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5.1 F ASE DE C ONSTRUÇÃO E DE E XPLORAÇÃO

5.1.4 Avaliação Quantitativa dos Riscos Ambientais

A partir da Avaliação Preliminar de Riscos são definidos os cenários de acidente industrial que, quer pelo seu nível de risco quer pela probabilidade de ocorrência, justificam uma avaliação mais incisiva sobre as potenciais consequências sobre o ambiente e população.

Para esses cenários deve ser efetuada a Avaliação das consequências de acidentes industriais graves durante a exploração da instalação.

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E D E R I S C O S N O E I A Tal como referido anteriormente, dado os riscos associados à construção serem menos variáveis de instalação para instalação, considera-se que a Avaliação Quantitativa de Riscos deve abranger todos os riscos de acidente que envolvam substâncias perigosas.

Assim, a avaliação das consequências do acidente segue um procedimento similar para

as duas fases de avaliação de impactes e deve ser realizada em consonância com os perigos das

substâncias envolvidas no acidente (todas as substâncias manuseadas, mesmo que os perigos que lhe estejam associados sejam similares, devem ser contempladas nos cenários de estudo).

Os cenários de acidente tipicamente envolvem emissão de um líquido, gás ou em duas fases, que podem ocorrer de uma conduta ou tanque.

A simulação do cenário de acidente envolve primeiramente a descarga da substância. Se for um gás, forma-se uma nuvem que se desloca na atmosfera segundo a direção de vento. No caso da emissão em duas fases pode ocorrer o fenómeno de rainout (formação e dispersão de gotas de líquidos) com formação de uma “poça” de líquido (designada por liquid pool).

Para as substâncias que forem inflamáveis, pode ocorrer a deflagração de um incêndio. No caso da ignição ser imediata o tipo de incêndio a avaliar é o jet fire ou fireball. No caso de ignição tardia, pode tratar-se de um incêndio a partir da ignição de uma nuvem de vapor (flash

fire) ou consequente de uma explosão (BLEVE ou Vapor Cloud Explosion). Também pode

ocorrer a ignição do material liquido que se encontra derramado (pool fire).

Em termos da avaliação das consequências dos cenários de acidente, para as substâncias que se prevejam tóxicas para o ambiente e população, deve ser aplicado um modelo de dispersão da mancha contaminante no meio de propagação (ar, água ou solo – incluindo por deposição) e os valores de concentração estimados na área de afetação devem ser comparados com valores limites de exposição ao composto, devidamente referenciados.

Para as substâncias inflamáveis deve avaliar-se as consequências da deflagração e propagação de um incêndio, quer ao nível da radiação térmica atingida quer ao nível dos poluentes atmosféricos emitidos durante o fogo, com recurso a softwares adequados para a situação em análise.

Para as substâncias explosivas deve avaliar-se as consequências da explosão das mesmas na envolvente da indústria, ao nível da sobrepressão, com recurso a um modelo de risco adequado. Caso a explosão seja sucedida de incêndio tem de se incluir a análise deste perigo.

M E T O D O L O G I A

A Figura 5-3 representa um diagrama da análise de consequências, adaptado da Avaliação de Risco Ambiental aplicada a indústrias da Agência Europeia do Ambiente.

Figura 5-3 – Diagrama da Análise das Consequências de Acidentes Industriais (adaptado da EEA

De realçar que o uso de utilizado, de forma a que sej resultados produzidos, bem como

avaliando a incerteza, à semelhança do previsto no Decreto Decreto-Lei nº 197/2005, relativo à

Considera-se que, à semelhança dos restantes

AIA, o que importa avaliar na Análise de Riscos é a afetação da

e património na envolvente da instalação. Assim, a segurança dos trabalhadores e do edifício da instalação fabril deve ser avaliado no

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E

representa um diagrama da análise de consequências, adaptado da Avaliação de Risco Ambiental aplicada a indústrias da Agência Europeia do Ambiente.

