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O avanço tecnológico

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CAPÍTULO 1. TRANSFORMAÇÕES DO DIREITO: DE 1980 ATÉ NOSSOS DIAS

1.3 O avanço tecnológico

A Tecnologia diz respeito à forma de realização das coisas. Envolve, por exemplo, o emprego de determinadas ferramentas, materiais, técnicas, estratégias, máquinas, aparelhos etc, para a consecução de fins específicos. É desenvolvida a partir do conhecimento técnico e científico.

O objetivo da tecnologia é otimizar e facilitar a realização dos trabalhos a que nos propomos, resolvendo os dilemas que surgem na sua execução, criando recursos que possibilitem a solução dos problemas e a interação entre as pessoas. Na economia, é utilizada com vistas à maior produção, em menor tempo possível, da maneira mais confortável e conveniente, com melhorias da qualidade e redução de custos.

A tecnologia serve como um “termômetro” no momento de mensurar o nível de conhecimento de uma sociedade e constatar sua cultura. Pode integrar aqueles que dela fazem uso, mas também pode excluir socialmente as pessoas que não têm acesso a ela. Além disso, muitas vezes, os avanços tecnológicos exigem sacrifícios em relação ao meio ambiente, gerando o conflito de interesses e transformando paulatinamente a cultura e o mundo.

Com o advento da internet, e da popularização das mídias digitais, o campo da Educação, de forma geral, está sendo paulatinamente transformado. Com isso, a formação do bacharel em Direito do século XXI não é a mesma do século passado, pois o aluno tem acesso às bibliotecas digitais, pesquisa em tempo real, plataformas e sistemas de bancos de dados informatizados, sendo essas algumas das ferramentas que se disseminaram nas últimas décadas. Diante disso, questiona-se: qual o impacto das novas tecnologias no Direito e na natureza? Entende-se por novas tecnologias no Direito aquelas que implicam na forma de atuação do profissional da área para a realização de seu

trabalho, principalmente, a utilização do processo eletrônico e outras ferramentas virtuais, acarretando num impacto social que exige um novo perfil de gestor jurídico e de advogado.

Não podemos esquecer, contudo, que as experiências anteriores às tecnologias digitais são importantes e não devem ser descartadas. Foram elas que propiciaram a formação da cultura do conhecimento, em ascensão desde o Iluminismo (séculos XVII e XVIII) e que deram margem para a formação das culturas e das instituições atuais (CASTLES, 2002, p. 30).

Além de considerar o aspecto histórico, convém organizar o estudo das transformações sociais e do avanço tecnológico sob o olhar de investigadores de diversas linhas de estudo. Com essa visão interdisciplinar, é possível contemplar o maior número de variáveis que constituíram e perpassaram o fenômeno em exame. Segundo Castles (2002, p. 32), a interdisciplinaridade permite analisar os fatos, compará-los e disponibilizar, assim, um horizonte mais completo das vicissitudes das organizações da sociedade civil, que abarcam governos, empresas e o público em geral.

Se nos voltarmos à palavra tecnologia, perceberemos, ainda, que ela é ambígua e tem implicações sociais distintas, dependendo do contexto em que é aplicada. Uma tecnologia não é neutra e sua utilização é direcionada, geralmente, por quem detém o poder econômico, com um ou mais fins específicos. Isso gera muitas transformações sociais com impactos no Direito.

As tecnologias digitais podem também ser excludentes quando o cidadão não compartilha do conhecimento de seu uso. Na área do Direito não é diferente, já que a propositura, a pesquisa e o acompanhamento dos processos, por exemplo, acontece em meio eletrônico e por intermédio de certificado digital, que exige conhecimentos específicos de informática por parte do profissional do Direito. E, aqui, um exemplo de como as tecnologias digitais podem ser excludentes: no início da implantação do sistema eletrônico judicial, alguns anos atrás, muitos advogados tiveram dificuldades em aprender a propor e conduzir os processos de forma eletrônica, bem como fazer o acompanhamento dos prazos processuais no âmbito virtual. Alguns juízes e advogados chegaram até mesmo a se aposentar, por não conseguirem apropriar-se desses avanços tecnológicos.

