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O ato de “namorar” reflete a estabilidade e a durabilidade de um relacionamento baseado no amor.

Percebemos que o ato de “ficar” é uma conduta assumida por uma maioria do povo brasileiro deste século (séc. XXI), sendo avaliado pelo CV-10 como um comportamento negativo por refletir a irresponsabilidade, a imaturidade e a inconstância dessa parcela significativa da sociedade- na verdade a parcela de jovens que estão acostumados a todo tipo de “modismos” e , manipulados socialmente, acabam por propagar essa mentalidade “anti- namoro”.

Por outro lado, o ato de “namorar” é descrito de forma bastante positiva pelo CV-10 e está relacionado a um grupo de pessoas que contrastam com o comportamento anterior (ato de “ficar”) cristalizado socialmente e que vive segundo valores evangélicos: estabilidade, durabilidade, segurança, amor.

Após analisar os dos dois tipos de relacionamento, o CV-10 dá o “xeque- mate” e lança a conclusão do seu raciocínio de forma categórica: O ato de “ficar” deve ser abolido socialmente em nome do amor cristão (parágrafo final).

Desse modo, podemos perceber que o CV-10, ao desenvolver os processos argumentativos do texto, dar a audiência parâmetros conceituais para avaliar a conduta da sociedade (a maioria do povo brasileiro), que aceita naturalmente o ato de “ficar” como forma de relacionamento, e a conduta dos cristãos, os quais defendem o ato de “namorar” como a forma

mais correta de relacionamento entre um homem e uma mulher. Para isso, ele recorre ao uso de uma outra técnica argumentativa: o argumento pelo modelo/ antimodelo. Segundo Reboul (2004, p. 187) “O modelo é mais que exemplo; é exemplo dado como algo digno de imitação”. Dai, ao associar o ato de “namorar” a um comportamento vivido por uma comunidade de cristãos da qual o próprio produtor faz parte, o CV-10 recorre ao argumento pelo modelo com o intuito de levar a audiência a perceber no comportamento desse grupo valores mais estáveis e a imitá-lo. Do contrário, o comportamento social de uma maioria de jovens é descrito de forma a levar a audiência a rejeitá-lo, vendo-o como algo não digno de imitação.

No que se refere ao gênero do discurso, verificamos que o CV-10 parece ter conhecimento sobre as regras do artigo de opinião, pois apresenta e situa o problema, analisa-o e tece comentários sobre as duas formas de relacionamento, e, em nenhum momento hesita em assumir a responsabilidade do seu ponto de vista, pelo contrário, assinala-o desde o título de forma veemente e até provocativa (“Eu namoro, e daí?), até no próprio corpo do texto (“ Eu

acredito no namoro”- Linha 10), deixando claro que tem convicção da idéia que está

defendendo, mesmo que para isso tenha que se opor a uma maioria da sociedade, afeita a formas de relacionamentos superficiais e a “modismos” (Linha 13). Aqui vale uma observação: toda a argumentação do CV-10 nasce em confronto ou oposição ao pensamento do outro (grupo que defende o ato de “ficar”) e , às vezes, a alusão à palavra do outro (“Como....pode dar bons

frutos?”- Linhas 08 e 09) vai ser resgatada no discurso do CV- 10 para dar autoridade ao “dito”,

assegurando, portanto, a legitimidade ao seu discurso a partir de uma retomada de um fragmento bíblico “a parábola da figueira” (Mc 11), que por não dar bons frutos foi amaldiçoada por Jesus.

Então, o CV-10 constrói a argumentação do seu texto utilizando o argumento da definição, mas em função do argumento do modelo/ antimodelo, e recorre a elementos descritivos com o intuito de traçar um perfil positivo do grupo que segue os valores do cristianismo e orientar a audiência a seguir o comportamento deste grupo, isto é, aceitar o namoro como a melhor opção para se viver um relacionamento a dois. Esses valores religiosos (estabilidade, durabilidade, segurança, amor), associados a padrões sociais de conduta (certo/ errado; proibido/ permitido/ vantajoso/ desvantajoso), é que revelam, via texto, o ethos do CV-10: “A forma mais

namorando” (Linhas 02 e 03), situando- o nesse grupo de pessoas que defendem a estabilidade

no relacionamento a dois, “Apesar de estarmos no século XXI” (Linha 02).

Observamos que o emprego da locução adverbial “apesar” produz o seguinte efeito de sentido: traduz uma relação semântica de concessão, dando a idéia de que o CV-10 está consciente de que as noções “certo/ errado” faz parte do passado, mas que cabem muito bem neste século marcado pela superficialidade dos relacionamentos.

