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ALENCAR, Heron de Falam as relíquias do poeta A Tarde, Salvador, p.2, 14 mar 1947.

A ATUAÇÃO DE HA NA IMPRENSA E NA MÍDIA BAIANAS

2.3 ATUAÇÃO EM JORNAIS

2.3.1 A veia jornalística

Por seu destaque na imprensa baiana, HA foi eleito o primeiro Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia, para a gestão de 1951-1952, além de ter sido o Representante da Bahia na Federação Nacional de Jornalistas Profissionais, durante o período que vai de 1951 até 1953.

Como já foi visto, HA não chegou a exercer a profissão de médico, pois, ainda estudante de Medicina, já trabalhava no Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, onde conheceu Jorge Calmon, que depois lhe abriria as portas do A Tarde. O jornalismo estava no sangue: seu pai, Ignácio de Loyola Alencar, também havia sido jornalista. De acordo com o depoimento de Inácio de Alencar Filho147, no Crato, seu pai foi diretor, por

146 Pierre, BOURDIEU. Linguagem e poder simbólico. In:______. O que falar quer dizer, op. cit., p.101.

147 ALENCAR, Inácio de. Re: Questionário-depoimento sobre Heron de Alencar. Resposta enviada à pesquisadora via e-mail em 16 ago. 2003.

muitos anos, do jornal Gazeta do Cariri (de Bruno Menezes) que circulou entre 1910 e 1920. Anos depois, já em Fortaleza, foi redator-chefe do Correio do Ceará, jornal que mais tarde integraria a cadeia dos Associados de Assis Chateaubriand. Loyola afastou-se do jornalismo quando se tornou funcionário do imposto de renda. Mas os filhos deram continuidade à sua veia jornalística: Humberto de Alencar atuou no Bahia Jornal (década de 40, fundado por Evaldo Simas Pereira), em O Imparcial (Salvador), no jornal Última Hora (Rio de Janeiro, jornal de Samuel Wainer), no Última Hora (de Pernambuco, em 1960), no Flan, também do grupo de Samuel Wainer, na Revista da Semana, em A Vanguarda, e em outros periódicos nacionais. Enquanto que Inácio de Alencar (Filho) participou em O Povo, em O Momento, no Diário da Bahia (relançado em 1951), nos Diários Associados, e no Jornal da Bahia148. Aliás, é desse jornalista a citação sobre o assunto:

[...] a veia jornalística é obvia, você tem razão. A influência do Loyola, homem de jornal, sobre os três filhos é inarredável mas da mesma forma é inarredável um viés digamos receptor, em todos nós, do viver, do fazer jornalístico em si. Você nasce com aquele dom, aquele bichinho corroendo as entranhas e nada lhe haverá de desviar o caminho. É uma força inexorável.149

Já Heron de Alencar atuou em O Povo, A Tarde, no Jornal da Bahia e em revistas.

2.3.2 Jornal A Tarde

No ano seguinte à sua formatura como médico, HA já inicia sua atuação na imprensa baiana. Considerado um jornalista nato, por Jorge Calmon150, ganha espaço no jornal que se vinha projetando e tornou-se o de maior circulação da época, já que o Imparcial não era mais editado desde 1945. No ano de 1947, quando tinha 26 anos, publica sua primeira colaboração em A Tarde, do qual torna-se redator da Página de Literatura e Artes até o ano de 1954, quando então vai a Paris fazer cursos na Sorbonne. Mas a rescisão do seu contrato dá-se

148 Esses dados foram obtidos através do depoimento de Inácio de Alencar e da cópia fornecida por ele da p. 364 da Cartilha Histórica da Bahia, uma publicação do jornalista Agenor Bandeira de Mello, que faz um breve resumo da vida de Humberto de Alencar. Infelizmente, não foi possível ir em busca de um exemplar dessa cartilha pelo fato de a informação ter chegado na fase de conclusão deste capítulo.

149 Em conversa, via Internet, em set. 2003. 150 Em depoimento, via telefone, em 28 jun. 2002.

em 1956, ano em que passa três meses na Bahia e logo depois retorna à França para ser Leitor Brasileiro naquela Universidade, como já foi comentado. HA também foi responsável por editoriais em A Tarde:

Dezenas de jovens têm, nesses sessenta anos de vida do nosso jornal, iniciado aqui a vida de imprensa. Muitos poucos se revelaram tão prontamente quanto Heron de Alencar. Ainda novato já se igualava aos veteranos, pelo critério, amadurecimento e facilidade de expressão. Tinha real talento. Foi noticiarista e logo depois responsável por editoriais que traduziam a opinião da A Tarde.151

Também encontramos a referência sobre sua atividade como editorialista de A Tarde em um texto de Junot Silveira:

Igualmente de outras plagas, filho do Ceará, era Heron de Alencar.

Robusto, de estatura mediana, olhos azuis e cabelos curtos e dourados,

era um talentoso editorialista. Foi professor de Literatura Brasileira Comparada da UFBA e, tangido pela Revolução de 64, passou a lecionar em uma universidade francesa. 152 (grifos do autor)

O primeiro texto assinado por HA para o jornal A Tarde data de 14 de março de 1947, quando Chiacchio ainda publicava seus rodapés. “Falam as relíquias do poeta” é assinado como uma reportagem de Heron de Alencar e trata da comemoração do centenário de Castro Alves. Ainda naquele ano, em julho, publica um texto relativo à área médica com sinalizações de sua preocupação social, intitulado “Assistência à maternidade e infância”, tendo como pano de fundo para a discussão a criação, na Assembléia Legislativa, de um órgão de amparo e assistência à maternidade. Dois meses depois, aparece outro texto com sua assinatura, “Diálogo de rua”, uma crítica à situação política vivida pela cidade naquela época e, ao mesmo tempo, à falta de conhecimento da população sobre a questão. O título já aponta para a natureza do texto, uma crônica, texto produzido pelo olhar de um observador do cotidiano153.

151 Levara à Sorbonne a cultura do Brasil. A Tarde. Salvador, p.3, 3 jan. 1972.

152 SILVEIRA, Junot. Grandes jornalistas do nosso tempo. Além da notícia.Salvador, 2002. Disponível em: < http://mastermjornalismo.org.br/noticias/texto.cfm?secao=3&codigo=16 > Acesso em: 21 out. 2002.

Ao final do mesmo ano, após a morte de Chiacchio, que falecera em julho de 1947, HA inaugura a coluna de divulgação e crítica literária. Com sua assinatura, a Seção Caleidoscópio tem o subtítulo de “coluna de crítica literária e política”. Apesar de ocupar o mesmo lugar da que era assinada por Chiacchio, essa coluna apresenta algumas modificações na forma de apresentação, que serão observadas de forma mais detalhada no último capítulo deste trabalho.

O ano de estréia de HA no jornal coincide com o início do governo de Otávio Mangabeira. Tendo Anísio Teixeira à frente do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação, esse governo realizou uma política de incentivo à cultura no Estado. Teixeira vai, posteriormente, convidar HA para ajudar na criação do serviço de museus e bibliotecas escolares. Sob seu patrocínio realizou-se o I Salão Baiano de Belas-Artes, a montagem da peça Narizinho por Adroaldo Ribeiro Costa, que mantinha o programa de rádio intitulado “A hora da criança”, o Clube de Cinema e o III Congresso Brasileiro de Escritores. Segundo Tavares:

Declarada acima dos interesses políticos, ausente portanto dos compromissos eleitorais com os partidos que apoiavam o governo, A Secretaria de Educação e Saúde foi entregue ao educador Anísio Teixeira [...] Auxiliado na parte da saúde pelo médico José Silveira, Anísio Teixeira inaugurou na Secretaria de Educação um período de inovações e realizações que mudaram substancialmente o quadro educacional da Bahia. Em um ano de governo estavam em construção 258 novos prédios escolares. Símbolo do ensino secundário em todo o estado, o centenário Ginásio da Bahia, sucessor do Liceu Provincial, cresceu para cinco novos centros: Central, Liberdade, Itapagipe, Nazaré e Brotas.154

É claro que ocupando uma posição importante nesse cenário, pelo fato de assinar uma coluna de divulgação no jornal de maior circulação do momento, HA foi contaminado pelo clima geral. Não lhe passavam desapercebidos os eventos que aconteciam na Cidade, comenta e incentiva participação nos Congressos, exposições, debates que movimentavam a cena cultural de Salvador. Sua coluna não se restringia à literatura, abordava as artes em geral, o que faz dele um mediador da cultura. Além do destaque dado à literatura, também deu especial realce às artes plásticas, segundo depoimento do Dr. José Maria Magalhães: “[...] Orientava os mais moços na literatura e nas artes em geral. Estimulava os artistas, dentre os

154 TAVARES, Luiz Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: Editora Unesp; Salvador: Edufba, 2001. p.461-462.

quais Jener Augusto da Silveira, Mário Cravo”. Para ele, HA foi: “Um dos homens mais talentosos que já conheci”155. Essas atividades desenvolvidas pelo estudioso em muito se assemelham com aquilo que havia feito Carlos Chiacchio nos seus 20 anos de atuação e mesmo em sua secção Homens & Obras. O estudo de seu trabalho permitiu a Dulce Mascarenhas desvendar as diversas facetas de Chiacchio:

Assim encontraremos o crítico, o cronista e o empreendedor de movimentos intelectuais, quando não o poeta, de mãos dadas, formando a personalidade que desejamos compreender, seguindo-lhe a caminhada paciente e constante.156

Esse perfil serve a HA, porém em outro momento, mais consciente e politizado, já que também este fez de tudo um pouco na sua coluna. Lançamento de livros, divulgação de eventos culturais, discussão de polêmicas artísticas, literárias e políticas. É preciso ressaltar que essa crítica jornalística possuía uma grande força naquele período, ou seja, década de 40, podendo determinar o sucesso ou não de um lançamento. Estar nas páginas do jornal significava poder literário. Flora Sussekind, em estudo sobre a crítica literária moderna afirma: “Poder literário era em parte sinônimo de uma presença constante nas páginas e no noticiário de jornal” e cita um trecho do jornal A Manhã como exemplo:

Outro exemplo de força, inclusive comercial, desta crítica jornalística é fornecido pelo jornal carioca A Manhã de 26 de maio de 1946: ‘no dia seguinte à publicação do rodapé de Álvaro Lins sobre Sagarana, a obra de Guimarães Rosa passou a ser procuradíssima nas livrarias. E essa procura continua cada vez mais intensa’157

Exercendo esse tipo de poder, Heron de Alencar, em sua coluna de crítica literária, destacava freqüentemente os escritores baianos. Segundo ele, muitos escritores novos estavam surgindo, iniciando, com dificuldades, suas publicações em jornais e revistas. Muitos daqueles não entraram para o cânone literário e nem sequer conseguiram que sua obra fosse apreciada por um círculo maior de estudiosos, a exemplo das baianas Alina Paim, que

155 Em entrevista pessoal realizada em 9 ago. 2001.

156 MASCARENHAS Dulce. Carlos Chiacchio: Homens & Obras: itinerário dos dezoito anos de rodapés semanais em A Tarde. Salvador: Academia de Letras da Bahia, 1979. p.70.

publicou A sombra do patriarca, e Lourdes Bacellar, autora de Festa e do livro Enquanto ruge a tormenta158.

Esse foi também o período de surgimento de muitas revistas de literatura e artes, como assinala Gomes:

Depois da guerra, em 1945, começaram a aparecer nas principais cidades do país revistas que veiculavam as inquietações e as tendências estéticas e políticas da geração brasileira de jovens escritores e artistas contemporâneos da Segunda Grande Guerra. Clã, no Ceará, Revista

Branca e Leitura, no Rio, Panorama, em Belo Horizonte, Joaquim, no

Paraná, Sul, em Florianópolis, Quixote, em Porto Alegre, Orfeu e Região, em Recife, Encontro, em Belém, Ilha, em São Luiz do Maranhão, Bando, no Rio Grande do Norte, Moleque, na Paraíba, Época, em Aracaju, eis algumas dessas revistas, em geral de duração efêmera, mas de papel destacado na vida cultural de seus estados e, através destes, no plano nacional. Era uma época de ativismo e engajamento, em que floresceram também revistas de ferrenha atuação política, como Seiva, e Dois de

