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Posicionamento contrário do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente Conanda

CONTRA A TRAMITAÇÃO DO PROJETO DE LEI NACIONAL DE ADOÇÃO PLNA 1756-

2.3 São Paulo diz não ao Projeto de Lei Nacional de Adoção

2.3.3 Posicionamento contrário do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente Conanda

Em relação às medidas socioeducativas o Conanda havia emitido algumas resoluções norteadoras do reordenamento das instituições executoras da medida de internação. Porém, seu posicionamento em relação às medidas de proteção, especialmente o abrigamento e a adoção, somente ocorreu nesse processo histórico do movimento contra o PLNA, concomitante ao de elaboração do PNCFC.

O Conanda após reunião, ocorrida em 05.10.2004, com objetivo de analisar o referido PL, emitiu um parecer por meio do qual explicitou “a preocupação de não afastar a medida protetiva de adoção do âmago da doutrina da proteção integral”, registrando, portanto, algumas considerações e proposições.

O PL alarga as possibilidades de colocação em família substituta em detrimento do investimento em ações e políticas que visem manter a criança e o adolescente, prioritariamente, na família natural. Ao invés de investir na efetiva implementação do ECA, especialmente no que diz respeito à obrigatoriedade de políticas públicas de proteção à criança e ao adolescente e de apoio sócio familiar, o que reduziria os

casos de adoção a tão somente aqueles que envolvessem impossibilidade de manutenção de vínculo com a família natural, fixa prazos para destituição do poder familiar, desconsiderando particularidades de cada situação e a limitação concreta das políticas públicas e programas de reinserção social. (Conanda, 2004).80

A partir dessas ponderações e de críticas sobre artigos específicos, o Conanda concluiu o parecer considerando que “a opção por deslocar do Estatuto da Criança e do Adolescente o assunto da adoção é providência que significará uma involução para a legislação protetiva da infância. Devemos envidar todos os esforços para melhorar o Estatuto, e não lhe reduzir a importância ou mesmo fragmentá-lo.”.

Consideramos que este foi um instrumento fundamental para que a comissão responsável pela análise do PL ampliasse o prazo e os debates para concluir suas tarefas quanto à aprovação do projeto, haja vista a importância e o peso do parecer daquele que tem como atribuição regulamentar a política nacional de atenção a criança e o adolescente.

Em 2006, ocasião em que a Versão Preliminar do PNCFC estava sob consulta pública e o PLNA estava tramitando na versão do substitutivo 6222-2005, o Conanda emitiu novo parecer (constante do Anexo) intitulado “Pelo Direito à Convivência Familiar e Comunitária”, elaborado durante sua 140ª Assembleia Ordinária, realizada nos dias 07 e 08 de junho de 2006.

Com base em ponderações compatíveis com as críticas apresentadas pelo movimento contrário ao PL, o Conanda valorizou a necessidade de fortalecer o exercício do direito fundamental da criança e do adolescente à convivência familiar e comunitária; debate que em período recente “ganhou corpo graças à criação de diferentes instâncias e implementação de iniciativas com vistas ao diagnóstico da situação de crianças e adolescentes institucionalizados ou em situação de rua, em sua maioria ainda com vínculos familiares e vivendo sob enorme vulnerabilidade socioeconômica”.

Ressaltou a importância da articulação do PLNA às diretrizes do PNCFC que estava em processo de elaboração “passando a ser o marco conceitual para as políticas, programas e serviços voltados ao exercício do direito à convivência familiar e comunitária, com vistas à desinstitucionalização de crianças e adolescentes e a garantia do seu direito ao convívio familiar e comunitário”, indicando ainda, “que o Plano Nacional referido trará todas as

indicações para as alterações legislativas necessárias com o fito de regular o acolhimento familiar, institucional e a adoção”.

Por fim, embasado nessas ponderações, o Conanda emitiu parecer explicitamente contrário à edição de uma lei específica de adoção, indicando que possíveis aperfeiçoamentos deveriam ocorrer com base no PNCFC que seria aprovado em breve.

