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As primeiras regras jurídicas surgiram no período primitivo, quando se formou a distinção entre o que é permitido e o que é considerado proibido. Mesmo que no período paleolítico já houvesse formas de organização social, foi no período neolítico, com a Lei de Talião, que se começou a vislumbrar a justiça penal.

Tal pena qual delito. Com o tempo se verifica que a Lei de Talião traz problemas

práticos na sua aplicação: nos crimes contra os costumes, cuja pena era a castração, como aplicá-la a pessoas de sexos diferentes? Toda a legislação antiga tem ecos da Lei de Talião, até mesmo em códigos penais dos séculos XIX e XX, como, por exemplo, o código espanhol de 1870, em que se estabelece que ao juiz penal que impunha sentença injusta em ação penal, se houvesse iniciado a execução, era imposta (CAVALCANTE, 2002).

O Código de Hamurabi parece ser uma das leis mais antigas, estima-se que tenha sido elaborado pelo rei Hamurabi, por volta de 1700 a.C. Foi encontrado por uma expedição francesa, em 1901, na região da antiga Mesopotâmia, correspondente à cidade de Susa, atual Irã. É um monumento monolítico talhado em rocha de diorito, sobre o qual se dispõem 46 colunas de escrita cuneiforme acádica, com 282 leis em 3.600 linhas. A numeração vai até 282, mas a cláusula 13 foi excluída por superstições da época. A peça tem 2,25 m de altura, 1,50 metro de circunferência na parte superior e 1,90 na base.1

A função do código era proteger os mais fracos dos mais fortes, não era uma lei que protegia a criança, mas em alguns aspectos se referia a ela. Apesar de sua função, o que se percebe é que era uma lei extremamente violenta, que incentivava a vingança, baseando-se na lei de Talião.

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a b c “A solução das disputas”, pelo historiador Luiz Marques para a revista História Viva, nº 50 (OPPERT; MENANT. Documents juridiques de l'Assyrie et de la Chaldee. Paris, 1877; KOHLER, J.; PEISER, F.E. Aus

dem Babylonischen Rechtsleben. Leipzig, 1890; FALKENSTEIN, A. Die neusumerischen Gerichtsurkunden I– III. München, 1956-1957). Disponível em: <http://pt.goldenmap.com/C%C3%B3digo_de_Hamurabi>.

Em seu artigo 192 previa o corte da língua do filho que ousasse dizer a seus pais adotivos que eles não eram seus pais, o filho que batesse no pai teria a mão decepada. Para o incesto praticado de pai para a filha, previa o código de Hamurabi a pena de banimento, que incluía o desligamento do pai de sua família, a perda dos bens e propriedades, além de ver cassados seus direitos de cidadão. Para a relação incestuosa do filho com a mãe a pena era de morte por cremação (AZAMBUJA, 2006, p. 22).

Conforme o Código, se um homem adotasse uma criança e desse a ela o seu nome, criando-a como filho, quando crescesse este filho não poderia ser reclamado por outra pessoa. O Código também previa que se um artesão tomasse algum menor para criar como filho adotivo, deveria ensinar-lhe seu ofício. Se ensinasse, o filho adotivo não poderia mais ser reclamado por seus pais de sangue. Mas se não lhe ensinasse o ofício, o adotivo poderia voltar livremente para a casa de seu pai biológico.

As leis de Rômulo, no início de Roma, determinavam aos pais o dever de criar todos os filhos homens e a primeira mulher a nascer. Os demais, entretanto, podiam ser expostos em locais especiais destinados à exposição de crianças indesejadas, onde se incluíam muitas meninas, assim como meninos deformados ou ilegítimos. Poucas crianças eram recolhidas por estranhos e adotadas ou criadas como escravas, sendo que a maioria era deixada à morte em suas cestas, pela exposição ao tempo ou à fome (AZAMBUJA, 2006, p. 24).

Este cenário foi duradouro na história da humanidade. As primeiras leis protetivas das crianças e dos adolescentes somente surgiram com a consolidação do mundo moderno. Na Inglaterra, a partir de 1802, foi aprovada a primeira lei de proteção à criança trabalhadora, mediante a “Carta dos Aprendizes”, que instituía a jornada de trabalho de, no máximo, 12 horas e proibia o trabalho noturno. Esta regulamentação, contudo, era circunscrita ao âmbito da indústria de algodão e lã. Já a Alemanha promulgou suas leis de proteção a partir de 1838; a Bélgica, em 1840; a França, em 1841; a Holanda, em 1889; Portugal, em 1891. Como se vê, somente a partir do século 19 é que os principais países industrializados da Europa criaram, sob pressão, as primeiras leis de proteção à infância trabalhadora (CUT, 1994).

Concluindo esse primeiro ciclo, é fundada em 1919 em Londres a primeira associação “Save the Children”, por Eglantyne Jebb e sua irmã Dorothy Buxton que, preocupadas com as consequências da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa, resolveram criar uma organização internacional não governamental de defesa dos direitos da criança, com ramificações em todo o cenário mundial, buscando melhorar as condições de vida das crianças. Um ano depois foi fundada a União Internacional de Auxílio à Criança, que se

colocou à frente na luta pelos direitos da infância no mundo, elaborarando a Declaração de Genebra, adotada pela Sociedade das Nações, em 1924.

Já no ano de 1927 foi criado o Instituto Interamericano da Criança, que vem do espanhol Instituto Interamericano del Niño (IIN). Seu objetivo é zelar pelos direitos da criança a nível de aprovação das convenções, bem como assessorar em medidas legislativas e de política social entre os estados-membros. Em 1949 foi reconhecido como organismo especializado da Organização dos Estados Americanos (OEA).

No ano de 1948 a Assembleia Geral das Nações Unidas publicou a Declaração Universal dos Direitos Humanos (documento que protege a criança e o adolescente de forma implícita). Após a II Guerra Mundial um movimento internacional se manifestou a favor da criação do Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). E em 1989 a Organização das Nações Unidas publicou a Declaração dos Direitos da Criança.