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5.1 F ASE DE C ONSTRUÇÃO E DE E XPLORAÇÃO

5.1.3 Avaliação Preliminar de Riscos

A Avaliação Preliminar de Riscos (APR) permite identificar os cenários de acidente para os quais deve ser desenvolvida uma Avaliação Quantitativa de Riscos (AQR).

Considera-se que a APR deve ser aplicada apenas na Fase de Exploração da instalação fabril, pois dado o leque de possibilidade de riscos internos ser tão largo, convêm fazer uma triagem dos que efetivamente vale a pena avaliar com maior detalhe.

Na Fase de Construção da instalação, pelo contrário, a tipologia de riscos não pode variar muito de projeto para projeto, mesmo que o período de obras ou a zona de intervenção varie. Assim, assume-se que todos os cenários de acidente possíveis de ocorrer devem ser alvo da AQR.

5.1.3.1 Definição dos cenários de acidente

Os cenários de acidente podem ser definidos a partir de várias técnicas já referidas, como o HAZOP, as árvores de falhas, o FMEA. Caso o projeto esteja na fase final de desenvolvimento pode ser aplicado o método ARAMIS.

A equipa técnica pode ainda considerar outros métodos que não os referidos desde que a definição e seleção de cenários seja devidamente justificada e fundamentada com referências bibliográficas.

5.1.3.2 Classificação dos cenários de risco identificados

Tal como indicado anteriormente (Capítulo 2.1), o risco resulta da conjugação de três fatores: probabilidade, efeito no recetor (severidade) e vulnerabilidade do meio (exposição e suscetibilidade).

A probabilidade e a severidade são comumente determinadas nos EIA realizados atualmente em Portugal, a partir dos quais é categorizado o risco. Contudo, considera-se essencial incluir nesta classificação a vulnerabilidade do meio, utilizando para tal, a informação recolhida na caracterização da envolvente proposta no início da metodologia (capítulo 5.1).

Desta forma, vai-se ao encontro do estipulado na UNE150008:2008, relativamente à determinação da gravidade sobre o ambiente, população e socio economia (Capítulo 2.2.6).

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E D E R I S C O S N O E I A

Determinação da probabilidade de ocorrência do acidente

A determinação adequada da probabilidade envolve o uso exaustivo de modelos de cálculo estatísticos, como sugerido no Red Book “Methods for determining and processing probabilities” (Schülleret al, 1997), mas a informação disponível acerca do projeto é normalmente limitada em fase de EIA, dai considera-se que, para este tipo de aplicação, a probabilidade dos eventos iniciadores de acidente ocorrerem durante a exploração futura da instalação fabril pode ser feita apenas com base em dados do passado (histórico de acidentes) e pressupostos assumidos acerca do funcionamento da instalação, como as medidas de contenção e prevenção de riscos. O modo de determinação da probabilidade com base no histórico de ocorrência de acidentes não vem definido em nenhum dos documentos analisados, ou em nenhum dos EIA avaliados. Assim, propõe-se que o cálculo da probabilidade assente no principio que relaciona o nº de acidentes ocorridos na fonte de risco x e o tempo de amostragem da base de dados. Esse valor deve depois ser corrigido para que entre em linha de conta com a data a que ocorreu o último acidente, conforme apresentado na equação 4:

( =)º +,+-. #/ -01#/)+/2 3 4/512+-#,26/78, #/ -7,2+4-5/7 × 9 çã (4)

Para obter o fator de correção primeiro tem de se dividir o tempo de amostragem por um número de períodos de igual dimensão temporal. Se a data do último acidente registado coincidir com o último período o fator de correção é 1. Se no entanto, ocorrer no penúltimo período o fator de correção é n-1/n e assim sucessivamente. Desta forma, pretende-se dar um peso maior aos acidentes mais recentes, pois em princípio, estes ocorreram já com tecnologias de prevenção e redução de risco bastante avançadas.

Este método é, contudo, bastante conservativo, pois entra em linha de conta apenas com as instalações para as quais houve registos de acidente.

De notar que a informação base usada para o estabelecimento da categoria de probabilidade contém um grau elevado de incerteza e subjetividade, que deve ser tido em linha de conta aquando a análise dos resultados (Schuller et al, 1997).

A probabilidade do risco deve conjugar três aspetos essenciais: a probabilidade do evento ocorrer, a probabilidade deste causar efeitos físicos e a probabilidades dos efeitos físicos originarem danos do ambiente (Schuller et al, 1997).

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E D E R I S C O S N O E I A Nos EIA avaliados (Capítulo 4) foram usadas tabelas que permitem categorizar a frequência, com base na taxa de ocorrência anual, ou com uma descrição textual da mesma. A tabela proposta e apresentada (Tabela 5-1) corresponde à tipologia que é apresentada em mais estudos e que inclui mais informação de suporte à decisão. A UNE 15008:2008 também apresenta uma tabela de relação entre o número de ocorrências de um evento e a classificação da sua probabilidade, no entanto, considera-se que é mais permissiva que as apresentadas nos EIA analisados, podendo levar a que os acidentes que se avaliam nas unidades industriais ficassem subvalorizados no que diz respeito a esta variável.

