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Texto do Candidato ao Vestibular 04 (TCV-04)

2. Ficar é algo descompromissado e atraente (parágrafo 3°).

3.1.4. Texto do Candidato ao Vestibular 04 (TCV-04)

Observando o TCV- 04, percebemos que ele desenvolve todo o processo argumentativo do seu texto usando basicamente um argumento quase-lógico: o argumento da definição. Primeiro, o CV-04 recorre à voz do outro (voz social representada pelos pais, educadores e psicólogos), para definir o ato de namorar e o ato de ‘ficar”: (“Namorar é algo ultrapassado,

obsoleto, em desuso”- Linhas 03 e 04; “Ficar é algo comum entre adolescentes e pré- adolescentes”- Linha 05) e situar o auditório sobre essa questão, que está presente em várias

instâncias sociais: família, escola, círculos de Psicologia e entre a juventude (“Essa questão se faz

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Namoro: relacionando-se verdadeiramente Ficar ou namorar? Essa questão se faz presente em

conversas e discussões entre pais, educadores, psicólogos e, é

claro entre os jovens. O namorar tem sido exposto como algo ultrapassado, em desuso, obsoleto, enquanto o ficar tornou-

se prática comum entre os adolescentes e até mesmo entre os pré-

adolescentes. É necessária uma análise das implicações, pois há diferenças gritantes e conseqüências significativas que envolvem tais

formas de relacionamento.

O namoro proporciona envolvimento com a outra pes- soa, o que contribui para o desenvolvimento da capacidade de re- lacionar-se verdadeiramente. Verdadeiros relacionamentos implicam em ajuda mútua na solução de problemas, conhecimento um do outro, de seus desejos e necessidades, forma de pensar, ou seja, há ite- ração. Existe oportunidade de crescer juntamente com o outro, na troca de experiência e, principalmente, na convivência com as di- ferenças. São aspectos fundamentais a serem desenvolvidos nessa fase

da vida. O namoro funciona como preparação para o casamento, ajudando na descoberta das possibilidades da relação. Ficar? Ficar é pas-

sageiro, frágil, momentâneo. Pode durar alguns dias, porém, frequen- temente não ultrapassa uma noite. Rege-se, primordialmente, pela necessidade física, não vai além disso. Como poderemos exigir dos

nossos adolescentes, relacionamentos e casamentos saudáveis se durante uma fase estratégica de suas vidas seus relacionamentos não passa-

ram de um tênue “ficar”?

Se ainda temos a oportunidade de preparar os nossos fi-

lhos para uma vida social tranqüila e consistente, especificamente nos re- lacionamentos com o sexo oposto, precisamos ficar alertas sobre o ficar e suas conseqüências. Namoro não é algo ultrapassado, é preparação para o futuro.

presente em discussões entre pais, educadores, psicólogos e, é claro, entre os jovens”- Linhas 01

a 03). Com essa recorrência a voz alheia, ele parece querer dar autenticidade ao discurso social vigente; depois, sem querer ser simplista, o CV-04 chama a atenção do auditório (leitor) para uma análise atenciosa das implicações dessas duas formas de relacionamento atuais (“É necessária

uma análise das implicações, pois há diferenças gritantes e conseqüências significativas que envolvem tais formas de relacionamento”- Linhas 06 a 08).

Posto isso, o CV-04 procura analisar criticamente as duas formas de relacionamento atuais (Linhas 19 a 24). Para isso, ele emprega duas técnicas argumentativas: (01) o argumento baseado na estrutura do real (o argumento pragmático), a fim estabelecer uma relação de causa- efeito com relação ao ato de namorar, apresentando as conseqüências favoráveis dessa forma de relacionamento e (02) o argumento quase-lógico (o argumento da definição) para caracterizar o ato de “ficar” (Cf. quadro 02):

(01) O ato de namorar proporciona: (02) O ato de ficar: x envolvimento;

x relação verdadeira; x ajuda mútua;

x conhecimento do outro; x conviver com as diferenças; x preparação para o casamento.

x é passageiro; x é frágil; x é momentâneo; x é superficial;

x é motivado por uma necessidade física.

Desse modo, o CV-04 refuta veementemente o ato de “ficar” e, com o intuito de provocar uma reação na audiência, formula uma indagação retórica : “Como poderemos exigir dos nossos

adolescentes, relacionamentos e casamentos saudáveis se durante uma fase estratégica de suas vidas seus relacionamentos não passaram de um tênue ‘ficar’?”- Linhas 21 a 24, e, antes de uma

possível resposta do auditório, é categórico em concluir o processo argumentativo do seu texto recorrendo a um argumento da definição que vai de encontro à visão de um circulo restrito da sociedade, talvez adolescentes e pré-adolescentes: “Namoro não é algo ultrapassado, é

preparação para o futuro” (Linhas 28-29).

