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3. AGROECOSSISTEMAS E AGRICULTURA FAMILIAR

3.2. Entendendo o conceito de sistemas

Ainda tem sido comum o estudo fragmentado das ciências, sobretudo das agrárias, onde as pesquisas têm ocorrido de forma pontual, atomizadas, sem considerar as propriedades

29 A tendência deve-se ao fato de que isolados os agricultores ficam completamente a mercê dos intermediários,

não tendo nenhum poder de barganha, para vender sua produção. Entretanto, quando unidos e organizados o poder de negociação é outro, pois poderá comprar (insumos) ou vender (produção) com negociar preços mais justos.

30 As economias de escopo também são economias de escala. Mas, ao invés de se referirem a um só bem, se

rurais como com espaço complexo, onde há diversos subsistemas que interagem, positiva ou negativamente, dependendo de fatores internos e externos, para sua sustentabilidade.

Bertalanffy (1973), destaca que não se deve utilizar a máxima da matemática, onde o todo é o somatório das partes, posto que as características constitutivas não são explicáveis a partir das características das partes isoladas. O autor destaca que é necessário estudar não somente as partes e os processos isoladamente, mas também resolver os decisivos problemas encontrados resultantes da interação dinâmica das partes, analisando como um todo. Portanto, o estudo do espaço rural é complexo e não deve ser atomizado, mas sim entendido como um todo, devendo ser pesquisados e trabalhados dentro da visão holística e sistêmica.

De forma mais sintética, porém contemplando toda sua magnitude, os sistemas, segundo vários autores (HART, 1979; CONWAY, 1985; GALLOPÍN, 2003), consistem em arranjo de componentes que funcionam como uma unidade, o qual é composto por diversos componentes (subsistemas) que interagem entre si, contendo entradas, saídas e limites.

Segundo Capra (1996), mais importante do que a definição de sistema está a compreensão dos seus princípios dentre os quais se destacam: i) Visão do todo, ou seja, a abordagem sistêmica (este tema abordaremos mais adiante) visa o estudo do desempenho total de sistemas, ao invés de se concentrar isoladamente nas partes; ii) Interação e autonomia, ou seja, os sistemas são sensíveis ao meio ambiente com o qual interagem, geralmente variáveis, dinâmicos e imprevisíveis. A fronteira do sistema estabelece os limites da autonomia interna, a interação entre os componentes do sistema e a relação deste com o ambiente; iii) Organização e objetivos, isto é, em um sistema imperfeitamente organizado, mesmo que cada parte opere o melhor possível em relação aos seus objetivos específicos, os objetivos do sistema como um todo dificilmente serão satisfeitos; iv) A complexidade do sistema deve-se às interações entre os componentes com o meio ambiente e o sistema como um todo; v) Os sistemas podem ser entendidos em diversos níveis, ou seja, pode ser uma célula, um animal, uma propriedade, uma microbacia, uma região, o planeta, e assim por diante; vi) finalmente, um sistema em determinado nível pode ser entendido como um subsistema de outro nível. Para o autor (p. 40), “[...] de acordo com a visão sistêmica, as propriedades essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das interações e das relações entre as partes.” A “teia da vida”, para Capra (1996), procura transmitir o sentido de entrelaçamento e de interdependência de todos os fenômenos.

De acordo com Gliessman (2002), os sistemas podem ser classificados como fechados ou abertos. Nos sistemas fechados, os componentes mantêm relações entre si, mas não realizam trocas com o meio exterior. Enquanto, nos sistemas abertos, representados pelos organismos vivos e os socioculturais, ocorrem relação tanto no seu interior como no meio exterior em que se encontram inseridos, influenciando o comportamento dos componentes dos sistemas e repercutindo no ambiente externo.

A compreensão das propriedades rurais como sistema é imprescindível para que se possam adotar tecnologias que propiciem condições para que o equilíbrio do meio seja mantido. Nos sistemas fechados (sistemas naturais) há equilíbrio propiciando condições para a conservação da fertilidade do solo e a estabilidade biótica, tendo em vista que a diversidade ambiental suporta a transferência de energia e nutrientes. Entretanto, tal comportamento já não acontece em sistemas abertos (artificiais), devido sua dificuldade para realizar a ciclagem de nutrientes, conservar o solo e manter as pragas e doenças em nível de dano econômico. Assim, os sistemas modernos, antropizados e em completo desequilíbrio, requerem grandes quantidades de energia importada (in put), para manter níveis de produtividade a médio e longo prazo, do que os sistemas tradicionais (ALTIERI, 1996).

Os agroecossistemas são mais difíceis de estudar do que os ecossistemas naturais (sistemas fechados), devido sua complexidade e ação do homem, que altera sua estrutura, como também a função dos ecossistemas naturais. Segundo Garcia Filho (1999), sistemas agrários ou agroecossistemas são complexos, pois, são formados de espaços que evoluem, fruto da história, da ação (passada e presente) e da sociedade que os ocupou ou está ocupando. Essa complexidade reside no fato de que há estreita ligação entre seus componentes (agricultores familiares, fazendeiros, empresas capitalistas, assalariados, diaristas, arrendatários, parceiros, meeiros, atravessadores, agroindústrias, bancos, fornecedores de insumos, comércio local, poder público, consumidores etc.), em que a ação de cada um depende da ação e/ou reação do outro, como também dos aspectos social, ambiental e econômico.

Assim, na expectativa de síntese do termo “sistema”, com base nos expostos acima, Silva (1973, p. 243), identifica-o como “um complexo de elementos interactuantes”, em cuja síntese está inserida a noção de complexidade (um sistema refere-se a um conjunto complexo de elementos mais simples que, por sua vez, se definem como outras complexidades), como

também a noção de interação em que os elementos integrativos ou constitutivos dos sistemas não são elementos isolados, autônomos e susceptíveis de mera adição, mas devem ser definidos pelas posições e relações que há entre eles.