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Capítulo VI – Os Agentes do Crime e da Vítima I – Introdução

3. Autores Morais

Autor Moral: quem causa a realização de um crime utilizando ou fazendo atuar

outrem por si

Instigadores (Prof. Teresa Beleza considera que são participantes): quem

dolosamente determinar outra pessoa à prática do facto, desde que não haja execução ou começo de execução. Ou seja, o agente determina outra

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pessoa à pratica fo facto, o que acontece quando alguém consegue criar em outra pessoa a decisão firme de querer praticar o crime.

Autores mediatos: quem executa o facto por intermédio de outem.

4. Cumplicidade (art. 27º)

Cumplicidade: forma de participação secundária na comparticipação criminosa, secundaria, num duplo sentido:

 Dependência da execução do crime ou começo de execução

 Menor gravidade objetiva, na medida em que não é determinante na pratica do crime (crime seria sempre realizado, embora eventualmente em modo, tempo, lugar, circunstâncias diferentes).

Quando se diz que a cumplicidade não é determinante na prática do crime significa que ela traduz-se num mero auxilio, não sendo determinante da vontade dos autores nem participa na execução do crime, mas é sempre auxilio à pratica do crime e nessa medida contribui para a pratica do crime, é uma concausa do crime.

Cumplicidade Material: auxilio material prestado por qualquer forma à pratica por

outrem de um facto doloso  o cúmplice material presta auxilio que, embora útil, na preparação ou facilitação do crime, é dispensável no sentido de o executor, na sua falta, posto que com mais dificuldade, poderia ainda levar a cabo a empresa criminosa.

Cumplicidade Moral: auxilio moral, equivalente ao conselho ou instigação de outrem

que não constitua autoria moral, ou seja que não determine à pratica do facto  fortalecimento da determinação do executor, que já estava formulada, ou o incentivo ao empreendimento resolvido dando ao autor material conselhos úteis para levar a cabo a execução.

Aulas Práticas; Comparticipação

Comparticipação: pluralidade de agentes a praticar o facto

Prof. Germano Marques da Silva: não é a tese maioritária Prof. Figueiredo Dias: tese intermédia

Prof. Teresa Beleza: tese maioritária

Efeitos da Comparticipação

 Imputação Objectiva reciproca: todos são responsáveis pelo todo (se assim não fosse, nenhum respondia pelo crime existindo apenas tentativa). Ex: A dá uma dose de veneno a B, e C dá outra dose de veneno a B. As duas doses juntas matam B, mas cada uma isoladamente não.

 Regime Especial em termos de arrependimento activo (‘’esforço sério’’ em evitar o resultado). Só se aplicar o art. 25º quando o autor é o participante; havendo só um autor aplica-se o art. 24º e não o art. 25º.

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 Regime do art. 28º

Comparticipantes (art. 26º e 27º)  quem é o autor? A doutrina diverge desde sempre,

uma vez que o legislador no art. 26 adopta uma postura neutra ‘’Autoria’’

Autor Imediato: quem pratica os actos de execução Instrumento/Executor/Autor Mediado

 Pedir a inimputável

 Instrumento está em erro (art. 16º): autor cria/mantém o erro

 O agente é coagido fisicamente (não há vontade) ou moralmente (vontade não é formada livremente  causa de exculpação)

 Erro do art. 17º (instrumento não é punido ou sendo-o é a título de negligência)  Organização de poder: pessoas da base tinha dolo

↳ havia a ideia de que não podia haver instigação em cadeia: tal levava a que as pessoas do tipo nunca fossem punidos, sendo-o só os instigadores/instigados. Ao considerarmos as pessoas numa base fungível podemos ir subindo na cadeia de poder.

Co-Autor: têm de saber que estão a trabalhar juntos (conspiração bilateral de

cooperação)

Instigador: cria o dolo de instigação, só respondendo se praticar actos de execução;

basta o dolo para a instigação estar perfeita.

Cúmplice: actuação secundária, aconteceria mesmo sem a sua participação 

participante, não é autor.

Prof. Germano Marques da Silva: Teoria da Causalidade quem tem uma actuação essencial para a pratica do acto é o autor e não o cúmplice

Deste modo, segundo o Prof. a Comparticipação desdobra-se no seguinte esquema:  Autores (causa essencial)

 Materiais  Autor Imediato  Co-Autor  Morais  Autor Mediato  Instigador

 Participante Secundário (facilitam)  Cúmplice

Problema da Teoria da Causalidade: insuficiente. Ex: A quer matar B, e para tal dirige- se a uma farmácia, diz ao farmacêutico todos os planos de assassinato que pretende executar em B, e pede-lhe o veneno. Mais tarde, B vem a morrer.

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 Numa grande cidade, o farmacêutico seria cúmplice (A poderia dirigir-se a qualquer outra farmácia, visto que numa cidade grande existem imensas)

 Numa pequena cidade, sendo aquele o único farmacêutico, tal seria autor, uma vez que existe o domínio do facto (dependentemente da venda ou não estava condicionada a vida de B).

