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2.3 A Banda: conceitos, particularidades e formação

2.3.1 Banda Marcial: aspectos de formação e repertório

Sua formação compreende a “linha de frente”6 que compõe o Pelotão Cívico (traz a

frente da banda seu distintivo de identificação, como estandarte, faixa ou flâmula); Pavilhão Nacional (composto de três ou quatro bandeiras sendo a nacional, estadual, municipal e da entidade representativa da banda); Corpo Coreográfico (utiliza movimentos corporais, marcha e aparelhos coreográficos); baliza (figura que executa movimentos da ginástica rítmica e artística durante as apresentações do corpo musical); Capitão Mor (responsável por conduzir o corpo musical durante seu trajeto na rua; na ausência do regente, este dá a voz de comando ao grupo durante o deslocamento do corpo musical). Corpo musical é composto por instrumentos de sopro da família dos metais e da família dos instrumentos de percussão de altura definida e indefinida.

Vale destacar que em campeonatos de bandas existe o quesito premiação geral, que é concedido para a banda que apresenta com a sua formação completa (pavilhão nacional, corpo coreográfico, baliza capitão mor, regente e corpo musical) na soma das pontuações. Assim sendo, a banda que tiver com maior pontuação, mesmo faltando outras formações, também poderá concorrer à premiação do quesito geral. Porém, de acordo com o regulamento da CNBF, é facultativo às bandas se apresentarem com o corpo coreográfico, baliza e capitão-mor.

5 Essas questões relacionadas a autoestima e a responsabilidade podem abarcar quaisquer tipos de grupos. 6 Para um estudo mais aprofundado sobre Linha de frente, ver: CORRÊA, Elizeu de Miranda. Linhas de frente

No que concerne a questões referentes a composições para bandas, destacamos à carência de compositores dedicados a comporem para esta especificidade de formação musical; na maioria das vezes o regente da banda faz adaptações do repertório de músicas escritas para orquestras ou bandas sinfônicas7 para serem executadas em seus grupos.

No Brasil, há um mercado editorial pequeno destinado às bandas, diferentemente dos Estados Unidos que possuem uma ampla gama de interessados em vender suas mercadorias para as High School Bands e grupos de sopros universitários (abundantes no país) (BOTA, 2018, p. 13, grifo do autor).

Estas questões relacionadas a um mercado editorial dedicado às composições para diversas formações de bandas no Brasil afetam também as bandas marciais, principalmente as escolares que não encontram compositores e arranjadores dedicados a escreverem música, métodos e material didático para este tipo de formação instrumental.

Pensando nisso, as adaptações ou arranjos são realizados de acordo com os instrumentos que a banda possui, como no caso da banda marcial; não existem os instrumentos de madeiras e nem de cordas, muitos maestros realizam adaptações nas quais um instrumento de som ou timbre próximo possa executar.

Bandas marciais e bandas de concerto dispõem de um repertório que, na sua maioria, é formado por repertório de músicas estrangeiras e adaptações de obras sinfônicas. Fazem também uma bricolagem de métodos produzidos mais para a realidade dos conservatórios do que para o aprendizado nas bandas (LIMA, 2000, p. 24).

Em outras situações, muitas músicas adaptadas ou arranjadas seguem algo pensado na facilidade que tais instrumentos poderiam ter na hora de executarem uma passagem ou trecho do naipe de cordas, e também pelo simples fato de a extensão do instrumento proporcionar certa semelhança com o instrumento da composição original. No Brasil, temos muitas obras compostas para banda de música, tais como o ritmo do dobrado8, tendo como compositores

músicos e maestros militares. Muitas dessas composições fazem homenagem a pessoas ligadas às instituições militares.

7 A banda sinfônica, também conhecida como banda de concerto, pode ser caracterizada por ser um grupo que se apresenta em locais apropriados, além disso utilizam em sua formação instrumentos que também estão presentes na orquestra, como contrabaixo, harpa e violoncelo. Sua apresentação requer que seja em um ambiente acústico próprio para “a apresentação do repertório de banda sinfônica” (FAGUNDES, 2010, p. 89).

