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4.2 Unidades de análise

4.2.1 Motivação

O termo “Motivação”, segundo Mesquita e Duarte (1996, s/p), pode ser definido como um “conjunto de processos psicológicos e fisiológicos que levam um indivíduo a agir, isto é, a desencadear uma ação, a orientá-lo em função de certos objetivos”. Os autores compreendem estas representações como ações gerais a serem alcançadas pelos indivíduos e que se baseiam nas atividades essenciais da vida humana e concentram-se nas práticas providas de experimentações, ações, atuações, reações e realizações.

A motivação tem como causalidade o motivo e nele reflete a intenção, a ação e a conduta humana (ABBAGNANO, 2007). Tais ações reúnem as percepções acerca dos aspectos relacionados aos motivos, experiências e interações que exprimem os sentidos intrínsecos na realização pessoal, na amizade e no participar de grupos sociais transcrevendo o sentimento de pertencimento.

Neste contexto, o termo Motivação será considerado como as ações relacionadas às experiências e interações que permitiram o alcance do objetivo principal (o motivo) que foi a

inserção na banda: o convite; o círculo de amizades; a experiência anterior; o amor pela música; e aprender a tocar um instrumento musical. Essas subdivisões são partes do todo que é discutido no final deste tópico da análise.

a) Primeira ação: convite

Como foi dito anteriormente, o regente da banda realizou alguns convites para o ingresso nesta. Dos dezesseis entrevistados (Grupo – M e m), onze ressaltaram que a participação na banda se deu por meio de convite e estes dados se confirmam também na opinião dos responsáveis/pais dos entrevistados.

Meu filho na verdade ele participava na banda do Tancredo com o professor Lucas, e daí ele foi convidado pelo professor para tocar em um concurso que iria ter na cidade de Sorriso (Eliene, em entrevista 25/09/2019).

Eu fiquei sabendo quando os meninos entraram na escola. Aí depois que eles chegaram lá em casa disseram – mãe foi um pessoal na escola e deram um papel convidando a gente para participar da banda (Laura, em entrevista 21/09/2019).

Nas falas das entrevistadas, a participação dos filhos na banda se deu por meio de convite; para a primeira entrevistada, o filho estudava em outra escola e a participação foi a partir do momento em que o professor o convidou para fazer uma participação especial em uma apresentação com a BMRPB, para a segunda entrevistada, a participação do filho foi ao ver o maestro da banda convidando os alunos da escola para participarem no projeto da banda.

b) Segunda ação: círculo de amizades

Veremos que estes momentos da participação na banda também serão observados a partir de outros aspectos e vão ao encontro do que os entrevistados afirmam ser o motivo proveniente da sua inserção na banda, o círculo de amizade: o amigo, o irmão e a família.

[...] eu vi os alunos tocando um dia de aula normal, me chamaram para entrar na banda, aí eu falei – ah, verdade tem um projeto de banda aqui! Fui, participei e estou até hoje (L. bumbo – M)).

Chegaram meus irmãos em casa e falaram assim – Ah! Um colega nosso falou que já está abrindo inscrições para a banda (Y. Trombone – m).

Por que meu pai toca violão na igreja, e daí eu queria tocar com ele na igreja, aí quando o maestro da banda passou de sala em sala eu fiquei interessado (J. Trompete – m).

O meu foi por causa do meu irmão, ele começou a tocar na banda, aí eu conheci a banda e quis participar também (H. Trompete – M).

[...] o meu filho foi por conta de ele já ser aluno da escola, pela empatia com o professor. Também percebo que a amizade influencia, pois, os amigos dele que faziam aula de flauta também entraram para a banda (Adriana, em entrevista 21/09/2019).

Para (L. Bumbo), desde quando estudava no quarto ano do ensino fundamental na EMEB Ranulpho já existia o desejo de participar da banda, porém a sua inserção só se deu depois que os amigos o convidaram. No caso de (H. Trompete), o fato de o irmão ser integrante da referida banda despertou o desejo em participar. (J. Trompete) nos alerta que a sua participação na banda decorre no sentido de aprender a tocar o instrumento musical para tocar na igreja com o pai. Observa-se que tanto os amigos quantos os irmãos são peças fundamentais para o ingresso dos alunos na banda

c) Terceira ação: experiência anterior

Para a mãe de um dos entrevistados do Grupo – M, o interesse do filho na banda se deu em função das experiências por ter participado em outra banda e também por causa das amizades. “O meu filho desde a banda da EMEB Tancredo, ele já gostava de música. Os

amigos dele também participavam e daí ele entrou na banda Ranulpho, e foi porque ele quis, e foi aí fiquei sabendo do projeto”.

E complementa ao dizer que:

Ele já gostava de tocar. E além disso ele tocava caixa na outra escola que tinha só crianças (Rosália, em entrevista 25/09/2019).

[...] eu também participei lá no Tancredo, porém lá só tem até o terceiro ano, daí sai dela e vim para cá, aí eu quis continuar aqui também e participar da banda Ranulpho (JM. Caixa – M).

