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A Comissão Especial de Tratamento e Proteção de Dados Pessoais pode propor um texto substitutivo capaz de unificar os PLS no 4060/12 e o PL no 5276/16. A sinalização feita pelos diversos membros da comissão é que os parlamentares estão dispostos a negociar a redação do projeto, de modo a satisfazer interesses do setor privado e das organizações da sociedade civil. Essa abertura para negociação tem o potencial de fragilizar a redação do PL no 5276/16, considerada a mais robusta das perspectivas de proteção de direitos dos cidadãos (Bioni, 2015). Além desse fator, há a possibilidade de que setores do governo e aliados do PSDB acelerem a votação do PLS no 330/2013 no Senado, o que pode colidir com o trabalho feito pela Comissão Especial.20

Caso a pressão da sociedade civil organizada seja forte o suficiente – mantendo a estrutura do PL no 5276/16 –, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais brasileira terá um desenho próximo ao modelo europeu, recentemente revisto pelo Regulamento Geral de Proteção de Dados Pessoais. Caso a pressão do setor empresarial seja mais forte e bem sucedida, a legislação brasileira será a primeira, das principais economias do mundo, a flexibilizar os conceitos de dados pessoais e dados sensíveis, retirando também as regras de responsabilidade objetiva e solidária. É possível que o Brasil seja um piloto para mudanças semelhantes em outros países, em um processo de desregulamentação do setor e diminuição dos instrumentos jurídicos dos titulares de dados pessoais.

É certo que o Brasil terá uma lei de proteção de dados pessoais. Mas nada impede que o país tenha uma péssima lei, inaplicável à administração pública e aos gestores de bancos de dados criados e compartilhados por diferentes órgãos estatais, e completamente desfigurada em seus conceitos, princípios de tratamento de dados e mecanismos de responsabilização civil. A questão não é se haverá legislação, mas como ela será estruturada nos seus detalhes conceituais. A disputa está em aberto e cabe a todos os cidadãos – verdadeiros geradores de dados – um posicionamento sobre o tipo de lei que é desejável.

REFERÊNCIAS

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20 O fator de estabilização, que pode evitar tal colisão de trabalhos por motivos partidários, é que a presidência da comissão na Câmara dos Deputados é da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP). O substitutivo do PLS no 330/2013 foi apresentado pelo então senador Aloysio Nunes (PSDB-SP). Em voto apresentado na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), em maio de 2016, o senador defendeu que “é essencial que se crie um marco legal para a atividade de tratamento de dados no Brasil, que estabeleça padrões de segurança mínimos e mecanismos sólidos de defesa dos direitos individuais”. Recuperado em 22 maio, 2017, de https://legis.senado.leg.

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