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2 REFERENCIAL TEÓRICO

3.4 As funções discursivas dos MON na narrativa

3.4.8 Avaliar o fato narrado

Os três seguintes MON, todos identificados no lócus Coda, cumprem a função discursiva de avaliar o fato narrado.

Os MON conclusão e moral da história ocorreram juntos algumas vezes em Relatos de experiência oral, com a função discursiva de avaliar o fato que está sendo narrado imediatamente após a conclusão de seu Relato.

(128) [...] bom... no sábado passado... aliás... sábado retrasado... eu fui... botar um...

um... um som numa festa no shopping... e lá... tudo... encontrei com meus amigos e tal... nós estamos botando lá... a festa e tal... estamos lá na música... aí eu... virei pra um colega e falei “vem cá... será que você poderia deixar eu botar algumas músicas na festa também... pra que eu possa fazer propaganda do som...” aí ele virou pra mim e falou assim “ué... tá bom... se você sabe mexer... você... (pô)... bota... a festa...” mas... nisso... eu pensei que eles fossem ficar ali... quando eu virei pra trás... que eu fui procurar eles... para... me entrosar no assunto... eles tinham sumido... conclusão... a música já estava acabando... e eu tive que... que... sei lá... tive que... ver sozinho como é que fazia as coisas... conclusão... moral da história... o som estava alto... eu botei uma música que não tinha nada a ver... e todo mundo parou de desfilar... e ficou olhando pra minha cara... [...]

O MON E é o que sempre acontece também tem uma função avaliativa no discurso narrativo. Como já vimos, acumula com essa a função de evidenciador do fato narrado. Ao avaliar, expressa um certo tom de ensinamento através do exemplo, o que é típico do padrão discursivo narrativo Conto, onde foi identificado.

(129) [...] E lá no seu leito, a moribunda sentenciou:

— Aranha, filha ingrata, nunca poderás terminar teu trabalho. Será ele sempre desfeito por alguém, principalmente pelas empregadas arrumadeiras.

E é o que sempre acontece.

— Cigarra, filha ingrata, cantarás, cantarás, até rebentar pelas costas. E é o que sempre acontece.

— Abelha, filha boa, que tudo deixou por mim, os homens nunca saberão o segredo do fabrico do mel...

E ainda hoje, mesmo colocada em caixa de vidro, a abelha tapa tudo com cera e não deixa ver fazer o mel... [...]

Fonte: Conto/Corpus Contos Brasileiros.

Para sumarizar, destacamos, nos quadros seguintes, os lócus preferidos das instanciações em cada um dos padrões discursivos estudados:

Quadro 4: Os lócus dos MON na Lenda.

Padrão discursivo narrativo LENDA

LÓCUS MON

Resumo Vou contar/A história começa assim

Orientação Contam os antigos antepassados que Um dia/Uma vez/Certa vez/Outro dia Era

Complicação Um dia/Uma vez/Certa vez/Outro dia

Resolução Por fim

Coda Assim aconteceu

E assim foi/E assim é até hoje Dizem que

Dizem que foi assim Foi assim

Avaliação (Nenhuma ocorrência)

Quadro 5: Os lócus dos MON no Conto.

Padrão discursivo narrativo CONTO

LÓCUS MON

Resumo (Nenhuma ocorrência) Orientação Era uma vez

Um dia/Uma vez/Certa vez/Outro dia Contam que

Dizem que

Complicação Um dia/Uma vez/Certa vez/Outro dia

Resolução Por fim Foi assim

Coda Assim acaba a história E é o que sempre acontece

Avaliação (na

Coda) E é o que sempre acontece

Quadro 6: Os lócus dos MON no Relato de Experiência.

Padrão discursivo narrativo RELATO DE EXPERIÊNCIA

Resumo Olha Bom/Bem

Vou contar/A história começa assim

Orientação Bom/Bem

Era/Era uma vez/Era um belo dia Um dia/Uma vez/Certa vez/Outro dia

Foi o seguinte

Complicação Bom/Bem

Desculpa o parêntese Sim... mas aí

(Aí) eu sei que

Resolução Fim Por fim

Coda Conclusão

Moral da história

Essa foi mais uma das minhas experiências de estudante/Essa é minha experiência Avaliação (na Coda) Conclusão Moral da história

4 ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E OS MON

“Idéias educam idéias. Para educar pessoas, é preciso mais que

idéias. Sem encantamento, as idéias não se convertem, não se transformam, não se tornam carne e sangue do vivido.”

(ANTÔNIO, 1951)

A preocupação com a qualidade do ensino de língua portuguesa como língua materna tem-nos levado, ao longo de mais de duas décadas de atuação como docente em sala de aula, dos primeiros anos do ensino fundamental até o ensino superior, a um processo constante de questionamento sobre a nossa prática pedagógica, na busca de aperfeiçoar o processo pedagógico, desde a adequação curricular e as atividades pedagógicas desenvolvidas até à produção de nosso próprio material didático, de acordo com as diferentes realidades de sala de aula.

Na qualidade de pesquisadora sobre os fenômenos da linguagem, no âmbito da Linguística Aplicada, temo-nos questionado como as concepções de língua, linguagem, gramática e, finalmente, ensino podem se refletir na atuação docente, interferindo na interação professor-aluno e na escolha, aparentemente simples, de uma atividade didática para se trabalhar em sala de aula. Buscamos descobrir possibilidades ou caminhos metodológicos que possam auxiliar no processo de formação de professores, tanto em nível de graduação quanto de formação continuada, para que possam agir com segurança em sua prática pedagógica.

Essa busca por alternativas não é exclusividade nossa como docente e pesquisadora, mas tem sido uma novidade no âmbito da academia: reflete um clamor na área de educação7 e mais especificamente da Linguística, materializando-se como uma tendência recente de pesquisadores, como Oliveira e Cesário (2007), Bispo (2007), Furtado da Cunha e Tavares (2007), Silva (2008), dentre outros, os quais oferecem propostas de aplicação de resultados de pesquisas teóricas no âmbito da sala de aula, no ensino de língua portuguesa no Brasil.