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2 CONCEITUAÇÕES, NATUREZA E FINS DA AVALIAÇÃO: do campo das políticas públicas ao educacional

3 CONCEPÇÕES E PROPOSIÇÕES DA AVALIAÇÃO NA LEGISLAÇÃO FEDERAL

3.1 A Avaliação na Constituição Federal de

No cerne desta pesquisa o estudo da legislação é essencial, portanto, é necessário registrar que a partir da década de oitenta ocorre o incremento de pesquisas no campo do direito público brasileiro que almejam investigar a concepção do Estado Brasileiro e do Direito Público da Cidadania.

A Constituição Federal de 1988, considerando o contexto político de redemocratização ao restabelecer os direitos políticos recebe a denominação Constituição Cidadã.

Considera-se fato importante a consagração da cidadania como um dos fundamentos e princípios norteadores do Estado Democrático de Direito Brasileiro, então configurado como República Federativa do Brasil.

No campo educacional a Constituição Federal de 1988 apresenta avanços que muito contribuem para a educação nacional, levando-se em conta que no processo histórico o texto constitucional sujeita-se as emendas que podem configurar alterações posteriores em questões diversas. Dentre outros títulos, a Constituição dispõe sobre a concepção, princípios e linhas gerais de organização da educação nacional, especialmente da esfera pública.

No estudo dos Artigos concernentes à educação priorizou-se a análise dos princípios da garantia do padrão de qualidade e da gestão democrática do ensino público, além da avaliação especificamente. Isto porque a análise do princípio de garantia do padrão de qualidade e da gestão democrática torna-se imprescindível no controverso e polemizado contexto da educação profissional, considerando que o presente estudo versa sobre a avaliação institucional das Escolas Técnicas Estaduais pertencentes ao Sistema de Ensino do Estado de São Paulo.

No seu Artigo 205, o texto constitucional concebe e determina a educação como direito de todos, o que pressupõe diferentes modalidades de ensino para atender às especificidades das demandas sociais, assim como a configura como dever do Estado e da família, respectivamente, a ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Esse dever do Estado para com a educação ocorre, conforme Artigo 208, mediante a garantia do: I- ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II- progressiva universalização do ensino médio; III- atendimento

educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV- atendimento em creche e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade (12alterado); V- acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;VI- oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII- atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (BRASIL. 1988).

Retomando o Artigo 205, nele são estabelecidos como fins da educação: o pleno desenvolvimento da pessoa humana, o preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, na perspectiva de situá-la no âmbito do processo social. Este destaque é concedido à finalidade da educação como preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, visto que o direito ao trabalho situa-se numa área de dupla confluência de direitos subjetivos: o da educação propriamente dito, e o do trabalho não alienante, enquanto princípio educativo e instrumento/meio de cidadania ativa e de inclusão no campo sócio-econômico e técnico-científico. Resguarde aqui o valor das diferentes possibilidades e modalidades de trabalho e de alterações advindas no campo ocupacional tanto em decorrência do desenvolvimento técnico-científico e produtivo-cultural.

A Constituição Federal de 1988, nos termos do Artigo 206, determina que o ensino deverá ser ministrado com fundamento nos princípios da: I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;II –liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III- pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV- gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V- valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; VI- gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII- garantia de padrão de qualidade (BRASIL. 1988).

É interessante destacar que no contexto de redemocratização, de forma inédita, uma Constituição brasileira lança os princípios da democratização da gestão do ensino, consagrando que a gestão, especificamente do ensino público deva ser por força da lei, a democrática. Todavia, ainda que se constituía um avanço expressar a preocupação quanto à gestão educacional na texto constitucional é porém restrito o princípio da gestão democrática, determinado somente para a res-pública,ou seja, da coisa pública. Nesse sentido, isenta-se a

iniciativa privada da obrigatoriedade de seu cumprimento. Este fato é contraditório uma vez que o Estado brasileiro, na condição de Estado Democrático de Direito, pressupõe que os princípios da democracia sejam incorporados ao processo social quanto o mais seja no campo educacional.

