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4. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E OS RECURSOS NATURAIS

4.1. Processo histórico do Código Florestal Brasileiro

A “preocupação”38 da preservação dos recursos naturais vem desde 1934, quando foi instituído o primeiro Código Florestal Brasileiro, em meio à expansão da cafeicultura, por intermédio do Decreto 23.793, de 23/01/1934 (BRASIL, 1934), que estabeleceu alguns pontos importantes no tocante à proteção das florestas, mas ficaram outros a serem clareados, haja vista as dúvidas quanto à distinção das áreas de preservação permanente e reserva florestal, bem como a inexistência de definição dos limites de matas ciliares, entre outros.

Essas dúvidas foram sanadas com a Criação do segundo Código Florestal - Lei Federal Nº 4.771, de 15 de setembro de 1965- (BRASIL, 1965), que explicitou os limites de exploração e uso das coberturas vegetativas (florestas, cerrados etc.), bem como institucionalizou os conceitos de Reserva Legal (antes denominada de Reserva Florestal), e Áreas de Preservação Permanente.

O artigo 1º, inciso II, do mencionado código conceitua Áreas de Preservação Permanente (APP) como

“[...] área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas.” (BRASIL, 1965, p. 1;

38 O destaque entre aspas deve-se ao fato de que muitas leis são criadas, institucionalizadas, mas não são

BRASIL, 2012, p. 2).

O Código Florestal também conceitua Reserva Legal (RL) como sendo aquela localizada

“[...] no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas. (BRASIL, 1965, p. 1).

Contudo, a Lei 12.651 (BRASIL, 2012) amplia a definição, inserindo a questão da sustentabilidade, segundo a qual Reserva Legal representa a

“[...] área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa. (BRASIL, 2012, p. 2). Quanto ao percentual das áreas para exploração agropecuária o Código Florestal Brasileiro (Brasil, 1965, p. 4), no inciso I, II e III do artigo 16, definiu que se deveria deixar preservados pelo menos,

“[...] I - oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia legal39l, II - trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de cerrado localizada na Amazônia legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma microbacia, e seja averbada nos termos do § 7º deste artigo; III- vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do país; e IV - vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do país”.

39 Amazônia Legal é constituída dos seguintes Estados: Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e

Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13° S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44° W, do Estado do Maranhão (BRASIL, 1965, p. 1; BRASIL, 2012, p. 2).

Contudo, apesar de constar que as áreas de reserva legal na região da Amazônia deveriam preservar pelo menos oitenta por cento da floresta e demais vegetação nativa, as escrituras lavradas, bem como a autorização de desmate fornecido pelo IBDF era de 50% no início da abertura de Alta Floresta.

Primeiro Código Florestal Brasileiro - 1934

No primeiro código Florestal foi apresentado o conceito de florestas protetoras (Reserva Florestal) e áreas de preservação permanente. Entretanto, à época, não ficaram definidos os limites das distâncias mínimas a serem adotadas, visando à proteção da vegetação natural das propriedades rurais. Na época, o objetivo era assegurar o fornecimento de carvão e lenha, permitindo a abertura das áreas rurais em, no máximo, 75% de matas existentes na propriedade. Porém, autorizava a substituição dessas matas pelo plantio de florestas homogêneas, para futura utilização e melhor aproveitamento industrial.

Segundo Código Florestal

O segundo Código Florestal Brasileiro foi criado através da Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965, no qual ficou estabelecido e definido o conceito de Reserva Legal, bem como os percentuais mínimos de RL e as faixas de proteção dos recursos hídricos. Essa Lei apresentou vários conceitos importantes para melhor caracterizar as questões ambientais, tais como: Reserva Legal (RL), área de preservação permanente (APP), pequena propriedade rural ou posse familiar rural, entre outras. Essa Lei define que em áreas da Amazônia Brasileira deverá ocorrer proteção mínima de 80% (oitenta por cento) da vegetação nativa (Art. 16), 35% (trinta e cinco) por cento nas áreas de cerrados e 20% (vinte por cento) em área de campos gerais (Art. 16, p. 4).

