• Nenhum resultado encontrado

As pessoas que só namoram perdem a oportunidade de curtição e diversão com o outro (Linhas 10 a 13).

Observamos que após apresentar o comportamento (e a visão) das pessoas que vivem uma das duas formas de relacionamento, o CV-12 refuta tais comportamentos (e tais visões), pois para ele tanto o ato de “ficar” como o ato de “namorar” tem suas vantagens (“é bom): “tem certas

pessoas que dizem que namorar é ruim sem terem experimentado” (Linhas 08 e 09) / “Namorar é bom, mas é melhor depois de várias ficadas” (Linhas 13 e 14).

Daí fica fácil deduzir que o CV-12 desenvolve a sua argumentação, a partir da rejeição da voz do outro (voz social), em nome da defesa e sustentação da seguinte tese: Ficar e Namorar são experiências que devem se somar na vida de um casal a fim de dotar o casal de uma experiência afetiva.

Então, depois de argumentar em favor das duas formas de relacionamento, o CV-12 formula a seguinte conclusão: “É melhor unir o ficar e o namorar, pois você terá mais

experiência e estará preparado para um relacionamento a dois” (Linhas 15 a 17). Por esse

enunciado, o CV-12 deixa transparecer o ethos de uma pessoa que conhece a moral social (bom/ ruim), mas que não se limita a essa moral, pelo contrário: percebe e valoriza o lado positivo dos relacionamentos humanos, não excluindo, portanto, nenhuma forma de relacionamento, sendo até mesmo capaz de ir além dos estereótipos sociais.

Assim, o CV-12 apresenta-se bastante moderado na defesa do seu ponto de vista sobre a questão discutida, evitando extremismos, mostrando a audiência que se pode encontrar um ponto de intersecção entre o ato de “ficar” e o ato de “namorar”, demonstrando uma certa habilidade para produzir o gênero do discurso solicitado, tratando ainda o assunto de forma impessoal (Vejamos o uso gramatical do verbo “discute-se”- Linha 01, indeterminando o sujeito). Ele faz também algumas intervenções a fim de mostrar a audiência o seu ponto de vista (“Sei que ficar é

bom , mas tem certas pessoas que...”- Linhas 07 e 08), sem recorrer a agressão verbal, ou até

Nesse contexto, é possível entender o título “Ficar e namorar estão em alta”, que funciona, desde então, como uma pista, estabelecendo um vínculo com as informações textuais, E faz- nos perceber como essas duas formas de relacionamento têm sido objeto de discussão e, por vezes, suscitado práticas diferenciadas entre as pessoas da sociedade.

Esquematicamente, poderíamos resumir o plano textual do CV-12 da seguinte maneira: Apresentação do problema (discussão em torno do ato de ficar e namorar) argumento 1 (desvantagem do ato de só ficar) + argumento 2 (desvantagem do ato de só namorar) + conclusão (retomada do problema e sugestão de alternância entre ficar e namorar).

3.1.13. Texto do Candidato ao Vestibular 13 (TCV- 13)

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

Namorar ou ficar, qual o melhor? Atualmente, existe várias formas de se relacionar, entre elas estão ficar e o namorar. Temos que escolher entre uma e outra, não podemos nos relacionarmos das duas formas ao mesmo tempo e nem alternadamente.

O namorar é algo mais sério que o ficar. O ficar é apenas passar alguns minutos ou algumas horas juntos, muitas vezes não há tempo nem para conversar sobre algo interessante. O ficar é simplesmente uns beijos ou então uma simples transa. Por isso o ficar é algo tão su- perficial. O namorar é algo que exige uma maior seriedade dos envol- vidos pois estes além de beijar e muitas vezes transar, eles conversam, tro- cam idéias, compartilham os momentos bons e os ruins, são companheiros. Além disso, os namorados muitas vezes possuem mais respeitos pelas pes- soas mais velhas e por seus familiares.

As pessoas que namoram muitas vezes são até mais felizes do que as pessoas que apenas ficam porque aquelas vão construindo uma vida com uma compania, vão amadurecendo cada

vez mais cedo através da troca de pensamentos, procuram não ver a vi- da como uma brincadeira mas sabendo dividir os momentos sérios dos momentos que é permitido brincar. Através do namorar as pessoas apren- dem mais coisas como o respeito, o companheirismo, como ser menos egoís- tas entre outra.

