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2 OS FUNDAMENTOS DA TESE: LUZES PARA PODER VER MAIS LONGE

2.3 PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR

2.3.1 Educação emocional na escola

“A emoção é, precisamente, uma consciência” (Edmund Husserl) “A consciência organiza a emoção como um determinado tipo de resposta adptada a uma situação exterior” (Jean Paul Sartre)

Diferentemente da escola tradicional, a escola de hoje tem começado a se preocupar mais com os aspectos da vida emocional dos estudantes. Pelo que propõe Marchesi (2008, p. 69), essa preocupação tem sido crescente. Para ele, o desenvolvimento da vida afetiva dos estudantes também deve ser um dos objetivos importantes na educação escolar, mas isso nem sempre é considerado, pois julgam que essa é uma função exclusiva da família. Afirma o autor que “muitas vezes os professores pensam que a educação emocional dos estudantes deve recair quase exclusivamente no entorno familiar, onde os estudantes devem encontrar sua referência afetiva básica.”

Este estudo vem em defesa da importância da escola, em especial, da pessoa dos professores na educação das emoções, no sentido de ampliar a Consciência Humana dos estudantes, tornando-os mais aptos a olharem para si, para o outro e para o mundo, percebendo- se como seres integrados em uma rede de relacionamentos que requer inteligência interpsíquica e interpessoal.

Gardner (1995), em seus estudos sobre as inteligências múltiplas, refere que a soma da inteligência intrapsíquica com a da inteligência interpessoal resulta na inteligência emocional, a qual representa a base para a sabedoria do agir humano e, consequentemente, para o sucesso pessoal e profissional das pessoas.

Na mesma universidade – Harward, EUA, e na mesma década – anos 1980, em estudos paralelos, Gardner (1995) sistematizou a teoria das inteligências múltiplas, enquanto que o psicólogo Daniel Goleman (1995) propôs sua teoria da Inteligência Emocional, que é a soma da inteligência inter e intrapessoal descritas por Gardner. Em seus estudos, Goleman concluiu que a realização humana depende da manifestação de determinadas qualidades básicas. Diante disso, cabe aos professores pensarem em modos de colaborar com o desenvolvimento de tais qualidades, haja vista que elas não são inatas. Cabe a eles, então, darem-se conta de que seu modelo de pessoa humana pode ser decisivo no processo educacional e refletirem sobre suas condutas diante de seus estudantes e do mundo.

Mas, afinal, o que significa ser inteligente emocionalmente? De acordo com Goleman (1995), significa que o sujeito detém os instrumentos essenciais para ter uma vida emocionalmente estruturada e equilibrada. Depois de sistematizar conhecimentos de várias épocas e de diferentes estudiosos, o autor sintetiza parte de sua teoria apontando cinco qualidades necessárias para que o sujeito possa ser considerado um inteligente emocional. São elas: autoconhecimento, autocontrole, automotivação, socialização e empatia, que é a capacidade de ser sensível aos sentimentos alheios e da qual decorrem as virtudes como a justiça, a solidariedade e a cooperação.

O desenvolvimento dessas qualidades que formam o nosso quociente emocional (QE) pode acontecer durante toda a vida. No entanto, esse processo não depende somente do acúmulo de conhecimentos, mas, acima de tudo, do estabelecimento de relações humanas construtivas com pessoas disponíveis para o diálogo e que ajudem a reconhecer e nominar os sentimentos positivos e negativos, próprios e alheios.

O mesmo autor segue defendendo a ideia de que é possível educar para o desenvolvimento dessas qualidades e propõe que haja maior aceitação dos sentimentos negativos dos sujeitos, tais como a raiva, o medo e a tristeza, permitindo que possam verbalizá- los, ao invés de reprimi-los. Diante da tristeza de alguém, por exemplo, pouco adiantaria algum amigo fazer palhaçadas ou convidar para uma festa. Momentaneamente, esses recursos poderiam até ajudar; contudo, o que deu origem àquele sentimento continua latente, podendo provocar angústias ainda maiores.

Além disso, se as ditas energias negativas não forem bem identificadas e elaboradas, podem ser somatizadas, transformando-se, até mesmo, em doenças do corpo. Diante disso, o que precisa ser realizado é uma transformação dessa energia negativa em energia positiva, o que poderia ser a base para grandes realizações.

À medida que o tempo passa, caso as pessoas tenham refletido sobre suas experiências de vida e tirado delas algumas lições, a tendência é ficar cada vez com maior inteligência emocional. Isso pode ocorrer a partir de nossa autoconsciência, qualidade que nos ajuda a ter mais controle sobre nossas emoções.

Reconhecer cada uma de nossas emoções, refletir e, na medida do possível, ter o controle sobre elas podem nos ajudar a expandir nossa inteligência emocional, aumentando, assim, nossa potência realizatória. Contudo, não somos seres isolados, pois o que somos, pensamos e fazemos está sempre mediado pelas conexões com o nosso meio social, com as nossas relações. É o que defende Rey (2005, p. 249): “as emoções representam um momento

essencial na definição de sentido subjetivo dos processos e relações do sujeito. Uma experiência ou ação só tem sentido quando é portadora de uma carga emocional.”

A emoção, segundo Maturana (1998), mora no corpo. É ela que revela nossos verdadeiros sentimentos enquanto nos relacionamos com os outros. Quando compreendemos o

discurso da nossa corporeidade e da corporeidade do outro, através da percepção do riso, do

choro, da nossa postura, do rubor da nossa face, do arrepio da pele, do coração palpitante e, principalmente, dos gestos e das ações, aprendemos a nos reconhecer e a nos respeitar mais, bem como a conhecer e respeitar mais o outro. O mesmo autor refere, ainda, que o que torna tudo isso possível é a emoção do amor.

Quando expressamos o amor através de nossa corporeidade, que, segundo Santin (2001), é o nosso modo de ser e estar no mundo, estabelecemos relações mais inteligentes. Assim, o amor não pode ser apenas um sentimento; deve ser expresso como uma emoção que leva à ação, por meio do cuidado, do gesto solidário, da paciência, mas, acima de tudo, pela aceitação do outro como um legítimo outro, mesmo frente às diferenças e às condutas inaceitáveis dos estudantes. Conforme Maturana (1998), os estudantes mais difíceis são os que mais precisam da aceitação dos professores.

O desenvolvimento das emoções humanas depende de um processo interno de adaptação e readaptação do homem à realidade externa. Desse modo, a figura do professor assume uma posição inigualável, visto que ele será a base desse desenvolvimento dentro do espaço escolar. Considerando que todo ser humano é um educador, em todo tempo e lugar, e que o verdadeiro desenvolvimento se dá a partir das interações humanas, precisamos assumir posturas mais responsáveis e conscientes dos nossos papéis. Afinal, educar não significa domesticar um corpo ou disciplinar uma inteligência, mas proporcionar, a partir da reflexão, um convívio social harmonioso, dentro das normas da cultura em que o sujeito está inserido, ao mesmo tempo que lhe é permitido desenvolver-se motora, cognitiva e emocionalmente.