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4.2 Unidades de análise

4.2.3 Experiências nas aprendizagens

Todos os acontecimentos são propícios para vivenciarmos novos processos experimentais e utilizamos estes momentos para o aprendizado sobre as coisas, sobre as pessoas e tudo que nos acontece nas diversas práticas.

A aprendizagem é identificada como processos que surgem das habilidades, conhecimentos e que podem ser adquiridos, modificados e ressignificados nas etapas de aprendizagem. Estas experiências nas aprendizagens podem, de certa forma, estar associadas a questões práticas, aquelas ligadas às ações da pessoa ou à opinião dela sobre fatos,

acontecimentos e descobertas, que estão relacionadas no processo do estudo, experiência, formação, interação e observação. Segundo Drouet (2003, p. 08), “a aprendizagem é um processo acumulativo, ou seja, cada nova aprendizagem vai juntar ao repertório de conhecimentos e de experiência que o indivíduo já possui indo constituir sua bagagem cultural”.

Na concepção desta autora, a aprendizagem se constitui como um processo gradual de conhecimentos que surgem desde a infância do indivíduo com seu círculo familiar e vai se estendendo até seu círculo cultural na vida adulta, refletindo o produto de todas as construções sociais. Assim, consideraremos as experiências nas aprendizagens como o processo resultante de etapas de experienciação construídas por cada participante da banda e que se mostram nas: dificuldades em questões práticas; habilidades adquiridas; práticas de estudo/aprendizagem; e a importância da marcha.

a) Processos de aprendizagem: dificuldades em questões práticas

As dificuldades iniciais relacionadas às questões de ordem física, cognitiva e de identificação são situações que o ser humano está sujeito a enfrentar e o toma como um desafio a ser superado, ele atravessa as dificuldades e, em meio a essa, procura alcançar seus objetivos.

Quando eu comecei acabei indo para o sopro e o problema que eu não conseguia tirar um som no trompete. Aí quando eu passei para o prato eu não achei dificuldades, porque era um instrumento simples (A. Prato – M). O instrumento de sopro tem uma dificuldade nele que, você tem que estar sempre treinando para você manter seu nível [...] (R. Trombone – M). As notas musicais. Porque quando eu entrei na banda você tinha que alcançar até um som bem alto só que eu não conseguia (KA. Trompete – m). A dificuldade que eu tive foi a resistência do peso do instrumento que eu toco e a caixa exige bastante técnica (JM. Caixa – M).

[...] a minha mão esquerda não queria fazer toque duplo com precisão. [...] no começo eu me arrependi, porque meu instrumento era muito pesado [risos], mas depois eu acostumei [...] (K. Tenor – m).

Mesmo diante das dificuldades encontradas no aprendizado do instrumento de sopro, (A. Prato) buscou escolher um instrumento musical no qual se identificasse e que atendesse as suas necessidades para continuar participando da banda. (R. Trombone) entende que o instrumento de sopro exige que o executante realize a prática diária para manter resultados satisfatórios. Já outros entrevistados, percussionistas do grupo 1 e do grupo 2, são unânimes ao dizer que tiveram dificuldades em realizar toques duplos, segurar o instrumento no corpo e, na coordenação motora, o manuseio com as baquetas.

Nesse sentido, as dificuldades apontadas pelos participantes nas questões práticas são situações apresentadas que, como em qualquer atividade que as pessoas se propõem a fazer, os sujeitos buscam transformá-las em experiências prazerosas, de superação ou incentivo para a continuação dos seus propósitos de vida.

b) Processos de aprendizagem: habilidades adquiridas

Independentemente de como são concebidos determinados fatores que envolvem aspectos ligados às questões emocionais e de comportamentos sociais, são meios pelos quais se evidenciam pontos importantes dos resultados alcançados e que se transformam em experiências repletas de significações aos indivíduos.

Eu aprendi a me comunicar melhor, por que eu tinha muito medo de falar e levar um não (K. Tenor – m).

Eu aprendia a ler partitura, tocar vários instrumentos, me comunicar e a me socializar com as pessoas (D. Caixa – m).

[...] eu aprendi a me controlar emocionalmente também [...], vem um conjunto de coisas, como: escola, ensaio e, sexta-feira, aula de teoria; aí você aprende meio que dividir e a dar importância para cada coisa [...] (N. Bumbo – m). Porque antes do projeto, eu algumas vezes tinha visto em desfiles os músicos da banda tocando, daí desperta uma vontade de aprender e quando eu entrei no projeto descobri que eu podia tocar igual ou até melhor do que eles (R. Trombone – M).

Nota-se que todas as experiências nas aprendizagens elencadas pelos entrevistados na aquisição das habilidades são etapas das relações internas que eles estabelecem como um processo de transformação no alcance dos seus objetivos.

O sentimento atribuído no processo de ressignificações de conhecimentos pelos participantes evidencia as atitudes na construção das habilidades e é resultado que surge das ações construídas ao longo do tempo. Estas habilidades refletem os aprendizados adquiridos, tanto de ordem prática como também de ordem social.

