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A indústria, como já foi referido anteriormente, é um conceito que abrange um conjunto muito vasto de atividades, com perigos associados obviamente diferentes. Contudo, sabendo que o risco ambiental diz respeito a processos que envolvam armazenamento e/ou manuseamento de substâncias perigosas, é possível identificar fontes de risco típicas, assim como os perigos e riscos associados a estas. A dimensão das consequências do risco é que dependerá muito da natureza e quantidade de substâncias, que deve ser analisada especificamente para cada indústria objeto da Avaliação de Riscos.

R I S C O A M B I E N T A L N O S E T O R I N D U S T R I A L

3.2.1 Fontes de risco

As fontes de risco podem ser internas (associadas ao funcionamento fabril) ou externas (que não dependam do funcionamento da atividade fabril).

Fontes de risco internas:

• Rede de condutas de pressão;

• Unidades de Armazenamento (tanques, contentores, etc);

• Unidades processuais que envolvam o manuseamento de substâncias perigosas (Tóxicas ou inflamáveis), quer sejam matéria-prima, produtos ou subprodutos;

• Catalisadores;

• Resíduos industriais;

• Unidades de Tratamento e Recuperação de Águas Poluídas (ácidas, por exemplo);

• Vapor de alta pressão;

• Cargas e descargas de material;

• Manuseamento e armazenamento de água quente;

• Eletricidade de Alta Voltagem;

• Bombas e Compressores. Fontes de risco externas (UNEP, 1998):

• Outras instalações industriais: um acidente iniciado numa instalação industrial vizinha pode atingir fontes de perigos internas desencadeando o chamado efeito dominó;

• Vias de tráfego rodoviário: um despiste de um veículo circulante numa via contígua à instalação industrial pode resultar na colisão do veículo com uma unidade processual que constitua fonte de risco interna;

• Aeroporto: seguindo o mesmo raciocínio da via de tráfego, pode ocorrer um despiste ou mesmo um acidente dentro dos limites do aeroporto que afetem o normal funcionamento da indústria;

• Porto Marítimo: no caso de uma instalação fabril se encontrar no raio de influência de um porto marítimo, quaisquer acidentes aí ocorridos podem afetar a unidade industrial;

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• Ações de vandalismo e terrorismo.

3.2.2 Perigos associados a substâncias

Quando ocorre um acidente numa das fontes de risco internas ou externas à fábrica, a população, ambiente e edifício estão sujeitos ao risco ou perigo associado às substâncias envolvidas no projeto.

Um dos riscos numa indústria é a libertação não controlada de uma substância perigosa

para o ambiente (ar, solos, água). O impacte do acidente depende das quantidades das

características das substâncias, das quantidades libertadas e dos processos industriais envolvidos. Também está em causa a vulnerabilidade da envolvente e as medidas de minimização previstas no Plano de Emergência. Uma substância perigosa é aquela que apresenta pelo menos uma das seguintes características: tóxica, reativa, explosiva, inflamável, radioativa e corrosiva (UNEP, 1998).

As propriedades físicas e químicas de uma substância são relevantes para que se preveja como vai ser o desenvolvimento do cenário de acidente. Por exemplo, o estado da substância (liquido, gasoso, granular), o ponto de ebulição e de fusão, a viscosidade e a densidade são propriedades que afetam o modo de dispersão no meio (ar, água ou solo). O ponto de combustão e a temperatura de ignição definem a probabilidade de ocorrer a deflagração de um incêndio. Por sua vez, a pressão à temperatura ambiente, a solubilidade em solventes orgânicos e a velocidade de evaporação afetam quer a dispersão no meio quer a tendência para a combustão. O pH e a solubilidade na água definem quais os efeitos no ambiente e a probabilidade de corrosão (UNEP, 1998).

No que diz respeito às propriedades biológicas de uma substância, pode dizer-se que a toxicidade é definida pela dose fatal para pequenos animais e os efeitos tóxicos em animais e plantas e pelas reações alérgicas e os efeitos mutagénicos e cancerígenos. Os efeitos no ambiente são definidos pela necessidade de oxigénio da substância e o risco de bioacumulação (UNEP, 1998).