Diagrama da Análise das Consequências de Acidentes Industriais (adaptado da EEA Environmental Risk Assessment, 1998)

uso de softwares deve estar associado a uma breve descrição do modelo utilizado, de forma a que seja possível à CA avaliar acerca da fiabilidade e vali

resultados produzidos, bem como, da fiabilidade dos dados de entrada, sempre que possível avaliando a incerteza, à semelhança do previsto no Decreto-Lei nº 69/2000, alterado pelo

Lei nº 197/2005, relativo à AIA.

se que, à semelhança dos restantes fatores ambientais em avaliação em fase de , o que importa avaliar na Análise de Riscos é a afetação da população, ecossistemas naturais e património na envolvente da instalação. Assim, a segurança dos trabalhadores e do edifício da instalação fabril deve ser avaliado noutro âmbito.

D E R I S C O S N O E I A representa um diagrama da análise de consequências, adaptado da Avaliação de Risco Ambiental aplicada a indústrias da Agência Europeia do Ambiente.

Diagrama da Análise das Consequências de Acidentes Industriais (adaptado da EEA –

deve estar associado a uma breve descrição do modelo avaliar acerca da fiabilidade e validade dos da fiabilidade dos dados de entrada, sempre que possível Lei nº 69/2000, alterado pelo

em avaliação em fase de população, ecossistemas naturais e património na envolvente da instalação. Assim, a segurança dos trabalhadores e do edifício da

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5.1.4.1 Cenários de libertação de substâncias tóxicas

A avaliação da consequência de acidentes que envolvam libertação de substâncias tóxicas deve ser precedida da sistematização dos dados de entrada no software de dispersão do contaminante, que devem ser apresentados no relatório de EIA. A seleção do software deve ser efetuada com base na adequação do modelo às características da substância e do meio. Para além do mais deve ser dada preferência ao uso de softwares desenvolvidos por entidades de referência.

É relevante que características da substância como a densidade, a viscosidade, o ponto de ebulição, condensação e de fusão, assim como características ambientais do meio de propagação, entrem nos cálculos da dispersão do contaminante.

No caso da substância ser libertada para a atmosfera, os valores de concentração estimados na envolvente da instalação industrial devem ser comparados com valores limite de referência, que traduzam o nível de concentrações de curto termo em ar ambiente a partir do qual a saúde pública não é afetada, por exemplo:

Acute Exposure Guideline Levels (AEGL). Descrevem o risco para os humanos

resultantes de uma vez na vida, ou raramente, serem expostos a químicos no ar ambiente. São indicados igualmente três níveis: AEGL1 (concentração em ar ambiente acima da qual se prevê que a população geral, incluindo os mais sensíveis, possam experienciar um desconforto ou irritação, durante um período transitório, sendo reversível após cessação da exposição), AEGL2 (concentração em ar ambiente acima da qual se prevê que a população geral, incluindo os mais sensíveis, possam experienciar efeitos na saúde graves e duradouros, ou irreversíveis, ou serem incapacitados de escapar); AEGL 3 (concentração em ar ambiente acima da qual se prevê que a população geral, incluindo os mais sensíveis, possam experienciar efeitos potencialmente letais).

Emergency Response Planning Guideline (ERPG). Correspondem a intervalos de

concentração onde se pode observar efeitos adversos como consequência de exposição a determinada substância. Existem três níveis de concentração limite: ERPG-1 (Concentração máxima no ar ambiente abaixo da qual praticamente todos os indivíduos podem ser expostos durante um período máximo de uma hora, sem experienciar efeitos adversos à saúde, que não sejam somente transitórios e

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E D E R I S C O S N O E I A moderados, e que não consigam percecionar claramente um odor), ERPG-2 (Concentração máxima no ar ambiente abaixo da qual praticamente todos os indivíduos podem ser expostos durante um período máximo de uma hora, sem experienciar ou desenvolver efeitos adversos à saúde irreversíveis ou graves ou sem sofrer sintomas que os incapacitem de tomar precauções) e ERPG-3 (Concentração máxima no ar ambiente abaixo da qual praticamente todos os indivíduos podem ser expostos durante um período máximo de uma hora, sem experienciar ou desenvolver efeitos potencialmente letais).

