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Expectativas do alunado do curso de Direito

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CAPÍTULO 2 O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DO BACHAREL EM DIREITO: MEDIAÇÃO DE LEIS, SABERES E INTENCIONALIDADES

2.3 Expectativas do alunado do curso de Direito

O Direito pode figurar como uma porta aberta à cidadania, se houver por parte do professor de Direito a compreensão da importância de se tratar o aluno como sujeito da educação e não seu objeto. É necessária a conscientização docente acerca da concepção pedagógica que fundamenta sua atuação. Nessa perspectiva, é preciso, por sua vez, o entendimento de quais são as expectativas do alunado do curso de Direito e a busca por tentar neutralizar a ideologia neoliberal que há por trás do Direito.

Temos que considerar que o curso de Direito é uma das formações com mais alunos matriculados no Brasil. Houve um estrondoso aumento do número de matrículas nos cursos de Direito no Brasil, principalmente, em instituições particulares.

De 2006 até 2016, houve um aumento de 62,8% no número de matrículas em cursos de graduação e sequencial no Brasil, conforme dados divulgados pelos censos do IBGE e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), com uma média de crescimento de 4,9% ao ano.

Comparando os anos de 2009 e 2016, o curso de Direito saiu da terceira colocação para a primeira, entre os cursos de ensino superior com o maior número de matrículas.

Gráfico 1. Número de matrículas em cursos de graduação e sequencial: de 2006 a 2016, no Brasil

Fonte: Blog do Exame da Ordem (2017) a partir dos dados dos censos do IBGE e INEP.

Gráfico 2. Cursos de graduação com os maiores números de matrículas: comparação entre 2009 e 2016

Fonte: Blog do Exame da Ordem (2017) a partir dos dados dos censos do IBGE e INEP.

especializados na área do Direito, o Blog do Exame da Ordem, em 2016, foram mais de 862.324 estudantes matriculados no curso, no escopo de mais de oito milhões de estudantes no nível superior. Como mostrou o Gráfico 2, isso representa que um, a cada dez universitários no Brasil, cursa Direito. Uma das maiores críticas ao curso é que há uma assimetria entre o que os cursos universitários oferecem e o que o mercado de trabalho na área requer. O número de Faculdades de Direito também aumentou de maneira acelerada no País, como podemos observar no Gráfico 3 a seguir:

Gráfico 3. Número de faculdades de Direito autorizadas pelo Ministério da Educação no Brasil de 1995 a 2017

Fonte: Própria autoria, a partir dos dados dos censos do IBGE e do INEP.

Como se nota no Gráfico 3, de 1995 a 2017, ou seja, em 22 (vinte e dois) anos, saltamos de 165 para 1313 Faculdades de Direito no Brasil. Destaca-se que até meados da década de 1990, não existia no Brasil um processo de avaliação sistemática e continuada da qualidade do ensino superior e, por conseguinte, dos próprios cursos de Direito.

O marco zero do processo de avaliação do ensino superior no Brasil foi dado em 1995, quando aprovada a Lei nº 9.131/1995, que criou o Exame Nacional de Cursos (ENC),o qual ficou popularmente conhecido como Provão. Foi esse teste que analisou e classificou anualmente, entre 1996 e 2003, os cursos de graduação selecionados, conforme conceitos que vão de

´´A´´ a ´´E´´.

Em 1996, a LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu artigo. 9º, conferiu responsabilidade à União por “autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino” (BRASIL, 1996). Em 2001, o Plano Nacional de Educação, em seu artigo 4º, destacou que “a União instituirá o Sistema Nacional de Avaliação e estabelecerá os mecanismos necessários ao acompanhamento das metas constantes do Plano Nacional de Educação”. Depois disso, foram introduzidas e instrumentalizadas uma série de metas e indicadores complementares para avaliar, credenciar e fiscalizar as instituições de ensino superior em todo o território nacional.

