• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III Relato da investigação-ação: experiências de ensino-

3. Descrição do plano de ação em português e em latim e análise dos resultados

3.1.1. Aula do dia 22 de novembro de 2017 (regência I de português)

Esta regência decorreu nos dias 17, 18 e 22 de novembro de 2017 e teve como base o estudo e análise do conto “História comum”, de Machado de Assis, que integra a Unidade 1 do programa de Português. A nível do domínio gramatical, neste ponto do

66

programa, prevê-se a introdução das orações subordinadas substantivas relativas e a revisão das orações subordinadas adjetivas relativas e das orações subordinadas substantivas completivas. Ao planificarmos o conjunto de aulas da regência, decidimos que, durante as duas primeiras, nos centraríamos, sobretudo, na leitura e análise do conto. A introdução do conteúdo gramatical novo, que ocorreu em paralelo com uma revisão mais aprofundada das restantes orações acima referidas, realizou-se na última aula da regência, dia 22 de novembro.

No início da aula, distribuímos uma ficha informativa sobre os dois grupos de orações – o das adjetivas e o das substantivas55. Com recurso a este material,

pretendíamos que os alunos ficassem com um documento que lhes permitisse consultar o resumo da matéria a qualquer momento, facilitando o seu estudo individual. A ficha dividia os dois grupos de orações nos seus diferentes subtipos, através de um quadro que incluía não só as definições gramaticais, mas também os seus principais aspetos descritivos e morfossintáticos, apresentando um exemplo ilustrativo para cada caso56.

Depois da distribuição da ficha, pedimos aos alunos que, primeiramente, estivessem com atenção à explicação da professora, antes de começarem a ler o que lhes tinha sido entregue. Importa referir que, durante a exposição da matéria, fomos recuperando conhecimentos que os alunos já detinham, em jeito de diálogo com a turma, colocando-lhes questões à medida que íamos avançando na matéria.

Iniciando a nossa abordagem pelos conteúdos que os alunos já conheciam, começámos por colocar no quadro os dois exemplos frásicos que apareciam na ficha, para o grupo das orações subordinadas adjetivas. Incitando a participação da turma, solicitámos a divisão das orações subordinantes e subordinadas, a identificação do elemento que introduzia as subordinadas e, por fim, a classificação completa destas últimas. Na identificação dos elementos de ligação, os alunos indicaram corretamente o “que” como resposta, mas hesitaram entre as classificações de “pronome relativo” e de “conjunção subordinativa”. Perante o surgimento destas dúvidas, explicámos aos discentes que este vocábulo, ao contrário de uma conjunção, possui também a função de substituir, na oração subordinada, o grupo nominal ao qual se refere – destacando, em cada frase, o antecedente do pronome relativo.

Aquando da classificação de cada uma das orações, ao verificarmos que as designações de “restritiva” e “explicativa” foram atribuídas com base na

55 Ver Anexo VIII.

67

presença/ausência de vírgulas, tentámos clarificar em que medida aquilo que as distingue semanticamente e o tipo de informação que pretendem veicular estão relacionados com a pontuação utilizada. De modo a complementar esta explicação, considerámos que seria importante estabelecer uma relação entre a classificação das orações e as funções sintáticas que lhes são atribuídas. Assim, visto que o conceito de modificador de nome ainda não tinha sido ensinado, decidimos introduzi-lo nesta aula, de forma breve57.

Primeiramente, procedemos à exposição da matéria no quadro, com as definições de modificador de nome restritivo e de modificador de nome apositivo, acompanhadas de exemplos. Após a identificação dos modificadores presentes nas frases e da respetiva explicação de cada um deles, reescrevemos as frases no quadro, transformando as expressões que lhes correspondem numa oração subordinada adjetiva relativa restritiva e numa oração subordinada adjetiva relativa explicativa, respetivamente.

Depois de reescrever os dois exemplos no quadro, realçámos a relação existente entre os dois tipos de classificação (oracional e sintática) e articulámos o nosso discurso de forma que os alunos notassem que, de facto, estas orações podem perfeitamente ser substituídas por um grupo adjetival, sem que haja alteração do sentido global da frase e desempenhando as mesmas funções sintáticas – daí serem designadas de “adjetivas”.