Que o instituto da adoção deve ser regulado conjuntamente com outros institutos para o exercício da convivência familiar e comunitária e não por meio de legislação específica, sendo a adoção uma possibilidade de exceção para cumprir o ditame constitucional da proteção integral dos direitos da criança e do adolescente, afastando quaisquer apelos de inspiração menorista que resultariam em maior institucionalização e desfiliação arbitrária das crianças e adolescentes nascidos em famílias pobres deste país; e portanto, o CONANDA manifesta-se contrariamente à edição de uma lei nacional específica de adoção. Entendemos que os possíveis aprimoramentos legislativos para este instituto devem integrar a política de garantia do direito à convivência familiar e comunitária e ser insertos na Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código Civil, conforme indica o texto preliminar do Plano Nacional. (BRASIL, Conanda, 2006, grifos originais)

A emissão dos pareceres do Conanda de 2004 e de 2006 provocou a contrariedade dos defensores do PLNA, especialmente de Figueirêdo81, que o considerou parcial, e que, a seu ver “o que houve foi instrumentalização para um determinado e querido posicionamento, por não se ter dado espaço aos favoráveis ao PL”. Lembrou que não se concretizara a perspectiva verbalmente levantada de realização de um debate entre as posições antagônicas, para que o Conanda estivesse apto a tirar suas conclusões, e, ainda assim, o Conanda emitira outro parecer contrário ao PL, a seu ver, reiterando sua parcialidade. Dentre várias críticas apresentadas por Figueirêdo, destacamos a que demonstra claramente o distanciamento entre o que estava sendo discutido no grupo responsável pela elaboração do PNCFC e o que defendia o PLNA. Para ele, a espera da aprovação do PNCFC iria “congelar” a situação das crianças e dos adolescentes nos abrigos.

Também se quer condicionar à mudança legislativa a elaboração do “plano nacional de promoção, defesa e garantia do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária”. Parece que não se observa a contradição contida no próprio texto, quando assume que há anos o tema vem sendo debatido. Quantos anos mais vamos esperar? Quantas gerações foram perdidas nos abrigos sem possibilidade de conviver em uma família, mesmo que substituta? Quantas mais teremos que perder? Se o plano, quando concluído, vislumbrar necessidade de novas alterações legislativas, elas serão propostas independentemente da norma a ser modificada se encontrar na CF, CC, ECA, LNA, etc. É muito triste que se pretenda “congelar” a situação das crianças até que este bendito plano seja editado.

81 O texto do email enviado para o então presidente do Conanda pode ser acessado na íntegra no site http://luizcarlosFigueirêdo.com.br/?m=200904, acessado em 18.11.2014.

O autor considerou que o documento do Conanda teria se reportado às críticas do movimento paulista contrário ao PLNA, do qual resultou o documento “Carta Aberta São Paulo”. A seu ver, os participantes desse movimento estavam pautados em interesses corporativos, sendo que “a quase totalidade dos órgãos signatários” nunca trabalharam ou se dedicaram para as temáticas relacionadas ao abrigamento, adoção e perda do poder familiar.

Embora reconheça que se trata de mero “fellings” de minha parte, registro que a leitura que fiz no novo texto do CONANDA me reportou automaticamente a um documento paulista (foco principal das resistências corporativistas ao PL 1.756/03), onde a quase totalidade dos órgãos signatários nunca dedicaram um minuto sequer de suas existências à questão da perda do poder familiar ou da colocação da família substituta, bem como a maioria nunca trabalhou com abrigos, mas, com total desconhecimento de causa se acharam com direito a responder um texto sobre o qual não estavam aptos a se pronunciar (tenho muitos amigos nessas instituições, mas nenhuma preocupação em me postar como “politicamente correto”, para não desagradá-los. Meu compromisso, como magistrado há 23 anos e meio, a maioria deste tempo na área da infância e como pai adotivo de 3 filhos é com as crianças e com a verdade).

O autor, mais uma vez confrontando a posição de São Paulo – que era pela retirada do PL, recusando-se à apresentação de substitutivo- conclamou o Conanda para que se juntasse ao grupo dos que estavam dispostos a oferecer contribuições, concluindo a mensagem com o repúdio ao parecer, apesar de ressaltar manter a abertura ao diálogo.

Penso que o CONANDA poderia contribuir muito mais para crianças e adolescentes sem família caso se incorporasse ao que estão apresentando sugestões para aprimorar o substitutivo. Acredito que o Congresso Nacional vai ouvir melhor os anseios da nação do que os reclamos de grupos micro localizados insatisfeitos que querem manter tudo como está. Quem pensar que apenas sendo contra o substitutivo, sem apresentar nada melhor em seu lugar, se encontra no caminho correto, corre o risco de perder o bonde da história. Por isso tudo, apresento meu total repúdio ao documento recente do CONANDA, especialmente pela forma pouco democrática utilizada para a sua edição82.