Por isso, adolescentes e adultos que não se casaram ainda namorem e não apenas fiquem. Namorar é algo que te dar mais pra- zer e alegria. O simples ficar faz você se sentir solitário. Vamos formar uma comunidade mais feliz e com mais esperança de um mundo melhor.

Como podemos verificar, o CV-13, ao iniciar os processos argumentativos do seu texto, recorre a uma premissa compartilhada pela audiência: a existência de uma variedade de relacionamentos sociais na contemporaneidade, dentre eles: o ato de “ficar” e o ato de “namorar”. Depois de estabelecer esse acordo prévio com a audiência, o CV-13 refuta veementemente esse comportamento social (e o discurso do outro que o sustenta) e introduz o seu ponto de vista ou a sua tese: cada pessoa deve fazer uma escolha : ficar ou namorar. (“Não podemos nos

relacionarmos das duas formas nem alternadamente”- Linhas 03 e 04).

Para fundamentar o seu ponto de vista, o CV-13 recorre a um argumento quase-lógico: o argumento da comparação. Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca (2002), os argumentos de comparação são aqueles que confrontam realidades diferentes a fim de avaliá-las umas em relação às outras. Neste caso, o CV-13 busca confrontar as duas formas de relacionamento: o ato de namorar e o ato de “ficar”. Vejamos os enunciados abaixo:

1. “O namorar é algo mais sério que o ficar” (Linha 05)

2. “O namorar é algo que exige uma maior seriedade dos envolvidos” (Linhas 09 e 10); 3. “Os namorados muitas vezes possuem mais respeito pelas pessoas mais velhas e por seus familiares” (Linhas 12 e 13)

4. “As pessoas que namoram são até mais felizes” (Linha 14)

5. “Através do namorar as pessoas aprendem mais coisas, como o respeito, companheirismo, como ser menos egoístas entre outras coisas”(Linhas 19 a 21)

Podemos observar que o CV-13, ao recorrer ao uso dos advérbios (mais/ menos), produz os seguintes efeitos de sentido: o advérbio mais é empregado para intensificar a seriedade que envolve o ato de “namorar” (exemplo 01 e 02), mas também outros valores: o respeito aos idosos (exemplos 03 e 05) e o companheirismo (exemplo 05). Já o advérbio menos, ao ser utilizado

pelo CV- 13, vai marcar uma intensidade de presença no ato de “namorar”, mas sem ser objeto de preocupação para o casal, até porque “as pessoas que namoram são até mais felizes” (Linha 14). Ou seja, há uma intensidade maior de sentimento para este relacionamento mais estável.

Já para apresentar o ato de “ficar”, o CV-13 prefere recorrer a um outro argumento quase- lógico: o argumento da definição. Para ele:

1. “O ficar é passar alguns minutos ou algumas horas juntos” (Linhas 05 e 06); 2. “O ficar é simplesmente uns beijo ou então uma simples transa” (Linhas 07 e 08); 3. “O ficar é tão superficial” (Linha 09).

Observamos que o ato de “ficar” é descrito pelo CV-13 como algo limitado ao momento, isto é, ao tempo presente (exemplo 01), sem qualquer compromisso ou racionalidade por parte dos envolvidos (exemplo 02), daí entendermos a superficialidade desta forma de relacionamento (exemplo 03).

Confrontadas as duas formas de relacionamento, o CV-13 orienta a audiência a escolher, dentre o ato de ficar e o ato de namorar, aquela que oferece mais suportes para tornar a vida mais alegre e prazerosa. Assim, não resta dúvida quanto a sua conclusão: a melhor opção é namorar. E olha que o CV-13 dirige sua conclusão para um auditório bem particularizado: os solteiros:

“Por isso, adolescentes e adultos que não se casaram ainda, namorem e não apenas fiquem. Namorar é algo que te dar mais prazer e alegria. O simples ficar faz você se sentir solitário. Vamos formar uma comunidade mais feliz e com mais esperança de um mundo melhor” (Linhas 22 a 26).