mais exigentes, e porque não dizer, impacientes. Tudo considerado na rapidez de um botão on ou off. A avaliação sobre a prestação dos serviços e informações oferecida é realizada pela percepção da resposta instantânea ou do autoatendimento. As relações pessoais não seguem um caminho diferente. O estudioso Bauman (2004) explora essa liquidez das relações sociais contemporâneas depois do advento da internet:

[...] homens e mulheres, nossos contemporâneos, desesperados por terem sido abandonados nos seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis, ansiando pela segurança do convívio e pela mão amiga com que possam contar em um momento de aflição, desesperados por “relacionar-se”. É, no entanto, desconfiados da condição de “estar ligado”, em particular de estar ligado “permanentemente”, para não dizer eternamente, pois temem que tal condição possa trazer consigo encargos e tensões que eles não se consideram aptos nem dispostos a suportar, e que podem limitar severamente a liberdade de que necessitam para – sim, seu palpite está certo – relacionar-se... (BAUMAN, 2004, p.8).

Essa condição de estar “ligado permanentemente”, na verdade, faz com que os sujeitos estejam cada vez mais distantes; uma insatisfação constante com o que se tem - e uma ansiedade permanente pelo novo. É o que deduz Bauman (2004), ao refletir sobre os relacionamentos contemporâneos que são entendidos, na perspectiva do estudioso, como investimentos em que as garantias são cada vez mais frágeis:

Na medida em que os relacionamentos são vistos como investimentos, como garantias de segurança e solução dos seus problemas, eles parecem um jogo de cara-ou-coroa. A solidão produz insegurança – mas o relacionamento não parece fazer outra coisa. Numa relação, você pode se sentir tão inseguro quanto sem ela, ou até pior. Só mudam os nomes que você dá à ansiedade (BAUMAN, 2004, p. 30).

Em relação ao comércio, a cada semana são lançados novos tipos de celulares, computadores, máquinas e outros aparelhos. Essa cadeia fomenta relações sociais líquidas (BAUMAN, 2004) que estimulam, por sua vez, o consumidor a comprar cada vez mais. Ao adquirir itens mais modernos é preciso desfazer-se daqueles que temos em mãos e que são considerados “obsoletos”. Com isso, o descarte precoce de objetos no meio ambiente é algo banal no nosso dia a dia. A natureza recebe esses equipamentos e sofre extrema degradação. Por isso, o tema do direito ambiental deve ser colocado

em pauta junto ao do consumo de equipamentos tecnológicos.

Lipovetsky (2010, p. 11), ao fazer uma análise da história da moda, traz um pertinente apontamento sobre a cultura do efêmero: “foram os valores e as significações culturais modernas, dignificando em particular o Novo e a expressão da individualidade humana, que tornaram possíveis o nascimento e o estabelecimento do sistema da moda da Idade Média tardia”.

Percebe-se que as relações sociais da efemeridade já existiam anteriormente às tecnologias digitais e ao advento da internet. Só que, concordamos com Bauman (2006), essa cultura se intensificou com as potencialidades das relações sociais líquidas: “viver num mundo líquido- moderno conhecido por admitir apenas uma certeza – a de que amanhã não pode ser, não deve ser, não será como hoje – significa um ensaio diário de desaparecimento, sumiço, extinção e morte” (BAUMAN, 2006, p.12).

Na esfera profissional, em razão da tecnologia, as pessoas passaram a se aprofundar mais em áreas específicas do conhecimento. Com vistas à especialização, as profissões são compreendidas sob novas perspectivas técnicas e práticas. Em alguns setores, é desestimulado o conhecimento teórico aprofundado em prol do pragmatismo.

Como consequência disso, os cursos universitários ganharam ramificações distintas. A atuação profissional de uma pessoa em diversas áreas diferentes do conhecimento tornou-se rara. A formação está cada vez mais voltada para os profissionais que sejam especialistas em suas áreas e não mais generalistas, como ocorria na Escolástica.

Ponderamos que os especialistas foram e são essenciais para o avanço das ciências, principalmente nas áreas da saúde e engenharia. Por outro lado, há uma crescente demanda social por conhecimentos que não são desenvolvidos na formação direcionada tecnicista. Buscam-se profissionais de excelência em cada área do saber e, com isso, cria-se um maior isolamento entre os campos do conhecimento.