O presidente do Conanda, na ocasião José Fernando da Silva, participou do II Seminário Abrigar – Proteção e Cuidado Integral, realizado pelo Programa Abrigar do Instituto Camargo Correa de 21 a 23.11.2006, na cidade de São Paulo, com a palestra “Marco Regulatório e Políticas Públicas para o Acolhimento Institucional”, ocasião em que expôs

o processo de elaboração do PNCFC, indicando a fase de conclusão do texto, após análise das contribuições obtidas a partir da consulta pública.

Sua fala indica claramente a articulação do Conanda com o Conselho Nacional de Assistência Social, numa perspectiva mais ampla de efetivação do controle das políticas públicas para que o Estado brasileiro cumpra o papel da promoção de todos os direitos humanos de crianças e adolescentes.

A primeira diretriz é a centralidade da família nas políticas públicas. Precisamos começar a pensar a política pública no Brasil não como a política para a criança e o adolescente, mas como a política para suas famílias, além da responsabilidade do Estado no fomento à integração de políticas a essas famílias. Eu acho que esses são dois pontos importantes, inclusive a pesquisa do IPEA revela a ausência do Estado e é importante que isso assuma a centralidade. (JOSE FERNANDO DA SILVA, presidente Conanda, palestra II Seminário Abrigar – Proteção e Cuidado Integral, realizado pelo Programa Abrigar do Instituto Camargo Correa de 21 a 23.11.2006).

Com base nesta premissa e num trabalho consistente de construção e debate do PNCFC até a aprovação de sua versão final, em 13.12.2006 (poucas semanas após a participação no evento referido), o presidente do Conanda explicitou as razões do posicionamento contrário ao PLNA e ainda, alertou para a necessidade das matérias que tratem dos direitos da criança e do adolescente serem discutidas pelo Conanda e CNAS.

É importante que o reordenamento institucional dos programas de acolhimento esteja em consonância com os princípios dos direitos humanos, e que a adoção seja centrada efetivamente no interesse da criança e do adolescente. O CONANDA se posicionou de forma pública com um manifesto contrário à lei de adoção que está no Congresso Nacional, por entender que a existência dessa lei tira do Estatuto o status conferido à adoção. Evidentemente o CONANDA não é contra a adoção, mas espera que esse debate não prossiga no Congresso Nacional, que o relatório da deputada Teté Bezerra seja de fato arquivado e que as modificações que forem necessárias sejam feitas no próprio Estatuto da Criança e do Adolescente. Quando for matéria que precise passar por uma lei federal ou quando não precise, que isso passe por competência do CONANDA e do CNAS. (idem)

Entretanto, o presidente do Conanda também destacou a necessidade de aperfeiçoamento de aspectos do ECA – em seu corpo e não apartado – quanto às matérias de abrigamento e adoção, explicitando que o PNCFC seria entregue à comissão responsável pela análise do PLNA para embasar quaisquer proposições a respeito.

A outra diretriz que esperamos fechar é, tão logo o Plano seja aprovado, entregá-lo também ao Presidente da República, pra que ele, no processo, considere, a partir de uma orientação interna dentro do próprio governo, que esse Plano seja objeto de análise de cada ministério que tem responsabilidade com criança e adolescente. O Plano também será entregue à frente parlamentar, que é coordenada atualmente

pela senadora Patrícia Sabóia, pela deputada Telma de Souza e pela deputada Maria do Rosário, pra que o Congresso Nacional o considere como um instrumento, sobretudo a partir da atuação da frente parlamentar pra pensar o orçamento público no Brasil, mas também pra pensar o aperfeiçoamento da legislação no que se refere à convivência familiar e comunitária, e especialmente na questão da adoção nacional e internacional. (ibid.)

A nosso ver, ficou evidenciado que o Conanda e o Movimento São Paulo contra o PLNA convergiram em seus posicionamentos por estarem evidentemente fundamentados na articulação entre os marcos legais brasileiros e o marcos situacionais que foram delineados a partir das pesquisas realizadas concomitantemente à apresentação do PLNA, especialmente aquelas sobre os abrigos e as crianças e adolescentes que neles viviam. Devido ao destaque de Dom Luciano Mendes de Almeida na defesa dos direitos da criança e do adolescente, registramos suas ponderações como colunista do jornal Folha de São Paulo sobre o PLNA, enfatizando a necessidade de não se colocar em risco as conquistas do ECA, para o qual ele contribuiu na elaboração e na defesa até sua morte em 2006.

2.3.4 Em defesa da preservação das conquistas do ECA: o pronunciamento de Dom

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