No caso da substância perigosa ser libertada para o meio hídrico, devem ser avaliados os efeitos do derrame calculados para as águas superficiais, representados pelas curvas de frequência-consequência. Podem ser avaliadas as seguintes consequências:

Contaminação da água por concentrações consideradas tóxicas, em períodos de exposição de curto termo:

Concentração EC50: Concentração de um composto na água que provoque em 50% dos organismos testados um efeito adverso subletal (inibição de crescimento, por exemplo), no final do período de exposição;

Concentração LC50: Concentração de um composto na água que provoque a morte em 50% dos organismos testados, no final do período de exposição (48 ou 96 horas, mas no caso de um peixe pode ir até aos 14 dias);

Alteração das características do habitat após a descarga acidental: Depleção de oxigénio, aumento de temperatura, alteração de pH;

Formação de uma camada flutuante nas águas superficiais.

5.1.4.2 Cenários de deflagração de incêndios

As pessoas e bens materiais que não estejam diretamente no raio de ação das chamas, mas que sejam sujeitos aos fluxos de radiação térmica produzidos pelo fogo, podem ser seriamente afetados. Assim, a avaliação das consequências da deflagração de incêndios é efetuada relativamente à radiação térmica atingida.

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E D E R I S C O S N O E I A A gravidade da lesão é função da intensidade do fluxo de calor e do período de exposição, como mostra a equação 5 (LaChance et al, 2011):

< =é ? á = "ACB× (5)

Onde,

I = Fluxo de Radiação Térmica, kW.m-2 t = Tempo de exposição (s)

Na Tabela 5-5 são apresentados efeitos da exposição, recolhidos em literatura específica desta matéria (LaChance et al, 2011), nos seres humanos e nas infraestruturas, que podem ser utilizados como referências na avaliação das consequências da ocorrência de incêndios, com recurso a um modelo de simulação adequado para a situação em análise.

Tabela 5-5 – Critérios de avaliação da exposição à radiação térmica gerada por um incêndio

Radiação Térmica

(kW.m-2) Tipo de consequência para pessoas

Radiação Térmica (kW.m-2)

Tipo de consequência para bens materiais

1,6 Sem danos para exposições

duradouras 4

Quebra de vidro (30 minutos de exposição)

4-5 Dor a partir de 20 s de exposição.

Queimaduras de 1º grau. 12,5-15

Ignição da madeira, derretimento de plásticos (mais

de 30 minutos)

9,5 Queimadura de 2º grau a partir de

20 s de exposição. 18-20

Degradação do isolamento do cabo (mais de 30 minutos)

12,5-15

Queimaduras de 1º grau ao fim de 10 s de exposição. 1% de letalidade

a partir 1 minuto de exposição.

25-32

Ignição sem piloto da madeira, deformação de aço (mais de 30

minutos)

25

Lesão significativa a partir 10 s de exposição.100% de letalidade ao fim de 1 minuto. 35-37,5 Danos estruturais e de equipamento (mais de 30 minutos) 35-37,5 1% de letalidade ao fim de 10 s de exposição. 100

Colapso da estrutura metálica (mais de 30 minutos)

A simulação deve ser efetuada com recurso a um software adequado para o tipo de fogo que se prevê ser originado: pool fire, jet fire, fireball, etc. Para cada situação devem ser indicados

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E D E R I S C O S N O E I A todos os pressupostos assumidos, no que diz respeito às condições de operação, às condições meteorológicas, etc.

Os resultados da simulação devem ser apresentados em forma de isolinhas de risco, desenhadas num mapa onde estejam assinalados os recetores sensíveis e as fontes de perigo externas.

Para além da avaliação direta da exposição da população ao fogo, é relevante também avaliar a exposição da população aos poluentes atmosféricos emitidos durante o incêndio, que devem ser definidos consoante o material que está a ser queimado, com recurso a um modelo de dispersão adequado e validado para a situação em análise.

