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A desarticulação da comissão do PLNA 1756-2003 com o processo de construção do PNCFC e o distanciamento em relação aos dados de pesquisa sobre as crianças e

REGISTRO DA TRAMITAÇÃO PLENARIO E SENADO PL 6222-2005 2008 e

3.4 A desarticulação da comissão do PLNA 1756-2003 com o processo de construção do PNCFC e o distanciamento em relação aos dados de pesquisa sobre as crianças e

os adolescentes institucionalizados e suas reais necessidades

Apesar de tratarem da mesma matéria e dos mesmos sujeitos de direitos, a pouca articulação entre a elaboração do PNCFC e a tramitação do Projeto de Lei Nacional de Adoção resultou em produtos contraditórios. Tanto o PNCFC como o Substitutivo foi aprovado em dezembro de 2006. Embora também sujeito a críticas, o processo de construção do PNCFC se mostrou mais sólido por estar pautado no resultado da pesquisa

99 Disponível em

http://www.camara.leg.br/internet/sitaqweb/TextoHTML.asp?etapa=11&nuSessao=1348/06. Acessado em 14.11.2014.

nacional feita pelo IPEA (2003) sobre a realidade dos serviços de acolhimento, assim como nas diretrizes da Política Nacional de Assistência Social (aprovada em 2004) 100.

A menção aos dados da pesquisa do IPEA por parte da comissão do PL somente se deu na ocasião de seu lançamento em seminário em abril de 2015. Entretanto, tais dados já estavam disponibilizados desde 2004, tendo a comissão ignorado-os até então, assim como os resultados da pesquisa de São Paulo, município com o maior número de abrigos e de abrigados.

Deputada Teté Bezerra, senhores e senhoras, hoje pela manhã estivemos no IPEA (...) Nesse seminário foi apresentado o livro O Direito à Convivência Familiar e Comunitária: os abrigos para crianças e adolescentes no Brasil. Trata-se de trabalho coordenado pela Sra. Enid Rocha, que foi coordenadora de um levantamento nacional nos abrigos para crianças e adolescentes cadastrados na rede do Ministério do Desenvolvimento Social.

Deputada Teté, penso que é adequado que façamos um convite à pesquisadora e um requerimento para que a Câmara distribua esse livro para nós desta Comissão — V.Exa. tem um exemplar em mão —, em função da importância de seu conteúdo, da profundidade com que trata o tema, pelo compromisso social que tem, além da capacidade técnica de analisar a situação das crianças nos abrigos no Brasil inteiro. (Deputada Maria do Rosário, presidenta da comissão do PLNA 1756-2003, Audiência Pública N°: 0380/05 DATA: 13/4/2005)

Compreendendo que os dados da pesquisa corroboravam que os motivos de abrigamento se relacionavam à pobreza, exigindo uma política de atenção às famílias, a Deputada Maria do Rosário, alertou a relatora para a necessidade de convidar a coordenadora da pesquisa para apresenta-la na comissão, mas, além disso, pareceu neste momento se aproximar da essência da crítica feita pelo movimento São Paulo:

(...)

Parece-me muito significativo o resultado de uma pesquisa. Ela traz como resultado que, entre os motivos para o abrigamento, 18% são em função do abandono, e 24% por causa da pobreza, circunstâncias possíveis de se superar por políticas públicas, por programas e por um projeto de desenvolvimento para o País que vise à inclusão dessas pessoas. Ou seja, deve haver um diálogo dos articuladores dessa grande política com a área econômica do País, no sentido de que a economia se volte aos esforços por maior inclusão social. Deve haver também um diálogo com as políticas de atendimento à família, porque 24% das crianças estão abrigadas porque são pobres, não porque não tenham família. Suas famílias é que não conseguem prover o mínimo necessário. Uma motivação absurda no marco da Constituição Federal de 1988 e do ECA.

100 Alguns membros da comissão do PLNA participavam da discussão mais ampla que envolvia a elaboração do PNCFC, mas no debate da comissão, as informações sobre os objetivos e diretrizes do Plano, quando mencionadas, pareciam não ter força para brecar o trâmite do PL. Nesse sentido, inferimos mais uma vez, ter sido determinante o papel da presidente da Comissão, Maria do Rosário que, ao longo desse processo, se aproximou da construção e do debate em torno do PNCFC, a nosso ver, ampliando a própria compreensão de que não seria a agilização da adoção a “solução” para as crianças e adolescentes acolhidos.