E também comecei lá no Tancredo numa fanfarra né, e aí eu vi que ia continuar tocando na banda Ranulpho (V. tenor – M).

Por experiência, porque eu toquei no Tancredo Banda (R. Caixa – m). Então, eu já fazia trompa antes de eu chegar aqui na escola e fazia seis meses que eu já tocava o instrumento (E. Trompa – M).

Nas verbalizações dos entrevistados acima, todos reforçam que o motivo da participação na banda se deu em função das experiências anteriores em outros grupos musicais, bandas e fanfarras. Para (JM. Caixa; R. Caixa; V. Tenor), o fato de não poder continuar estudando na mesma unidade escolar por esta não funcionar até o terceiro ano do ensino fundamental possibilitou que continuassem seus estudos e a participação na BMRPB.

No caso de (E. Trompa), iniciou seus estudos do instrumento musical trompa em uma orquestra em outra cidade e, após se transferir para a escola Ranulpho, ficou sabendo da existência da banda na unidade escolar e, neste momento, viu a possibilidade de dar continuidade aos seus estudos musicais.

d) Quarta ação: amor pela música

Observa-se também nas falas dos entrevistados que a necessidade pessoal para o ingresso e permanência na banda surge do sentimento, sendo a ação relacionada ao amor pela música e se configurando como uma quarta ação.

Eu entrei na banda porque eu tenho um certo amor por música e, também para me enturmar (R. Caixa – m).

[...]é legal fazer novas amizades, tocar uma coisa que você nunca tocou e gostar de música (J. Bombardino – M).

Como eu disse, para mim o que eu gostei da banda é a música. Eu amo música, instrumentos (K. Tenor – m).

O meu filho é porque ele também gosta de música desde “pequenino” [...] (Sivanilda, em entrevista 21/09/2019).

As ações movidas pelo desejo de participação no grupo são simbolizadas de diversas formas nas falas dos sujeitos: “gostar de música”, “conhecer mais a música”, “amor pela

música”. Nesse sentido, o sentimento de pertencimento é reforçado nas diversas ações

elencadas pelos sujeitos, principalmente quando as suas ações impregnadas de sentimentos diversos se tornam o motivo principal para a participação na banda.

e) Quinta ação: aprender a tocar um instrumento musical

O envolvimento no grupo torna-se uma questão ligada no sentido do desejo pessoal, do querer aprender ou conhecer os instrumentos musicais utilizados pela banda, ou mesmo também como um sonho a ser alcançado, como apontam os entrevistados.

Ah, porque era meu sonho tocar algum instrumento né; tocar em orquestra e aí eu falei – ah, está é a minha chance, se eu não for agora talvez não encontrarei outra oportunidade (Y. Trombone – m).

Então, eu decidi entrar para experimentar, nunca tinha tocado (J. Bombardino – M).

Eu gostei do projeto, é interessante eu gosto de poder tocar (A. Prato – M). [...] a gente pode mostrar para o mundo o que a gente pode ser com a música (E. Trompa – M).

[...] o primeiro ponto quando eu entrei eu queria aprender a tocar, desenvolver a área musical e eu queria também, ter a oportunidade de sair com a banda ou viajar com a banda (L. Bumbo – M).

Aprender a tocar músicas novas, apresentar com a banda (J. Trompete – m). Tinha sonhos em tocar em recitais, aí eu entrei na banda porque eu queria mostrar para as pessoas que eu sei tocar instrumento (D. Caixa – m). As motivações levantadas neste ínterim, tanto nas falas dos entrevistados como nas observações, revelam os diversos aspectos apontados pelos sujeitos e apresentam as construções subjetivas dos atores culturais na interação com a própria banda. As conquistas resultantes dos campeonatos, o estudo de um novo repertório musical e os recitais se tornam o motivo principal na medida em que este indivíduo se dedica para alcançá-lo ao longo de sua trajetória na banda, configurando-se como ações.

Durante as observações, foi possível identificar que as apresentações se tornam um momento de proximidade e de fortalecimento nos laços de amizade e de pertencimento com a banda. A execução do repertório, as responsabilidades com as tarefas no grupo, o progresso no aprendizado do instrumento e os encontros com os amigos da banda, refletem o motivo da permanência dos alunos no projeto e elevam a autoestima deles, como aponta Eby Ito, ex- diretora da EMEB Ranulpho, já discutido em capítulo anterior.

Todas as ações apresentadas nesta análise: o círculo de amizades, a experiência anterior, o amor pela música, aprender a tocar um instrumento musical, e as observações que demostram outras ações, como as apresentações e os campeonatos, evidenciam os diversos aspectos que representam a relação de pertencimento na banda escolar. Dessa forma, através de cada item desta unidade de análise procuramos demostrar os processos resultantes dos motivos que ligam pontos importantes de subjetividades dos autores culturais no processo de interação com a cultura de banda.