De um modo geral, o que observamos é que o CV-13 tem conhecimento das regras do gênero do discurso. Ele apresenta o problema a ser discutido (1° parágrafo), analisa as duas formas de relacionamento (o ato de ficar e o ato de namorar) nos parágrafos seguintes, através do uso de dois argumentos quase lógicos: o argumento da comparação e o argumento da definição e justificou o seu ponto de vista (tese), com o intuito de promover a eficácia da argumentação. Além disso, mantém a impessoalidade do texto, através do uso do verbo ser na terceira pessoa (Linhas 05, 08, 23).

Caso curioso é que, ao recorrer aos argumentos quase lógicos para fundamentar o seu ponto de vista, o CV-13 analisa o ato de ficar e o ato de namorar no mesmo parágrafo, quando, por uma maior clareza de idéias, talvez seja mais adequado segmentar os parágrafos. Parece- nos que a intenção do CV-13 é a de confrontar diretamente as duas formas de relacionamento, daí a opção pelo confronto dos dois atos num só parágrafo. Não obstante, acreditamos que isso não compromete a argumentação, uma vez que o CV-13 retoma e descreve com mais profundidade o ato de namorar, a fim de fortalecer o seu ponto de vista no texto.

Assim, apesar de algumas inadequações quanto ao uso do vernáculo (concordância do verbo existir na linha 01; uso da forma composta “podemos nos relacionarmos”- Linha 02; omissão da letra “h” em “compania”- Linha 16) e a aparente “confusão” de idéias no parágrafo segundo, que poderia ser desdobrado em dois parágrafos, cada um analisando uma das formas de relacionamento, acreditamos que o CV-13 se empenha bastante com os processos argumentativos do seu texto, desde o acordo que tenta estabelecer com a audiência até a apresentação de argumentos, defesa e justificativa do seu ponto de vista com vistas à eficácia argumentativa do artigo de opinião.

O ethos que o CV-13 deixa transparecer no texto é de uma pessoa madura, experiente, que experimentou as duas formas de relacionamento e quer aconselhar jovens e adultos a optarem por uma relação saudável, estável e comprometida com a alegria e a felicidade dos envolvidos.

3.1.14. Texto do Candidato ao Vestibular 14 (TCV-14)

Analisando o texto do CV-14, observamos que ele inicia os processos argumentativos do seu texto a partir do título, com uma indagação: “ficar”, namorar ou “ficar” e namorar”?, para, em seguida, estabelecer o acordo prévio com a audiência por meio da apresentação de uma premissa comum aos interlocutores: ficar, namorar ou alternar as duas formas de relacionamento é uma questão que povoa o universo jovem e adulto (“Esta é uma pergunta feita por muitos

jovens e adultos de nossa sociedade”- Linhas 01 e 02). Observamos que o discurso do CV-14 é

construído a partir das visões do outro (jovem/ adulto) sobre as formas de relacionamentos da contemporaneidade.

Depois de estabelecer o acordo com a audiência, o CV-14 mostra que os jovens e adultos da nossa sociedade se dividem em três práticas distintas:

01 02 03 04 05 06 07 08 19 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

“Ficar” ,namorar ou “ficar” e namorar? Esta é uma pergunta feita por muitos jovens e adultos de nossa sociedade. Alguns preferem só “ficar” a namorar, dizem que é mais moderno e mais livre, não se tem o compromisso de ligar para o outro no dia seguinte. O que realmente importa é o “agora” e o “depois” não existe. No outro dia não lembrasse nem do nome de quem “ficou” na noite passada.

Ao contrário dos “ficantes”, outros preferem namorar. Esse é um relacio- namento mais sério. Conhecer os pais, apresentar aos amigos e andar sem- pre juntos são algumas das etapas do namoro. É uma relação

mais estável e mais segura do que o “ficar”. Com o namoro temos a oportunidade de conhecer mais o outro e dividir experiências. Além desses, há os que preferem alternar entre “ficar” e namorar. Em alguns momentos preferem estar com pessoas diferentes em cada festa que se vai e com o passar do tempo sentem-se sós e partem para

um namoro.

Dessas três opções o namoro é o mais seguro. É nele que mantemos uma maior relação de cumplicidade, carinho e amor com o outro. E é essa opção em que se tem mais

chances de se chegar a um matrimônio e construir uma família.

1. Os que preferem “ficar”, por defenderem que é uma forma de relacionamento