Na tentativa de adequar a produção escrita ao gênero do discurso solicitado, percebemos que o CV-04 recorre a dois tipos de argumentos: o argumento pragmático e o argumento pelo exemplo. De um lado, ele mostra as conseqüências do ato de “namorar” e do ato de “ficar”, defendendo o namoro como a forma de relacionamento mais adequada para o contexto social atual, por outro lança um alerta sobre as conseqüências negativas do ato de “ficar” e assume a responsabilidade do “dito” ( “Se ainda temos oportunidade de preparar nossos filhos para uma

vida social tranqüila e consistente, [...] precisamos ficar alertas sobre o ficar e suas conseqüências”- Linhas 25 a 29).

O ethos que perpassa o texto do CV- 04 é de um (a) pai / mãe zeloso (a), apegado (a) a valores consagrados da sociedade tradicional (namoro, casamento, família, filhos...) preocupado (a) com a segurança, a estabilidade e a felicidade nos relacionamentos afetivo- amorosos dos filhos (“Namoro [...] é preparação para o futuro”- Linhas 28 e 29).

Contudo, ao observar o plano textual do CV-04, verificamos que ele poderia ter analisado o ato de “namorar” e o ato de “ficar” em parágrafos diferentes, para que as idéias contidas no parágrafo 2° fossem mais bem organizadas e mais facilmente compreensíveis pelo auditório (leitor), pois evitaria o efeito de sentido que acabou produzindo: o excesso desordenado de informações sobre as duas noções num único parágrafo. Nossa explicação para esse fato é que talvez ele tenha tido a intenção de confrontar diretamente as duas formas de relacionamento (ficar/ namorar), daí ter optado por analisar a questão no mesmo parágrafo, ou, olhando por outro ângulo, talvez tenha faltado domínio dos recursos de que a língua dispõe para flexibilizar o uso da linguagem escrita.

No geral, acreditamos que essa estratégia de escrita recorrida pelo CV-04 não parece ter comprometido o conjunto da argumentação, cujo texto demonstrou que o referido candidato tem certo conhecimento enciclopédico acerca dos relacionamentos humanos. Basta observarmos, no texto do referido candidato, algumas escolhas lexicais, como, por exemplo, o uso de palavras e

das expressões seguintes: “obsoleto”, “implicações”, “primordialmente”, “convivência com a

diferença”, “troca de experiência”, “relacionamentos com o sexo oposto”, “capacidade de relacionar-se verdadeiramente”, “crescer juntamente com o outro”, entre outras.

3.1.5. Texto do Candidato ao Vestibular 05- TCV-05

Como podemos observar, CV-05 inicia os processos argumentativos do texto recorrendo a um argumento quase-lógico: o argumento da divisão. Este tipo de argumento parte da concepção do todo como soma de suas partes. Ou seja “divide-se um todo- a tese por provar- em partes, e, depois de mostrar que cada uma delas tem propriedades em questão, conclui-se que o todo tem essa mesma propriedade” (REBOUL, 2004, p.171).

Se olharmos atentamente para o texto do CV-05, veremos que a tese ou idéia principal já aparece explícita no primeiro parágrafo, através da recorrência de um silogismo bastante comum no meio popular: o entimema, que poderia ser resumido assim:

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Relação verdadeira Uma relação amorosa entre duas pessoas, só é possível, quando existe um amor mútuo e recíproco entre

ambos. Podendo ser conceituado como um namoro e não como apenas um “ficar” que não tem tanta afinidade assim.

O namoro propriamente dito é aquele que expli- cita uma química de carinho, sedução e desejo no casal.

Além disso, os dois possuem um tempo necessário para se conhecerem e aprender mais um com o outro.

Por outro lado, o “ficar” é uma forma vazia de duas pessoas se aproximarem, não existe segurança e confirmação daquilo que se faz. Existe também um “ficar” mais prolongado, mas mesmo assim nele não se encontra a coerência por parte dos componentes.

Em virtude dos fatos mensionados somos levados a acreditar que uma relação só pode ser definida através de um namoro, onde existe tempo e amor por parte dos envolvidos e não apenas através de um simples encon- tro sem muita importância.

1. Toda relação amorosa é verdadeira