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2 REFERENCIAL TEÓRICO

3.3.4 Os MON típicos da Orientação nos diferentes PDN

O Gráfico 5 mostra a distribuição dos diferentes tipos constatados nas Lendas, nos Contos e nos Relatos de experiência. Alguns desses MON ocorreram em apenas um padrão discursivo, enquanto outros apareceram em mais de um.

Gráfico 5: Padrões Discursivos e Marcadores da Orientação

No lócus Orientação, foram identificados 6 (seis) MON, com diferentes ocorrências nos diversos padrões discursivos, conforme descrição a seguir.

Nas Lendas, foram identificadas, especificamente, as instanciações Bom, Era e

Contam os antigos antepassados.

A instanciação Bom tem como função marcar o início ou a retomada da interlocução em que foi gerada a narrativa, no caso, por exemplo, do Relato de experiência oral (Ocorrência 29) do Corpus Discurso e Gramática.

A instanciação Era, sempre seguida de uma expressão nominal que descreve ou personagens ou o cenário da narrativa, também é bastante recorrente na Orientação das Lendas, tendo como função anteceder o imediato início da ação narrada. São comuns ocorrências tais como:

(30) [...] Era uma mulher gestante que estava na canoa dentro do rio. [...] Fonte: Lenda/Corpus Lendas do Amazonas

(31) [...] Era tudo apagado. [...]

Fonte: Lenda/Corpus Lendas do Amazonas.

No padrão discursivo Contos, foram identificadas especificamente as seguintes instanciações: Era uma vez, Uma vez e Contam que.

Os três MON marcam, de maneira geral, o início da ação narrada, mas apresentam algumas diferenças entre si.

Era uma vez funciona como um marcador de início da ação, muito comum no

padrão discursivo Conto. Além disso, o distanciamento temporal do narrador em relação ao fato narrado fica bem claro com o uso dessa instanciação.

O MON Uma vez também é bastante semelhante em sua funcionalidade com Era

uma vez, inclusive em sua marca temporal, diferindo apenas no fato de que este costuma

iniciar o Conto, enquanto aquele em inícios de novos episódios do mesmo fato, como mostram as ocorrências a seguir:

(32) [...] Era uma vez um moço muito preguiçoso, por nome João Grilo, casado de novo, mas não queria trabalhar. [...]

Fonte: Conto/Corpus Contos Brasileiros.

(33) [...] Um rei muito bom, dotado de excelente coração, costumava sair sozinho e disfarçado, pelas ruas da cidade, a fim de poder bem apreciar as necessidades do seu povo.

Uma vez, ao passar por uma rua, ouviu alguém cantando:

Ribeiros correm pro rio Os rios correm pro mar [...]

Fonte: Conto/Corpus Contos Brasileiros.

O MON Outro dia, também marcando temporalidade, embora bem mais frequente na Complicação, como veremos, foi identificado, em uma única ocorrência,

na Orientação, especificamente nos Relatos de experiência orais do Corpus Remanescentes Quilombolas, conforme o trecho abaixo.

(34) [...] M56-01: Aí, bẽi! ...ele chegô im casa...contô a histora pro povo...o povo num acreditô...disse quéra mintira do minino ... e disse... “cadê o preá?” ... “ele levô” ... “e cadê a baladêra?” ... levô tambẽi...

M50-02: E levô o preá...levô a chinela... levô tudo...

M56-01: Levô...dechô ele... levô o preá e levô a baladêra e levô a... M50-02: [Levô inté a camisa... e essa camisa deve de tá lá...né?] E: Talvez... aí porque é que se encantava, Aldízia?

M50-02: É purque era incantada... M56-01: Incantava esse canto...

E: Sim! ... o canto é encantado... mas o que é/ quem é que encanta? M56-01: O que é? ... e eu sei? ...eu num sei nẽi isplicá...

E: Por que ainda hoje não tem canto encantado?

M50-01: Tẽi! ... tẽi! ... aí, bẽi! ...Carlim... ôto dia... aconteceu... que o minino tomô uma cachaça... aí toda vida que tomava essa cachaça... tĩa aquele sentido de i pra esse canto... aí desceu... quano desceu presse canto... aí a criatura ia buscá ele... [...]

Fonte: Relato de Experiência/Corpus Remanescentes Quilombolas.

Analisando todo o contexto do diálogo que gera o Relato, percebemos que o MON Outro dia inicia um outro episódio da narrativa, com o objetivo de mostrar ao entrevistador que ainda hoje existe lugar encantado, conforme relatado no episódio anterior em que se narrou o misterioso desaparecimento da carga de mandioca.

Assim, à função de iniciador do novo episódio, acumula-se a função de sequenciador do fato narrado em uma situação de menor formalidade proporcionada pelo discurso oral produzido em situação de diálogo.

Com o objetivo de focar a atenção do interlocutor no fato que está sendo narrado, o MON foi o seguinte foi identificado sendo usado em um Relato de experiência na modalidade oral. Observe-se que esse MON aparece entre pausa, após a topicalização do fato que vai ser narrado, anunciando o início da narrativa, na seção de Orientação. Vale destacar a independência do MON do ponto de vista da concordância, já que, embora tendo como referente o SN “uma outra experiência”, cujo núcleo é um

substantivo feminino, é usado como se estivesse se referindo ao (fato) que vai ser contado, sem qualquer concordância de gênero.

(35) [...] uma outra experiência fantástica que eu passei ... foi o seguinte ... a escola pública em mil novecentos e oitenta ... não ... setenta e nove ... tava numa sacanagem tão grande ... a escola pública ... que resolveu adotar outro sistema ... [...]

Fonte: Relato de Experiência/Corpus Discurso e Gramática/Natal.

O MON Bem, conforme já comentado na ocorrência 28, apareceu em língua escrita unicamente no padrão discursivo Relato de experiência, como se fosse uma transposição do discurso oral para o escrito. Após topicalizar o tema da narrativa, no caso, através do título - O som do Shoping (sic) –, o narrador usa o marcador discursivo típico do discurso oral também na escrita, após o que inicia normalmente a narrativa, situando o leitor no espaço e no tempo, antes de iniciar propriamente o Relato da ação.

Para melhor clareza, repetimos o referido trecho abaixo.

(36) O som no Shoping - Bem, Em uma noite de sábado alugaram o meu equipamento de som para por em um desfile de modas no shoping de campo grande, aconteceu um imprevisto [...]

Fonte: Relato de Experiência/Corpus Discurso e Gramática/RJ.

No padrão discursivo narrativo Relato de experiência, identificamos ainda a instanciação Era um belo dia ensolarado, a qual tem como função discursiva marcar o início da ação narrada na Orientação da narrativa, conforme mostra a ocorrência (37).

(37) [...] Era um belo dia ensolarado, quando eu estava no muro da minha casa. Derrepente passou o caminhão de Almir Rangel [...]

Fonte: Relato de Experiência/Corpus Discurso e Gramática/RJ.