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Capítulo II – Enquadramento teórico

3. Orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas substantivas – contexto

3.1. Em português

3.1.3. As orações nos programas e materiais didáticos de português

3.1.3.1. Os programas de Português

O programa de Português do ensino básico (Buescu et al., 2015: 31) propõe que o pronome relativo - vocábulo responsável por introduzir a maior parte das orações relativas - seja inserido no 7.º ano, assim como alguns dos outros conectores relativos34 e as orações

subordinadas adjetivas relativas. Consideramos que, nesta fase, se deve desenvolver um estudo mais exaustivo do pronome relativo, no que respeita à sua identificação e função na frase (relação que estabelece com o antecedente). Esse estudo permitirá ao aluno adquirir ferramentas para uma maior facilidade em compreender e assimilar conhecimentos relacionados com o funcionamento morfossintático das orações subordinadas adjetivas relativas. Tal como defende Choupina (2010: 62),

o aluno só compreenderá que uma oração relativa é a expansão de um determinado SN e, em termos sintáticos, faz parte desse SN, quando perceber a relação anafórica que se estabelece entre o pronome e o nome que ele substitui na oração encaixada.

De acordo com o programa e as metas curriculares da disciplina (Buescu et al., 2015: 78), o aluno, no final do 7.º ano, deve saber identificar o pronome relativo e os processos de subordinação entre as orações subordinadas adjetivas relativas e as orações subordinantes. Relativamente ao momento em que deve ser estabelecida a distinção entre uma relativa restritiva e uma relativa explicativa, não encontrámos nenhuma indicação nesse documento. Contudo, pela consulta do manual do sétimo ano de que falaremos posteriormente, verificámos que as atividades sobre estes tópicos gramaticais não supõem essa distinção. A introdução do modificador do nome restritivo e modificador do nome apositivo (funções sintáticas ocupadas por estas orações) só está prevista para o 8.º ano de escolaridade.

Na nossa perspetiva, talvez valesse a pena refletir, desde logo, sobre as subclassificações destas orações. No entanto, independentemente do momento em que essa distinção se realize, defendemos que será mais vantajoso estabelecer essa diferença em paralelo com o levantamento das funções sintáticas ocupadas pelos dois subtipos de

34 Relembramos que, além do pronome relativo, outras palavras são responsáveis por introduzir as orações

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orações, mesmo que isso possa implicar um pequeno reajustamento no programa em relação ao momento em que o modificador do nome é introduzido. A associação das duas classificações gramaticais (a sintática e a oracional) ajudará o aluno a compreender melhor a designação de “adjetivas”, assim como as designações de “restritivas” e “explicativas”. Importa referir que, para nós, é essencial que, desde muito cedo, se comece a estabelecer uma “íntima” relação entre a atribuição das funções sintáticas e a classificação das orações, para que os alunos percebam que não se trata de classificações gramaticais completamente alheias uma à outra e que, muito pelo contrário, dependem uma da outra.

No 8.º ano de escolaridade, são introduzidas as orações subordinadas substantivas completivas (com função de complemento direto) e, por sua vez, a conjunção subordinativa substantiva completiva “que” (Buescu et al., 2015: 34). Nesta fase, consideramos imprescindível proceder a uma reflexão gramatical que coloque em confronto frases complexas que contenham orações adjetivas relativas e frases complexas que contenham orações substantivas completivas, aproveitando, se for o caso, as hesitações e as dúvidas quanto à classificação do pronome relativo “que” e da conjunção subordinativa completiva “que”, para refletir sobre as possibilidades da língua (Choupina, 2010: 62). Neste sentido, concordamos que “a comparação entre estas duas orações irá levar o aluno a distinguir com clareza uma oração que é um acrescento ao SN e uma oração que é um argumento selecionado por um verbo” (Choupina, 2010: 62). A nosso ver, este tipo de reflexão é muito importante, já que, segundo o programa e as metas curriculares (Buescu et al., 2015: 83), no final do oitavo ano o aluno deve saber estabelecer relações de subordinação entre orações, identificando os elementos de que dependem as subordinadas.

Relativamente às orações subordinadas substantivas relativas (sem antecedente), estas são introduzidas no 9.º ano de escolaridade (Buescu et al., 2015: 37). Nesta fase, julgamos que é preciso ter em conta tudo o que os alunos aprenderam acerca dos conectores relativos, nos anos anteriores. No nosso entendimento, o docente deve clarificar que, apesar de esses elementos se definirem como representantes ou substitutos de um nome (antecedente), existem também orações relativas sem antecedente expresso; deve, igualmente, diferenciar estas últimas das adjetivas relativas, na medida em que se designam “substantivas” por desempenharem funções sintáticas de substantivos e não de adjetivos. Acrescentamos, ainda, que, tal como Choupina (2010: 59), defendemos que,

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“pelo nível de competência gramatical desenvolvido que estas construções requerem, deveriam ser abordadas no final do 9.º ano e retrabalhadas no Ensino Secundário”.

Visto que, a partir desta altura, o aluno já conhece todos os subtipos de orações subordinadas adjetivas relativas e de orações subordinadas substantivas, é importante retomar os que foram sendo estudados nos anos anteriores e refletir, agora, sobre os dois grupos de orações em conjunto, ressaltando as principais diferenças e semelhanças entre eles, numa perspetiva de confronto.

Quanto ao estudo destes dois grupos de orações no ensino secundário (10.º, 11.º, e 12.º ano), o programa e as metas curriculares do ensino secundário propõem a retoma e consolidação da frase complexa no 10.º ano (Buescu et al., 2014: 16); e a retoma, em jeito de revisão dos mesmos conteúdos, no 11.º e 12.º ano (Buescu et al., 2014: 21; Buescu et al., 2014: 28). Porém, como já vimos em momentos anteriores, o que se constata muitas vezes é que, nestes níveis de escolaridade, muitos alunos ainda demonstram uma grande falta de conhecimentos consolidados, em relação a estes conteúdos gramaticais. Por isso, no nosso entendimento, é importante que o trabalho a nível destes conteúdos continue no ensino secundário, tanto quanto as dificuldades diagnosticadas na sala de aula assim o exijam.