso de computadores, dispositivos móveis e de Internet nos domicílios brasileiros. O plano amostral da pesquisa baseia-se no Censo Demográfico e da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São entrevistados presencialmente indivíduos de 10 anos de idade ou mais, de áreas urbanas e rurais, sobre o uso de Internet, computadores e dispositivos móveis (CGI.br, 2016).

Os Gráficos 3 e 4 apresentam a proporção de domicílios com acesso à Internet, abrangendo o período de 2013 a 2015, e variáveis de classe social e regiões do país. A última pesquisa publicada, conduzida em 2015, teve como base 67.038.766 domicílios e os dados foram coletados entre novembro de 2015 e junho de 2016.

No Gráfico 3, que apresenta a proporção de domicílios com acesso à Internet dividida por região do país, é possível observar que, embora com bases e variáveis completamente distintas, reproduz-se aqui um modelo que mostra uma diferenciação por região. Novamente há uma predominância do Sudeste, sendo que Norte e Nordeste encontram-se abaixo das demais. Observa-se uma tendência de crescimento na proporção de domicílios com acesso em quase todas as regiões, com tendência de estabilidade no Sul e Sudeste. Embora se verifique a presença de 62% de domicílios desconectados na região Norte, houve um aumento no acesso à Internet na região, o que ressaltaria um indício de ter havido um incremento da inclusão digital naquelas localidades.

O problema se dá quando olhamos para o Gráfico 4, no qual, em vez de se tomar como base as regiões, decidiu-se olhar para a variável classe social. Enquanto a classe A se aproxima da quase inclusão total à rede, as classes DE somadas ainda têm somente 16% dos domicílios conectados.

Portanto, os dados parecem indicar que, embora regionalmente a taxa de domicílios conectados tenha revelado uma diminuição da distância entre regiões, se a tendência continuar a se repetir pelos próximos anos e se olharmos do ponto de vista socioeconômico, ainda haverá um longo caminho a se percorrer para que os menos favorecidos sejam incluídos digitalmente. Existe uma grande barreira de exclusão a ser vencida, pois a inclusão está se dando de modo desigual (Dimaggio, Hargittai, Celeste, & Shafer, 2004).

PORTUGUÊS GRÁFICO 3

PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS COM ACESSO À INTERNET, POR REGIÃO (2013 – 2015) Total de domicílios (%)

80 70 60 50 40 30 20 10 0

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

26

35 38

51

60 60

30

37 40

51 51 53

44 44 48

2013 2014 2015

GRÁFICO 4

PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS COM ACESSO À INTERNET, POR CLASSE SOCIAL (2013 – 2015) Total de domicílios (%)

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

A B C DE

97 98 97

39

48 49

80 82 82

8

14 16

2013 2014 2015

Fonte: TIC Domicílios (CGI.br, 2016).

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Os Gráficos 5 e 6 mostram como se dá o tipo de acesso dentre aqueles domicílios já conectados. Novamente, o que chama atenção nos dados não é a diferença de velocidades por região, mas sim a proporção dos que possuem banda larga, observando-se a classe social.

Em 2015, enquanto 90% de domicílios da classe A possuíam acesso via banda larga, nas classes DE o índice era de apenas 42%, analisando-se somente os domicílios com conexão.

GRÁFICO 5

PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS COM ACESSO À INTERNET VIA BANDA LARGA FIXA, POR REGIÃO (2013 – 2015) Total de domicílios com acesso à Internet (%)

100

PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS COM ACESSO À INTERNET VIA BANDA LARGA FIXA, POR CLASSE SOCIAL (2013 – 2015) Total de domicílios com acesso à Internet (%)

100

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Diante dessa desigualdade, a fim de suprir sua necessidade de estar conectada ou seu desejo de pertencer a essa nova era digital, a população passa a recorrer a outras formas de acesso, como o uso de dispositivos e redes móveis, conforme pode ser observado nos Gráficos 7 e 8.

GRÁFICO 7

PROPORÇÃO DE USUÁRIOS QUE ACESSARAM A INTERNET PELO CELULAR POR MEIO DE REDE MÓVEL 3G OU 4G, POR REGIÃO (2013 – 2015)

Total de usuários de Internet pelo telefone celular (%) 100

PROPORÇÃO DE USUÁRIOS QUE ACESSARAM A INTERNET PELO CELULAR POR MEIO DE REDE MÓVEL 3G OU 4G, POR CLASSE SOCIAL (2013 – 2015)

Total de usuários de Internet pelo telefone celular (%) 100

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Embora ainda exista grande disparidade, é possível notar um encurtamento da distância entre classes em comparação aos indicadores de disponibilidade de acesso à Internet no domicílio:

em 2015, 94% dos usuários de Internet pelo celular da classe A acessaram a rede via 3G ou 4G enquanto o percentual para as classes DE foi de 69%. Essa tendência também pode ser verificada no levantamento por região, que mostra que a região Norte apresenta o maior percentual de usuários de Internet no celular com acesso via rede 3G ou 4G, chegando a 86%

em 2015.

Quais são os motivos que restringem o pleno engajamento digital, conforme definido por Helsper (2008)? Os dados parecem corroborar a ideia do forte papel desempenhado pelos dispositivos móveis em contraponto ao acesso via redes cabeadas, especialmente no domicílio.