3.1.11. Texto do Candidato ao vestibular 11 (TCV- 11)

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Só “ficar” pode ser fatal A realidade é essa: a vida de uma pessoa pode ser decidida em apenas uma noite. Reportagens feitas com ado- lescentes mostram como é grande o número de jovens que preferem ficar, a namorar.

No clima envolvente das festas noturnas as pessoas que nunca haviam se cruzado antes, terminam a noite em motéis ou em lugares propícios a uma maior inti- midade sem, na maioria dos casos, usarem a consciên- cia preservativa. Diante dessa situação existem duas pos- sibilidades bastante reais: uma é a gravidez imprevista e muitas vezes precoce e a outra é a disseminação de

doenças sexualmente transmissíveis, onde entre elas pode es- tar a aids.

De acordo com as estatísticas, é crescente o númro de jovens grávidas e de pessoas contaminadas por essas doenças tendo que conviver com isso para o resto da vida e pensando como seria o hoje se a decisão toma- da no ontem tivesse sido pensada.

Diferente de um simples “ficar”, o namoro gera entre o ca- sal uma maior responsabilidade nas atitudes a serem to-

madas; as conseqüências podem ser positivas como o sur- gimento de um laço familiar, onde o respeito será o com- dutor da união, além da estabilidade emocional que as pessoas adquirem.

Por isso é importante haver o resgate dos costumes tradi- cionais, tendo como ordem correta: a apresentação entre as pessoas, onde com as afinidades surgirá o namoro, e por fim a chegada da decisão do que será melhor para os que estão envolvidos.

Como podemos observar, o CV-11, ao iniciar os processos argumentativos do seu texto, tenta estabelecer um acordo prévio com a audiência através da apresentação de um enunciado geral compartilhado por todos: as decisões que tomamos num ínfimo instante podem determinar as nossas vidas para sempre: (“A vida de uma pessoa pode ser decidida em apenas

uma noite”- Linhas 01 e 02). Para justificar esse enunciado, o CV-11 recorre ao uso de um

argumento baseado na estrutura do real: o argumento de autoridade.

Segundo Reboul (2004, p. 177), o argumento de autoridade busca justificar uma afirmação “baseando-se no valor do seu autor”. No texto em análise, o CV-11 recorre a uma voz de prestígio social, a voz da mídia, para provar a preferência do jovem pelo ato de “ficar” (“Reportagens feitas com adolescentes mostram como é grande o número de jovens que preferem

‘ficar’ a namorar”- Linhas 02 e 03). A voz do outro é que vai ser retomada no discurso do CV-

11 para marcar a autenticidade do enunciado citado anteriormente.

Isto feito, o CV-11 procura fortalecer a sua argumentação enumerando uma série de conseqüências advindas da opção do jovem pelo ato de “ficar”: o local de encontro dos jovens (festas noturnas), os contatos casuais, as pernoitadas nos motéis, o risco de uma gravidez indesejada ou até mesmo a contaminação pelo HIV (Linhas 05 a 13).

Além de apresentar os efeitos causados pelo ato de “ficar” por meio de uma reportagem, o CV-11 recorre novamente a uma outra autoridade no mundo da mídia: as Pesquisas de Mercado a fim de corroborar os dados apresentados no parágrafo anterior no tocante à gravidez indesejada e a contaminação de DST: (“De acordo com as estatísticas, é crescente o número de jovens

grávidas e de pessoas contaminadas com essas doenças”- Linhas 14 a 16). Notamos que nesse

enunciado, o CV- 11 usa o que Maingueneau (2004) chama de modalizador em discurso segundo (“De acordo com”) para assegurar a fidelidade à voz do outro, no caso com as empresas que trabalham com a pesquisa de mercado.

Mas o CV-11 não intenciona somente apresentar dados brutos, ele quer também provocar a sensibilidade da audiência e o faz relatando, mesmo que indiretamente, a situação das pessoas contaminadas pelo vírus da AIDs, que são obrigadas a conviver com a doença para o resto da vida e a refletir sobre “como seria o hoje se a decisão tomada no ontem tivesse sido pensada” (Linhas 17 e 18).

Depois disso, o CV-11 confronta o ato de “ficar” com o outro lado da realidade: o ato de “namorar”, que produz as seguintes conseqüências para o casal: a responsabilidade, o surgimento de um laço familiar, o respeito, a união e a estabilidade emocional (Linhas 19 a 24).

