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TEORIA GERAL DO CRIME E DA PENA FDUCP

4. Nexo de Causalidade

4.1. Noção de Nexo de Causalidade

Nos crimes materiais ou de resultado/evento material é necessário que o evento seja causado pela conduta do agente.

Embora o resultado seja exterior à conduta, para que possa considerar-se que um determinado evento faça parte do crime, é necessário que seja a conduta do agente que cause o resultado, que provoque a produção do evento.

Teorias  Relação de Causalidade:

Teoria da Equivalência dos Antecedentes/Condições/Teoria da Condtio Sine Qua Non (Conceito Naturalístico): tudo o que concorre para o resultado é

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causa dele, e assim todas as condições seriam equivalentes para o efeito e a cada uma se podia imputar o resultado. Causa é qualquer antecedente sem o qual o resultado não se teria produzido.

Todos os antecedentes do resultado são considerados do mesmo valor e causa do resultado. Consequências:

 O Resultado é atribuído ao facto humano como sua causa sempre que se não tivesse produzido sem esse facto. Não é necessário que o facto tenha sido a causa necessária, suficiente por si só para produzir o resultado.

 O resultado é atribuído ao facto humano como sua causa ainda que se não tivesse produzido sem o concurso simultâneo ou sucessivo de outros atos humanos. Ex: ato posterior negligente de médico que faz com que um ferimento que não era mortal venha a produzir a morte.

 Não existe relação de causalidade entre o facto e o evento quando a não realização desse facto não tivesse modificado em nada a produção do resultado. Assim quando o resultado, ao qual se dirigia o facto, for provocado por uma nova serie de causas independentes, interrompe-se o nexo de causalidade com aquele facto.

Teoria muito criticada devido aos seus exageros: ao pai deveriam ser imputadas todas as condutas do filho, porque sem aquele, este e portanto as suas condutas não teriam sido produzidas.

Teoria da Causalidade Adequada (conceito jurídico): a causa é o

antecedente adequado para produzir o resultado. A causa não é considerada apenas em relação ao evento em concreto, mas abstratamente em relação a acontecimento do género daquele a que se refere o juízo de causalidade. O antecedente é causa quando tenha produzido o resultado e quando se apresenta geralmente adequado a produzir aquele resultado, ou seja quando aquela causa produz normalmente aquele resultado.

Avaliação da adequação da causa para produzir o resultado  regras da experiencia comum aplicadas às circunstancias concretas da situação. O resultado há-de ser previsível e de verificação normal, segundo as regras da experiencia comum e as regras ou circunstancias que o agente efetivamente conhecia.

Ac. STJ. 94  acolheu no seu art. 10º/2 a Teoria da Causalidade Adequada: apenas

comete o crime do art. 142º o arguido que dá um empurrão no ofendido, apesar de este vir a falecer em consequência de enfarte do miocárdio, desde que não se provou que ele tinha conhecimento dessa doença cardíaca e que tivesse utilizado esse empurrão para fazer surgir tal enfarte.

Conceito Jurídico de Causalidade é um Conceito da Relação Jurídico-Social que conduz a conteúdos ontológicos e normativos não sendo idêntico nem aos conceitos causais das ciências naturais nem aos filosóficos.

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Problema: várias situações e que esta teoria se mostra insatisfatória  há

comportamentos que comportam riscos consideráveis para bens jurídicos e são legalmente permitidos (ex: circulação rodoviária (sempre que há um acidente podia dizer-se que o condutor vai responder penalmente  não é correcto), intervenções médicas necessárias mas arriscadas). Embora a ação se revele adequada à produção daquele resultado não pode ser proibida.

Teoria da Causalidade Adequada COMPLETADA/CORRIGIDA pela Teoria da Conexão do Risco.

Teoria da Conexão do Risco: o resultado só deve ser imputado à ação quando

esta tenha criado (aumentado, incrementado) um risco proibido para o bem jurídico protegido pelo tipo de ilícito e esse risco aumentado ou acrescido se tenha materializado no resultado típico  quando não se verifique uma dessas condições, a imputação deve ser exluida.

Determinação do Risco Não Permitido

Art. 10º/1: a ação e a omissão hão-de-ser adequadas a produzir ou evitar o

resultado compreendido no tipo legal.