O art. 3º do Decreto nº 9.235/2017 (BRASIL, 2017) determina que as competências para regulação, supervisão e avaliação dos cursos da educação superior deverá ser exercida pelo MEC – Ministério da Educação e Cultura, pelo CNE - Conselho Nacional de Educação, pelo INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira e pela CONAES - Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior. Conforme o art. 10º do referido Decreto, as instituições de ensino superior estão sujeitas à fiscalização periódica do Ministério da Educação para funcionarem, cujos atos fiscalizatórios se expressam por meio da autorização, reconhecimento ou renovação de reconhecimento das referidas organizações. Por isso, antes de iniciarem as suas atividades, as instituições de ensino superior devem apresentar perante a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação o seu pedido de autorização, que pode ou não ser deferido, dependendo do cumprimento dos requisitos exigidos para tanto. A partir desse procedimento, as instituições de ensino são credenciadas como faculdades, centros-universitários ou universidades, dependendo de sua organização e estrutura.

A autorização diz respeito, portanto, à permissão para abertura do curso superior. A Portaria nº 20/2014 do Ministério da Educação estabelece, por sua vez, os critérios, padrões decisórios e requisitos a serem observados para os pedidos de autorização de abertura e funcionamento dos cursos de graduação em Direito. Nesse documento, foram estabelecidas normas mais rígidas para a

abertura de novos cursos, como, por exemplo, a exigência de Índice Geral de Cursos - IGC ou Conceito Institucional igual ou maior que três, se existentes, sendo considerado aquele mais recente. O conceito de curso, contudo, deve ser igual ou maior que 4 (o máximo é nota 5).

Além disso, a instituição deve contar com um Núcleo Docente Estruturante que esteja previsto e executado conforme o Projeto Pedagógico da IES. Há que se demonstrar, ainda, a imperiosa necessidade de abertura de um curso de Direito na região onde se pretende implementá-lo, ou seja, a ´´relevância social´´ do curso de Direito, requisito obrigatório a ser cumprido pela IES. No tocante ao professorado, é exigida a titulação docente em nível de pós-graduação stricto sensu (mestrado e/ou doutorado).

Essa autorização, no caso específico do Direito, leva em conta o parecer do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Esse órgão expressa a sua opinião acerca da conveniência ou não da autorização de funcionamento do curso de Direito em determinada região. Concedida a autorização, a instituição de ensino superior – IES, pode dar andamento ao curso e iniciar as suas atividades. Após a autorização, o curso precisa ser reconhecido.

O Reconhecimento do curso é um segundo momento da fiscalização exercida pelo Ministério da Educação. É um procedimento solicitado pela própria IES após o cumprimento de, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) da carga horária do curso de graduação em Direito, com sua primeira turma. É uma etapa obrigatória para a validade dos diplomas e certificados de conclusão de curso a serem emitidos pela instituição. A OAB é novamente consultada nessa fase fiscalizatória.

As principais dimensões avaliadas pelo Ministério da Educação são, conforme a Portaria n° 762, publicada no dia 10 de agosto de 2018 (BRASIL, 2018a):

a- a missão e o plano de desenvolvimento institucional (PDI);

b- a política para o ensino (graduação e pós-graduação), a pesquisa, a extensão e as respectivas normas de operacionalização, incluídos os procedimentos para estímulo à produção acadêmica, para as bolsas de pesquisa, de monitoria e demais modalidades;

c- a responsabilidade social da instituição, considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural e a comunicação com a sociedade;

d- as políticas de pessoal, de carreiras do corpo docente e corpo técnico administrativo, seu aperfeiçoamento, seu desenvolvimento profissional e suas condições de trabalho;

e- a organização e gestão da instituição, especialmente o funcionamento e representatividade dos colegiados, sua independência e autonomia na relação com a mantenedora;

f- a participação dos segmentos da comunidade universitária nos processos decisórios;

g- a infraestrutura física, especialmente a de ensino e de pesquisa, biblioteca, recursos de informação e comunicação;

h- o planejamento e avaliação, especialmente em relação aos processos, resultados e eficácia da auto-avaliação institucional;

i- as políticas de atendimento aos estudantes com problemas de aprendizado e socialização;

j- a sustentabilidade financeira, tendo em vista o significado social da continuidade dos compromissos na oferta da educação superior;

k- o conceito institucional, obtido pela conjugação de diversos fatores.