No final do texto é que o CV-11 assume um posicionamento de forma mais explícita: a defesa do ato de “namorar” como uma forma de relacionamento já cristalizada pela “tradição” e um meio capaz de ajudar os envolvidos a decidirem o melhor para as suas vidas, uma vez que como ele sugere no título “Só ficar pode ser fatal”.

Por se tratar de um texto cujo gênero do discurso exige capacidade argumentativa, verificamos que o CV-11 recorreu ao argumento de autoridade para dar suporte ao seu ponto de vista, no entanto, ele parece tê-lo feito de forma puramente empírica. Basta observarmos que, em nenhum momento, o CV-11 se remeteu à fonte das reportagens feitas com adolescentes citadas no parágrafo introdutório, tampouco aludiu o nome do Instituto de Pesquisa em que se baseou para citar as estatísticas sobre os casos de gravidez indesejada e de contaminação de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) mencionadas no terceiro parágrafo do texto. Inclusive, sequer apresentou dados percentuais, o que seria de suma importância para uma análise e interpretação científica dos dados, fato que produziu o seguinte efeito de sentido: a falta de uma base científica para a produção do artigo de opinião.

De um modo geral, pudemos observar que o CV-11 parece ter utilizado o argumento de autoridade porque é o recurso que dispõe no ato da produção do texto, mas, por sua vez, recorre à criatividade para levantar e sistematizar as idéias e é bastante enfático no que se refere à descrição das conseqüências negativas do ato de “ficar”, e mantém uma coerência entre a idéia defendida e o título apresentado que, a priore, provoca o seguinte efeito: cria expectativas no leitor; além disso utiliza uma linguagem impessoal (os verbos são empregados na terceira pessoa (“é”- Linhas 01, 14-, ocultando o agente “é importante”- Linha 25), talvez para dar um caráter de “cientificidade” e provocar a adesão da audiência à tese defendida. Pela defesa do “resgate dos

costumes tradicionais” (Linha 25) e da “ordem correta” (Linha 26) da forma de relacionamento

que defende: apresentação dos envolvidos, namoro..., deduzimos o ethos do CV- 11: trata-se de uma pessoa consciente, séria, imbuída dos valores sociais tradicionais (família, respeito, estabilidade) e comprometida com a defesa de uma forma de relacionamento estável entre o casal.

3.1.12. Texto do Candidato ao Vestibular 12 (TCV-12)

Analisando o texto do CV-12, verificamos que ele constrói sua argumentação utilizando um argumento quase-lógico: o argumento da divisão. Neste tipo de argumentação “divide-se um todo- a tese por provar- em partes, e, depois de mostrar que cada uma delas tem propriedades em questão, conclui-se que o todo tem essa mesma propriedade” (REBOUL, 2004, p.171).

Dessa forma, o CV-12 toma, como ponto de partida de sua argumentação, uma afirmação facilmente compartilhada pela audiência: a polêmica em torno do ato de “ficar” e do ato de “namorar” tem dividido a população. Segundo o CV-12 : “Muitas pessoas só ficam, outras só

namoram, daí surgirem as discussões sobre o assunto” (Linhas 02 e 03). O emprego do advérbio

“só” produz o seguinte efeito de sentido: a negação da totalidade.

Nos parágrafos seguintes (parágrafos 02 e 03), o CV-12 vai analisar essas duas formas de relacionamento, e apresenta as desvantagens do ato de só “ficar” e do ato de só “namorar”. Para o CV-12: 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17

“Ficar e namorar estão em alta” Nos tempos atuais discute-se muito a questão do ficar ou do namorar. Muitas pessoas só ficam, outras só namoram, daí surgirem as discussões sobre o assunto. As pessoas que só ficam e não querem namorar, estão perdendo a chance de conhecer melhor novas pessoas, de passarem a gostar de outras pessoas e de viverem um relacionamento a dois. Sei que ficar é bom, mas tem certas pessoas que dizem que namorar é ruim, sem ainda ter experimentado.

Outras pessoas que preferem apenas namorar e se recusam a ficar, também estão perdendo muito, pois perdem a oportunidade de diversão, curtição, que é muito boa. Namorar é bom, mas é melhor depois de várias ficadas.

Por isso que é melhor unir o ficar e o namorar, pois você terá mais experiência e estará preparado para um relacionamento a dois.

1. As pessoas que só ficam perdem a chance de conhecer, gostar e se relacionar com