Tabela 5-1 – Classificação da frequência do risco

Categoria Denominação Taxa de

Frequência/Ano Descrição

A Extremamente

remota f<10

-4 Conceptualmente possível, mas extremamente improvável de ocorrer durante a vida útil da instalação

B Remota 10-4≤f <10-3 Não esperado ocorrer durante a vida útil da instalação

C Improvável 10-3≤f <10-2 Pouco provável de ocorrer durante a vida útil da instalação

D Provável 10-2≤f <10-1 Esperado ocorrer até uma vez durante a vida útil da instalação

E Frequente f≥10-1 Esperado ocorrer várias vezes durante a vida útil da instalação

Determinação da severidade do acidente

A severidade ou gravidade do risco está relacionada com a extensão dos efeitos físicos e com os danos que estes possam provocar à população, ambiente e património.

A severidade do risco deve relacionar, assim, a quantidade e perigosidade das substâncias libertadas e a vulnerabilidade do meio, no que diz respeito aos recetores (população, atividades socioeconómicas instaladas e qualidade do ambiente/ecossistema).

A norma UNE 150008:2008 estabelece uma fórmula de cálculo para a gravidade sobre o meio natural, humano e socioeconómico, que demonstra a relevância dos fatores referidos (vulnerabilidade do meio, extensão e perigosidade) para a classificação desta variável.

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E D E R I S C O S N O E I A A referida norma apresenta para estas variáveis critérios de valoração, que podem ser usados para a classificação final da severidade, recorrendo-se para tal à tipologia de tabela de classificação da severidade dos riscos presente nos EIA analisados, à semelhança do efetuado para a probabilidade.

Foi necessário, no entanto, adaptar a descrição da severidade apresentada nos EIA à informação recolhida na UNE 150008:2008, já que a descrição das categorias de severidade apresentadas nos EIA refere-se com regularidade aos trabalhadores da instalação, quando a Avaliação de Riscos deve estar orientada para o exterior da instalação industrial.

Assim, a Tabela 5-2, resume o resultado da combinação entre ambas as fontes de informação consultadas.

Tabela 5-2 – Classificação da severidade do risco

Categoria Denominação Descrição

I Desprezável

Menos de 5 toneladas emitidas de substâncias não perigosas (que provoquem danos ligeiros e reversíveis)

Zona afetada limitada à instalação industrial

Menos do que 5 pessoas afetadas

Conservação dos recursos naturais, sem contaminação do ambiente

Perda de entre 1% e 2% do património e capital produtivo.

II Marginal

Entre 5 a 50 toneladas emitidas de substâncias pouco perigosas (combustíveis)

Zona afetada localizada, raio inferior a 500 metros

Entre 5 a 50 pessoas afetadas

Nível de afetação moderada dos recursos naturais, com leve contaminação do ambiente

Perda de entre 10% a 20% do património e capital produtivo. Pode envolver efeitos a longo prazo.

III Crítica

Entre 50 a 500 toneladas emitidas de substâncias perigosas (corrosivas, inflamáveis e/ou tóxicas)

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E D E R I S C O S N O E I A

Categoria Denominação Descrição

Entre 50 a 100 pessoas afetadas

Nível de afetação elevado dos recursos naturais, com contaminação moderada do ambiente

Mais de 50% de perda do património e capital produtivo (efeitos agudos de perda parcial mas intensa).

IV Catastrófica

Mais de 500 toneladas emitidas de substâncias muito perigosas (altamente inflamáveis e/ou tóxicas, causa efeitos irreversíveis imediatos)

Zona afetada muito extensa, raio superior a 1000 metros

Mais 100 pessoas afetadas

Nível de afetação indiscriminado dos recursos naturais, com elevada contaminação do ambiente

Prevê-se a perda total do património e capital produtivo.

Nota – O critério que define a severidade do risco é o que apresentar o nível mais elevado.

Classificação do Risco

A classificação do risco é efetuada com base na matriz de riscos, que consiste no cruzamento da probabilidade de ocorrência de cenários de acidente (frequência) com a gravidade das suas consequências (severidade), que entrou em linha de conta com a afetação do meio recetor (ambiente, população e património e capital produtivo).

A atribuição gradativa da cor às células da matriz (Tabela 5-4) foi adaptada da ISO 31010:2009 e permite a distinção dos níveis de risco elevado (áreas vermelhas), de risco baixo (áreas amarelas) e de risco muito baixo (áreas verdes), ao qual é ainda atribuída uma escala pontual de 1 a 5 (Tabela 5-3). Esta gradação de cores deve ser seguida na elaboração da APR.

Este método facilita a seleção dos riscos aceitáveis e os riscos não aceitáveis, para os quais é necessário desenvolver uma avaliação quantitativa de riscos adequada.

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E D E R I S C O S N O E I A Tabela 5-3 – Categorias de risco

Categoria Denominação Cor Característica

1 Desprezável

2 Menor

3 Moderado

4 Sério

5 Crítico

Tabela 5-4 – Matriz de classificação de risco (Adaptado de ISO 31010:2009)

Frequência A B C D E S ev er id a d e I 1 1 2 3 3 II 1 2 3 3 4 III 2 3 3 4 5 IV 3 3 4 5 5

A seleção dos cenários de acidente a avaliar mais detalhadamente na Avaliação Quantitativa de Riscos tem de ser feita caso a caso, não sendo possível criar uma regra inflexível.

Os riscos de categoria 3 a 5, em qualquer circunstância, estão forçados a seguir para AQR. Quanto aos cenários de nível de risco inferior, pode indicar-se que são aceitáveis, sem necessitar de avaliar quantitativamente os riscos, se puderem ser eliminados eficazmente utilizando medidas de nível ALARP.