O reconhecimento do curso é periódico e a renovação deve ser solicitada no final de cada ciclo de avaliação realizada pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), que, geralmente, ocorre a cada três anos. Ele serve como referencial básico nos processos de regulação e de supervisão da educação superior, buscando a melhoria da qualidade do ensino ofertado.

O SINAES é responsável por promover os seguintes processos de avaliação das instituições de ensino superior: avaliação interna, avaliação externa in loco – realizada pelo Inep – , avaliação dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus estudantes, por meio do ENADE – Exame

Nacional de Desempenho dos Estudantes.

Para o reconhecimento do curso, o Ministério da Educação avalia também se as propostas apresentadas pela instituição de ensino superior, quando da solicitação de autorização do curso, foram cumpridas, bem como se foram observadas as suas determinações iniciais, se houveram. Em 17 de dezembro de 2018, foram publicadas as novas diretrizes do curso de Direito (BRASIL, 2018b) por meio da Portaria nº 1.351/2018. Os cursos de Direito terão o prazo de até dois anos, a partir da publicação, para se readequarem às novas diretrizes.

Segundo a referida portaria, o Projeto Pedagógico do curso de Direito deve considerar o seu contexto político, geográfico e social, ser, portanto, aberto e adequar- se às necessidades de cada região. Impõe, também, que o projeto trabalhe de forma transversal8 com conteúdos como as políticas de educação ambiental, a educação em direitos humanos, terceira idade, políticas de gênero, relações étnico-raciais, histórias e cultura afro-brasileira, africana e indígena. Ressalta, ainda, a importância de um ensino inter e transdisciplinar.

Os cursos de Direito deverão, seguindo essa legislação, propiciar uma formação, concomitantemente, humanística, técnica e prática. O curso deve se voltar, portanto, para a compreensão e valoração do fenômeno jurídico, fomentando o trabalho em equipe e a cidadania. Para isso, é incentivada a inserção de novos recursos tecnológicos ao ensino jurídico, atualmente, muito escassos.

Conforme a referida Portaria, os conteúdos curriculares devem ser definidos com autonomia pelos cursos de Direito em seus projetos pedagógicos. Para tanto, eles deverão apresentar em sua organização curricular conteúdos e atividades que atendam às seguintes perspectivas formativas:

I – Formação geral, que tem por objetivo oferecer ao graduando os elementos fundamentais do Direito, em diálogo com as demais expressões do conhecimento filosófico, humanístico, das ciências sociais e das novas tecnologias da informação, abrangendo estudos

8 Os temas transversais dizem respeito a questões consideradas pelo MEC importantes e

emergencias que devem ser discutidas no âmbito da educação, como a cidadania, a ética, o meio ambiente, o trabalho, a diversidade, a pluralidade cultural, dentre outros. Não se referem a disciplinas em específico, mas a conteúdos e atividades que devem permear toda a grade curricular.

que, em atenção ao PPC, envolvam saberes de outras áreas formativas, tais como: Antropologia, Ciência Política, Economia, Ética, Filosofia, História, Psicologia e Sociologia; II – Formação técnico- jurídica, que abrange, além do enfoque dogmático, o conhecimento e a aplicação, observadas as peculiaridades dos diversos ramos do Direito, de qualquer natureza, estudados sistematicamente e contextualizados segundo a sua evolução e aplicação às mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais do Brasil e suas relações internacionais, incluindo-se, necessariamente, dentre outros condizentes com o PPC, conteúdos essenciais referentes às áreas de Teoria do Direito, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Civil, Direito Empresarial, Direito do Trabalho, Direito Internacional, Direito Processual, Direito Previdenciário, Formas Consensuais de Solução de Conflitos; e III – Formação prático-profissional, que objetiva a integração entre a prática e os conteúdos teóricos desenvolvidos nas demais perspectivas formativas, especialmente nas atividades relacionadas com a prática jurídica e o TCC (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2018, p.4).

