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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.1 BASES CONCEITUAIS DOS GESTORES E PROFESSORES

4.1.2 Consciência Humana

Conceituar e dar significado à expressão "Consciência Humana" não é tarefa fácil, pois são tantas as formas de compreender esse fenômeno que, ao resumi-lo a um conceito, correríamos o risco de não contemplar toda a sua dimensão. Contudo, ao serem desafiados a

responderem a essa pergunta por meio do questionário proposto nesta pesquisa, os gestores e os professores trouxeram importantes contribuições para esse estudo.

Os conceitos apresentados pelos gestores e professores para essa expressão estão de acordo com o que propõe a literatura pesquisada. Foi possível perceber, também, que, em suas práticas docentes e de gestão escolar, esses profissionais estão atentos à necessidade de ampliar ainda mais a Consciência Humana dos estudantes.

Conforme referiu a gestora G4, estar consciente significa “se dar conta da realidade”. Esse é o primeiro passo para que as mudanças necessárias comecem a ser planejadas. A gestora G3 arriscou-se a conceituar de forma mais ampla dizendo:

Ter Consciência Humana significa ter certo grau de maturidade que permite a apropriação consciente do próprio ser, enquanto indivíduo, diante do conhecimento, dos fatos, da tradição e das esperanças.

Outro conceito que merece destaque e que vem ao encontro do que defende Damásio (2000) é o que coloca a gestora G2: “Consciência Humana é a capacidade de olhar para

dentro de si, o que significa que o sujeito é capaz de ser crítico e de reconhecer as suas falhas, dúvidas, incertezas e, mesmo, suas realizações, podendo autoavaliar-se”. Outra delas

complementa essa importante ideia citando que a Consciência Humana é o que leva à “possibilidade do sujeito identificar, aceitar e respeitar a sua existência, as suas condições e

capacidades, bem como as dos outros.” (G5)

Para Damásio (2000), a consciência amplifica a capacidade dos sujeitos de olharem para si e perceberem-se como parte de um todo que compõe a vida e conduz à arte de viver.

A consciência é a chave para que se coloque sob escrutínio uma vida, seja isso bom ou mau; é o bilhete de ingresso, nossa iniciação em saber tudo sobre fome sede, sexo, lágrimas, riso, prazer, intuição, o fluxo de imagens que denominamos pensamento, os sentimentos, as palavras, as histórias, às crenças, a música e a poesia, a felicidade e o êxtase. (DAMÁSIO, 2000, p. 20).

A Consciência Humana pode ser “aprimorada a partir da ação-reflexão e por meio

das experiências”. Essa ideia da gestora G1 pode ser complementada pela voz de outra que diz: “a reflexão é o que favorece uma busca constante e ativa.”(G3). Nessa linha de

pensamento, Silva (2000) assevera que a reflexão serve como um exercício potencializador das práticas profissionais e do desenvolvimento pessoal e acredita que é a partir da reflexão que o professor pode criar a consciência do seu verdadeiro papel e podendo, assim, vir a fazer uso de todas as ideias e teorias que já possui.

Dentre a diversidade de conceitos apresentados pelas gestoras participantes da pesquisa, outro deles também vem ao encontro do que afirma Damásio (2000): assim como ele propõe que a consciência é construída a partir das percepções, experiências, sentimentos e conhecimentos construídos, a gestora G4 reconhece que a consciência não nasce pronta. Afirma ela que a reflexão confere aos sujeitos “a capacidade progressiva de ampliar a

consciência humana, reconhecendo-a não como condição pré-existente, mas sim, como algo a tornar-se”. Já para outra entrevistada, a consciência refere-se mais a questões morais.

Coloca que “a consciência é a capacidade que o ser humano tem de pensar antes de agir, de

responsabilizar-se pelas consequências dos seus atos, de acordo com a concepção do certo e do errado.” (G5)

Trevisol (2003) corrobora essa ideia de que é possível ampliar a Consciência Humana dos estudantes por meio da Educação. Conforme já apresentado nos fundamentos desse estudo dentre os papeis dos professores, está o de contribuir para a ampliação da consciência do ser humano, alargando o sentido de si mesmo, compreendendo a realidade externa e a visão de futuro criando solidariedade e vivendo com espiritualidade.