Seguidamente, prosseguindo com a revisão das orações, transcrevemos para o quadro a primeira frase que, na ficha informativa, serve como exemplo para as orações subordinadas substantivas completivas. Na análise desta, em semelhança ao que tínhamos feito anteriormente, solicitámos à turma a divisão das orações (subordinante e subordinada), a identificação do elemento que introduzia a oração subordinada e a análise sintática da frase – a partir desta última, chegámos à classificação completa da oração subordinada e do elemento de ligação.

Do desempenho dos alunos nesta atividade, queremos destacar que, embora apontando, de forma correta, o “que” como resposta, a maioria encarou esta conjunção como se de um pronome relativo de tratasse. Por esse motivo, explicámos, novamente, a diferença entre os dois vocábulos, procurando deixar claro que este “que” apenas faz a ligação entre as orações subordinante e subordinada, tratando-se, portanto, de uma conjunção subordinativa. Relativamente à análise sintática, depois de os alunos, com algumas dificuldades, conseguirem intuir que a oração subordinada constituía o complemento direto da frase, chamámos a atenção deles para dois aspetos: esta oração está a ocupar uma função sintática ocupada normalmente por grupos nominais, daí se

68

designar “substantiva” (evidenciando essa diferença em relação às que se designam “adjetivas”); além disso, visto que se trata do complemento direto da frase, esta completa, portanto, o sentido do verbo da oração subordinante e, por esse motivo, são designadas “completivas”.

Em último lugar, colocámos no quadro as quatro frases que constavam, na ficha, como exemplo para as orações substantivas relativas. Depois de solicitarmos aos alunos a indicação do número de orações que cada frase continha, delimitámos as subordinantes e as subordinadas. Sublinhámos todos os elementos que introduziam as subordinadas e pedimos aos alunos que identificassem as classes e subclasses de palavras a que pertencem. Pedimos, ainda, a identificação da função sintática desempenhada por cada oração subordinada.

Quanto aos elementos introdutórios, devido às grandes lacunas dos alunos a este nível, só com o auxílio da docente foi possível chegar à conclusão de que todos eram conectores relativos. A partir do levantamento deste facto, explicámos que estávamos perante outro tipo de orações relativas, que eram sempre introduzidas por pronomes, advérbios ou quantificadores, relativos. Através da identificação da função sintática, realçámos que estas orações, tal como as completivas, pertenciam ao grupo das substantivas, pois ocupam, igualmente, funções sintáticas características de grupos nominais. Chamámos também a atenção para o facto de as mesmas não desempenharem uma função sintática em relação a uma expressão nominal (antecedente) com a qual se relacionam, estabelecermos, desse modo, a distinção entre as substantivas relativas e as adjetivas relativas. Terminámos a introdução deste tópico gramatical novo enunciando a classificação completa destas orações.

Para finalizar a revisão/exposição da matéria, procedemos, à leitura da ficha em conjunto com os alunos, revendo, calmamente, cada um dos exemplos frásicos analisados, tendo como objetivo sintetizar tudo o que tinha sido tratado.

A segunda parte da aula consistiu na realização de uma ficha de trabalho58 sobre

esses conteúdos gramaticais. Na resolução de cada exercício, solicitámos aos alunos que, primeiramente, tentassem responder às questões sozinhos; depois de fornecermos tempo suficiente para a resolução de um exercício, passávamos imediatamente para a correção, antes de transitarmos para o exercício seguinte. Durante a correção, procurámos recorrer à participação oral dos alunos e não nos basearmos, apenas, em enunciar as respostas

69

corretas, mas sim em conduzir o raciocínio dos alunos pelos diferentes aspetos linguísticos que os levavam a obter a resposta certa. Pretendemos salientar que, embora esta turma fosse razoavelmente participativa, havia alguns alunos menos participativos e que demonstravam uma certa timidez em expor as suas dúvidas. Por termos conhecimento disso, tentámos sempre interpelá-los a todos, para nos certificarmos de que toda a turma estava a acompanhar a resolução dos exercícios e a compreender a matéria.

A ficha de trabalho continha três exercícios que visavam a aplicação dos conhecimentos adquiridos e uma assimilação mais sólida da matéria dada. De uma forma geral, desejávamos testar se a aprendizagem dos discentes estava a acontecer de forma eficaz e perceber quais as dificuldades que continuavam a persistir.

