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Texto do Candidato ao vestibular 06 (TCV 06)

2. O ato de “ficar” é uma forma vazia de aproximação entre duas pessoas; é uma forma de relacionamento baseada na insegurança, na dúvida, na incoerência e na falta de

3.1.6. Texto do Candidato ao vestibular 06 (TCV 06)

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Aos cidadãos da nossa comunidade: Compromisso ou “farra”?

No próximo sábado, dia 18 acontecerá em nossa cidade um “show”

de “Babado Novo”. Muitos jovens, alguns da nossa comunidade, estarão presente. As garotas, desde agora, já estão preocupadas que roupa vestir, com que sapato,

pensando se encontrarão “ o príncipe encantando”. Os meninos, estão comentando com seus amigos com quantas garotas vão “ficar”.

Assim tem se resumido a vida de muitos adolescentes. Eles estão preo- cupados apenas em divertirem-se. Momentos passageiros os quais em nada acrescentam para a formação e crescimento desses jovens como ser humano e cidadão do mundo consciente.

Não condeno, entretanto, aquelas pessoas que primeiro “ficam” a fim de co- nhecer um pouco melhor o outro. Mas, desde que a partir do momento que

decidiram “ficar” com tal pessoa, possa pensar no futuro. Imaginar, por exemplo, que na sua frente pode estar a mãe dos seus filhos ou o homem que cuidará de você. É importante ter em mente que não se pode “brincar” com os sentimentos dos outros, pois um dia você poderá estar no lugar de quem você magoa. O namoro é muito bom quando levado a sério e com responsabilidade,

visando a construção de um relacionamento “sólido” que resultará, certamente, em um casamento feliz. Relacionar-se compromissadamente com o outro é

fundamental para que laços firmes sejam feitos e assim uma família bem estruturada seja criada.

Portanto, “fiquem” para experimentar o beijo do seu futuro namorado (a) com quem aprenderá muito sobre a vida e seu futuro marido ou esposa

que compartilhará, ao seu lado, os momentos mais felizes como o nascimento de um filho, sua ida à escola, seu ingresso na universidade, sua

formatura.

Como podemos verificar, o CV-06, ao iniciar os processos argumentativos do seu texto, recorre a um tipo de argumento que funda a estrutura do real: o argumento pelo exemplo. Segundo Perelman & Olbrechts-Tyteca (2002), nesse tipo de argumentação recorre-se a um caso particular quando se quer chegar a uma generalização no final de um raciocínio. É o que ocorre com o texto do CV-06.

Primeiramente, na tentativa de estabelecer um acordo prévio com a audiência, ele descreve um exemplo bastante comum no mundo contemporâneo: o encontro maciço de jovens (garotos e garotas) nas baladas noturnas: “Neste sábado acontecerá em nossa cidade um ‘show’

de ‘Babado Novo’. Muitos jovens, alguns de nossa comunidade, estarão presentes. As garotas, desde agora, já estão preocupadas com que roupa vestir, com que sapato, pensando que encontrarão o ‘príncipe encantado’. Os meninos, estão comentando com seus amigos com quantas garotas irão “ficar” (Linhas 01 a 05). Notamos que o CV-06, ao descrever esse

exemplo, apresenta as expectativas tanto das garotas: roupa/ sapato/ príncipe encantando (Linhas 03 e 04) quanto dos garotos: “ficar” com quantas garotas encontrarem (Linha 05), para em seguida extrair uma generalização: os jovens só se preocupam com a diversão, que é passageira e nada acrescenta para a formação humana e cidadã.

Não obstante, o CV-06 defende o ato de “ficar” como condição para o namoro, isto é, enquanto um meio de se conhecer melhor o outro (linha 11), planejar o futuro (Linha 12 e 13), respeitando o sentimento alheio (Linhas 14 e 15).

Para dar suporte ao seu ponto de vista, o CV-05 mobiliza um argumento baseado na estrutura do real: o argumento pragmático. Assim, ele apresenta as conseqüências favoráveis do ato de namorar: seriedade, responsabilidade e solidez no relacionamento, casamento feliz, família bem estruturada (Linhas 16 a 20) a fim de orientar a audiência a aderir à idéia de que só se deve “ficar” se por trás há a intenção de “namorar”.

Dessa forma, o CV-06 assegura o diálogo com a audiência, e conclui que o ato de “ficar” pode ser redimensionado em função de um propósito maior na vida: um relacionamento estável e feliz, e o faz de forma categórica: “Portanto, ‘fiquem’ para experimentar o beijo do seu futuro

compartilhará ao seu lado os momentos mais felizes, como o nascimento de um filho, sua ida à escola, seu ingresso à Universidade, sua formatura” (Linhas 21 a 25).

