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5. CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

5.6. Instrumentos para avaliar e monitorar a sustentabilidade

5.6.4. Passos para emprego do MEMIS

A construção de indicadores por intermédio do Marco MESMIS visa apontar alguns atributos (características) desejáveis de sustentabilidade discorridos anteriormente. Sua

implementação compreende a adoção de vários passos (MASERA et al., 2000; DEPONTI et al., 2002; ASTIER et al., 2008; MASERA et al., 2008), para que se possa entender os sistemas e os aspectos que se deseja melhorar:

1. Determinação do objeto de estudo, avaliação de suas características e o contexto socioambiental contemplando: delimitação geográfica do sistema, determinação da escala temporal, caracterização do sistema de produção, apontar diferentes componentes do sistema, insumos, práticas agrosilvipastoris, organização e características socioeconômicas (Figura 4);

2. Determinação dos atributos ou características da sustentabilidade. A literatura aponta os seguintes atributos desejáveis de sustentabilidade: produtividade, estabilidade, resiliência, confiabilidade, adaptabilidade, equidade e autodependência (autogestão). Pode-se visualizar na Figura 4 o esquema geral do MESMIS, contendo estes atributos e sua relação com os indicadores (Figura 4) conforme preconização de: Masera et al. (2000), Astier et al. (2000), Deponti et al. (2002), Speelman et al. (2007) e Astier et al. (2008).

Figura 4. Esquema geral do MESMIS: atributos de sustentabilidade. Fonte: Masera et al. (2000, tradução nossa).

3. Determinação dos pontos críticos (Figura 5) que podem limitar ou fortalecer a sustentabilidade dos sistemas que se vão avaliar na área ambiental, econômica e social. Para sua identificação, pode-se levantar as seguintes questões ao grupo: Quais são os pontos vulneráveis e fortes do sistema? Os autores citam alguns exemplos a título de ilustração de pontos críticos: baixo rendimento, danos causados por pragas e doenças, variação dos preços da produção, alto preço dos insumos, alta dependência de orientação técnica, falta de organização dos produtores, falta de organização social, migração dos produtores, entre outras (Figura 4 e 5) (MASERA et al., 2000; ASTIER et al., 2008).

Figura 5. Ciclo de avaliação da sustentabilidade no marco MESMIS. Fonte: Ferreira (2011, p. 28)

4. Seleção dos critérios de diagnóstico. Os critérios de diagnóstico descrevem os atributos gerais de sustentabilidade, detalhando-os com mais profundidade, porém, mais generalizados do que os indicadores, constituindo o elo entre os atributos, pontos críticos e indicadores (Figura 4).

por eles, baseados na experiência acumulada por mais de dez anos com emprego desta ferramenta, a saber:

 Retornos: são os benefícios em termos econômicos, sociais e ambientais, relacionados com a gestão das atividades de recursos naturais obtidos por investimentos monetários;

 Eficiência: indica o retorno do investimento. Por exemplo, a relação entre o valor de um produto de mercado e o custo dos recursos utilizados para produzi-los com menor consumo de recursos e a mais alta qualidade; relação entre a energia contida no produtos de um sistema ea energia de entrada para ele.

 Diversidade: indica a riqueza de elementos de um sistema num dado momento. Por exemplo, espécies cultivadas, atividades produtivas, conhecimento, crenças religiosas, etc. Os sistemas mais diversificados são, geralmente, mais capazes de absorver impactos e manter-se produtivo no longo prazo.

 Conservação: indica o grau em que um sistema preserva a sua estrutura, a função e a base dos recursos que o suporta. Como nos critérios acima, as preocupações de conservação tanto os aspectos ambientais como os aspectos econômicos e sociais. Por exemplo, a capacidade de conservação dos conhecimentos e práticas tradicionais. Conservação não é passiva, mas o resultado de práticas, recursos e tecnologias para esta finalidade.

 Distribuição dos custos e benefícios refere-se a maneira pela qual são atribuídos os custos e benefícios dos sistemas de manejos. As noções de justiça social e ambiental estão relacionadas estritamente a esse critério. Por exemplo, um problema de distribuição temporal é a degradação ambiental que ameaça os direitos das gerações futuras de contar com os mesmos bens e serviços que tem as presentes gerações.

