• Nenhum resultado encontrado

O ato de “ficar” envolve apenas curtição, falta de compromisso e se reduz ao presente (parágrafo 1°).

Ao avaliar o namoro, o CV-08 apresenta os efeitos dessa forma de relacionamento por meio de uma gradação de argumentos: conhecimento do parceiroÎ interesseÎ desejo de estar juntoÎ compartilhar as mesmas emoçõesÎ ter um lugar no coração da pessoa amadaÎ planejar um futuro a doisÎ ser feliz. Assim ele relaciona a idéia de namorar a felicidade que esse ato proporciona no decorrer desse relacionamento vivido pelo casal. E isso está bem explicito na conclusão do processo argumentativo depreendido a partir da leitura do último parágrafo do texto: O namoro torna o casal mais feliz. (“Por isso, eu digo a você, namore, namore muito e

seja feliz”- Linhas 21 e 22).

Já os efeitos causados pelo ato de “ficar” para o CV-08 não são favoráveis para quem opta por essa forma de relacionamento, uma vez que não existe compromisso entre o casalÎ há somente curtição Î falta planejamento para o futuro. Daí, o CV-08 cria uma atmosfera argumentativa capaz de orientar a audiência a deduzir que o ato de “ficar” não traz felicidade para o casal.

Dessa forma, marcando bem as conseqüências dos dois atos, o CV- 08 parece criar um quadro geral sobre as duas formas de relacionamento, a fim de garantir a credibilidade da audiência e levá-la a aderir a sua tese já explicita no título do seu texto de que “Namorar é bem

melhor”. Observamos que o título, além de dar nome ao texto, também sintetiza o que o CV-08

considera mais importante em termos de informação ou mensagem do texto.

O ethos que o produtor faz de si, a partir do seu discurso, é a de uma pessoa experiente, segura e consciente daquilo que está dizendo ao outro, ainda que esse outro seja um outro genérico. Basta observarmos o uso constante do pronome de tratamento “você” (Linhas 02, 03, 05, 07, 08, 11, 17, 21).

Isto posto, podemos verificar que o CV-08, além do argumento pragmático que perpassa todo o processo argumentativo do seu texto, utiliza outros recursos que acreditamos gerar na audiência efeitos argumentativos, como por exemplo:

™ O uso de repetições: a repetição do pronome você do e do verbo conhecer: 1.“...maneira de você conhecer...” (Linha 02);

2. “Quando você conhece alguém” (Linha 07);

3. “...Você conhece bem...” (Linha 11)

™ O uso de sinônimos:

1. “estar sempre perto”- (Linhas 09 e 10);

2. “estão sempre juntos”- (Linhas 13 e 14)

3. “estar com quem você gosta” - (Linha 17).

Como podemos perceber, o uso de repetições e de sinônimos produzem os seguintes efeitos de sentido: enfatizam os argumentos arrolados em defesa da tese principal e sustentam a atenção da audiência no mesmo foco: as conseqüências positivas do ato de “namorar”.

No que se refere ao gênero do discurso, o CV-08 parece ter conhecimento das regras do artigo de opinião. Isso se verifica: a) na forma como estrutura o texto: apresentação do problema (1° parágrafo), análise do problema em questão (2°, 3° e 4°) e conclusão do processo argumentativo (5° parágrafo); b) na opção pelo uso de uma linguagem impessoal (observe que o CV-08 emprega, no conjunto do texto, os verbos na 3ª pessoa do singular: “fica”- Linha 04; “começa”- Linha 07; “conhece”- Linha 11); c) na constante tentativa de adaptar o discurso à audiência, através do estabelecimento e manutenção do diálogo por meio do emprego de dêiticos pessoais (“Quando você conhece alguém e começa a se interessar por ela...Linhas 07 e 08/ “Por

isso eu digo a você.. Linhas 21-22); nas injunções (“eu digo a você...”- Linha 21), assinalando,

portanto, que todo o seu discurso nasce em função do e para o outro.

