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5. CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

5.6. Instrumentos para avaliar e monitorar a sustentabilidade

5.6.3. Atributos da sustentabilidade socioambiental

A metodologia MESMIS parte da premissa de que o conceito de sustentabilidade se define a partir de sete atributos gerais dos agroecossistemas, a saber:

i) Produtividade: consiste na capacidade do agroecossistema conseguir um alto nível de produtividade, mediante uso eficiente e sinergético dos recursos naturais e econômico, ou melhor, representa a capacidade do agroecossistema gerar o nível desejado de bens e serviços, como rendimentos e ganhos em um determinado intervalo de tempo (por exemplo: uma safra agrícola);

ii) Resiliência: é a capacidade do sistema de retornar ao estado de equilíbrio ou manter o potencial produtivo, depois de sofrer graves perturbações, ou seja, representa a competência de um ecossistema em recuperar sua capacidade de produção, após sofrer determinadas perturbações. Por exemplo, depois da queda drástica do preço de um dos produtos importantes do agroecossistema ocorre o restabelecimento do equilíbrio econômico da unidade produtiva; iii) Confiabilidade: ocorre quando o sistema tem capacidade de reagir a perturbações do ambiente e de manter sua produtividade ou benefícios desejados em níveis próximos ao equilíbrio ante as perturbações normais do ambiente;

iv) Estabilidade: representa a capacidade do sistema ter equilíbrio dinâmico estável, ou seja, a capacidade do sistema manter os benefícios proporcionados ao longo do tempo em condições médias ou normais;

v) Adaptabilidade ou flexibilidade: significa a capacidade do sistema de encontrar novos níveis de equilíbrio, gerando benefícios ante mudanças de longo prazo no ambiente. Neste atributo, também se contempla a capacidade de busca de novas tecnologias para melhorar as condições existentes (exemplos: organização social, diversificação de culturas, etc.);

vi) Equidade: entende-se como a capacidade do agroecossistema distribuir de forma justa, intra e inter-gerações os benefícios e custos resultantes do manejo dos recursos naturais, isto é,

a equidade representa a distribuição da renda agrária e de suas fontes entre os habitantes de sua comunidade (MOLINA e CASADO, 2006);

vii) Autodependência ou autogestão: consiste na capacidade do agroecossistema regular e controlar suas relações com o exterior, isto é, são os processos de organização dos mecanismos do sistema socioambiental utilizados para definir endogenamente seus próprios objetivos, prioridades, identidade e seus valores. Um exemplo de baixa capacidade de autodependência é o input de insumos para manter níveis de produtividade do agroecossistema (ASTIER et al., 2000; ASTIER et al., 2008).

A avaliação da sustentabilidade pode e deve ser feita de três formas: longitudinal, transversal e mista: i) a avaliação transversal compara um ou mais sistemas alternativos com um sistema de referência; ii) a avaliação longitudinal analisa o mesmo sistema ao longo do tempo; e iii) a avaliação mista é quando se realiza, concomitantemente, a avaliação longitudinal e a transversal. Neste trabalho será adotada a avaliação mista (ASTIER et al., 2000; DEPONTI et al., 2002; MASERA et al., 2008; ASTIER et al., 2008).

A opção pela metodologia MESMIS, neste trabalho, deve-se a várias experiências positivas realizadas por diversos pesquisadores, algumas citadas a seguir, que vêm contribuindo para o melhor conhecimento da realidade socioambiental dos agroecossistemas, por intermédio da aplicabilidade do enfoque sistêmico e participativo nas tomadas de decisões com a participação ativa dos atores sociais com destaque para os agricultores familiares, visando ao desenvolvimento sustentável.

Seguem algumas experiências positivas realizadas por pesquisadores que destacam a importância desta metodologia na busca da sustentabilidade dos espaços rurais:

1) Deponti et al. (2002), aponta experiência positiva com o emprego do MESMIS pela EMATER/RS, com atuação dos seus técnicos nas regiões de Passo Fundo e Erechim, na construção de indicadores para a avaliação e monitoramento de sistemas;

2) Guzmán Casado e Mielgo (2007), abordam que o caráter sistêmico dessa metodologia leva a população rural a participar da solução dos problemas da sustentabilidade via mudança do atual modelo pelos princípios agroecológicos;

3) Speelman et al. (2007), fizeram ampla revisão bibliográfica a partir de relatórios internos, artigos e livros, em 28 estudos de caso, em trabalhos realizados no México, Argentina, Bolívia, Brasil e Peru, nos quais foram aplicados o marco MESMIS. Os autores concluíram

que esta metodologia é eficaz como ferramenta para analisar a sustentabilidade de sistemas, porém sua eficiência depende do envolvimento dos diferentes atores sociais para aumentar a probabilidade de sucesso. Este pressuposto está relacionado diretamente com a proposta de que essa metodologia consiste na participação ativa dos atores sociais envolvidos no processo para construção dos indicadores de sustentabilidade e avaliação dos indicadores a longo prazo para melhor compreensão dos sistemas;

4) Cedillo et al. (2012), em estudo realizado com emprego do MESMIS no Rancho Universitario do Centro Universitario Temascaltepec, San Simón de Guerrero, Mexico conseguiram avaliar a sustentabilidade, identificaram os principais problemas e propuseram alternativas para o manejo agroecológico daquele ambiente. Segundo os autores essa metodologia permitiu avaliação detalhada e holística dos processos decorrentes naqueles agroecossistemas, inclusive chegando a identificar melhoria nos indicadores socioambientais, enquanto que os indicadores econômicos diminuíram;

5) Oliveira (2012), realizando pesquisa no território de Carnaubais, Piauí, avalia os impactos agronômicos, sociais e econômicos decorrentes do processo de reestruturação produtiva da agricultura praticada pelos produtores para fazer frente as suas vulnerabilidades na busca do desenvolvimento endógeno, tendo como base a transição agroecológica;

6) Verona (2008), que realizou trabalho de pesquisa para tese doutoral em 15 unidades agrícolas familiares de base ecológica, localizadas em sete municípios na região sul do Rio Grande do Sul;

7) Ferreira et al. (2011), utilizaram esta medotologia no estudo da influência das barragens subterrâneas na sustentabilidade dos agroecossistemas do semiárido do Estado da Paraíba; 8) Schneider e Costa (2013), empregaram o MESMIS no diagnóstico socioeconômico e ambiental em diferentes agroecossistemas da microbacia hidrográfica Pirapora, no município de Piedade, Estado de São Paulo;

9) E, por último, os autores que têm sido referências desta metodologia: Masera et al. (2000), Masera et al. (2008); Astier et al. (2008).