 Participação: refere-se à medida em que os indivíduos ou atores sociais se envolvem no desenvolvimento de um processo ou projeto. A participação efetiva exige que os cidadãos tenham a responsabilidade de participar nos processos de tomada de decisão.

 Capacidade de mudança e inovação indica o grau em que os sistemas são continuamente modificados para buscar novas estratégias de gestão, produção tecnológica e organizacional para a produção, a conservação de seus recursos e a redução dos efeitos negativos provenientes do exterior. Estas mudanças podem ser mudanças quantitativas como o retorno proveniente da incorporação de uma tecnologia mais eficiente; ou qualitativa em que o sistema se move para um estado novo, como por exemplo, a transformação de um

sistema de produção agrícola para um baseado na produção florestal.

 Auto-suficiência: refere-se ao grau em que um sistema é capaz de desenvolver as suas funções e processos sem depender de fontes externas. Como os agroecossistemas são abertos, é impossível encontrar um sistema estritamente auto-suficiente. No entanto, pelo menos em termos econômicos e sociais, é importante que o sistema seja capaz de autodeterminação, isto é, que seja capaz de alcançar seus próprios objetivos, aspirações, prioridades, identidade e valores, bem como produzir para sua própia subsistência.

 Organização: representa o grau em que os indivíduos se relacionam entre si para cumprir uma função e/ou um objetivo. À medida que a organização de um sistema cresce, ocorre o resultado imediato, ou seja, há o aumento da eficiência do sistema no cumprimento de sua função ou na meta almejada.

Segundo os autores, alguns critérios de diagnósticos podem tornar-se indicadores em circunstâncias particulares, quando se tem informação pouco precisa sobre determinados aspectos de um sistema de manejo. Citam, como exemplo, o critério “organização” medido qualitativamente sendo necessário mensurá-lo para ser quantificado recebendo, por exemplo, valores alto, médio e baixo (MASERA et al., 2000; DEPONTI et al., 2002; ASTER et al., 2008;).

5. Seleção dos indicadores estratégicos (Figura 5). Neste estágio são selecionados os indicadores para cada critério de diagnóstico que podem ser: indicadores econômicos (valor presente líquido, relação custo/benefício, grau de endividamento, indicadores de emprego, etc.), indicadores ambientais (cobertura do solo, nível de erosão do solo, matéria orgânica, propriedades físico-química dos solos, etc.) e indicadores sociais (mecanismos de solução de problemas, índice de qualidade de vida, indicadores de participação, capacitação e geração de conhecimento, entre outras.) (Figura 5).

6. Medição e monitoramento dos indicadores (Figura 5). Neste ponto se determinam os métodos a serem utilizados para a medição dos indicadores selecionados (Figura 5). Os métodos podem ser oriundos de: revisão bibliográfica; medição direta da produtividade de determinada cultura; análise laboratorial de atributos físicos e químicos dos solos e água, etc. Os indicadores sociais e econômicos podem ser avaliados através de: entrevistas abertas e semiestruturadas com agricultores.

cada indicador esteja mais próximo de um agroecossistema ideal, os quais podem ser definidos com base nas publicações de periódicos e livros, como também na experiência de produtores e técnicos (ASTIER et al., 2008).

O monitoramento representa etapa importante desta metodologia, em cuja oportunidade se compara em diferentes momentos temporais, aos indicadores avaliados para verificar se eles melhoraram, pioraram ou se continuam iguais.

7. Integração dos resultados (Figura 5). Neste estágio integra os resultados obtidos com os indicadores selecionados e compara a sustentabilidade dos sistemas de manejos analisados, apontando os principais gargalos para se alcançar a sustentabilidade;

8. Conclusões e recomendações (Figura 5). Finalmente, faz-se análise geral e propõem-se sugestões para fortalecer a sustentabilidade dos sistemas manejo, assim como para melhorar o processo de avaliação em si para torná-los mais sustentáveis. Dessa forma, a partir deste ponto inicia-se um novo ciclo de avaliação, ou tempo 2 (T2), conforme Masera et al.

(2000), Astier et al. (2000), Deponti et al. (2002), Speelman et al. (2007) e Astier et al. (2008).