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A Audiência Pública ocorrida em 14.12.2004 na Assembleia Legislativa de São Paulo : “no fogo da luta”

CONTRA A TRAMITAÇÃO DO PROJETO DE LEI NACIONAL DE ADOÇÃO PLNA 1756-

2.3 São Paulo diz não ao Projeto de Lei Nacional de Adoção

2.3.2 A Audiência Pública ocorrida em 14.12.2004 na Assembleia Legislativa de São Paulo : “no fogo da luta”

A Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo - AASPTJ-SP, como uma das articuladoras do movimento contrário ao PLNA 1756- 2003, marcou presença na Audiência Pública e por meio de sua assessoria de comunicação registrou uma síntese dos debates que contou com a presença de Ângela Guadagnin (PT- SP) na coordenação; de Teté Bezerra (PMDB-MT), relatora do projeto e de Luiza Erundina (PSB-SP), membro da comissão especial.

Na defesa do projeto de lei estavam presentes Luiz Carlos de Barros Figueirêdo, juiz da infancia e juventude de Recife –PE que contribuiu para sua elaboração; João MATOS, deputado federal, autor do projeto de lei e Fernando Freire, psicólogo da ONG Terra dos Homens, autor e apoiador dos movimentos pró-adoção.

77 Para ampliar a compreensão sobre tais dimensões e sobre o conceito de prática social e prática profissional sugerimos o livro “Prática profissional do assistente social: teoria, ação e construção do conhecimento” de BAPTISTA & BATTINI ( 2009).

A crítica foi apresentada por Paulo Afonso Garrido de Paula, promotor de justiça, um dos mentores do ECA, na ocasião, assumindo a função de coordenador do Centro de Apoio aos Promotores de Justiça da Infância e Juventude- CAO-MPSP; Dr. Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, juiz auxiliar da Corregedoria do TJ-SP e Rita de Cassia Silva Oliveira, assistente social do Judiciário, coordenadora da pesquisa sobre abrigos em São Paulo pelo NCA- PUCSP.

A audiência pública contou com a presença de deputados federais, estaduais, promotores, juristas, assistentes sociais, psicólogos e membros da sociedade civil, a plateia lotada ouviu atentamente os argumentos favoráveis à matéria e as críticas dos defensores do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Representando as 59 entidades que assinaram a Carta de São Paulo participaram da mesa de debates a assistente social judiciária e representante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e Adolescente da PUC-SP, Rita de Cássia Silva Oliveira; o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Infância e Juventude de São Paulo, Paulo Afonso Garrido de Paula, e o juiz auxiliar da Corregedoria-Geral de Justiça Reinaldo Cintra Torres de Carvalho. (AASPTJ- SP, 2004)

A abertura do debate foi feita pelo autor do PL, João Matos, que relatou a origem do projeto, destacando seus pontos fundamentais que, a seu ver, complementariam o ECA. “Concordo que o ECA não deve ser modificado. O PL não vai substituir o Estatuto, vai complementar”, afirmou.

Em nossa apresentação privilegiamos o eixo histórico do processo de sistematização do conhecimento da realidade daqueles que vivem o acolhimento institucional, destacando que a busca pela melhor forma de enfrentamento dos resultados trazidos pelas pesquisas em abrigos tinha sido desviada para a atenção ao PL em questão, que atravessou esse processo com uma proposta que respondia a necessidade de uma minoria dessa população.

Rita apresentou alguns pontos relevantes da pesquisa sobre abrigos realizada na cidade de São Paulo em parceria entre a AASPTJ-SP, o NCA/PUC-SP, a Fundação Orsa e a Secretaria de Assistência Social. A assistente social relacionou estes dados com a recente pesquisa nacional de abrigos organizada pelo IPEA. Segundo ela, os dois trabalhos constataram que a principal causa de abrigamento é a pobreza. “A questão da adoção apresenta um conflito social. De um lado temos a família carente e de outro a família desejosa de adotar, normalmente mais abonada”, expôs. (ibid.)

Um dado fundamental apresentado na audiência foi a idade com que as crianças pesquisadas em São Paulo entraram nos abrigos. Reiterando os resultados de nossa pesquisa de mestrado que indicava significativo período de convivência com a família de

origem ou extensa anteriormente ao abrigamento, na pesquisa de São Paulo a faixa etária de 0 a 2 anos no ingresso ao serviço de acolhimento, correspondia a 18% da população.

Dados das pesquisas mostraram que a maioria dos abrigamentos é feita a partir dos dois anos de idade, grande parte das crianças é negra e estão em grupos de irmãos. No entanto, as famílias que querem adotar, preferem crianças brancas e de zero a três anos. Para Rita, a lei não vai facilitar o processo de adoção e sim promover mais destituições do poder familiar. (ibid.)

Fernando Freire criticou o fato de considerarmos o abismo existente entre adotantes e crianças e adolescentes abrigados como uma expressão da questão social e do conflito entre classes sociais, reafirmando ser a adoção um direito da criança, a seu ver, compatível com o fortalecimento das políticas públicas.

Fernando Freire afirmou ser um absurdo dizer que a lei irá tirar as crianças das famílias pobres para colocá-las em famílias ricas. “A adoção é um direito da criança. Atacam a lei em nome das políticas públicas. É um equivoco dizer que a lei impede a busca de soluções.” (ibid.)

Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, focalizou o tempo ínfimo (120 dias) para destituição do poder familiar proposto, rebateu a fala de Fernando Freire, resgatando a ponderação, feita pela mesma entidade que ele representava78, de que o tempo mínimo necessário para o trabalho de reintegração familiar era de um ano e meio.

