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Autopercepção dos professores sobre sua própria Consciência Humana e a sua

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.3 VOZES DOS PROFESSORES

4.3.2 Autopercepção dos professores sobre sua própria Consciência Humana e a sua

As ideias de Palmer (2012) defendem que a qualidade da atividade docente, como a de qualquer atividade verdadeiramente humana, emerge da subjetividade de cada sujeito revelando-se por meio dos seus modos de ser como pessoa. Assim, para que os professores possam contribuir e se envolver com os processos de mudanças, em especial para com as mudanças atitudinais dos estudantes, ampliando suas consciências ante os temas de

abordagens sociais que emergem no decorrer das aulas, é necessário que tenha a sua própria consciência ampliada como base para suas boas atitudes.

Finalmente o professorado tem que se envolver nos processos de mudança atitudinal, pondo em crise suas próprias proposições em torno dos temas transversais investigando a relação entre os valores educativos e a sua prática curricular [...] Dificilmente o professorado poderá orientar essas mudanças atitudinais se ele mesmo não as tem assumidas. (PALMER, 2012, p. 190).

É necessário que tenha tido oportunidades de ampliar a sua consciência, o que ocorre em diferentes lugares e com diferentes pessoas desde o nascimento até a morte. Essas oportunidades nem sempre são oferecidas na formação acadêmica, ou seja, é necessário que toda a história de vida do professor seja analisada, para que pontos que ainda possam estar afetando o seu comportamento, positiva ou negativamente, sejam identificados.

Como descreveu o professor P2, tudo começa pela família: “O mais importante é a

família. Ela foi a base para a concepção de tudo que construí até hoje”. A professora P1

reforça essa ideia: “Os laços que se cria dentro da família, não se perdem nunca, pelo

contrário, só se aprimoram e se fortalecem cada vez mais.” Já a professora P1 reconhece essa

base e a amplia para outros espaços de formação que ainda antecedem a formação acadêmica em nível superior.

A família vem em primeiro lugar. Ponto de maior referência na minha vida. A formação religiosa (sem idolatria) e alguns professores pela sua conduta e postura, também contribuíram.

Nesse mesmo sentido, a professora P6 traz a sua contribuição:

Os fatores que ajudaram muito na construção da minha consciência humana foram, em primeiro lugar, a criação rígida que tive da minha família e a escola de irmãs que iniciei minha vida escolar.

A partir do exposto, os professores entrevistados reconhecem que, para além da família, seus professores e a escola influenciaram positivamente na formação de sua consciência, o que pode ser exemplificado pela professora P4:

Tive muita sorte de estudar em boas escolas e ter comigo bons professores (escolas públicas), nesse processo de ensino e aprendizagem que primavam pelo convívio com o outro. Acredito que o contexto interativo (relações vividas na escola), com suas significações, chama a atenção para o fato de que existe uma relação dialética que envolve o individual e o social no desenvolvimento humano, e isso contribui muito para a construção da nossa consciência.

Assim, reconhecemos que um bom professor, com uma Consciência Humana ampliada, não se forma somente nos bancos acadêmicos, mas sim ao longo de toda a sua vida. No entanto, faz-se necessário que, no decorrer de sua formação profissional, haja espaços para refletir sobre toda essa evolução.

Alguns dos professores entrevistados reconhecem que também foram influenciados pelos seus próprios professores da escola básica e todos reconhecem que exercem influência na ampliação da Consciência Humana dos seus estudantes. A partir disso, descrevem quais características podem favorecer nesse processo educacional.

Referente às suas ações docentes, destacam-se importantes colocações que podem ajudar a dar luz àqueles que querem refletir sobre as suas próprias ações, aprimorando-as no sentido de favorecer o desenvolvimento integral dos estudantes. Qualidades como a empatia, observação, pensar antes de agir ou julgar, ser exigente, justificando os porquês e procurar manter a ordem e a disciplina foram descritas pela professora P1. Já nas palavras da professora P6, a capacidade de escuta, de aprender com os estudantes, com humildade, mostrando a eles que o aprendizado é uma troca, são alguns de seus princípios de condutas. Além disso, considera importante que o professor deixe claro que: “Tem hora para brincar, conversar,

estudar, rir, fazer palhaçadas e quando for hora de estudar é estudar”. Contudo, essa

professora entende que o fato de ela ter sido lembrada pelo seu estudante para destinar a carta se deve ao seguinte fato:

Atribuo o fato de ter marcado a vida dos meus alunos positivamente ao meu jeito firme e bondoso de lidar com eles, impondo limites, responsabilidades, respeito pelas pessoas, sabendo aceitar as diferenças de classe, religiões, raças ... (P6)

Todas essas qualidades humanas apresentadas pelos professores como as que ajudam na ampliação da consciência dos estudantes também precisam estar embasadas no que refere o professor P2, que defende a importância do professor mostrar aos estudantes que existe uma relação de autoridade, mas sem autoritarismo, e baseada em confiança. Nesse sentido, a professora P4 também coloca que:

O estudante deve confiar no professor. A confiança é obtida quando se consegue ouvir a voz do estudante e escutar o que ele tenta dizer, problematizando os assuntos mais significativos. [...] O professor tem em suas mãos um grande poder, o de ensinar, mas o ensinar tocando os corações dos estudantes. Estando perto, incentivando, apontando caminhos, criticando, questionando, refletindo, admirando. Isso faz com o que o estudante sinta que é amado pelo professor, que é um ser importante e constituinte de suas aulas, e não um mero receptor de conteúdos. (P4)

Conforme Lech (2004), esses e outros importantes comportamentos docentes nascem e se mantêm por meio da capacidade afetiva de todos os envolvidos no processo do educar. Essa ideia pode ser ilustrada pela colocação da professora P3: “Através da afetividade

conquistei muitos alunos. Acredito que esse é meu ponto mais forte.” Nesse sentido, o

professor P2 também afirma: “As características que me ajudam nesse papel é a afetividade.” E justifica:

Tento construir com meus alunos uma relação linear e de respeito, nunca me colocando como superior a eles, mas sim uma pessoa que está ali para transmitir e compartilhar determinados conhecimentos e mediar alguns outros.

Freire (1996, p. 59) propõe aos professores que não precisam ter medo de expressar sua afetividade para com os seus estudantes, pois é isso que revelará a sua abertura para estabelecer bons vínculos com eles. Assim descreve o que, para ele, significa a afetividade na Educação:

É a abertura ao querer bem e a maneira que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano. [...] preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade.

Demonstrar afeto revela que o professor se preocupa com seus estudantes, com aspectos que vão para além das questões específicas do trabalho com os conteúdos acadêmicos, tão priorizados que são, na escola. Isso não significa deixar de ser sério, nem, tão somente querer parecer, como diz a professora P3, apenas mais um “amigo” do estudante, o que pode ser motivo de crítica perante os demais membros da comunidade escolar.

Mesmo sendo duramente criticada por querer ser “amiguinha” dos alunos, sinto que é pelo afeto o caminho mais curto para ter o retorno desejado. [...] continuo firme na minha atitude, mesmo com tantos dizendo ser errado. Sei os frutos que colhi e vou querer continuar colhendo, por isso não vou mudar.

Essa mesma professora faz lembrar, ainda, que muitos estudantes são carentes e encontram no professor um porto seguro para expressar suas emoções (P3). Nesse aspecto, cabe destacar a importância de se relacionar os conteúdos com a realidade dos estudantes tal como coloca o professor P2: “Que o conteúdo trabalhado tenha significado para ao aluno,

sendo problematizado a partir de situações da realidade deles.” Assim, o conhecimento

ganha sentido à medida que pode favorecer as mudanças necessárias na vida do indivíduo, podendo transformá-los em sujeitos melhores.

Para Moreira (2010), que defende a abordagem da aprendizagem significativa, a Educação deve ter como base as necessidades e os conhecimentos prévios dos estudantes. Defende também que os conhecimentos devem estar sempre inseridos em um contexto mais integrador, de forma que as diferentes áreas se completem, dando mais sentido a cada uma delas. Nos dizeres da professora P4, essa colocação ganha sentido:

Outra coisa que considero importante e que acredito, é fazer parte da área de Linguagens, uma área que instiga muito o pensar e se expressar dos nossos alunos através da linguagem. Quando cursei meu mestrado, vimos que à medida que o indivíduo se apropria da linguagem, por meio de signos, a estrutura da consciência é formada.

A professora destaca a importância da linguagem que, por meio dos signos, dá origem aos pensamentos. “O pensamento não é simplesmente expresso em palavras, mas é por meio

delas que ele passa a existir.”, afirma ela, na sequência de suas respostas. Assim, o estudo da

Consciência Humana, deve considerar a relação entre as estruturas cognitivas e afetivas, ampliando as possibilidades humanas de transformação da própria consciência.