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4.2 Unidades de análise

4.2.4 Convivência

As vivências oriundas das relações sociais que são estabelecidas dentro de um grupo social constituem a própria forma de integração entre os participantes. Estas formas de integração são construídas a partir dos sentimentos, gostos, valores, sentidos, experiências e interações grupais, ou seja, são construídas a partir de processos de identificação dos indivíduos com a cultura.

O ato de viver em conjunto reflete as ações que descrevem as relações construídas culturalmente pelos integrantes da banda e se transformam no que Williams (1992) entende como práticas significativas, que surgem da construção social das atividades humanas e refletem o modo de vida social.

Consideraremos as práticas significativas como as relações sociais que surgem da convivência entre os atores culturais com a banda, e que se traduzem em: novas experiências; práticas de integração; atuações colaborativas; e as relações de amizade.

a) Práticas significativas: práticas de Integração

As práticas de integração dentro de uma cultura possibilitam o fortalecimento das relações sociais nas relações culturais e nos saberes transmitidos socialmente. Quando participamos de uma determinada cultura, buscamos diversas formas de integração e uma delas se constitui dos encontros, na ajuda ao próximo, ou quando procuramos resolver um problema ou aprender algo e, neste momento em que compartilhamos conhecimentos, fortalecemos os laços afetivos dentro do grupo.

Eu pergunto para os meus amigos também, primeiro pergunto para o meu professor de percussão e depois para os meus amigos (D. Caixa – m). Caso ele ou ninguém do seu naipe tenha conseguido passar daquela parte da partitura, as vezes dá para você chegar no maestro e pedir para ele explicar para você e daí você vai e compartilha com os demais do seu naipe ou até mesmo fora (R.Trombone – M).

Eu sempre procuro perguntar para alguém que eu conheço e quando nem a pessoa está entendendo daí eu procuro alguém que eu falo pouco, ou que é de naipe diferente (L. Bumbo – M).

Se for trabalho em dupla eu pergunto para o meu colega do lado, mas se for sozinho eu tento entender e aí se eu não entender aí eu peço ajuda (A. Trompa – m).

Algumas vezes ser apoiado por conta de não saber tocar, ah ficar se lamentando, aí vem um colega seu vai la e te ajuda (N. Bumbo – m).

É bem legal e, se você não consegue alcançar algumas notas, ou tem algum problema, ele [colega] vai lá pergunta se precisa de ajuda (KA. Trompete – m).

Nas observações realizadas nos ensaios e apresentações da banda, e no depoimento dos alunos entrevistados, foi possível notar que eles compartilham seus conhecimentos com outros integrantes do grupo. Quando algum deles tem dificuldade para entender o repertório, ou tocar o instrumento, conta com a ajuda de outros integrantes que saibam ou tenham mais tempo de atuação. Entende-se que os resultados oriundos destas práticas de integração é um meio pelo qual estes integrantes da banda buscam ajudar uns aos outros, ou seja, o conhecimento é passado de professor para aluno e de aluno para aluno, de modo que esta forma integralizada exprima resultados ao grupo.

b) Práticas significativas: atuações colaborativas

As formas de atuação colaborativa dentro da banda demostram as diversas atuações dos sujeitos para o desenvolvimento do grupo social ao qual pertence. São formas colaborativas empregadas de maneira a ampliar o conhecimento no seu campo cultural. Não são obrigações a serem cumpridas, são reconhecimentos que partem do próprio indivíduo enquanto ser social que reconhece a sua importância e contribui socialmente no desenvolvimento do grupo ao qual pertence.

O que você aprende aqui não fica só com você, porque as vezes precisa ajudar outro, aí vem outro que te ajuda. [...] e também passa seu conhecimento para frente podendo ajudar o próximo (L. Bumbo – M).

Mas em questão dos ensaios procuro sempre estar [...] ajudando aqueles do meu naipe que estão com um pouco de dificuldade (R. Trombone – M). [..] a gente pode ajudar as pessoas que não sabem ler partitura que elas são novas no projeto ou na banda (J. Trompete – m).

[...] os próprios alunos se organizam, as vezes um do naipe ajuda a cuidar do restante, aí quando sobra tempo ajudamos algum outro que precisa, é todo mundo fazendo um trabalho de “formiguinha” (H. Trompete – M).

Então esse é o meu fazer pela banda, quando tem viagem e apresentações eu cuido dos filhos daqueles pais que não puderam estarem presentes (Eliene, em entrevista 25/09/2019).

Quando o grupo precisa juntamos todo mundo, buscamos trazer benefícios para a banda, corremos atrás para fazer um almoço, fazer uma rifa (Sivanilda, em entrevista 21/12/2019).

Estas diversas formas de atuações colaborativas empregadas nos depoimentos dos entrevistados, traduz-se no próprio sentimento de pertença com a banda. Pode-se dizer que é um círculo colaborativo no qual cada membro, seja ele aluno ou pais/responsáveis, participam

da construção por ser participante e buscam desenvolver formas solidárias para o progresso e desenvolvimento próprio do seu grupo.

c) Práticas significativas: relações de amizade

As relações de amizade dentro da banda são instituídas a partir das interações construídas socialmente entre os integrantes. Estas relações se constroem dentro da banda e se estendem também para o campo familiar entre os integrantes.

Sei lá o [JM. Caixa] a gente é bastante amigo. Minha mãe conhece a mãe dele. A gente convive bastante, uma vez ele foi lá na minha casa e nós conversamos (J. Bombardino – M).

Eu consigo conviver muito bem com as pessoas de todos os naipes, de todos os instrumentos diferentes; da percussão e do sopro (E. Trompa – M). Quando entrei na banda comecei a fazer amizades, a se enturmar, pois quando eu não participava da banda eu não falava com ninguém (Y. Trombone – m).

É boa, porque eu converso com todo mundo e fazemos piadas, tipo todo mundo leva na brincadeira e todo mundo é amigo. Às vezes pessoas que eu nunca ia ver na minha vida passam a ser meu amigo, tipo a [E. Trompa] (H. Trompete – M).

[...] a minha convivência é boa, alguns que moram próximo eu levo eles em casa e quando é viagem eu converso com as mães (Donizete, em entrevista 11/02/2019).

O próprio ato de conviver em grupo é referenciado nas formas demostradas pelos participantes da banda, como na identificação com seus pares de amizades e na forma de convivência com os membros de outros naipes do grupo. Quando alguém no grupo está com dificuldades eles – alunos, escola, responsáveis/pais – se juntam para ajudarem uns aos outros. E se fazem presentes no momento da realização de um trabalho em conjunto e no perceber que todos estão crescendo enquanto seres humanos e principalmente na representação do seu grupo social. Nesse sentido, as culturas são constituídas daquilo que representam os indivíduos que a compõem, estabelecendo assim uma série de sentidos, reflexões e significados no campo social.