O problema assenta no facto em que tanto numa grande ou numa pequena cidade, a vontade do farmacêutico será sempre igual.

Prof. Teresa Beleza: a comparticipação assenta no seguinte esquema:  Autores (domínio do facto)

 Autor Imediato: domínio da acção  Autor Mediato: domínio da vontade

 Co-Autor: domínio funcional (divisão de funções)

 Participantes (acessoriedade)

 Instigador (não tem dolo no facto e tem vontade própria)  Cúmplice

O Prof. Figueiredo Dias diverge desta teoria, apenas no facto de considerar o Instigador como Autor, considerando que tal têm o domínio da decisão de praticar o facto.

A Acessoriedade depende de certa quantidade e qualidade do facto pelo autor, necessitando sempre de um acto de execução pelo autor. Existem algumas Teorias

acerca da Acessoriedade

Teoria Mínima: facto típico

Teoria Limitada: facto típico ilícito

Teoria Rigorosa: facto típico ilícito e culposo

Teoria Hiper: facto típico ilícito culposo e punível

O art. 29º do CP consagra a Teoria da Acessoriedade Mínima e Limitada: a lei apenas fala em actos de execução que são típicos.

Art. 28º Código Penal

O art. 28º - comparticipação em crimes especiais (em ambos delimita-se o âmbito subjectivo do crime – apenas pessoas indicadas na norma, pessoas com certas qualidades)

Próprios: sempre que existe a incriminação daquela conduta para aquelas

pessoas, mas aquela conduta não é incriminada para a generalidade das pessoas. Ex: peculato (só por funcionários públicos)

Impróprios: qualquer pessoa que pratique aquela conduta pratica um crime.

Tipo geral ou comum, dirigido à generalidade das pessoas, que prevê aquela conduta como crime. Depois há uma determinada norma que o prevê em relação da qualidade do agente. Ex: matar o pai – art. 132º (qualidade especial – agente ser filho da vítima). Circunstância essencial é a qualidade

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das pessoas. Existe uma relação de especialidade. Existe uma norma geral (art. 131º) e uma norma especial (art. 132º).

Art. 28º/1: a qualidade do participante intraneus comunica ao participante extraneus I – Co-autor intraneus + co-autor extraneus (art. 28º/1, 1ºparte) – alarga a noção de sujeito. O extraneus só é punido se souber que o seu co-autor tem essa qualidade (fundamento: art. 16º/1, 1ªparte – dolo de tipo)

II – Participante (instigador ou cúmplice) intraneus + autor extraneus (art. 28º/1, 1ª

parte): qualidade do participante comunica-se ao autor.

III – Participante intraneus + autor extraneus + participante extraneus (art. 28º/1, 1ªparte) IV – autor mediato extraneus + instrumento intraneus (art. 28º/1, 1ªparte) – Duvida: há

comparticipação?

 Se se entende que há comparticipação sempre que há uma pluralidade de agentes a praticar o facto comunica-se a qualidade

 Visão restrita: pressupondo a consciência bilateral de comparticipação – o instrumento não tem consciência que esta a cooperar com o autor mediato – questiona-se se existiria mesmo um caso de comparticipação.

V – Participante extraneus + autor intraneus

 Prof. Germano Marques da Silva: art. 28º/1, 1ºparte – visão da causalidade essencial

 Visão da teoria do domínio do facto (acórdãos)  Art. 26º - autor

 Art. 27º - cúmplice

Art. 28º/1: regra – comunicabilidade. Excepção: normalmente nos crimes de mão própria (crime que pressupõe a utilização do próprio corpo do agente. Ex: infanticídio só pela mãe (alteração hormonal pós parto); bigamia.

Pode haver um instigador ou um cúmplice nos crimes de mão própria? Não pode a

avo dizer à mãe da criança ‘’mata’’? Sim, mas não pode é haver co-autoria Crimes de mão própria – pode haver participação.

Art. 28º/1: tipicidade indirecta.

Art. 28º/2: não trata de tipicidade, mas sim de punibilidade  crimes especiais impróprios (nunca aos próprios).

 Caso de autoria num crime especial próprio, mas se não existisse a regra do 28º/1 como se resolvia o caso há luz da teoria do facto? Seria punido como mero participante/cúmplice (art. 27º). Pena do cúmplice = pena do autor atenuada.

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‘’pena mais grave’’ – confere-se ao juiz a possibilidade de aplicar uma pena menor, mas terá sempre de punir (casos em que o juiz tem de decidir entre uma pena maior devido à comunicabilidade e do outro lado esta não punir)

Prof. Teresa Beleza: art. 28º/2 também se aplica aos crimes próprios, mas o que esta em causa é saber se é punível como autor ou cúmplice.

Nota: devido à complexidade da matéria da comparticipação, remete-se o seu estudo para o Manual do Prof. Figueiredo Dias e para a Prof. Teresa Beleza.

Capítulo VII – Concurso de Crimes e Crime Continuado

No documento Teoria Geral Do Crime e Da Pena - Apontamentos (páginas 107-112)