Assim, é bem verdade que a informalidade da linguagem e as repetições podem produzir efeitos de sentido diferentes na audiência no plano formal do texto, uma vez que se espera o uso

da norma culta ou padrão na produção escrita, a qual procura evitar tais repetições, mas em termos de conteúdos, elas vêm, como já dissemos anteriormente, realçar a idéia-núcleo do produtor do texto, auxiliando na construção argumentativa do discurso.

3.1.9. Texto do Candidato ao Vestibular 09 (TCV-09)

Como podemos verificar, o CV-09, ao iniciar os processos argumentativos do seu texto, recorre a um argumento quase-lógico: o argumento da comparação. Neste tipo de argumentação, conforme Perelman e Olbrechts-Tyteca (2002), procura-se confrontar realidades diferentes a fim de avaliá-las umas em relação às outras.

01 02 03 04 05 06 07 08 19 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Na mente dos jovens

No pensamento da juventude não sai outra questão a não ser “ficar” ou namorar. Acontece que esse pri- meiro está associado com algumas doenças sexualmente transmissíveis. E o segundo, menos perigoso que o pri- meiro, é mais sério, correto, regulamentos que adolescen- tes não se identificam muito.

Além de demonstrar intriga, infidelidade entre os jovens, “ficar” traz conseqüências ainda piores que eles não veêm. Algumas D.S.T. são pegas só pelo beijo. Em alguns casos também, só pelo rapaz ou moça serem bo- nitos, fazem sexo com qualquer um, e o pior, sem preser- vativos.

Já o termo namorar é posto raramente no vocabu- lário dos jovens, pois é um tema que exprime mais se- riedade e menos aventura, é o que os jovens não que-

rem. Eles não vão deixar de se aventurar para se prenderem a uma pessoa, e mais, para os mesmos, namorar é

muito correto, romântico. Eles não querem saber de ro- mance.

Em relação aos fatos mencionados, a juventude só pensa em ficar, não tendo as conseqüências em mente. Se os “ficantes” pensassem antes de agir veriam que na- morar é o melhor negócio.

Se observarmos o texto do CV-09 veremos que ele após apresentar o problema a ser discutido no primeiro parágrafo: a questão do “ficar” ou “namorar” (“No pensamento da

juventude não sai outra questão a não ser ficar ou namorar”- Linhas 01 e 02), ele modaliza o

discurso, situa-o no universo adolescente, procura confrontar essas duas formas de relacionamento, e aponta, no segundo e terceiro parágrafos do texto, as conseqüências (negativas) do ato de “ficar” e as conseqüências (positivas) do ato de “namorar”.

Segundo o CV-09 o ato de “ficar” está associado à intrigaÎ infidelidade entre os jovensÎ Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) Î sexo inseguro (sem o uso de preservativo)Î. Note que esses efeitos são muito fortes e carregam uma conotação muito negativa para o universo jovem. Por isso, esse ato é avaliado pelo produtor do texto como [mais perigoso].

Já o ato de “namorar”, segundo o CV-09, “exprime mais seriedade e menos aventura” (Linhas 14 e 15). O emprego dos advérbios mais e menos produzem os seguintes efeitos de sentido: a) intensificam as características positivas do ato de namorar; e b) possibilitam a audiência inferir uma informação sobre a forma de relacionamento contrária: o ato de “ficar” é menos sério e é carregado de mais aventura.

Com isso, o CV-09 orienta a audiência a perceber que os jovens construíram uma imagem, ainda que distorcida, das duas formas de relacionamento. Na mente deles é preferível “ficar” a “namorar”, pois eles não medem as conseqüências dos dois atos (“Eles não vão deixar

de se aventurar para se prenderem a uma só pessoa”- Linha 16), ao contrário, para os jovens

“namorar é muito sério e romântico” (Linha 17), traços que eles não pretendem assumir num relacionamento a dois.

Desse modo, analisando o texto do CV-09 podemos inferir a seguinte tese: O jovem prefere ficar a namorar porque não pára para pensar sobre as conseqüências das duas formas de relacionamento. E a partir dela organizar os seguintes argumentos: