• Nenhum resultado encontrado

Caleidoscópio A Tarde, Salvador, p 9, 28 abr 1951.

“ MANIFESTAÇÕES DE ATITUDE CRÍTICA ” DIANTE DA LITERATURA E DA CULTURA

3.2 S OBRE OS MÉTODOS DE ANÁLISE DA PRODUÇÃO TEXTUAL EM C ALEIDOSCÓPIO

A variação de itens ou tópicos existentes no espaço da seção deve-se provavelmente à uma estratégia de HA devido ao contexto cultural ao qual estava vinculado. A sua atuação está inserida em um momento em que os debates sobre a crítica ferviam nas páginas de periódicos218, questão já levantada no capítulo anterior deste trabalho. Realizava não apenas o trabalho de divulgação, mas também procedia à análise critica de obras literárias.

A atividade cultural que desenvolvia naquele periódico era de extrema importância para a cultural local. O saber é um tipo de poder, por isso o acesso à informação é questão- chave em qualquer sociedade. Como formar um público leitor sem que este tenha um mínimo de conhecimento das obras literárias em circulação? Como estimular o aparecimento de novos artistas sem que as pessoas tenham contato com obras de arte? Essa compreensão das coisas permite que a atuação de HA possa ser objeto de estudo. Esse trabalho de mediação é, no dizer de Bueno Rivera, um serviço cultural importante. Para esse estudioso de periódicos,

El periodismo cultural ha proporcionado corrientemente dos formatos de la crítica literaria (y en cierto modo podríamos ampliar el campo a otras actividades culturales y artísticas): el ensayo crítico de cierta extensión e la reseña bibliográfica. Al primero se le exige un mayor despliegue interpretativo y valorativo, en tanto que la segunda – típica de las llamadas “secciones bibliográficas” – sólo se le reclama una idea sucinta del contenido y de las principales ideas o tesis sostenidas con algún juicio breve sobre su valor, originalidad, etcétera. Lo esencial de la reseña, en síntesis, es precisamente su carácter informativo y somero. Una reseña no debería ser confundida, como a veces se hace, con la crítica a una obra o autor, ya que esta última supone un aparato teórico y un ahondamiento intrínseco y extrínseco mucho más exigente.

A crítica y la reseña periodística, en definitiva, son un servicio cultural de gran responsabilidad, y en este sentido resulta deseable que quienes

218 Essa questão será apenas comentada superficialmente aqui, pois a necessidade de se fornecer uma descrição mais detalhada da coluna Caleidoscópio, dos tipos de textos e procedimentos utilizados por HA durante sua atuação no jornal, objeto principal desse capítulo, impede um aprofundamento maior da problemática da crítica literária no Brasil daquele período. Atitude contrária prejudicaria a proposta deste trabalho, que possui um limite inclusive de número de páginas, por isso será levantado apenas o essencial. Isso não significa que não possa ser desenvolvido em outro momento. Além disso, para se ter acesso a informações sobre a questão, poder-se-á consultar o trabalho de Ivia Alves sobre o crítico baiano Eugênio Gomes, que traz uma análise da crítica do período.

las aborden regularmente se encuentren imbuidos de cierto espíritu de lealtad para con los lectores y los autores.219

HA realizou os dois tipos de formatos descritos acima, como se poderá verificar mais adiante. Por isso, afirma-se que seu trabalho representa bem aquele período de fronteira entre os procedimentos críticos já comentados. Aliás, seu percurso intelectual também serve de exemplo para reafirmar esta colocação. Como já foi mostrado no primeiro capítulo desse trabalho, HA procurou inserir-se na Faculdade de Letras. Comprova-o seu ingresso como professor titular, em 1953, após ter defendido tese de concurso que versou sobre os problemas conceituais da literatura. Estava, a partir de então, habilitado, na visão de Coutinho, um dos examinadores da banca de concurso, para realizar a crítica literária. Mas é justamente naquele ano que sua participação como assinante de uma coluna em A Tarde se finda. No ano anterior, sua produção no jornal já era escassa, provavelmente por ter-se afastado do centro da cidade e se isolado para melhor se preparar para o concurso. O convite para colaborar com A literatura no Brasil, organizada por Coutinho, vem logo depois, seguido de sua viagem à França para cursos de pós-graduação em literatura comparada e sua posterior atividade de professor e leitor na Sorbonne. Ressalte-se, no entanto, que já gozava de prestígio, se não nacionalmente, pelo menos local, como jornalista e como crítico, por isso, não se pode afirmar que tenha sido em busca desse tipo de legitimação que se enveredou como professor na Faculdade de Letras, essa atitude é reflexo de sua paixão pelos estudos literários. Mesmo porque, de acordo com Ivia Alves:

Um crítico, a partir da década de 40, no Brasil, já começa a operar com suportes teóricos mais delimitados em seus estudos, suas interpretações do que os críticos das décadas anteriores, que reagindo ao positivismo do século XIX, propunham uma análise da obra através de suas impressões ou do biografismo. As fronteiras entre os dois tipos de crítico parece situar-se entre as décadas de 40 e 50.220

Atento a esses debates, o moço HA tenta operar com procedimentos diversificados. No decorrer de seu trabalho em Caleidoscópio e a partir do acesso a livros sobre estudos literários encomendados fora do País, pôde aumentar seus conhecimentos e operar com novos procedimentos de análise. Mas as mudanças ocorreram gradualmente, por isso, iniciamos a

219 BUENO RIVERA, Jorge. El periodismo cultural. 2.ed. Buenos Aires: Paidós estudios de comunicación. 2000. p.116-117

descrição mais detalhada e análise de seu trabalho a partir do que mais se aproximou do que fazia seu antecessor, Carlos Chiacchio.