Vemos que o CV-06 inicia os processos argumentativos do seu texto recorrendo à argumentação pelo exemplo, e conclui o seu raciocínio mobilizando outros exemplos, só que diferentemente do exemplo 01 (1° parágrafo), que associa o ato de “ficar” a diversão ou ‘farra’ (cf. título), no parágrafo final ele associa o ato de “ficar” ao compromisso que pode ser confirmado com o surgimento do namoro.

Um fato curioso é que o CV-06 mesmo sabendo que não poderia fazer qualquer marca identificadora no seu texto, ainda assim o faz, razão pela qual acreditamos que ele conhece as regras do gênero artigo de opinião e, de alguma forma, sabe que a assinatura é comum nesse gênero. Daí optar pela assinatura, ainda que esta apareça de forma genérica e não revele o sujeito da enunciação (“Morador do seu bairro” - Linha 26), demarcando explicitamente a responsabilidade do discurso, que é assumida pelo enunciador ou produtor do texto. Outrossim, a assinatura pode ainda ter sido um artifício argumentativo do CV-06 para conferir autoridade ao seu discurso. Basta observamos o uso do dêitico “seu” (Linha 26) ou a expressão que abre o texto “Aos cidadãos da nossa comunidade”, ambas deixam claro que o enunciador é alguém que conhece, convive e, portanto, partilha dos mesmos problemas do bairro onde mora o interlocutor (outro).

Analisando o texto do CV-06 na perspectiva do gênero do discurso, o produtor cria uma expectativa sobre o tema que será discutido a partir do título do texto (compromisso ou farra?), delimita o assunto em questão (relacionamento entre os jovens), mobiliza dois tipos de argumentos (argumentos pelo exemplo/ argumento pragmático) para defender o seu ponto de vista ou tese: “ficar” como condição para um relacionamento sério, e utiliza outras estratégias discursivas para estabelecer e sustentar o diálogo com o interlocutor: (1) pergunta (Cf. título), (2) injunções (“ não se pode brincar com os sentimentos dos outros, pois um dia você poderá

estar no lugar de quem você magoa- Linhas 14 e 15), e (3) crenças comuns (“ o namoro é muito bom quando levado a serio e com responsabilidade, visando a construção de um relacionamento ‘sólido’, que resultará ,certamente, em um casamento feliz- Linhas 16 a 18).

O ethos que perpasso texto do CV-06 é de uma pessoa moderada ideologicamente, consciente de sua condição sócio- afetiva e imbuída de valores sociais (seriedade, respeito, compromisso, responsabilidade, estabilidade) capazes de assegurar a perenidade de um relacionamento e garantir a felicidade do casal.

3.1.7. Texto do Candidato ao Vestibular 07 (CV-07)

Como podemos observar, o CV-07, ao iniciar os processos argumentativos do seu texto, apresenta uma idéia genérica (“Todo nosso processo de vida é feito de escolhas”- Linha 01) facilmente compartilhada pelo auditório, para em seguida delimitar o tema, e introduzir o ato de namorar e/ou “ficar” como dependente de uma escolha subjetiva que envolve sobretudo

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“Ficar” ou namorar, uma decisão a se tomar Todo nosso processo de vida é feito de escolhas, e

“ficar” e namorar é uma que envolve demasiadamente nossos sentimentos. Então, ao tomarmos uma decisão como esta, a primeira coisa que devemos fazer é pesquisar nossos sentimentos.

Ela me atrai só porquê é bela ou existe algo mais que me move e me faz delirar? Será a cor de

seus cabelos ou “ o maravilhoso movimento” de seus cabelos? Será seu estilo ou todo seu charme?

Nosso corpo, nossas falas e nossos sentimentos reagem a cada tipo de atração, às vezes uma

simples beleza se transforma em “ um grande espetáculo da natureza”, depende de como os sentimentos reajam a cada atração. E se realmente você viaja na pos- sibilidade de amar alguém, por que então fazer disto algo momentâneo? Namore e deixe os sentimentos fluírem. Mas também não namore sem que algo lhe mova a isto. Então se for uma simples atração física, só “fique”, mas se vocês acham que seus sentimentos afloram, namore em demasia, mas porém, nunca se esqueçam de tomar a decisão certa, que realmente lhe deixe feliz.

sentimento. Esse tipo de argumento é reconhecido como entimema, um tipo de silogismo abreviado bastante comum no meio popular, que pode ser resumido assim:

™ Por ser resultado de uma escolha, ficar e/ou namorar envolve sentimentos

Dessa forma, o CV-07 articula a sua tese, defendendo que ficar e/ ou namorar são formas de relacionamento que dependem exclusivamente de uma decisão pessoal. E como não há decisão ou escolhas sem uma reflexão, isto é, sem um voltar-se para “dentro” para examinar o seu conteúdo “interior” (sentimentos), ele mobiliza os seguintes questionamentos no parágrafo 2° que podem funcionar como pistas para auxiliar a audiência a sondar ou “pesquisar os seus sentimentos” :

“Ela me atrai só porquê é bela ou existe algo mais que me move e me faz delirar?” “Será a cor de seus cabelos ou ‘ o maravilhoso movimento’ de seus cabelos?” “Será seu estilo ou todo seu charme?”

Notamos que o CV-07, ao mobilizar essas interrogações, tem uma intenção bem explícita que aparece no terceiro parágrafo do texto: realçar a idéia de que reagimos ao outro de acordo com o tipo de atração que sentimos: (“Nosso corpo, nossas falas e nossos sentimentos reagem a

cada tipo de atração” (Linhas 10 e 11). Para isso, ele utiliza um argumento que funda a estrutura

do real: o argumento pelo exemplo.

Nesse tipo de argumento, o CV-07 busca partir de um caso particular para se chegar a uma generalização (“As vezes uma simples beleza se transforma num ‘grande espetáculo’ da

natureza” (Linhas 12 a 13). Em outras palavras: o que é simples pode ser ampliado pela lente da

atração e se tornar grandioso aos nossos olhos. Vemos ainda que a expressão “grande espetáculo

da natureza” foi aspeado pelo CV-07, demarcando de forma clara a intenção do referido

candidato em destacar o discurso do outro (provavelmente, a voz dos apresentadores dos espetáculos circenses) e isentá- lo da responsabilidade do ‘dito’.

O CV-07, como podemos verificar, para garantir a atenção da audiência novamente recorre ao uso de um recurso argumentativo bastante eficiente: a pergunta: “E se realmente você

viaja na possibilidade de amar alguém, por que, então, fazer disso algo momentâneo?” (Linhas

15 e 16), e, antes de obter uma possível reação do auditório, antecipa uma sugestão: só namorar se realmente houver amor entre os envolvidos. Do contrário, é preferível não investir nessa forma de relacionamento: (“ Namore e deixe os sentimentos fluírem. Mas também não namore sem que

algo lhe mova a isto”- Linhas 16 e 17).

Dessa forma, o CV-07 retoma a idéia gerada no início do processo argumentativo do texto e conclui deixando a audiência livre para escolher a melhor opção para se viver um relacionamento a dois, apenas com uma ressalva: a escolha certa é aquela capaz de nos tornarem felizes. (Linhas 18 a 22).

Por se tratar de um artigo de opinião, O CV-07 procura apresentar o problema a ser discutido (ficar ou namorar), analisa-o de forma lógica nos parágrafos seguintes e defende seu posicionamento diante da temática abordada (liberdade de escolha), mas sempre com ressalvas, visto que ele tem consciência de que a audiência é responsável pelas escolhas que faz (Cf. título) e deve seguir os ditames dos sentimentos. O adjetivo “primeira”- que aparece na linha 04 caracterizando o substantivo “coisa”- pode provocar os seguintes efeitos de sentido na audiência:

™ Que o candidato acredita ter outras coisas a ‘pesquisar’ além dos sentimentos; ™ Que o candidato não tinha outra coisa a ‘pesquisar’; e

™ Que as outras coisas viriam depois da ‘pesquisa’ dos sentimentos.

Assim, podemos dizer que o CV- 07, apesar de cometer algumas inadequações quanto ao uso do vernáculo (uso da 1ª pessoa do plural, da 3ª pessoa do singular e da 3ª pessoa do plural simultaneamente no conjunto do texto; emprego simultâneo de duas adversativas “mas porém”- Linha 20), cria o processo argumentativo do seu texto de forma dialogal, circunscrevendo o seu pensamento dentro do gênero do discurso solicitado (artigo de opinião), utilizando além da argumentação pelo exemplo, outros recursos disponíveis, como a recorrência ao entimema (cf. parágrafo introdutório), a pergunta (cf. Parágrafos 2 e 3) e as informações implícitas (parágrafo

1°), para sustentar a tese principal, revelando o ethos de uma pessoa prática cujas ações são desencadeadas a partir da correspondência sincera entre o momento vivido e a intensidade dos sentimentos experienciados no presente.

3.1.8. Texto do Candidato ao Vestibular 08 (TCV-08)

Como podemos observar, CV-08, ao iniciar os processos argumentativos do seu texto, recorre a um tipo de argumento baseado na estrutura do real: o argumento pragmático, com a intenção de sustentar a seguinte tese: a melhor opção para um relacionamento a dois é o namoro. Para isso, ele descreve as conseqüências do ato de “namorar” e do ato de “ficar”, descritas por Perelman e Olbrechts- Tyteca (2002), conforme podemos visualizar abaixo:

1. O namoro possibilita o conhecimento, o interesse, o compromisso e a