5.1.4.3 Cenários de ocorrência de Explosão

Em caso de ocorrência de explosão, as pessoas e bens materiais estão sujeitas a níveis de sobrepressão que podem causar danos severos. Os eventos de sobrepressão podem causar efeitos diretos (aumento repentino da pressão originado pela explosão) ou indiretos (impacto dos fragmentos ou detritos gerados pelo evento).

Na Tabela 5-6 são apresentados efeitos da exposição, recolhidos em literatura específica desta matéria (LaChance et al, 2011), nos seres humanos e nas infraestruturas, que podem ser utilizados como referências na avaliação das consequências da ocorrência de explosões, com recurso a um modelo de simulação adequado para a situação em análise.

Tabela 5-6 – Critérios de avaliação da exposição à sobrepressão gerada por uma explosão

Níveis de sobrepressão (bar) Descrição do dano Critério de Avaliação

0,14 Limite para perfuração do tímpano

Efeitos diretos nas pessoas 0,34-0,48 50% de probabilidade de perfuração

do tímpano

0,69-1,03 90% de probabilidade de perfuração do tímpano

0,83-1,03 Limite para hemorragia dos pulmões

1,38-1,72 50% de hemorragia dos pulmões fatal

M E T O D O L O G I A P R O P O S T A P A R A A A N Á L I S E D E R I S C O S N O E I A

Níveis de sobrepressão (bar) Descrição do dano Critério de Avaliação

2,07-2,41 90% de hemorragia dos pulmões fatal

0,48 Limite para danos internos por explosão

4,83-13,79 Fatal (imediato)

0,10-0,20 Pessoas tombadas pela onda de pressão

Efeitos indiretos nas pessoas 0,14 Projeção contra obstáculos,

possivelmente fatal

0,55-1,10 Pessoas projetadas uma distância

0,07-0,14 Limite de laceração da pele por projéteis

0,28-0,34 50% de probabilidade de fatalidade por ferimentos dos projeteis

0,48-0,69 100% de probabilidade de fatalidade por ferimentos dos projeteis

0,01 Limite para quebra de vidros

Efeitos em estruturas e equipamentos 0,15-0,20 Colapso de concreto sem reforço ou

paredes de blocos de concreto

0,20-0,30 Colapso de estruturas de aço

0,35-0,40 Quebra ou deslocamento de condutas

0,70 Destruição total de edifícios, maquinaria pesada estragada

0,50-1,00 Deslocamento de tanques de armazenamento cilíndricos

O modelo de simulação deve ser adequado ao tipo de explosão física ou química a estudar, sendo relevante conhecer determinadas características da substância explosiva, como:

• O Limite Inferior de Explosividade, que é a concentração mais baixa a que um gás, ou vapor pode explodir;

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• O Limite Superior de Explosividade, que é a concentração mais alta a que um gás ou vapor pode explodir.

Para cada situação devem ser indicados todos os pressupostos assumidos, no que diz respeito às condições de operação, às condições meteorológicas, etc.

Os resultados da simulação devem ser apresentados em forma de isolinhas de risco, desenhadas num mapa onde estejam assinalados os recetores sensíveis e as fontes de perigo externas.

5.1.4.4 Avaliação do efeito dominó

Para os cenários de acidente que apresentem isolinhas de risco com níveis acima do limite de proteção das infraestruturas que alcancem fontes de risco externas, nomeadamente de outras instalações industriais, ou que alcancem fontes de risco da mesma unidade industrial, quando se trata de um projeto de alteração do processo fabril, deve ser avaliada a consequência ambiental do efeito dominó.

Desta forma, entende-se que a ocorrência do cenário em avaliação pode originar a ocorrência de outro ou outros acidentes em fontes de risco que não estão a ser alvo de avaliação.

Esta avaliação necessita de informação disponível acerca do funcionamento das unidades processuais da instalação vizinha, o que nem sempre é possível. Assim, na impossibilidade da avaliação das consequências dos acidentes sequenciais, em fase de EIA, tem de vir indicado o impacte referido anteriormente, para que a autoridade competente tome as devidas providências.