Embora o especialista aprofunde-se num campo delimitado do conhecimento, isso tem figurado como vantajoso para determinados segmentos da sociedade, já que novos empregos surgiram e, com eles, novas possibilidades. De outro ponto de vista, os profissionais recém-formados estão cada vez menos preparados para os desafios do mundo globalizado que, como

examinamos no tópico anterior, desterritorializa e integra diversos espaços e culturas e, por que não dizer, também as áreas do conhecimento humano.

No âmbito da Educação, a tecnologia fez com que a escola perdesse seu monopólio de transmissão do saber. As fontes onde os alunos buscam informações e conhecimento são agora plurais e distintas do ambiente escolar. Não obstante, algumas dessas fontes não oferecem o aprofundamento teórico e a validação científica necessária para a profícua difusão do conhecimento.

As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), possibilitaram que os dados fossem armazenados e divulgados com mais rapidez, de forma dinâmica e prática. Isso produziu percepções e ideias diferentes sobre a socialização do conhecimento acumulado e trouxe ganhos para os diversos setores da vida cotidiana: do lazer, com os jogos e plataformas de redes sociais digitais, até o mundo do trabalho, com o acesso informatizado aos dados das empresas.

Turkle (1997) faz uma instigante metáfora. Em nossos tempos, o computador tornou-se uma espécie de espelho em que se refletem os oceanos de informações que temos acesso a cada clique, ou seja,

Nestes últimos tempos, o computador tornou-se algo mais do que um misto de ferramenta e espelho: temos agora a possibilidade de passar para o outro lado do espelho. Estamos a aprender a viver em mundos virtuais. Por vezes, é sozinhos que navegamos em oceanos virtuais, desvendamos mistérios virtuais e projetamos arranha-céus virtuais. Porém, cada vez mais, quando atravessamos o espelho, deparam-se- nos outras pessoas (TURKLE, 1997, p.11-12).

Observando essas mudanças nos diferentes estames sociais, é preciso considerar que o professorado e o alunado utilizam programas e aplicativos no seu cotidiano e precisam utilizá-los também em sala de aula. Mas esse uso tem que ser produtivo para os processos de ensino e de aprendizagem. Para isso, de um lado, o professorado tem que se apropriar das tecnologias digitais, considerando-as como ferramentas pedagógicas e, de outro, os alunos têm que perceber esses aparatos como significativos para sua aprendizagem. Isso ocorrerá quando o meio virtual se tornar, dentro do plano de ensino, um meio social acessível, prático e lúdico para a tríade professor- conhecimento- aluno.

sendo substituídos por opções metodológicas que acolham os aparatos tecnológicos modernos. O ensino – em qualquer área, indepedente de seus níveis – não pode ignorar a aproximação de mídias variadas que introduziram novas formas de pensar e de realizar o aprendizado. Para tanto, o ambiente pedagógico deve propiciar um aprendizado mais conectado com a realidade e com as exigências atuais do mercado de trabalho, para além do tecnicismo e da educação bancária (FREIRE, 2002).

Com as tecnologias da informação também é possível trabalhar diversas temáticas. Por exemplo, podem ser tratadas questões relacionadas à socialização, interação, mediação e, com isso, integrar e aplicar os conhecimentos teóricos às experiências de vida. A prática e a teoria seriam complementares do mesmo processo.

É um desafio este o de rever os processos de ensino e de aprendizagem em conformidade com as tecnologias digitais. Com os novos recursos disponíveis, podemos desenvolver competências importantes e tornar o aprendizado mais efetivo, interativo e significativo, voltado para tornar o aluno protagonista da sua educação, detendo mais autonomia dentro desse processo, conforme Preti (2000) explica:

ter autonomia significa ser autoridade, isto é, ter força para falar em próprio nome, poder professar (daí o sentido de ser professor) um credo, um pensamento, ter o que ensinar a outrem, ser possuidor de uma mensagem a ser proferida. Em outras palavras, é ser autor da própria fala e do próprio agir. Daí a necessidade da coerência entre o dizer e o agir, entre a ação e o conhecimento, isto é, a não-separação desses dois momentos interdependentes (PRETI, 2000, p.131).

