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Autoria e perfil das personagens

No documento DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 100-104)

SITUANDO A TELENOVELA SENHORA DO DESTINO

5.2. Autoria e perfil das personagens

Aguinaldo Silva (1944-), considerado um autor de grande prestígio na televisão brasileira, entre as várias novelas que produziu, é lembrado pela co- autoria, com Dias Gomes, de Roque Santeiro (1985/86), Vale Tudo (1988), com Gilberto Braga, Tieta (1990), Fera Ferida (1993/94), Indomada (1997), Porto dos

Milagres (2001), emplacando outro grande sucesso em 2004/200537.

37 http://www.teledramaturgia.com.br/aguinaldo.htm. A notoriedade do autor pode

ser conferida nas matérias divulgadas na mídia desde o início e persiste após o final da novela. Somente na Folha de S.Paulo foram publicadas 50 matérias sobre a novela Senhora do Destino

Aguinaldo Silva também é conhecido por ter integrado o Grupo Somos38, um dos primeiros grupos de militância a politizar a questão da homossexualidade, além de ser um dos membros do conselho editorial do jornal O Lampião, publicação do grupo Somos. Silva parecer ter estado envolvido com os temas tabus, e parece também ter aprendido a lidar com assuntos considerados polêmicos no contexto da linguagem televisiva.

Em O destino de Agnaldo, título da entrevista concedida a Mônica Bergamo (Folha de S.Paulo, 12/09/2004), Silva comenta sobre a iniciativa de introduzir as temáticas da relação amorosa entre duas mulheres e da adoção por casais lésbicos juntamente com aspectos pessoais da própria homossexualidade. Para ele, os riscos de tratar do assunto são controlados: “há um certo trauma inicial mas ninguém é expulso do paraíso por causa disso”. Munido de um programa que permite o acompanhamento dos números do IBOPE minuto a minuto, ele parece ter conseguido equilibrar diferentes tensões, integrando aspectos de sua trajetória pessoal à necessidade de estar “sintonizado” com as rápidas mudanças na sociedade e se mantendo fiel à estrutura básica do melodrama.

Na entrevista para o Boletim de estréia da novela (GLOBO, 2004), ele respondeu de forma genérica à pergunta sobre a forma como o amor seria representado na novela:

Tem muito amor na novela. O relacionamento mais romântico é o de Viriato e Maria Eduarda. Esse é o que chamamos do romance do mocinho e da mocinha, que vão enfrentar todos os percalços. Mas tem ainda o amor do Dirceu e da Maria do Carmo, o amor do Giovanni pela Maria do Carmo, o amor proibido de Nalva por Viriato, o amor do português pela mulata, do Sebastião pela Josefa – um amor fantástico, terrível e proibido até o final. Há amores de todos os tipos e isso eu estou exacerbando ao máximo! As paixões, os romances... Eu diria que estou escrevendo uma novela propositalmente romântica, em que as paixões são desvairadas.

Em entrevista concedida a Laura Matos (Folha de S.Paulo on line, 13/06/2004), poucos dias antes do início da novela, o autor confirma que irá

(Anexo 2), além de ter sido matéria de outras revistas como Veja, Capricho, Época, Contigo.

38 As obras de MacRae (1990), Trevisan (2000), Perlonger (1987), Fachini (2005) são

introduzir o tema da homossexualidade e explica que fará isso de forma gradual:

Folha Em semana de parada gay, pergunto ao senhor, já

demitido de um banco devido à opção sexual: a trama terá homossexual?

Agnaldo Silva Como "Senhora" fala sobre relações familiares, me

veio a idéia de abordar como uma família iria se adaptar a uma relação homossexual assumida por um dos membros. Pensei em colocar duas moças, a filha mais velha do Sebastião (Nelson Xavier), a Eleonora (Milla Cristie), e a filha do ex bicheiro Giovanni Improtta (José Wilker), a Jeniffer (Bárbara Borges), vivendo uma situação dessas. Mas só vou começar a desenvolver essa história bem mais para a frente. Não porque tenha cuidados, mas porque tenho muita trama para desenvolver.

Apesar de negar, inicialmente, e de tomar cuidado com a forma de apresentar a história de Leo e Jenifer, o autor reformula seus comentários iniciais e revela ter utilizado tanto de uma ação deliberada de planejamento, quanto de precauções que envolveram a condução da história de Leo e Jen:

Folha O público, que aceitou as lésbicas de sua novela, está

mais tolerante com o homossexualismo?

Agnaldo Silva O Brasil sempre foi tolerante. Desde a época da

colônia. Os cronistas do começo do século 20, tipo João do Rio, eram homossexuais, Pelo menos o Rio sempre foi uma cidade muito liberal. Mas, quando você via abordar um assunto desses numa novela, tem que tomar certas precauções, porque você não está escrevendo só para o público mais esclarecido, está escrevendo para o país inteiro. Provavelmente, se as minhas meninas não fossem duas pessoas tão certinhas, e isso foi proposital, acho que criaria mal- estar.

Dos quatro os núcleos da novela – Maria do Carmo, Nazaré Tedesco, Giovanni Improtta e Barão de Bom Sucesso (Boletim de estréia (Rede Globo, 2004) –, o de Maria do Carmo e o de Giovani Improtta são centrais para a esta análise, conforme aponto no quadro abaixo, que apresenta as personagens e respectivos atores/atrizes que discutem a relação de Leo e Jenifer.

Núcleo Maria do Carmo Núcleo Giovanni Improtta Eleonora ou Leo (Mylla Christie),

branca, classe média, residente de medicina, mora com a família, filha mais velha.

Pai: Sebastião (Luiz Carlos

Vasconcelos/José Mayer), motorista, nordestino.

Mãe: Janice (Mara Manzan), dona de casa

Irmã: Regininha (Maria Maya), madrinha da escola de samba, namorada de João Manoel.

Irmão: Venâncio (André Gonçalvez), motorista.

Shaolin: (Leonardo Miggiorin), amigo da família, líder da “galera” de amigos, dono de uma academia de artes marciais.

Jenifer ou Jen (Bárbara Borges), branca, rica, mora com a família, estudante de fisioterapia, filha mais nova.

Pai: Giovanni Improtta (José Wilker), “ex” bicheiro, empresário da construção civil, presidente da escola de samba. Avó: Flaviana (Yoná Magalhães), dona de casa, sogra de Giovanni.

Irmão: João Manoel (Heitor Martinez), vice-presidente da escola de samba Unidos de Vila São Miguel, namorado de Regininha.

Jenifer, estudante de fisioterapia, é retratada pelo autor como doce, boazinha, bem educada, estudiosa, reservada e caseira. Filha querida do ex- bicheiro, a quem ele chama de “seu mimo”, e queridinha da avó, Flaviana (Yoná Magalhães), Jenifer é a menina perfeita e, segundo o pai, faria a felicidade de qualquer homem.

Eleonora, filha de Sebastião e Janice, cursa o último ano de Medicina e faz estágio em um hospital da Baixada Fluminense. Ela é descrita como muito tímida e reservada, mesmo com os pais e os irmãos, pouco se sabe sobre ela, a não ser que se dedica totalmente aos estudos e, às vezes, fica muito tempo sem aparecer em casa. Segundo o Boletim de programação (Globo, 2004, p.26), Eleonora é uma mulher sem vaidade e misteriosa. “Eeonora é apagada, sem vida e nunca namorou, acha que isso é um atraso de vida. Ela é um mistério”.

No documento DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 100-104)