Quando há a libertação de substâncias inflamáveis, aumenta a probabilidade de risco de

incêndio (fogo sem controlo no espaço e no tempo), com emissão de gases tóxicos (monóxido

de carbono, cianeto de hidrogénio se o material queimado contiver azoto, fluoreto de hidrogénio se contiver fluor, etc) e fumos (partículas), em elevadas concentrações, para o ar ambiente. Existe

R I S C O A M B I E N T A L N O S E T O R I N D U S T R I A L ainda o risco adicional de contaminação dos solos e sistemas aquíferos pelas águas de combate ao incêndio, ou ainda o risco de explosão (UNEP,1998).

Segundo o Decreto-Lei n.º 98/2010 (regime a que obedece a classificação, embalagem e rotulagem das substâncias perigosas para a saúde humana ou para o ambiente, com vista à sua colocação no mercado), podem considerar-se substâncias extremamente inflamáveis:

- As substâncias e misturas líquidas cujo ponto de inflamação seja inferior a 0°C e cuja temperatura de ebulição (ou, no caso de um intervalo de ebulição, a temperatura de início da ebulição) não exceda 35°C;

- As substâncias e misturas gasosas inflamáveis em contacto com o ar à temperatura e pressão normais.

O documento legal referido indica ainda que substâncias facilmente inflamáveis são:

- As substâncias e misturas no estado sólido que se podem inflamar facilmente por breve contacto com uma fonte de ignição e que continuam a arder ou a consumir -se após a retirada da fonte de ignição.

- As substâncias e misturas líquidas cujo ponto de inflamação seja inferior a 21°C mas que não sejam extremamente inflamáveis.

A velocidade de propagação do fogo depende de diversos fatores, tais como, o poder calorifico do material e o seu estado físico e a disponibilidade de oxigénio.

Para que se inicie e mantenha um incêndio é necessário a coexistência de quatro fatores condicionantes: Combustível, Comburente (o comburente mais comum é o oxigénio, dada a sua abundância no ar); Energia de ativação e Reação em cadeia (UNEP, 2008).

De entre as fontes de ignição de incêndio mais comuns, podem destacar-se as fontes de origem térmica (fornos, soldadura, viaturas a gasolina ou gasóleo), as fontes de origem elétrica (interruptores, disjuntores, aparelhos elétricos defeituosos, eletricidade estática), as fontes de origem mecânica (chispas provocadas por ferramentas, sobreaquecimento devido à fricção mecânica) e as fontes de origem química (reação química com libertação de calor, reação de substâncias auto-oxidantes).

Associado a um incêndio está muitas vezes uma explosão, sendo este um risco industrial a ter em conta, nomeadamente ao nível das ondas de pressão produzidas e da projeção dos estilhaços.

R I S C O A M B I E N T A L N O S E T O R I N D U S T R I A L Uma substância explosiva, segundo o sistema de classificação de substâncias perigosas CLP/GHS (Classification, Labeling and Packaging of substances and mixtures to the Global

Harmonized System ), corresponde a um produto líquido ou sólido capaz de, através de uma

reação química, produzir rapidamente gás a temperaturas e pressão elevadas, causando danos à envolvente.

Existem dois tipos de explosão, as que têm origem em processos físicos e as que têm origem em reações químicas (UNEP, 1998).

As explosões com origem em processos físicos podem resultar da rutura de condutas de pressão (corrosão, defeitos de fabrico, etc), ou da existência de uma fonte externa de energia (exemplo, curto-circuito). A explosão física mais comum é a BLEVE (Boiling Liquid Expanding

Vapour Explosion), que tem origem na expansão e evaporação de um líquido superaquecido,

contido num reservatório. Se o vapor é inflamável, na presença de uma fonte de ignição produz uma “bola de fogo”. Quando o material que sofre o efeito BLEVE é tóxico, um impacte adverso resultante é a dispersão do gás tóxico (Abbasi, 2009).

Pode ainda ocorrer a produção explosiva de vapor, quando líquidos são sujeitos a temperaturas superiores a 100ºC. (UNEP, 2008)

Como exemplo de explosões com origem em reações químicas podem indicar-se as reações químicas exotérmicas em processos industriais, devido a falhas no sistema de aquecimento ou a falhas na regulação e quantidades, etc. (a força da explosão depende da quantidade de energia libertada na reação). Outro exemplo de explosão com origem em reações químicas é a mistura não intencional de ar ou um outro agente oxidante e material combustível. (UNEP,2008)