Lei 7511/86: Modifica Reserva Florestal e APP

A Lei N° 7.511, de 11 de julho de 1986, modificou o Regime de Reserva Florestal, que passou a denominar-se Reserva Legal. Essa Lei alterou os itens da alínea “a” do artigo 2º, no tocante às faixas de proteção mínimas das matas ciliares, que passaram a exigir seguintes faixas das margens dos rios:

de largura; ii) de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; iii) de 100 (cem) metros para os cursos d’água que meçam entre 50 (cinquenta) e 100 (cem) metros de largura; iv) de 150 (cento e cinquenta) metros para os cursos d’água que possuam entre 100 (cem) e 200 (duzentos) metros de largura; igual à distância entre as margens para os cursos d’água com largura superior a 200 (duzentos) metros.” (BRASIL, 1986, p. 1).

Mencionada Lei no art. 2° altera o art. 19 da Lei 4.771/1965 instituiu o manejo sustentado com a seguinte redação:

“[...] Art. 19. Visando a rendimentos permanentes e à preservação de espécies nativas, os proprietários de florestas explorarão a madeira somente através de manejo sustentado, efetuando a reposição florestal, sucessivamente, com espécies típicas da região.” (BRASIL, 1986, p. 1).

Lei 7.803, de 18 de Julho de 1989

Esta Lei altera a redação da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 e revoga as Leis nº 6.535, de 15 de junho de 1978, e 7.511, de 7 de julho de 1986. Entre as mudanças ocorridas, destaca-se que 80% (oitenta por cento) da área de RL devem ser averbadas à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis § 1º (Art. 1, inciso II, p.1-2), bem como autoriza uso de qualquer cobertura florestal de qualquer natureza (frutíferas, ornamentais etc.) para computar no limite dos 80% para as propriedades rurais com áreas entre 20 (vinte) e 50 (cinquenta) hectares. Outra modificação foi a redução de 35% para 20% das áreas de RL no bioma cerrado localizado na Amazônia Legal.

O não cumprimento da legislação ambiental, por desinteresse das autoridades constituídas, à época, e, possivelmente, devido à lógica predominante da visão neoliberal na busca incessante da produtividade, não avaliaram os efeitos negativos que poderiam advir da exploração exacerbada dos recursos naturais, inclusive da supressão de milhares de hectares de áreas de APP para atividades agropecuárias. Este procedimento ainda foi adotado recentemente em áreas de assentamentos rurais realizados pelo Instituo Nacional de Reforma

Agrária (INCRA), conforme matéria da página JusBrasil, de 16 de dezembro de 2008, em que o Juiz Federal da Subseção de Marabá, Carlos Henrique Borlido Haddad, mediante liminar, obriga aquele órgão a coibir a devastação florestal em cerca de 480 assentamentos no sul do Pará, e promover a recuperação das áreas de preservação permanente e da reserva legal (JUSBRASIL, 2008).

Medida Provisória 1.511

Esta Medida Provisória, aprovada em 25 de julho de 1996, dá nova redação ao art. 44 da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e dispõe sobre a proibição do incremento da conversão de áreas florestais em áreas agrícolas e dá outras providências. Com esse instrumento legal o art. 1° altera o “art. 44 da Lei 4.771 que ressalta que na região norte e na parte norte da região centro-oeste, a exploração a corte raso só é permitida desde que permaneça com cobertura arbórea de, no mínimo, cinquenta por cento de cada propriedade” (BRASIL, 1965). No parágrafo 1º, destaca que

“[...] A reserva legal, assim entendida a área de, no mínimo, cinquenta por cento de cada propriedade, onde não é permitido o corte raso, será averbada à margem da inscrição da matrícula do imóvel no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão a qualquer título ou de desmembramento da área.” (BRASIL, 1965, p. 1).

Lei de Crimes Ambientais

A Lei de Crimes ambientais foi instituída pela Lei Nº 9.605, de 12 de Fevereiro 1998, com objetivo de transformar infrações administrativas em crimes aplicáveis àqueles que viessem a ter condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

Medida Provisória 2166-67/2001

Essa Media Provisória foi publicada em 24 de agosto de 2001, e altera novamente os conceitos de RL e APP, bem como define o tamanho mínimo da reserva, de acordo com o tipo de vegetação existente e da localização da unidade produtiva.