Verificamos que muitas bandas marciais no Brasil executam músicas de compositores estrangeiros. Os instrumentos que compõem a banda marcial são os seguintes: família dos metais (trompete, fluguelhorn, trompa, trombone, euphonium, bombardino e tuba); família dos instrumentos de percussão de marcha (jogo de bumbo, tenor, caixa tenor ou de alta tensão e prato a dois). Além disso, existem outros instrumentos que são utilizados durante a execução de peças musicais “paradas”9 como instrumentos de percussão sinfônica; tímpanos, campana

tubular, teclados percussivos (Xilofone, Marimba, Glockenspiel, Celesta), gongo e bumbo sinfônico, entre outros.

Na visão de Souza (2010, p. 38):

[...] as bandas marciais assumiram o papel que já foi das bandas musicais e das fanfarras, o de popularizar a música instrumental e levar para mais próximo das pessoas a emoção de uma apresentação ao vivo. Isto só foi possível graças à inovação dos instrumentos, que fornecem mais possibilidades dos arranjos e um nível de ensino e aprendizado mais especializado nestas corporações.

Com o avanço das tecnologias e o surgimento de novos instrumentos musicais, principalmente no naipe do instrumento de percussão, também foi possível a inserção de novas categorias nos campeonatos de bandas. Como descreve Lima (2000) sobre as variações de formações que surgiram com o advento de novos instrumentos musicais:

Em concursos de bandas, foi verificado que corporações são classificadas em categorias de acordo com a combinação de instrumentos musicais que utilizam. Essas categorias e as suas combinações instrumentais apresentam variações de região para região do Brasil em decorrência as diversidades culturais existentes (LIMA, 2000, p. 37).

O autor, utilizando o termo corporação, se refere às bandas, as quais podem ser formadas pela variedade instrumental ou por motivo da regionalização cultural.

As bandas de um modo geral sofreram alterações no decorrer do tempo, e como meio de sobrevivência buscaram novas formas de atuação, como relata Lima (2000); através da prática de “astúcias”, os grupos têm buscado se (re)inventar, acrescentando elementos de outras práticas culturais para um processo de melhoria.Nesse processo, Alves da Silva (2018, p. 45) complementa ao dizer que “com o passar do tempo, a banda teve que se adaptar, procurou se modernizar, perdeu funções, ganhou outras e, ao contrário do que muitos pensam, ela sobrevive

9 Forma de disposição e organização da banda em que se assemelha à apresentação de uma orquestra no palco, porém, os músicos se posicionam em pé direcionados para o regente.

porque ainda consegue atrair jovens para o seu meio”. De forma geral as bandas procuraram se modernizar, seja na ampliação do repertório, na inserção de novos instrumentos ou mesmo na forma de apresentação. Tal fato nos leva a crer que esses grupos têm buscado caminhos para a continuidade das suas manifestações culturais em diversos ambientes.

Pode-se inferir que existe uma cultura produzida, reproduzida e recriada continuadamente a partir das percepções e interações entre os participantes de um mesmo grupo. Nesse processo, algumas imposições e concessões parecem ser feitas, insinuando um caminho aparentemente planejado, que pode revelar sua legitimidade na medida em que há concordância de interesses e algum tipo de benefício das partes envolvidas (CAMPOS, 2008, p.76).

Estas interações estabelecidas dentro das bandas descrevem suas produções culturais, direcionando interesses comuns para a realização de trabalhos conjuntos que envolvem benefícios aos seus interessados.

A exemplo da banda marcial, existe uma forma própria pela qual se busca produzir, reproduzir e recriar formas de interação entre os integrantes que dela participam e descrevem o que é produzido no seu campo cultural. O trabalho com Banda Marcial é desenvolvido também em instituições escolares e será discutido no próximo tópico.