Os tópicos sobre os quais os exercícios59 incidiam mais concretamente eram os

seguintes: as orações substantivas relativas, no exercício 1; as orações adjetivas (relativas restritivas e relativas explicativas), no exercício 2; as orações substantivas completivas e as orações adjetivas relativas, no exercício 3. Estes incluíam questões, nas quais solicitávamos, sobretudo, a delimitação e classificação de orações, a classificação morfológica dos seus elementos introdutórios e a identificação da função sintática desempenhada pela oração subordinada.

3.1.1.1. Resultados obtidos na realização da ficha de trabalho

Visto que os alunos resolveram os exercícios no caderno e que toda a resolução foi acompanhada pela professora, as respostas dos alunos não foram recolhidas por escrito. No entanto, fizemos o nosso próprio registo do desempenho da turma e analisaremos de seguida, em jeito de comentário, os resultados obtidos a partir da observação direta.

No exercício 1, verificámos que os alunos facilmente reconheceram as três orações subordinadas substantivas relativas, devido (na nossa perspetiva) ao facto de terem reconhecido desde logo os elementos que as introduzem, os quais ainda estavam bem presentes na memória deles, já que a matéria tinha acabado de ser dada. No entanto, tiveram mais dificuldade em analisá-las sintaticamente.

Quanto ao exercício 2, constatámos que os discentes não tiveram dificuldade em encontrar, nas frases dadas pelo enunciado, as orações subordinadas adjetivas – uma

59 Também aqui, as frases utilizadas nos exercícios foram extraídas do conto analisado ou construídas a

70

relativa restritiva e outra relativa explicativa –, mas não foram capazes de identificar o antecedente com o qual se relacionam. Na última etapa do exercício, a maior parte dos alunos indicou corretamente as funções sintáticas ocupadas por essas orações; porém, a nosso ver, não por perceberem o sentido de cada oração na frase, mas sim por terem memorizado a função sintática que se associa a cada uma delas.

Relativamente ao terceiro exercício, podemos afirmar que este foi o que causou mais obstáculos aos alunos. Apesar de terem conseguido fazer o levantamento das orações introduzidas pelo vocábulo “que”, não foram capazes de identificar as situações em que se encontravam perante uma oração subordinada substantiva completiva ou perante uma oração subordinada adjetiva relativa. Nesse sentido, demonstraram também dificuldades em distinguir o pronome da conjunção. Só depois de resolvida e corrigida essa parte do exercício, os discentes conseguiram indicar as funções sintáticas desempenhadas pelas orações, recorrendo, mais uma vez, à memorização.

Em relação ao aproveitamento geral da turma, que foi observado por nós, podemos afirmar que os alunos se refugiavam muito na memorização - sem se preocuparem em compreender a explicação da professora -, o que não é inválido, mas é insuficiente, do ponto de vista de uma aprendizagem efetiva. Durante a resolução dos exercícios, pudemos perceber que, recorrendo a essa estratégia, conseguiam, por vezes, responder corretamente, mas, quando alguma questão exigia que os alunos compreendessem a relação que se estabelece entre morfologia, sintaxe e semântica, por exemplo, já sentiam mais dificuldades em chegar à resposta certa.

Não podemos deixar de salientar que a realização da ficha de trabalho decorreu logo a seguir à exposição da matéria, com o acompanhamento da professora e tendo os alunos a ficha informativa ao lado - ou seja, a atividade decorreu no âmbito de um conjunto de circunstâncias que ajudaram esta atividade a fluir naturalmente sem grandes pausas e entraves. Portanto, importou, posteriormente, avaliar o desempenho da turma, em circunstâncias muito diferentes destas – tendo os discentes que resolver os exercícios/fichas de trabalho sozinhos, sem acompanhamento e sem poderem consultar a matéria.

Por fim, pretendemos destacar que, desde o início da aula, a relação da turma com a Gramática não foi a melhor. Devido ao incentivo e ao acompanhamento constantes da professora, a turma acabou por participar razoavelmente na resolução dos exercícios. Continuámos, contudo, a sentir uma elevada falta de interesse por alguns alunos, que nem participavam oralmente na atividade nem realizavam os exercícios no caderno.

71