Embora bem diversificadas, algumas das respostas dos gestores e professores convergiram ao relacionar a Consciência Humana com os aspectos mentais do sujeito. Nas palavras do professor P4, "Consciência Humana é aquilo que está relacionado com a mente,

com o pensamento do ser humano.” Por outro lado, a P5 amplia essa ideia ao propor que “é um contínuo de conexões dos nossos neurônios, que vão ocorrendo do momento em que nascemos até o fim de nossas vidas.” E, ao valorizar os aspectos neurobiológicos, completa:

A cada nova experiência vivida por nós, nosso cérebro faz uma representação mental que é armazenada em nossa memória. Ao comer uma comida diferente, por exemplo, surgiria uma mudança nas conexões de nosso cérebro. Quanto mais o mundo passa a ter significado para nós, mais conexões serão feitas em nosso cérebro.

A partir desses dados empíricos, cabe refletir sobre o que postula Damásio (2011) em sua teoria que visa superar a dicotomia entre a razão e a emoção, pois, muitas vezes, a Consciência Humana está mais relacionada aos aspectos da razão, tal como argumenta a professora P3: "a consciência é a dádiva da racionalidade". Nesse sentido, Damásio (2011) descreve que a Consciência Humana é um constructo que se forma da articulação entre os aspectos sociais, a subjetividade dos sujeitos e os processos neurobiológicos e que, juntos, explicam a evolução do cérebro humano e a emergência da consciência e todas as suas representações e construções emocionais, racionais, criativas e significativas.

Nessa mesma linha de pensamento, Wilber (2000) afirma que a Consciência Humana se manifesta no comportamento a partir das funções da percepção, do desejo, da vontade e da ação. Para esse autor, os aspectos relacional e comportamental da consciência referem-se à sua interação mútua com o mundo objetivo, exterior e com o mundo sociocultural dos valores e das percepções compartilhados. Essa ideia também pode ser ilustrada pelas palavras da professora P3: "a consciência é algo que adquirimos com as experiências e ensinamentos que

vamos absorvendo com o tempo no nosso meio".

Como exemplo da influência das questões socioculturais sobre a possibilidade de formação e de ampliação da consciência, P3 escreve ainda:

O homem é, por natureza, um ser social, ou seja, precisa viver em sociedade para poder externar todas as suas qualidades sociais, sua capacidade de interação com os seus semelhantes. Ter consciência é ter a capacidade de perceber que não vivemos sozinhos e que dependemos dos outros para sermos completos.

Essa ideia é corroborada pela opinião da professora P4, que defende que a consciência nos ajuda a "entender qual é o nosso papel no meio social que estamos inseridos" e, ainda, a "estar ciente dos acontecimentos, do que acontece ao nosso redor, participando de forma

ativa e determinante na nossa construção pessoal, social e cultural."

Enfim, demonstrar Consciência Humana, para a professora P1, é demonstrar a

"capacidade de olhar para dentro de si e de poder se autoavaliar sendo crítico diante das falhas, dúvidas, incertezas e até mesmo das realizações." Esse conceito pode ser

complementado com o que diz a professora P6: É ter opinião própria, sendo capaz de refletir

sobre os acontecimentos e saber o que é certo ou errado seguindo os padrões da sociedade.

Diante de tantas considerações, é possível reconhecer a diversidade de conceitos e significados sobre a Consciência Humana e, assim, evocar uma linha de pensamento que comunga esses dados empíricos com os fundamentos científicos que embasaram esse estudo, levando-nos a compreender os modos de articular nossa percepção do mundo com o nosso sentir do mundo e de nós próprios e, assim, formando e ampliando a nossa consciência.

Para tanto, trago para dar luz a essa análise uma das afirmativas de Lúria (2016), que conceitua a Consciência Humana como a capacidade de avaliar as informações que chegam até nós pela via dos sentidos, servindo de base para as tomadas de decisão futuras com maior segurança.

Enfim, conhecer os conceitos dos gestores e professores sobre esses aspectos fundamentais desta pesquisa favoreceu a compreensão de alguns dos princípios e valores

apregoados na escola, tais como a solidariedade, a espiritualidade, a reflexão e a maturidade emocional.