Reinaldo Cintra alegou que o PL até pode ter boa intenção, mas as entidades que se posicionam contra não conseguiram fazer a mesma leitura que seus defensores expuseram na audiência. “Ninguém é contra a agilização do processo de adoção, mas estabelecer um prazo máximo de 120 dias para se decidir a vida de uma criança é ir contra o princípio da convivência familiar.” Ele ainda lembrou que o Instituto Terra dos Homens, entidade que Fernando Freire representa, em São Paulo, posicionou-se contrária ao PL e considerou um tempo mínimo de um ano e meio para a reinserção familiar.

Cintra ainda enfatizou que a lei apresenta um contrassenso. “Não adianta falar que a adoção continuará sendo uma medida excepcional se a lei estabelece este prazo ínfimo para a destituição. O discurso de apresentação não está condizente com o que a lei diz”, explicou. (ibid.)

Luiz Carlos de Barros Figueirêdo, na defesa do PL, afirmou que “discutir a lei não era da competência de juízes, promotores e outros profissionais e sim dos parlamentares. Para ele,

78 Claudia Cabral, representando a entidade Terra dos Homens, nas ações voltadas para a prevenção do abandono, o trabalho com a família de origem com vistas a reintegração familiar, compôs a coordenação do grupo que elaborou o PNCFC.

o projeto deve ser aprovado. Do contrário, quem vai pedir desculpas a esses jovens e adultos vítimas da falta de oportunidade?" (ibid.)

Paulo Afonso Garrido de Paula contra argumentou lembrando que faz parte da democracia o debate com a sociedade civil “e não só entre os parlamentares” e reafirmou que o que irá mudar a realidade é a prática do ECA e “não uma nova lei”.

Paulo Afonso Garrido de Paula defendeu que a democratização do País exige o debate do projeto com a sociedade civil e não só entre os parlamentares. Ele considerou que o que há de bom no PL já está previsto no ECA e no Código Civil. Para ele, o que irá transformar a realidade das crianças abrigadas é a colocação das medidas do Estatuto em prática e não uma nova lei. “O Estado de São Paulo realiza mais de 4 mil adoções por ano, por isso falar que estas entidades que se posicionaram contra o PL, são contra a adoção é um equivoco.” (ibid.)

A plateia estava lotada com membros de entidades representantes da sociedade civil que “foram enfáticos em apoiar a retirada do Projeto de Lei 1756/03, entendendo que o mesmo não responde às problemáticas a que se propõe, incorrendo numa inversão de prioridades quanto ao direito à convivência familiar e comunitária.(ibid.)

O “clima”, que já estava acirrado no debate, foi ainda mais intensificado na abertura para manifestação dos presentes79, especialmente quando Elisabete Borgianni, então presidente do CFESS e representante do Conanda, fez a leitura do Parecer do referido Conselho, contrário ao PL, até aquele momento desconhecido do público em geral.

A Sra. Elizabete Borgianni, do CONANDA, entregou documento da entidade, o qual conclui que deslocar do ECA o assunto "adoção" é providência que significará uma involução para a legislação protetiva da infância e que é preciso envidar todos os esforços para melhorar o Estatuto e não lhe reduzir a importância, ou mesmo fragmentá-lo. (Ata da 10º. Reunião ordinária da Comissão de Educação, da 2ª sessão legislativa, de 14.12.2004, ASLEG-SP)

A Deputada Luiza Erundina foi enfática em seu posicionamento a favor da preservação das conquistas do ECA, ressaltando que “o mandato popular não autoriza os parlamentares a se manifestarem sobre questões em que a sociedade civil é mais preparada para fazê-lo. O

79 Passada a palavra aos presentes, previamente inscritos para falar, manifestaram-se: Dr. Clilton G. dos Santos - Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo; Dr. Fermino Magnani Filho - Juiz de Direito da Vara da Infância e da Juventude do Foro Regional da Lapa; Sra. Maria Francisca C. Sampaio - psicóloga da Vara da Infância e da Juventude da Lapa; Sra. Márcia Porto Ferreira - psicanalista coordenadora do Instituto Sedes Sapientae; Sra. Maria de Lourdes Rodrigues - da Fundação Abrinq; Sra. Elizabete Borgianni, do CONANDA e do Conselho Federal do Serviço Social; Sra. Jandimar Maria Guimarães - presidente da ANGAAD - Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção; Sr. Paulo Sérgio Pereira dos Santos - da ANGAAD; Sr. Welbi Maia Brito - conselheiro do CONDECA e, por fim, a Deputada Luiza Erundina.

ECA é uma conquista social”. Por fim, sugeriu a necessidade de que as comissões que construíam processos paralelos (o da adoção e o da convivência familiar e comunitária) minimamente se articulassem.

O que existe é um grande "fosso" entre a lei e a realidade. O que precisa avançar são as políticas públicas. Lembrou o documento "Carta de São Paulo", assinada por 59 entidades, que são as mais legítimas e credenciadas para se pronunciarem acerca do projeto. A "Carta de São Paulo" expõe que, ao contrário de facilitar a convivência da criança com sua família de origem, a proposta incentiva a adoção como solução para os problemas sociais do país. Acrescentou que há, na Câmara Federal, uma comissão que tem por finalidade analisar o ECA. Acredita que o ideal seria se as duas comissões se fundissem em uma só ou, pelo menos, se reunissem conjuntamente. (ibid.)

Considerando o impacto e a importância da manifestação do Conanda tendo em vista ser de sua competência a oferta de subsídios e o acompanhamento para a elaboração de legislação referente aos direitos da criança e do adolescente, o contexto do movimento contrário ao PLNA foi fundamental para o Conselho inserir em sua pauta a atenção para as medidas protetivas.

2.3.3 Posicionamento contrário do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do

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