Problema da causalidade coloca-se nos crimes de resultado ou comissivos  em muitos casos a solução não oferece dificuldades, sendo que a doutrina normalmente indica grupos de casos nos quais a solução é mais difícil.

Causalidade Acidental: O CP de 1886 dispunha no art. 360º e no art.

361º ao efeito necessário da ofensa, e no art. 362º à circunstância acidental que não era consequência do facto. Consequências: a ofensa devia ser mortal (por sua natureza e segundo a experiencia comum); a causa a que se seguia outra causa que era daquele efeito necessário era ainda causa adequada da morta (ex: infeção causada pelos ferimentos). A causalidade era excluída quando a morte se seguiu porque interferiu no processo causal uma causa acidental que o agente não provocou nem pôs ao seu serviço.

Interrupção da Causalidade: ocorre sempre que à causa adequada

posta pelo agente se sobrepõe uma outra causa igualmente adequada para produzir o evento, mas que não provem do mesmo agente, quer diretamente, quer como consequência da causa inicial. A causa que produziu o resultado é inteiramente independente da posta pelo agente. Ex: tentativa de homicídio mediante envenenamento, mas em que a morte vem a ser causada por um tiro disparado por outra pessoa  morte causada pelo segundo agressor.

Concorrência de Causas: todas as causas concorrem em conjunto para a produção do resultado. Como o nexo causal é elemento do facto, a concorrência de causas é concorrência de factos na produção do mesmo resultado. A relevância jurídica das diferentes

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causas equivale a comparticipação de vários agentes do crime. Ex: se duas ou mais pessoas agridem outra e esta vem a morrer em resultado do conjunto das agressões sofridas, todos os agressores são agentes do facto em comparticipação  os atos de cada um são causa da morte.

Em suma, segundo, a Teoria da Causalidade Adequada:

Contudo, uma vez que a Teoria da Causalidade Adequada apresenta algumas falhas e necessita de ser completada com a Teoria da Conexão do Risco, para haver nexo de Causalidade é necessário ainda saber se:

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4.2. A Causalidade na Omissão

A Causalidade na Omissão não é uma causalidade verdadeira e própria, mas antes um seu equivalente normativo para os fins de imputação jurídica do evento ao omitente: a lei equipara o não impedimento do evento à produção desse mesmo evento.

Para que o nexo de causalidade se encontre verificado na omissão é necessária a verificação de dois requisitos:

Prognose Póstuma: a omissão é causa do evento sempre que, segundo as

regras da experiência comum aplicadas às circunstâncias concretas da situação, e o ato devido tivesse sido praticado o evento não se teria realizado.

Juízo Hipotético: considera-se que se a ação devida que foi omitida se tivesse

verificado o evento não se teria produzido.

4.3. O Caso Fortuito e a Força Maior (exclusão do nexo de causalidade)

Caso Fortuito: ocorrência de um evento como consequência da conduta de um

sujeito, mas de modo fortuito, ou seja como consequência de um processo causal absolutamente anómalo, que não seria consequência normal, adequada, da causa posta pelo agente.

Caso de Força Maior: evento que se produz sem qualquer voluntariedade do agente,

ou seja, o agente não só não quer, como não o pode evitar.

4.4. A questão da ‘’causalidade virtual’’

Causalidade Hipotética ou Causalidade Virtual: o agente produziu o resultado numa

hipótese em que, se não tivesse atuado, o resultado surgiria em tempo e sob condições tipicamente semelhantes por força de uma ação de terceiro ou de um acontecimento natural. Ex: ainda que A não tivesse feito explodir o avião X para matar o passageiro B, o aparelho ter-se-ia igualmente despenhado por falta de combustível e todos os passageiros acabariam igualmente por morrer; ou C é morto dentro de um avião que no momento seguinte cai ao descolar por erro de atuação do piloto causador da morte de todos os passageiros.

No Direito Penal, defende-se a irrelevância da causa virtual. Contudo, pode perguntar-se se tem algum sentido atribuir ao direito penal a persistência na sua função de tutela de um bem jurídico que já está definitivamente condenado a perder-se. A verdade é que mesmo à luz de uma função de tutela subsidiária de bens jurídicos, independentemente de qualquer valoração ética, continua a ter sentido não abandonar o bem jurídico à agressão do agente só porque ele já não pode, em definitivo, sem salvo.

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5. Excurso sobre a Imputação Objetiva