julho, na Bahia, Paratodos, no Rio, e Fundamentos, em São Paulo.159

Entre as muitas revistas que circulavam no País e nas páginas do jornal, HA reserva uma atenção especial às seguintes: em 1948, a revista Fundamentos, fundada por Monteiro Lobato; a revista Caderno da Bahia, fundada em 1948 e que merecerá uma atenção especial neste trabalho; em 1949, a revista Branca, organizada por Saldanha Coelho; em 1951, a revista Ângulos, do Centro Acadêmico Ruy Barbosa da Faculdade de Direito, fundada e dirigida por Adalmir da Cunha Miranda. Essas revistas garantiam mais um espaço para divulgação e debate sobre os assuntos literários e culturais, exposições de artes plásticas e demais expressões artísticas. O lançamento dessas e de outras revistas em todo o país é festejado na coluna Caleidoscópio. Esse trabalho de HA permitia que os leitores tivessem acesso aos objetivos das revistas e soubessem quais eram os seus colaboradores. Um bom exemplo é uma das notícias sobre Caderno da Bahia:

158 Esta última foi incluída na Antologia virtual de escritoras baianas, lançada pela Profª Drª Ivia Alves, como resultado do projeto de pesquisa intitulado Resgate de Textos de Escritoras Baianas do Século XX: percurso intelectual, estudo da produção, desenvolvido no Instituto de Letras da UFBA. Pode ser consultada no endereço: < http://.www.ufba.br/~autoras>.

159

GOMES, João C. T. Presença do modernismo na Bahia. In: ______. Camões contestador e outros ensaios. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1979. p. 189.

Finalmente a Bahia vai ter uma nova revista literária. Desde algum tempo que o nosso público vem sendo privado de um bom material de divulgação literária, lendo apenas o que lhe vem de fora, com vários meses de atraso. As iniciativas locais têm falhado sempre. Agora, um grupo de moços resolveu editar uma revista, Caderno da Bahia, à semelhança de Clã, Joaquim, Região, Província de São Pedro, etc. Dirigida por Vasconcelos Maia, Cláudio Tavares, Wilson Rocha e Darwin Brandão, Caderno da Bahia, aparecerá no princípio do próximo mês e será vendida a dois cruzeiros. Esse primeiro número traz boas matérias, entre as quais: “Conceito função da poesia”, de Wilson Rocha, “Carlos Drummond até agora”, de Nilo Pinto, “A grande sogra”, conto de Vasconcelos Maia, “Edison Carneiro e os estudos afro-brasileiros”, de Darwin Brandão, “Artes plásticas no Ceará”, de Fran Martins, “Música popular e erudita”, de Paulo Jatobá, poemas de Manuel Bandeira e Cláudio Tavares, notas sobre o jovem escultor baiano M. Cravo Filho [Júnior] e sobre o existencialismo, além de um artigo de Mota e Silva sobre a recente exposição de Aldo Bonadei. O Caderno será ilustrado com desenhos e reproduções de quadros, destacando-se as ilustrações de Bonadei.160

A defesa de um maior espaço de divulgação dos trabalhos que estavam sendo realizados é uma marca constante na coluna de HA. O fato de a Bahia estar em atraso, em relação a outros estados, na publicação de revistas é visto com lamento. A idéia de que era necessária uma revista local é expressa constantemente na coluna Caleidoscópio. É por essa razão que comemora o lançamento da revista Caderno da Bahia, a qual, segundo João Carlos Teixeira Gomes, “marca a segunda fase do modernismo na Bahia”:

A segunda fase do modernismo na Bahia – que corresponderia aproximadamente à da geração de 45 no plano nacional, embora sem que possuísse maiores vinculações com ela - registra-se com o surgimento do tablóide Caderno da Bahia, cujo primeiro número é de 1948. Foram ao todo seis cadernos, encerrando-se a publicação em setembro de 1951161.

HA, ao enumerar os textos e autores do primeiro número da revista, já indica parte dos seus idealizadores e evidencia que ela não se restringia à literatura, mas também se preocupava com as artes plásticas, a música e se propunha a discutir temas não canônicos, como os estudos afro-brasileiros. Sob esse aspecto, discutiam, entre outros assuntos, a produção literária de escritores negros, seus problemas como o grau de analfabetismo da

160 ALENCAR, Heron de. Caleidoscópio - Caderno da Bahia. Salvador, p. 9, 24 jul. 1948. 161 GOMES, João Carlos Teixeira. Presença do modernismo na Bahia, op. cit., p. 189.

população negra, os estereótipos e preconceitos da conservadora sociedade branca baiana. Algumas revistas, incluindo CB, ampliam sua atuação e passam a editar livros e promover exposições de artes. Todas essas atividades eram noticiadas na coluna. Segundo Karina Nascimento, era realizado um trabalho conjunto entre a revista e o jornal: “[...] Percebe-se que era feito um trabalho complementar entre a revista e o jornal, pois a revista procurava mostrar uma outra maneira de se fazer arte, e, no jornal, os escritores discutiam o cotidiano e os preconceitos sofridos pelos artistas que trabalhavam com a arte moderna” 162.