Os Gráficos 9 e 10 revelam alguns dos motivos que podem explicar a falta de acesso à rede nos domicílios. Para além do fator referente ao preço da Internet, esta análise tenta focar principalmente em dois pontos que estão mais relacionados às políticas públicas: a qualidade de infraestrutura para levar a Internet aos domicílios e o fomento à ampliação de acesso à Internet em outros locais, além dos residenciais, como, por exemplo, em ambientes educacionais e espaços públicos, entre outros.

No Gráfico 9, é possível observar que entre os principais motivos para a não utilização da Internet na região Norte estão falta de disponibilidade de rede na região do domicílio, o preço da conexão e, levando-se em consideração os dois itens anteriores, o fato de o usuário realizar o acesso por algum outro local que não o domicílio. Para estes itens, os percentuais da região Norte são, ainda que em menor proporção, seguidos também por Centro-Oeste e Nordeste.

Na região Norte, 42% dos domicílios assinalaram que o motivo de não terem Internet no domicílio é o acesso do morador em outro local, enquanto 56% disseram que o motivo é a falta de disponibilidade onde a residência está localizada. Logo, percebe-se a importância de investimentos estruturais para que a Internet chegue a esses domicílios, mas, ao mesmo tempo, nota-se o papel desempenhado por esses outros pontos de acesso. Dados da TIC Domicílios apontam, por exemplo, que os usuários da região Norte são os que utilizam com maior intensidade locais públicos para a acesso à Internet, tais como centros públicos de acesso pago (15%) e centros de acesso público gratuito (22%).

No Gráfico 10, observa-se que a não disponibilidade é ligeiramente maior entre as classes menos favorecidas.

PORTUGUÊS GRÁFICO 9

PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS SEM ACESSO À INTERNET, POR MOTIVOS PARA A FALTA DE INTERNET, POR REGIÃO (2013 – 2015) Total de domicílios sem acesso à Internet (%)

ACESSO EM OUTRO LUGAR

PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS SEM ACESSO À INTERNET, POR MOTIVOS PARA A FALTA DE INTERNET, POR CLASSE SOCIAL (2013 – 2015)

Total de domicílios sem acesso à Internet (%)

ACESSO EM OUTRO LUGAR

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Revisitando os objetivos e analisando os dados da pesquisa TIC Domicílios, no recorte por região, verifica-se uma tendência de melhoria da qualidade da Internet em todo o país, não só quanto à velocidade de conexão, como mostram os dados do projeto Simet, mas também no que se refere à inclusão. Embora haja essa aparente tendência de crescimento no acesso à Internet, ela parte de um ponto muito desigual. Verifica-se, portanto, que ainda persiste uma distância significativa entre as classes sociais no que diz respeito ao acesso às TIC.

Levar Internet de qualidade a mais domicílios e a um baixo custo exige que as políticas públicas invistam a longo prazo em infraestrutura de acesso. Enquanto isso, existe um período de transição em que algumas iniciativas poderiam ser desenvolvidas para incluir digitalmente os cidadãos, como a ampliação de espaços digitais compartilhados.

A falta de conexão à Internet no domicílio pode ser suprida pelo acesso à rede em locais públicos, como escolas, centros, praças e bibliotecas. As empresas também podem contribuir com a inclusão digital. Conscientes de seu papel social nas regiões onde atuam, elas podem trazer um desenvolvimento que gere riqueza e crie um ciclo virtuoso para o país.

A mobilidade também é um fator positivo. Como observado, ainda que ofereçam um uso mais limitado aos conteúdos digitais, os dispositivos móveis têm um papel importante no acesso das classes menos favorecidas às TIC.

REFERÊNCIAS

Bittencourt, A., Senne, F., Oyadomari, W., & Barbosa, A. (2015). Inclusão digital e mobilidade:

Uma análise do perfil dos usuários de Internet móvel no Brasil. Proceedings of the 9th CPRLatam Conference, Cancun. Recuperado em 20 janeiro, 2017, de https://ssrn.com/abstract=2715219

Chinn, M. D.; Fairlie, R. W. (2004). The determinants of the Global Digital Divide: A cross-country analysis of computer and Internet penetration. Center Discussion Paper 881, Economic Growth Center.

Yale University: New Haven.

Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGI.br. (2016). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2015. São Paulo: CGI.br.

Dimaggio, P., Hargittai, E., Celeste, C., & Shafer, S. (2004). Digital inequality: From unequal access to differentiated use. In K. Neckerman (Ed.), Social Inequality (pp. 355-400). Nova Iorque: Russell Sage Foundation.

Hassani, S. N. (2006). Locating digital divides at home, work, and everywhere else. Poetics, 34, 250-272.

Helsper, E. (2008). Digital inclusion: An analysis of social disadvantage and the information society.

Londres: Department for Communities and Local Government.

Madruga, E., Kashiwakura, M., & Baraviera, D. (2012). Measuring nationwide residential broadband services. International Conference on Innovations in Information Technology - ITT 12 (pp. 89-94). Abu Dhabi, United Arab Emirates.

Nyíri, J. C. (2004). Review of Castells, the information age. In F. Webster; B. Dimitriou (Ed.), Manuel Castells, Volume III (pp. 5-34). London: Sage Publications.

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DIGITALMENTE SEM VOZ: O USO DA INTERNET POR