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O Direito de Necessidade

TEORIA GERAL DO CRIME E DA PENA FDUCP

8. O Direito de Necessidade

8.1. Conceito, Natureza e Fundamento

para tutela de um direito em perigo de sofrer dano torna-se necessário sacrificar outro direito de pessoa que não interveio voluntariamente na criação desse perigo  Princípio da Ponderação de Interesses (qual dos direitos deve prevalecer?)

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Maria Luísa Lobo – 2011/2012

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Pressupostos do Direito de Necessidade:

Situação de perigo atual que ameace interesses juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

Perigo: situação ou estádio a partir do qual é provável a produção de

um resultado negativo ou a situação factual que implica a probabilidade de um dano. Características essenciais:

 Probabilidade (possibilidade) de produção de um evento danoso. Não há perigo quando a produção do evento é certa, ou seja inevitável, nem quando o evento provável não for danoso.

 Algo real, objetivamente existente, uma probabilidade de dano – potencialidade de um fenómeno de ser causa de dano, ou seja modificação de um estado verificado no mundo exterior com a potencialidade de produzir a perda ou a diminuição de um bem, o sacrifício ou a restrição de um interesse.

Atual: perigo deve ser iminente ou já em produção de dano e o facto

justificado pelo direito de necessidade é destinado a evitar que o dano se produza ou se agrave de tal modo que para afastar o perigo ou suspender a produção de dano o agente não pode aguardar qualquer delonga.

Causa do perigo pode provir: (1) atividade humana, desde que não

consista numa agressão ilícita do titular do interesse sacrificado pelo ato necessitado pois neste caso seria o pressuposto da legítima defesa; (2) acontecimentos naturais. O perigo pode ser causado pelo titular do interesse sacrificado desde que o ato causador da situação de perigo não constitua um ato voluntario de agressão.

Requisitos do Direito de Necessidade:

Adequação do meio

Facto adequado: facto necessário para afastar o perigo. O meio só é

necessário se for idóneo para afastar o perigo. Um meio inidóneo não é um meio adequado, tal como também não é adequado o meio idóneo que seja mais gravoso que outro igualmente idóneo, nem o meio que consista na lesão do interesse de terceiro quando seja possível afastar o perigo sem esse sacrifício, utilizando qualquer outro meio lícito.

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 ‘’situação de perigo voluntariamente criada pelo agente’’ (=) intencionalmente, criada premeditadamente pelo agente com o fim de livrar-se dela à custa da lesão de bens jurídicos alheios

Código Civil – art. 339 Código Penal – art. 34º

Não exige que o perigo não seja criado voluntariamente pelo agente, mas se o perigo for provocado pelo agente e por sua culpa exclusiva, o agente é obrigado a indemnizar o lesado pelo prejuízo sofrido

Quando a situação de perigo ameace interesse alheio o facto praticado para afastar o perigo será ilícito mesmo que o agente tenha sido causa voluntária da situação de perigo

CP sempre aplicável para exclusão da ilicitude penal, sendo aplicado o C ara efeito da compensação dos prejuízos sofridos por aquele que viu os seus bens sacrificados em razão da atuação culposa do criador da situação de perigo

Sensível superioridade do interesse a salvaguardar relativamente ao interesse sacrificado

Teoria da Ponderação de Interesses: superioridade do interesse a

salvaguardar no seu confronto com o interesse sacrificado.

Critério: exclusão de bens pessoais para defesa de bens patrimoniais,

desde que não seja uma leve ofensa a um bem pessoa para defesa de bens patrimoniais de valor elevado.

Atenção: situações de existência de um dever por parte do agente de arrostar o perigo. Ex: um bombeiro tem o dever de expor a sua vida durante um incêndio enquanto no exercício das suas funções, mas não tem o dever se sofrer resultados danosos  certas pessoas têm de suportar perigos acrescidos em nome da função ou do cargo que desempenham, ou de utilizar apenas certos meios (‘’meios adequados’’) para salvaguarda de interesses próprios

 Razoabilidade da imposição ao lesado do sacrifício do seu interesse

 É necessário que ao lesado seja exigível sacrificar o seu interesse ou os seus direitos. Na comissão revisora do CP chegou a propor-se a limitação do direito de necessidade só ao sacrifício de bens patrimoniais e à exclusão do sacrifício de vida de outrem e o sacrifício grave da integridade física.

 A referencia à exclusão do sacrifício da vida não é necessária pois resulta do próprio principio da ponderação dos interesses, não existindo qualquer bem superior à vida humana, nem há vida humana de valor superior a outra vida humana.

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 Tem de ser ético-juridicamente exigível que o terceiro tolere o sacrifício do seu bem jurídico  limite: núcleo irredutível da dignidade e autonomia individual.

8.3. Objeto do Direito de Necessidade

Bens jurídicos postos em perigo e que podem ser salvaguardados pelo direito de necessidade são bens ou interesses do agente ou de terceiro. Quaisquer interesses podem ser tutelados por este direito.

8.4. Conhecimento da Situação de Perigo

No Direito de Necessidade é necessário que o agente tenha conhecimento da situação de perigo que gera a possibilidade de intervir no exercício do direito de necessidade e que o seu ato tenha por fim imediato a salvaguarda do interesse ameaçado.

8.5. Excesso de Direito de Necessidade

À semelhança do que sucede na Legítima Defesa, no exercício do direito de necessidade o agente pode exceder-se, não respeitando os limites do direito.

O excesso é sempre facto ilícito e pode ser doloso, culposo ou causal. Caso resulte de medo, perturbação ou susto não censuráveis o agente não é púnico porque se deve considerar desculpável – art. 33º/2.