Tal trabalho era possível porque HA, além de possuir a sua coluna de divulgação e crítica, era o redator da página de literatura do jornal. Por isso, pôde oferecer um espaço maior para que os componentes da revista Caderno da Bahia publicassem seus textos, o que não caberia na sua coluna, bem como divulgassem suas idéias no jornal. Mesmo após o encerramento das publicações da revista, segundo João Carlos Teixeira Gomes, “O grupo, de certa forma, teve a sua continuidade assegurada no suplemento literário do jornal A Tarde, que passou a ser editado por Heron de Alencar”163.

Segundo depoimentos, HA foi quem criou a Página Literária, que era uma espécie de suplemento literário do jornal e que atraía tanto os jovens intelectuais que estavam em busca de espaço, quanto aqueles de gerações anteriores. Para Inácio de Alencar, “[...] a página literária de A Tarde criada por HA é o primeiro sopro renovador do movimento cultural baiano do após-guerra na chamada grande imprensa”. Essa página vai pouco a pouco ganhando mais espaço. Nas publicações iniciais não havia um destaque especial para a Página em si, era quase uma meia página, as propagandas ocupavam um espaço razoável. Mas logo HA efetivou alterações na sua apresentação gráfica e as propagandas foram sumindo.

2.3.3 Jornal da Bahia, O povo e outros jornais

Heron de Alencar também foi editor-chefe do Jornal da Bahia em 1961, ano de seu retorno à Bahia depois de uma longa temporada lecionando na Sorbonne. Para Inácio Loyola, que também foi jornalista desse periódico, a chegada de HA é um fato importante, não apenas pela qualidade do homem em si, como também prestígio que gozava nos circuitos acadêmico-culturais:

162 NASCIMENTO, Karina Rêgo. Movimento Caderno da Bahia, 1948-1951. 1999. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador. 1999. p.35.

Ele traz para o Jornal da Bahia a nova face do contexto mundial, a sua experiência européia e da universidade parisiense, a bagagem de quase dez anos de vivência num mundo polar de dois mil anos de civilização. Mas sua presença na redação é sobretudo um bafejo de erudição, atualidade, modernidade e sabedoria, criando um pendant de excelência com a serenidade e competência de outra figura extraordinária que é o redator-chefe João Batista de Lima e Silva.

Serão os dois, por assim dizer, mestres do melhor jornalismo e de humanidades de toda uma geração que está nascendo, e ainda hoje fala com saudade desse tempo e desse aprendizado.164

Como redator-chefe pode ter escrito matérias e editoriais para o jornal, mas sem assinatura. Foi curta a sua participação nesse jornal. HA, como já foi visto, deixou a Bahia para se dedicar à Universidade de Brasília

Um outro jornal do qual participou foi O Povo. HA foi co-fundador e redator- chefe desse periódico fundado em 1948 e que circulou até o ano de 1949. Além dele, fizerem parte do grupo fundador: Acácio Ferreira, Darwin Brandão, Eloiwaldo Chagas de Oliveira, Graça Leite, Luiz Henrique Dias Tavares, Silvio Valente e Inácio Loyola. Com a saída de Darwin Brandão, que se transferira para Porto Alegre, a fim de trabalhar na Revista do Globo, incorpora-se ao grupo Adroaldo Ribeiro Costa. De acordo com Inácio Loyola, que dá um longo e excelente depoimento sobre o assunto (em anexo deste trabalho), O Povo nasce durante a campanha O Petróleo é Nosso. De periodicidade semanal, possuía oito páginas, em tamanho standard (grande) e tentava abranger política, cultura e acontecimentos nacionais e internacionais de interesse geral. Circularam 19 números de O Povo, e seu fim deveu-se às dificuldades financeiras165.

HA também foi co-fundador e responsável pela comissão de redação do boletim Correio Brasiliense, editado para a organização dos exilados brasileiros no México, assunto já abordado neste trabalho.