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Atuais políticas públicas e sociais de proteção à criança e ao adolescente no Brasil

Com vistas ao bem estar coletivo, o Estado brasileiro definiu um conjunto de ações nas escalas federal, estadual e municipal, denominadas Políticas Públicas. Estas ações podem ser desenvolvidas em parceria com organizações não governamentais e também com a iniciativa privada.

Conforme Costa e Reis (2009, p. 174 ), a ideia de políticas públicas remete à esfera do público, das questões coletivas, lembrando que o público não é sinônimo de estatal, mas ao contrário, “é uma dimensão mais ampla, que se desdobra em estatal e não estatal”. Assim, o conjunto de ações governamentais, no sentido de atender às demandas e aos interesses dos cidadãos, pode ser definido como políticas públicas. De outra parte, tem-se que as políticas públicas, enquanto resultado das demandas sociais, podem ser definidas como as respostas do sistema político a essas demandas. As políticas públicas, contudo, vão muito além das decisões dos governos, alcançando também as ações dos sujeitos individuais ou coletivos.

As políticas públicas voltadas para a infância e adolescência asseguram o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Além disso, protegem a criança e o adolescente das diversas formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Apesar de hoje haver uma legislação bastante avançada ainda se pode constatar a exposição de crianças e adolescentes a várias situações adversas. Conforme Priori (1999, p.7):

Há aquelas que estudam, as que trabalham, as que cheiram cola, as que brincam, as que roubam. Há aquelas que são amadas e outras simplesmente usadas. Seus rostinhos mulatos, brancos, negros, mestiços desfilam na televisão, nos anúncios da mídia, nos rótulos dos mais variados gêneros de consumo. Não é a toa que o comércio e a indústria de produtos infantis vem aumentando.

Neste sentido, é comum encontrar, nas diversas cidades brasileiras, crianças pedindo esmolas, fora da escola, inseridas em trabalho infantil, vítimas de exploração sexual, violência física, sexual ou psicológica. Além disso, pode-se constatar também, muitas crianças e adolescentes usuárias de drogas e até mesmo envolvidas no tráfico.

O Estado, contudo, não está alheio a essas situações, mas participa de forma complementar da sociedade civil organizada. Neste sentido, a quem necessitar, disponibiliza a assistência social, organizada mediante um sistema descentralizado e participativo composto pelo poder público e pela sociedade civil.

A Constituição Federal de 1988 dá as diretrizes para a gestão das políticas públicas, e a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) – Lei n. 8.742/93, atualizada pela Lei n. 12.435/2011, estabelece os objetivos, princípios e diretrizes das ações da Assistência Social no Brasil. De acordo com o art. 1º da LOAS, “a Assistência Social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento as necessidades básicas”.

Já o art. 2º discorre sobre os objetivos da Assistência Social, sendo estes:

I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais.

Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social realiza de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e promovendo a universalização dos direitos sociais.

A gestão das ações na área de assistência social fica organizada sob a forma de um sistema descentralizado e participativo, denominado Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O SUAS constitui-se num sistema complexo que estabelece, com base na Politica Nacional de Assistência Social (PNAS), meios para a execução dos programas, serviços e benefícios socioassistenciais, buscando a promoção e proteção social a famílias, crianças, adolescentes e jovens, pessoas com deficiência, idosos, enfim, a todos que dela necessitarem. A instância coordenadora da Política Nacional de Assistência Social é o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Conforme Mendes, Prates e Aguinski (2006, p. 17), materializar o SUAS, portanto, a partir dos preceitos contidos na PNAS (2004), constitui-se num amplo desafio para o qual todos os agentes comprometidos com a garantia de direitos, especialmente a classe que vive do trabalho, estão convocados a enfrentar.

Acolhendo o conceito de Proteção Social por meio da NOB-SUAS, esta pode ser entendida como o enfrentamento a situações de vitimização, fragilidades, contingências, vulnerabilidades e riscos a partir de ações, cuidados, atenções, benefícios e auxílios. Para sua efetivação o SUAS orienta-se pelos princípios da matricialidade sociofamiliar, socioterritoria- lização, proteção proativa, integração à seguridade social e às políticas sociais e econômicas.