Deste modo, estas habilidades se tornam um exercício diário para o desenvolvimento pessoal de cada ser humano, na medida em que este indivíduo, através das suas experiências, transforma-as em experiências ricas de significações culturais.

c) Processos de aprendizagem: práticas de estudo/aprendizagem

As práticas de estudo e aprendizagens são processos construídos a partir das experiências de significações pessoais, que são procedentes das relações estabelecidas com o propósito de objetivar expressões autônomas direcionadas para o fazer musical. Os diversos

meios empregados para a construção de resultados satisfatórios surgem da autonomia e da capacidade do aluno de interagir socialmente para a construção de ideias.

A gente aprendeu por parte a partitura, pois o professor ensaiava passo a passo até que a gente acertasse a primeira parte para depois pular para outra (J. Trompete – m).

Eu aprendi parte por parte, mas quando eu mudei para Apophis [Música do repertório da banda] eu tive que tocar tudo pela primeira vez e eu mais errava do que acertava (R. Caixa – m).

Eu faço ensaio para apresentar música e até mesmo ensaio para melhorar o som do meu instrumento (J. Bombardino – M).

É bem cansativo as vezes porque a gente ficava horas e horas treinando para tentar melhorar nosso som, tentar ter mais técnica no nosso instrumento [...] (E. Trompa – M).

A gente faz aula de teoria, faz aula só com meu naipe as vezes, com o professor. Daí procuro sempre melhorar meu som e a teoria (H. Trompete – M).

Observa-se que tanto para (J. Trompete) como para (R. Caixa) o passo a passo no aprendizado foi fundamental para compreender a leitura da partitura de uma música, ainda para este mesmo entrevistado, ao se deparar com a leitura de uma nova música do repertório da banda, sentiu dificuldades, pois mais errava do que acertava. (E. Trompa e H. Trompete) são enfáticas ao afirmar que as formas empregadas nos estudos possibilitaram construir uma boa sonoridade, conhecer mais o instrumento e o melhoramento técnico.

d) Processos de aprendizagem: a importância da marcha

A marcha na banda é a complementação de todas as experiências e vivências que se estabelecem nas questões motoras, na marcação do pulso da música, no andamento do ritmo, no condicionamento físico e até no melhoramento da autoestima. São aspectos que os participantes entendem como sendo importantes para a caracterização de uma banda marcial.

A marcha querendo ou não é um ensaio diferenciado, porque a gente bota em prática a questão do ritmo da música que é o que a gente estudou. E isso pode até desenvolver a questão motora dos componentes que tenham alguma dificuldade (R. Trombone - M).

[..] a marcha ajuda a desenvolver a questão de divisão rítmica, divisão da célula, daquela parte que você vai tocar e, às vezes, na marcha você já tem um desenvolvimento, uma desenvoltura melhor para você entender como é que vai ser dividida, como é que vai ser executada em cada tempo ou a pausa que vai cair em um contratempo da música (L. Bumbo – M).

Para mim é a coordenação e também para fortalecer a gente segurar o instrumento e também dar uma “emagrecidinha”, né. [Risos] (A. Trompa – m).

Fazer duas coisas ao mesmo tempo; tocar e marchar é muito difícil, além disso você tem que saber o que é direita e esquerda (Y. Trombone – m). [...] a marcha serve para a concentração e para o tempo, para que todos venham tocar no tempo da música e tocar separado (K. Tenor – m).

Todos os entrevistados consideram a prática de marcha como uma prática de suma importância para o desenvolvimento de um grupo musical que se apresenta em movimento. Nos dizeres de (R. e Y. Trombone; L. Bumbo; e K. Tenor), a marcha auxilia os músicos no desenvolvimento da coordenação motora, na compreensão da divisão rítmica, no andamento da música, na compreensão da grafia musical e no gesto do movimento das pernas. (H. Trompete) vai além da compreensão dos outros entrevistados em suas falas e argumenta que a marcha traz mais vitalidade, ou seja, a movimentação no deslocamento do grupo e a execução das músicas em conjunto é um estimulo, uma energia e animação. (A. Trompa) diz que a marcha auxilia no condicionamento físico e motor.

Nas observações realizadas nos ensaios, a prática de marcha também é associada como uma parte dos exercícios práticos de condicionamento físico e fortalecimento muscular, pois como bem referenciado nos depoimentos dos entrevistados, ela contribui para o bom desenvolvimento respiratório, fortalecimento muscular do corpo, no desenvolvimento psicomotor e na concentração.

Neste entender, as experiências pessoais dos alunos em diversas práticas passam a ser valorizadas no processo de aprendizagem, assim como a sua necessidade de preparação para viver em um mundo dinâmico e em constante transformação.

Procuramos nesta unidade elencar as diversas experiências nas aprendizagens demonstradas pelos participantes, como as relacionadas as dificuldades em questões práticas, habilidades adquiridas, práticas de estudo/aprendizagem e a importância da marcha. São processos que dizem respeito à formação dos músicos de banda e que demonstram as etapas das experiências como também os resultados destas práticas e que, por ora, são ressignificados por meio destas experiências nas aprendizagens.