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4.2 Unidades de análise

4.2.5 Autoavaliação

No seu sentido etimológico, de acordo com o dicionário Michaelis, a autoavaliação consiste no fundamento de avaliar-se por si mesmo, enquanto sujeito participante em um grupo de pessoas que buscam, por meio das suas ações, identificar aprendizagens que auxiliam no

processo da sua transformação enquanto ser social. De acordo com Santos (2002), a autoavaliação é um processo metacognitivo que surge do reflexo da mente humana (pensamento, compreensão das coisas, aprendizados) e que o sujeito toma consciência dessas ações para serem compreendidas em seu comportamento.

Ao nos avaliarmos, filtramos aspectos das atitudes, comportamentos e relacionamentos interpessoais, considerados importantes em nossa vida social, relacionando-os com melhorias e mudanças, se for o caso. No caso da autoavaliação dos integrantes, serão considerados os seguintes aspectos: compromisso e responsabilidade; e desenvolvimento da autoestima.

a) Avaliação: Compromisso e responsabilidade

Reconhecer as próprias mudanças no comportamento por participar na banda é olhar para as mudanças que refletem a transformação nos compromissos e responsabilidades adquiridos durante o processo formativo através dos ensaios, dos horários e, principalmente, por saber que essas responsabilidades e compromissos implicam melhorias ao próprio grupo.

Para mim significa compromisso por causa que eu saio lá de casa com os horários marcados para vir aos ensaios (JM. Caixa – M).

É isso que o JM. falou de compromisso que alguns alunos devem ter, porque muitos depois que começaram a entrar na banda passaram a ter o compromisso nos ensaios e nos horários (R. Trombone – M).

[...] o que eu gosto mais é isso daí de poder passar de geração em geração e nunca decepcionar a geração antepassada [...]. É uma responsabilidade assim de você não deixar cair o nome da escola (K. Tenor – m).

O meu filho em relação ao horário ele passou a ser mais responsável, antes ele era muito desinteressado. Agora passou a se envolver mais com as pessoas, conversar e fazer amizade (Laura, em entrevista 21/09/2019). [...] as crianças de início eles não estavam acostumados com as responsabilidades que tem que ter numa banda tipo, o cuidado com o instrumento (Eby Ito, em entrevista em 14/02/2020).

Observa-se, nas falas de (JM. Caixa; K. Tenor; R. Trombone), o reconhecimento de que ser membro da BMRPB implica em caminhar com os mesmos propósitos circunstanciais; que são incumbências onde cada indivíduo reconhece a sua transformação por ser integrante. O depoimento do segundo entrevistado ressalta esta questão enfatizando que, com o passar do tempo, alunos que apresentaram comportamento inicial não apropriado buscaram a própria transformação nos compromissos e responsabilidades assumidas enquanto membros, por meio das relações estabelecidas com o grupo da banda nos ensaios, apresentações, viagens e nas relações cotidianas.

Estas mesmas experiências também se fazem presentes nas falas dos responsáveis/pais, quando reconhecem o processo circunstancial de transformação na participação dos seus filhos na banda. Para os responsáveis/pais, a participação do filho na banda acarreta melhorias na educação, na disciplina, no preparar para o mundo e, de certa forma, surge como complemento de outras competências que o aluno aprende com a família. Eby Ito nos relembra que as crianças, a partir do momento em que começaram a se envolver mais com as questões disciplinares na banda, passaram também a ter mais responsabilidade, principalmente no cuidado com seus instrumentos musicais.

b) Avaliação: elevação da autoestima

A autoestima reflete a nossa capacidade de busca nas soluções dos problemas e é, por outro lado, resultado das nossas afirmações, convicções, crenças, sendo esse o sentido que encontramos para elevarmos o nosso estado de pensamento. Nesse contexto, os resultados encontrados pelos sujeitos, participantes da banda, são descritos nos sentidos encontrados por eles (familiares, educativos, emocionais, aprendizados), ou seja, a afirmação da sua própria identidade.

O projeto daqui [...] ajuda a desenvolver mais a gente na parte da educação, eu vi que os alunos que participam do projeto são mais educados e tem mais respeito pelo próximo, [...] e a gente consegue melhorar mais no comportamento (L. Bumbo – M).

No sentido mental, porque eu consegui ser mais alegre e feliz e descontrair um pouquinho das coisas (R. Caixa – m).

Eu sempre fui daquele que saia da banda; entrava na banda, mas decidi entrar na banda por causa de dificuldades na família. Isso ajudou por dentro de mim, por causa que a música me ajudou também e eu gosto muito (K. Tenor – m).

A apresentação na UFMT foi um espetáculo. Porque eu acho bonito e eles se sentem importante naquele momento e valorizados. E quando eles veem alguém da família eles ficam procurando para ver se tem alguém os assistindo (Michely, em entrevista 25/09/2019).

Olha para mim significa uma ajuda na educação, na disciplina, porque pela vontade dela de participar e também por ser um projeto sério (Donizete, em entrevista 25/09/2019).

[...] o meu filho achou o máximo ter sido escolhido para ser um dos monitores e o professor ter dado a confiança nele. [...] eles se sentem felizes e é um aprendizado e tanto (Sivanilda, em entrevista 21/09/2019).

Hoje eu vejo que a banda é muito mais do que disciplina, é também amplitude de visão, porque também trabalha o psicológico das pessoas (Eby Ito, em entrevista 14/02/2020).

Identifica-se nas falas de (L. Bumbo; R. Caixa; K. Tenor) que a participação deles na banda contribuiu no desenvolvimento educacional, no bem-estar e na solução de conflitos, (K. Tenor) ressalta a contribuição da música para a sua vida.

Para Michely, a participação da família nas apresentações dos integrantes com a banda eleva a autoestima dos alunos, pois eles se sentem importantes com a presença da família nas apresentações. Donizete acredita que o envolvimento da neta com as atividades no grupo possibilitou a melhora pessoal dela na questão disciplinar e também de interação com os trabalhos realizados pela banda.

Segundo Sivanilda, mãe de um dos entrevistados do grupo 1, relata que a participação do filho no grupo de monitores foi fundamental para o desenvolvimento dele enquanto pessoa, pois para ela era notória a felicidade do filho em poder transferir conhecimentos aos integrantes iniciantes. Nas falas finais das entrevistas, Eby Ito em suas verbalizações nos esclarece que, na sua visão, o aspecto trabalhado na banda vai mais além de visualizar questões disciplinares voltadas para o comportamento, ela busca desenvolver no aluno o autocontrole, a confiança, estratégias para vencer as dificuldades e aprender a viver e trabalhar em sociedade. Nesta unidade de análise foram discutidas questões referentes as percepções dos entrevistados no que tange suas compreensões intituladas como concepções avaliativas referentes aos aspectos sociais, comportamentais e educacionais.

Neste exercício investigativo propusemo-nos a discutir, através de observações e depoimentos dos entrevistados, aspectos que envolvem a relação de pertencimento entre os atores culturais com a BMRPB. As unidades de análise motivação, processos metafóricos, experiências nas aprendizagens, convivência e autoavaliação, foram consideradas para compreender os processos de subjetividades, interações e ressignificações presentes na cultura de banda.