A organização se dá através de dois tipos de proteção social: a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial. A proteção básica é destinada à prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio da oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social.

Conforme Mendes, Prates e Aguinski (2006, p. 53), o principal lócus para o desenvolvimento das ações e concessões de benefícios considerados de proteção básica são os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), espaços físicos preferencialmente localizados em áreas onde há maior concentração de população em situação vulnerável ou de fácil acesso a esses grupos.

O sistema prevê que nos CRAS sejam desenvolvidos os serviços socioeducativos, avaliados os benefícios eventuais e de prestação continuada e ofertados os serviços e projetos de capacitação e inserção produtiva. A proteção básica pode ser complementada por convênios que ampliem vagas.

Os serviços dos PNAS (BRASIL, 2004) são atividades continuadas que buscam a melhoria da qualidade de vida da população, cujas ações são voltadas para suas necessidades básicas. Devem ser ordenadas em rede, de acordo com os níveis de proteção social básica e especial, de média e alta complexidade.

A Proteção Social Especial é destinada a famílias e indivíduos que já se encontram em situação de risco e que tiveram seus direitos violados. Segundo Mendes, Prates e Aguinski (2006, p. 53), as ações de proteção social especial, conforme estabelece o SUAS, destinam-se ao enfrentamento do trabalho infantil, ao atendimento a usuários de substâncias psicoativas, ao enfrentamento de situações de abuso e exploração sexual, situações de negligência, maus tratos e violência, e ao acolhimento de adolescentes em medidas socioeducativas e processo de rualização.

Conforme as autoras, os Programas são as ações integradas e complementares para qualificar, incentivar, potencializar e melhorar benefícios e serviços, não se caracterizando como ações continuadas ou como projetos. No âmbito da política são definidos os investimentos econômico-sociais nos grupos populacionais em situação de pobreza, com vistas a contribuir na melhoria de suas condições de subsistência, capacidade produtiva, elevação do padrão de qualidade de vida, de modo articulado a outras políticas públicas.

Mendes, Prates e Aguinski (2006, p. 53) explicam o que são os benefícios:

Beneficio de Prestação Continuada – BPC (a garantia de um salário mínimo mensal a idosos ou pessoas com deficiências), como parte do nível de Proteção Básica e Benefícios Eventuais, tais como auxílio natalidade e morte e outros para atendimentos de vulnerabilidades temporárias, calamidades públicas, gestantes, nutrizes, idosos, crianças, famílias em situação de risco ou vulnerabilidade e ainda as transferências de renda, constituídas pelo repasse direto de recursos aos beneficiários como acesso a renda para combate a fome, pobreza e outra forma de privação de direitos.

Sposati (1999, p. 8) refere que a Constituição Federal brasileira de 1988, no campo da assistência social, atribui o direito a todo portador de deficiência e todo idoso que não possui meios, pessoais ou familiares, de prover sua manutenção, receber um salário mínimo na condição de beneficio mensal. O conceito de desamparado remete à condição de fragilidade física associada à econômica, responsabilizando o Estado por suprir um amparo mínimo a tais cidadãos. Para a autora, ao tomar tal responsabilidade no campo da assistência social, o Estado brasileiro se equivale às demais sociedades, ainda que capitalistas, constituídas sob o padrão da seguridade social.

Um dos programas mais conhecidos na atualidade é o Bolsa-Família, que possui três eixos principais: transferência de renda, condicionalidades e programas complementares. A transferência de renda promove o alívio imediato da pobreza. As condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social. Já os programas complementares objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de vulnerabilidade. Conforme dados obtidos por intermédio do site do Ministério de Desenvolvimento Social, o programa atualmente atende mais de 12 milhões de famílias em todo território nacional. A depender da renda familiar por pessoa e do número e da idade dos filhos, o valor do benefício recebido pela família pode variar entre R$ 32,00 a R$ 242,00.

Buscando o combate da pobreza no Brasil foi criada a Secretaria Extraordinária de Superação da Extrema Pobreza, responsável pela coordenação do Plano Brasil sem Miséria. Seu público-alvo são os brasileiros cuja renda familiar per capita é inferior a R$ 70,00 mensais, visa efetivar o exercício da cidadania com o objetivo de elevar a renda e as condições de bem-estar da população.