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A BMRPB é formada pelo pavilhão nacional, corpo coreográfico, baliza, capitão mor, corpo musical, maestro, professores e monitores. A participação dos professores e monitores na constituição desta banda se faz necessária na medida em que as suas funções desempenham um enriquecimento valoroso que reflete o comprometimento e o desenvolvimento para a caracterização da banda estudada.

a) O pavilhão nacional

Posicionado como a primeira frente do grupo, tanto em apresentações em rua como em concurso de bandas, o pavilhão nacional é formado pelo estandarte (espécie de distintivo ou símbolo) que traz a identificação da escola, as cores da banda e o nome da cidade do estado de origem.

O pelotão de bandeiras constitui-se pela bandeira do país, estado e município, assim sendo: a bandeira do Brasil posicionada ao centro, um pouco atrás do estandarte, em posição de destaque em relação a bandeira do estado de Mato Grosso a esquerda e, a bandeira da cidade de Cuiabá, a direita. Os guardiões das bandeiras se posicionam atrás ou em volta das bandeiras de modo a protegê-las. Nota-se que essa forma de organização de representação do pelotão de bandeiras e guardiões nas bandas e fanfarras, de acordo com Corrêa (2017) origina-se das afirmações dos ideais de pertencimento à nação14.

Figura 11 - Desfile cívico de 7 de setembro na avenida Getúlio Vargas.

Fonte: Grupo do WhatsApp da banda administrado pelo autor da pesquisa.

Na Figura 11 pode ser observada a formação do pavilhão nacional da BMRPB. Neste dia, muitos alunos da banda puderam participar pela primeira vez de um desfile cívico de 7 de setembro que aconteceu na avenida Getúlio Vargas, na cidade de Cuiabá no ano de 2019.

b) O corpo coreográfico

Grupo formado por uma quantidade de aproximadamente vinte integrantes, o corpo coreográfico realiza seus treinamentos pelo menos três vezes na semana. A rotina de ensaios do grupo pode ampliar de acordo com a agenda de apresentações da banda. O local de ensaio, pelo fato do manejo com as bandeiras e as movimentações coreográficas, é realizado na quadra coberta ou nos espaços abertos.

O corpo coreográfico nem sempre está presente na banda. O grupo surge de acordo com as condições de remuneração pagas para ajuda de custo da professora. Porém, neste ano da pesquisa foi possível notar a presença do grupo com a banda. As principais atividades

desenvolvidas no grupo é a prática da coordenação motora, reconhecimento de lateralidade, bem como identificação das marcações de tempo da música com o corpo. A criatividade se tona um fator preponderante nas apresentações do grupo, e para que o trabalho venha ter um ótimo resultado, torna-se necessária a realização de ensaios em conjunto. A função do corpo coreográfico na banda é expressar a música por meio dos gestos, movimentos corporais e manejo de aparelhos ou acessórios coreográficos, enquanto cabe ao corpo musical a execução das músicas.

Figura 12 - Ensaio do corpo coreográfico na EMEB Ranulpho Paes de Barros.

Fonte: Acervo do pesquisador.

Como pode ser verificado na Figura 12, no espaço aberto ao lado da quadra de esporte, o corpo coreográfico está dividido em dois grupos, no primeiro é possível observar as alunas com os aparelhos de composição coreográfica (bandeira), enquanto o segundo grupo mais distante são das alunas iniciantes praticando o levantamento de pernas na marcha. O objetivo dessas práticas é realizar o maior número de repetições para que o grupo consiga realizar os movimentos em conjunto.

c) Baliza

A função das balizas é expressar através da música a harmonia entre elementos rítmicos e acrobáticos. A quantidade de baliza em uma banda pode variar, porém nas competições de bandas somente uma baliza concorre. As outras podem participar, contudo não são avaliadas. As aulas de balizas acontecem duas vezes por semana com tempo de duração de aproximadamente duas horas de aula.

Figura 13 - Desfile cívico em comemoração aos 300 anos da cidade de Cuiabá.

Fonte: Grupo do WhatsApp da banda administrado pelo autor da pesquisa.

A Figura 13 apresenta a disposição das balizas à frente do corpo musical, vestidas com trajes peculiares as suas apresentações, com seus adereços criam beleza e contagiam o público. Nota-se a interação entre a professora ao centro e suas alunas segurando o aparelho fita.

d) Capitão Mor

Sua função é a de comandar o grupo antes, durante e após as apresentações. O atual comandante mor foi instrumentista da própria banda. Seus aprendizados durante a sua formação musical contribuíram para estar à frente da banda e conduzir o grupo durante o deslocamento com a marcha. Sua principal função é organizar o grupo em colunas e fileiras, verificar o alinhamento, cobertura e postura dos integrantes do corpo musical. Além disso, cumpre um ritual de movimentos com o bastão e comando de voz com as seguintes falas: – Atenção banda, descansar! Atenção banda, sentido! Entre outros aspectos.

Figura 14 - Campeonato nacional de bandas e fanfarras no Estado de Goiás.

Na Figura 14, observa-se a presença do capitão mor ao centro do grupo, segurando o bastão de comando em posição de descansar. Registra-se nesta imagem um momento importante no qual após sua mudança de faixa-etária de idade, que ocorreu no ano de 2015, a BMRPB participa pela primeira vez de um campeonato de bandas em outro estado, ocorrido no ano de 2019 (1º Campeonato Brasileiro da Liga Brasileira de Bandas e Fanfarras) no estado de Goiás, na cidade de Senador Canedo. Para muitos dos integrantes, foi a concretização de um sonho, de poder viajar e representar o estado de Mato Grosso.

e) A banda de Marcha

A banda de marcha15 é o mesmo agrupamento formado também pelos alunos que

participam da formação com a banda parada. Porém, as músicas e as cadências são executadas com o grupo em movimento. A formação dos músicos é dividida entre linhas e colunas, e a disposição instrumental é de acordo com a família que os instrumentos pertencem. Assim, o grupo é organizado primeiramente com a família dos instrumentos de sopro e, em seguida, com a família dos instrumentos de percussão. Geralmente as músicas tocadas pela banda são pensadas considerando a marcha e a contagem das pulsões em métrica quaternário ou binário16.

Figura 15 - Preparação de aquecimento e organização da banda.

Fonte: Grupo do WhatsApp da banda administrado pelo autor da pesquisa.

Como pode ser observado na Figura 15, a organização do grupo segue um padrão de espaçamento tanto lateral como horizontal. A disposição dos instrumentistas segue algo pensado no processo estético e também sonoro. O número de colunas e fileiras podem aumentar

15 Ver apresentação da banda no campeonato de banda e fanfarras realizado na cidade de Cuiabá. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VFo3cOuA6FM. Acesso em jun. 2020.

de acordo com a quantidade de integrantes que participam na banda. Nesta imagem o grupo se organizou na quadra coberta da escola para realizar exercício de aquecimento e passagem de som. Como o espaço da quadra não foi suficiente para comportar o grupo completo, o corpo coreográfico se posicionou logo ao lado no espaço aberto.

f) A banda em formação de concerto

A formação do grupo em concerto17 oportuniza não somente a forma de disposição em

tocar sentado ou parado em pé18, mas também direciona os músicos para uma execução e

interpretação de diversos repertórios musicais e, observa-se que nesta formação o grupo é conduzido pela regência do maestro, como pode ser verificado na Figura 16.

Figura 16 - Apresentação no 4º Seminário de Pesquisa Música e Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, ano de 2018.

Fonte: Grupo do WhatsApp da banda administrado pelo autor da pesquisa.

Nesta formação participam os instrumentos de percussão sinfônica, os quais dão novos sentidos a música. Geralmente o repertório executado nesta formação é mais elaborado melodicamente, harmonicamente e ritmicamente.

g) A uniformidade

17 Ver apresentação da Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros em formato de apresentação concerto no Teatro da Universidade Federal de Mato Grosso. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Icx8ANVcyRE. Acesso em jun. 2020.

18 Ver apresentação da Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros no Teatro da Universidade Federal de Mato Grosso. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3NEzvw58i3o. Acesso em jun. 2020.

Os uniformes são pensados e desenhados para cada agrupamento da banda a partir das cores utilizadas pela escola, que são a cor preta, a branca e a verde. Conforme as condições do grupo, por questões financeiras, desde o ano de 2017 não se utiliza o uniforme de gala19, pois

com a fase de desenvolvimento corporal dos alunos e por questão da idade, tem sido difícil a aquisição anual. Na Figura 17 é possível observar o grupo utilizando o uniforme de gala em uma das apresentações e na outra a camiseta preta com detalhe branco.

Vale dizer que os uniformes são comprados pelos alunos, muitos entram e também saem da banda e levam os seus uniformes. Assim, com a entrada de novos alunos são necessárias novas confecções. Durante a fase desta pesquisa o grupo optou por utilizar camisetas com a logomarca da banda.

h) Constituição instrumental

Atualmente, a banda possui dez trombones de vara, dez trompetes, três flugelhorns, uma tuba, três trompas e três bombardinos, um jogo de bumbo de 16”, 18”, 20” 22” e 24” polegadas, quatro caixas tenor de alta tensão, seis pares de pratos a dois, três quintons, bumbo sinfônico, afoxé, triângulos e caxixis, dentre outros.

Os instrumentos são de propriedade da escola e os alunos têm a autorização do maestro para levarem os instrumentos para treinarem em casa. Porém, somente os alunos que tocam os

19 O nome roupa de gala tem sua origem a partir dos trajes utilizados por pessoas em bailes de gala. Vale ressaltar que, de acordo com algumas regiões do pais, a nomenclatura utilizada quanto ao nome das vestimentas utilizadas pelas bandas e fanfarras pode ser chamada como indumentária, fardamento ou mesmo uniforme, ver mais em Regulamento da Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras - CNBF.

Fonte: Grupo de WhatsApp da banda.

instrumentos mais leves conseguem carregar. Boa parte dos instrumentos utilizados pela banda foram adquiridos na gestão da diretora Eby Ito, depois disso não houve aquisições significativas e as poucas aquisições que se deram foi por meio de ações comunitárias, qual seja, a banda conta com a participação de alunos que compram seus próprios instrumentos.

Neste capítulo foram discutidas questões referentes ao significado cultural das bandas na cidade de Cuiabá, entendendo o processo de implantação de uma banda escolar e as caraterísticas de formação, como também as de aprendizagens. No capítulo a seguir, serão discutidas questões referentes aos aspectos sociais: experiências e percepções dos sujeitos, atreladas ao sentimento de pertencimento/subjetividade e as interações estabelecidas na relação com a banda. E também, como a cultura se estabelece nas práticas de ensino, práticas de estudo/aprendizagem, práticas de integração e saberes e, de que forma podem ser ressignificados na Banda.

4 PROCESSOS DE INTERAÇÃO E SUBJETIVIDADES

Esta pesquisa tem como objetivo geral investigar os processos de ressignificação da cultura de banda, considerando as subjetividades que ocorrem no processo de interação entre os atores culturais e a relação de pertencimento com a banda. Nesse sentido, foram apresentados no capítulo 2 os referenciais teóricos e, no capítulo 3, o contexto e o significado cultural das bandas, tendo como principal objeto em estudo a Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros. Neste capítulo, serão discutidos os dados coletados a partir das entrevistas realizadas com grupos focais; e da observação participante.

Este estudo trata de uma pesquisa qualitativa e, portanto, caracteriza-se pela identificação e descrição da relação dinâmica entre o contexto e as percepções ligadas a um grupo específico, isto é, um vínculo indissociável relacionado às questões objetivas e subjetivas entre os atores envolvidos. Mynaio aponta que a pesquisa qualitativa visa compreender diversos aspectos que envolvem um determinado contexto cultural.

[...] ela (a pesquisa) trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes (MYNAIO, 2009, p. 21).

Com objetivo de compreender as ressonâncias que constituem o objeto de pesquisa em estudo e por ser o mais adequado, adotamos como um dos instrumentos metodológicos de pesquisa a entrevista de grupo focal. Este instrumento metodológico caracteriza-se pela discussão de temas específicos que buscam compreender aspectos comuns de grupo de pessoas relacionadas a uma determinada realidade social, de modo a facilitar a discussão envolvendo jovens e crianças que participam da Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros.

Nas concepções de Barbour (2009), o grupo focal é o mais indicado para atender crianças pequenas, além de propiciar um engajamento nas partilhas. Na visão desta autora, os “[...] grupos focais podem gerar discussões acaloradas e dados ricos enquanto os participantes formulam suas visões, engajam-se em debates e expressam e exploram entendimentos culturais compartilhados” (BARBOUR, 2009, p. 146).

Além das entrevistas, a coleta de dados consistiu em pesquisa documental; observação participante na pesquisa e pesquisa bibliográfica. Para a entrevista de grupo focal, na impossibilidade de entrevistar todos os membros da banda por conta do prazo de vigência do

mestrado, que é de dois anos, optou-se por selecionar um grupo de número menor, contendo 16 integrantes (alunos), divididos em dois grupos contendo em cada um oito participantes e mais um grupo em número igual, formado pelo dos responsáveis/pais, para enriquecimento das discussões; além disso, diferentemente da entrevista focal, contou-se com a participação de uma professora e a ex-diretora. Os dados coletados através da observação e entrevista, serão discutidos e analisados neste capítulo.

No decorrer deste capítulo, veremos como estes jovens e crianças foram agrupados; quais as características de cada grupo; e a discussão envolvendo cinco unidades de análise, a saber: motivação, processos metafóricos, experiências nas aprendizagens, convivência e autoavaliação.