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Num contexto social onde o conhecimento tecnológico é cada vez mais necessário e valorizado, urge a necessidade de adaptação das instituições de ensino a essa dinâmica. Para tanto, é preciso que haja a capacitação docente para que as ferramentas digitais não sejam mais negligenciadas ou subutilizadas como de fato são. Não se pode olvidar que a internet é um meio de comunicação, interação e aprendizado, pois possibilita um mundo interligado, onde as distâncias podem ser aproximadas, o acesso à informação facilitado e a forma de realizar o trabalho otimizada.

Diante desse cenário, o professor pode inserir novas tecnologias em sua metodologia de ensino, como o uso do computador, pesquisas por meio de

celular, leitura de revistas jurídicas em ambiente virtual, implementação de fóruns para discussão de temas polêmicos etc, ampliando o instrumental didático e transformando as ferramentas de ensino e, com isso, construir novas experiências de aprendizado. Recursos como aplicativos, mapas mentais, vídeos, jogos digitais etc, são importantíssimos e muito bem aceitos pelos alunos, já que estamos diante de um novo cenário educacional.

Essa integração deve ser conduzida de forma consciente e responsiva, bem como trabalhar o senso de equipe, a ideia de grupo e a socialização. Com isso, são vencidas as barreiras do individualismo, do isolamento e do reducionismo. É importante que o aluno compreenda que as tecnologias digitais são uma parte necessária e integrada ao processo de ensino e aprendizagem e não apenas um intermediário ou passatempo.

Cabe às instituições de ensino viabilizar o acesso às novas tecnologias para que o aluno esteja, sobretudo, preparado para enfrentar o mercado de trabalho. Na área do Direito, isso é imprescindível, dada a informatização do sistema judiciário e de seus diversos organismos colaboradores. Ao se formar, os futuros advogados devem ter domínio sobre esses sistemas e plataformas digitais. A tecnologia é, pois, uma forma de comunicação que detém uma linguagem própria que pode sim ser excludente, quando o sujeito não a domina.

Deve-se considerar que “hoje em dia, pessoas mais velhas socializam- se de maneira diferente das crianças (…); de acordo com cientistas, uma linguagem aprendida mais tardiamente na vida vai para outra parte do cérebro” (PRENSKY (2001, p.2). Prensky (2001) desenvolve esse raciocínio diferenciando nativos digitais de imigrantes digitais. Os primeiros nasceram imersos na cultura digital, enquanto que os segundos foram aprendendo, ao longo de sua vida, a utilizar os equipamentos digitais. Isso causa, conforme Passarelli, Junqueira, Angeluci (2014), diferenças na maneira de apre(e)nder entre os imigrantes e nativos digitais:

Imigrantes digitais seriam então aqueles que estão em processo de aprendizagem e adaptação de aspectos e características que são genuínas e naturais aos nativos digitais, como: a recepção de informações de maneira ágil e rápida; a preferência por processos randômicos de acesso aos conteúdos; a tendência ao imagético em detrimento do textual; a realização de atividades multitarefas e

processos paralelos, entre outros (PASSARELLI; JUNQUEIRA; ANGELUCI, 2014, p. 162).

Além disso, os nativos e os imigrantes digitais estão, ambos, sujeitos à “ordem do sensível” e “do inteligível”. Conforme explicam Coelho, Costa e Mattar (2018), os nativos estão mais sensivelmente afetados pelas tecnologias, porque desde a tenra idade tiveram acesso a esses equipamentos e suas características, ao passo que, os imigrantes digitais, tiveram acesso ao saber digital, prioritariamente, pela ordem do inteligível, porque tiveram que se adaptar a esses aparatos. Assim,

O nativo digital, em geral, está mais envolvido sensivelmente com o saber digital, portanto sua interação com a cultura digital é mais da ordem do sensível do que do inteligível. Já o imigrante digital tem um contexto diferente. Ele não nasceu imerso na cultura digital, por isso seu contato com os aparatos tecnológicos é mais tardio. Daí o seu envolvimento ser mais da ordem do inteligível do que do sensível (COELHO; COSTA; MATTAR, 2018, p. 1090).