A colocação do prefixo re, na expressão democratização no campo sócio- político sinaliza, segundo análise de alguns pesquisadores, a existência no histórico brasileiro de um breve período de democratização anterior ao golpe militar. Entretanto, isto não é tão evidente nas práticas de democratização da gestão escolar ainda que neste breve período de democratização sociopolítica. Talvez possam ser identificadas iniciativas isoladas de grupos de intelectuais e educadores, dentre esses os Pioneiros da Educação Nova (seguidas à frente por alguns de seus membros), que levantavam a bandeira da democratização no campo educacional e consequentemente também na esfera da gestão educacional. Ainda assim, não se configura como a tentativa deliberada e legal de institucionalização da democratização do campo educacional, razão pela qual, são utilizadas para fins deste texto a expressão: re-

democratização no campo sócio-político e democratização no campo educacional.

Quanto ao princípio da garantia do padrão de qualidade, cabe discutir o sentido conferido pelo legislador ao conceito de qualidade. O que se entende por qualidade no campo da filosofia do direito público? Retomando as discussões acerca do Estado brasileiro no âmbito do direito público, temos então consagrado o princípio da garantia de um padrão de

qualidade, o que difere literal e juridicamente de garantia de qualidade. Assim, há que se especificar, primeiramente, que padrão de qualidade, ou melhor, qual a significação adotada para o termo qualidade. Na filosofia do direito, em essência, qualidade pode ser entendida como “aquilo que se pode predicar de alguma coisa; ou ainda, o aspecto sensível da percepção- o valor” (CUNHA, 2007, p.229). Por padrão entende-se o signo primário de medida ou referência. Disto depreende-se que o padrão de qualidade significa a medida ou referência de valor que se pode predicar a alguma coisa. Em essência a educação é valiosa, contudo, o legislador parametriza a garantia da qualidade da educação a um padrão, a uma medida de referência. A garantia deste padrão é pois, princípio constitucional reafirmado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20/12/1996.

O texto constitucional nos artigos referentes à educação referencia os processos e práticas avaliativas de organização da educação em âmbito nacional, pelas funções redristributiva, supletiva e normativa da União. O artigo 209 concebe o ensino como livre à iniciativa privada, desde que atendido o cumprimento das normas gerais da educação nacional e condicionados à autorização e avaliação de qualidade pelo poder público.

É importante enfatizar que na Constituição Federal de 1988 a avaliação é concebida e vinculada à questão da qualidade, ou melhor, é entendida como um instrumento de verificação/aferição do princípio de garantia do padrão de qualidade do ensino, motivo que leva a avaliação educacional (e institucional) a ganhar centralidade na LDB 9394/96 e no Plano Nacional de Educação e a se constituir como eixo estruturante das políticas educacionais no contexto da Reforma do Aparelho Administrativo do Estado.

Nessa perspectiva, o Artigo 214 da Constituição Federal estabelece como obrigatoriedade a criação do Plano Nacional de Educação, de duração plurianual, a ser implementado mediante lei específica para este fim, tendo por objetivos a erradicação do analfabetismo; a universalização do atendimento escolar; a melhoria da qualidade de ensino; a formação para o trabalho; a promoção humanística, científica e tecnológica do país e visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do Poder Público. Embora seja objetivo constitucional a promoção humanística, científica e tecnológica, não há determinação categórica do dever do Estado quanto à destinação de recursos públicos para sustentar tais ações, especialmente no que concerne ao desenvolvimento científico-tecnológico. Considerando como objetivos estabelecidos no Plano Nacional de Educação a formação para o trabalho, a promoção humanística, científica e tecnológica do país, faz-se necessária a análise do conceito de avaliação na lei que o institui.

3.2 A avaliação e a gestão democrática na LDB 9394/96: determinações

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