(Deputada Maria do Rosário, presidenta da comissão do PLNA 1756-2003, Audiência Pública N°: 0380/05 DATA: 13/4/2005, grifo nosso)

A fala de Claudia Cabral na audiência de 2005, se reportou ao cuidadoso processo de construção do PNCFC que se deu a partir da criação em 2002 de um comitê inicialmente voltado ao reordenamento dos serviços de acolhimento101, mas que rapidamente percebeu que o foco deveria ser ampliado para a convivência familiar e comunitária.

Desde 2002 o UNICEF se propõe a defender o direito à convivência familiar e comunitária com o maior empenho possível. Desde então criamos o Comitê de Reordenamento de Abrigos, que depois se transformou na Comissão Intersetorial Pró-convivência Familiar e Comunitária — e há representante da Câmara dos Deputados nessa comissão. Concluiremos na próxima sexta-feira o trabalho estatístico. Hoje de manhã, no IPEA, muitos dos senhores estavam lá e puderam verificar isso.

Graças a Deus, estamos começando de fato a assumir esse problema! É a primeira vez que temos um levantamento estatístico concreto, uma análise mais aprofundada acerca dessa realidade que estava debaixo do tapete esses anos todos. O Governo está assumindo essa pauta. O Legislativo tem aí um papel importantíssimo, como de resto toda a sociedade civil. (Claudia Cabral, da organização Terra dos Homens, membro da comissão de elaboração do PNCFC, palestrante convidada, Audiência Pública N°: 0380/05 DATA: 13/4/2005)

Resgatando a criação da Comissão Intersetorial Pró-Convivência Familiar e Comunitária, esclareceu a metodologia de trabalho em três grupos e com base nos dados da pesquisa do IPEA fez o apelo “melhor seria o projeto de lei Pró Convivência Familiar e Comunitária”.

A Comissão Intersetorial Pró-Convivência Familiar e Comunitária foi dividida em 3 grupos: família de origem e prevenção; a criança num contexto de acolhimento em abrigo ou outra modalidade — separada da família, mas com ela mantendo vínculo — e a comissão da adoção. Nosso grande desafio é ter de decidir se separamos ou não a criança da família.

(...)Em vista da realidade — 86% das crianças têm contato com suas famílias —, melhor investimento seria criar projeto de lei pró-convivência familiar, que considerasse os outros 90% de crianças que não são passíveis de adoção e determinasse expressamente que não se pode tirar a criança da família em razão de pobreza, bem como desse poder requisitório ao Conselho Tutelar. Isso tudo a Comissão está propondo. Vamos lançar um plano de ação com artigos precisos, que será encaminhado ao CONANDA. (Claudia Cabral, da organização Terra dos Homens, membro da comissão de elaboração do PNCFC, palestrante convidada, Audiência Pública N°: 0380/05 DATA: 13/4/2005)

Alertando para o ponto mais vulnerável em relação ao acolhimento institucional. Claudia Cabral enfatizou que a “chave da questão” era o trabalho eficiente com a família de origem.

(...)Em matéria de institucionalização de crianças, não podemos pecar. A chave da questão é desenvolver um trabalho eficiente com a família de origem, é acreditar que a criança pode voltar para o convívio familiar e que a família de origem é capaz de se reorganizar, se lhe dermos o devido suporte. Talvez nos falte um pouco mais de conhecimento sobre como de fato podemos alcançar essas famílias e apoiá- las com metodologias participativas.

(...) Em relação ao PL, há muita coisa para ser revista. Não acho que um projeto de lei chamado PL de Adoção, em que se tem apenas 10% das crianças em instituições disponíveis para adoção, deva regular os outros 90% com a prioridade com que regula. Nos dispositivos finais, o art. 64 entra em detalhes na regulação, em como são os parâmetros de funcionamento das instituições. Isso já está no Estatuto, e temos muito para implementar.

3.5 Comparativo dos eixos centrais do PLNA 1756-2003, do Substitutivo final 6222-

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