De outro ponto de vista, esses primeiros contatos, sensíveis ou inteligíveis, podem ser estimulados ou não. Por isso, Coelho, Costa e Mattar (2018) prevêem outras posições para os nativos e os imigrantes, para além da estereotipia de que os nativos são mais propensos a dominar as tecnologias do que os imigrantes digitais:

Observando essas possibilidades, salientamos que o sujeito pode ir da posição inicial para a final ou inverter esse trajeto. Em outras palavras, ele pode estar minimamente inserido na cultura digital e, depois, interagir com os aparelhos digitais e, então, participar ativamente dessa cultura [...]. Ou, contrariamente, ele pode ter nascido na Era Digital, fazer uso esporádico dos aparatos tecnológicos e não ser necessariamente um adepto das novas mídias [...]. Outra probabilidade é que, ao longo de sua vida, ele mude, sensível e inteligivelmente, seu modo de pensar e usar as novas tecnologias [...]. (COELHO; COSTA; MATTAR, 2018, p. 1089).

Essa gradação das possibilidades, proposta pelos pesquisadores supracitados, denota que o fenômeno das tecnologias afetou, profundamente, as relações interpessoais. Por isso, foi necessária a criação de legislação que pudesse responder às demandas sociais na esfera dos direitos do consumidor, na defesa dos direitos autorais e patentes e também no âmbito do Direito Penal. Nesta última área, foram criadas normatizações para tipificar ilícitos antes inexistentes, como, por exemplo, o desvio de dinheiro de contas

bancárias por meio de fraudes ou invasões cibernéticas, furto de informações confidenciais, a invasão da privacidade por meio de redes sociais digitais, dentre outros.

Uma das primeiras leis que surgiram no ordenamento jurídico tratando sobre essa temática foi a lei nº 12.737/2012, conhecida como lei Lei Carolina Dieckmann6. Essa lei tipifica os delitos ou crimes informáticos. O Projeto de Lei

nº 2.793/2011, que deu origem à lei, foi apresentado em 29 de novembro de 2011, pelo Deputado Paulo Teixeira (PT-SP). O interessante foi que o projeto de lei tramitou em regime de urgência e foi sancionado em tempo recorde no Congresso Nacional, em comparação com outros projetos sobre delitos informáticos que as Casas de leis apreciavam naquele momento, como a Lei Azeredo (lei ordinária nº 12.735/2012) que tinha seu projeto de lei em tramitação desde 1999 (Projeto de Lei 84/1999).

Sobre a Lei nº 12.737/2012, são tipificados os seguintes crimes e penas:

1) Art. 154-A - Invasão de dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita. Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

2) Art. 266 - Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública - Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

3) Art. 298 - Falsificação de documento particular/cartão - Pena - reclusão, de um a cinco anos e multa.

Duas são as principais críticas à supracitada lei. A primeira é que a descrição dos crimes é muito ampla e apresenta termos ambíguos, o que daria ensejo à morosidade do processo, ou até mesmo, sua nulidade, a depender do juízo emitido sobre a letra da lei em cotejo com o caso concreto. A segunda, é a pena aplicada aos crimes, considerada por diversos magistrados como inócua, porque, na prática, não levaria o criminoso a um tempo de reclusão (ou condição de reparação) condizente com o dano, se considerada a difusão

6 A referência à atriz brasileira se deve ao um escândalo ocorrido em maio de 2012. Nessa ocasião, foram captadas e divulgadas na internet sem autorização prévia 36 fotos intimas de Carolina Dieckmann. Segundo a vítima, seu computador foi invadido após a abertura de um e- mail com vírus.

massiva que a internet pode proporcionar aos conteúdos e dados evadidos e divulgados indevidamente e os danos materiais e morais dela decorrentes.

A Lei nº 12.735/2012, por sua vez, tem como objetivo tipificar condutas ilícitas realizadas mediante o uso de sistemas eletrônicos, digitais ou similares. Essa mesma lei determina a instalação de delegacias especializadas para tratarem dos crimes dessa espécie. Como se pode imaginar, houve a necessidade de capacitação dos profissionais do Direito envolvidos nessas questões.

Ademais, em 2014, foi sancionado o Marco Civil da Internet (Lei nº12.965/2014). Essa lei regula os direitos e deveres dos internautas e reafirma a proteção aos registros, aos dados pessoais e às comunicações privadas, bem como à liberdade de expressão. De forma geral, é uma lei que protege os dados pessoais e a privacidade dos usuários em meio virtual, descrevendo as infrações e as penas aplicáveis. Determinou, inclusive, que somente mediante ordem judicial haverá a quebra de sigilo com acesso a dados e informações particulares presentes em sites ou redes sociais digitais. Esse escopo jurídico

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