Como se verifica, houve a inclusão das disciplinas de Direito Previdenciário e Formas consensuais de solução de conflitos, exigências antes inexistentes nas grades curriculares do curso de Direito. Isso é uma preocupação do MEC de preparar os bacharéis em Direito para as complexas e recentes demandas sociais do País.

Por outro lado, a Portaria nº 1.351/2018 (BRASIL, 2018b) manteve a carga horária total mínima de 3.700 horas de atividades, na qual já estão incluídas as horas de estágio (prática jurídica) e de atividades complementares, cujo total das duas não pode ultrapassar em 20% o total da carga horária do curso.

Entendem-se mantidas as determinações acerca do ano letivo de duzentos dias, bem como em relação à carga horária a ser integralizada em, no mínimo, cinco anos. A duração máxima do curso também não pode ultrapassar o percentual de 50% em relação ao tempo de duração mínima do curso definida pela instituições de ensino superior.

Conforme o mesmo documento, conserva-se que os cursos noturnos devem ter o mesmo padrão de qualidade dos cursos diurnos, respeitando-se a carga diária máxima de quatro horas. Do total da carga horária do curso, deve- se destinar de 5% a 10% para a realização das atividades complementares. O estágio obrigatório continua a ter a carga horária mínima de trezentas horas, distribuídas ao longo de no mínimo dois anos ou quatro semestres (BRASIL, 2018b).

do Núcleo de Prática Jurídica nas dependências das instituições de ensino superior. Esse núcleo deve aplicar atividades simuladas e reais sob a supervisão de um professor, propiciando experiência prática aos discentes nas atividades pertinentes à advocacia e outras carreiras jurídicas. O estágio pode ser complementado mediante convênios com entidades afins.

Ao final do curso, o aluno deverá apresentar uma monografia final, o ``Trabalho´´ de Curso. Tal monografia deve ser sustentada oral e publicamente, na presença de banca examinadora especialmente organizada para esse fim.

No que tange à avaliação, conforme as diretrizes curriculares dos cursos de graduação em Direito (BRASIL, 2018a; 2018b), é realizada sob dois prismas distintos: a avaliação docente e a discente. A avaliação docente, a rigor, gira em torno de confirmar se o Projeto Pedagógico do curso está sendo cumprido a contento. No que toca à avaliação do desempenho discente, há uma orientação no sentido de estimular diferentes modalidades avaliativas, para uma percepção válida dos resultados obtidos.

Em relação à avaliação dos processos de ensino e de aprendizagem dos cursos de Direito, contudo, esse foi um pensamento inicialmente esposado pela Lei nº 4.215 de 1963. Hoje, é realizado por meio do Enade e do Exame da OAB, cuja regulamentação ocorreu apenas pela Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, a qual instituiu o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, atribuindo à OAB a competência para, por meio de provimento, regulamentar os dispositivos de um Exame de Ordem dos Advogados, que atualmente se apresenta de forma unificada, ou seja, uma única prova aplicada em todo o território nacional.

Além disso, a própria OAB emite um selo de qualidade do ensino jurídico e o oferece aos cursos de Direito que cumprem os requisitos legais e cujo ensino jurídico considera à altura das exigências do mercado atual de trabalho.

Desde 1995, ocorre o referido Exame de Ordem que permite, quando o candidato é aprovado, o exercício da advocacia em todo território nacional. A seguir, no Gráfico 4, temos os números de inscritos e os de aprovados da edição II a XVII:

Gráfico 4. Números de inscritos e aprovados da edição II a XVII do Exame da OAB

Fonte: Fundação Getúlio Vargas – Núcleo de Concursos (2016).

O Exame da OAB é criticado por alguns grupos de estudiosos, por entenderem que a avaliação realizada é pontual e não reflete a real condição de aprendizado por parte do alunado; rebatem-no, afirmando que o Exame é, inclusive, inconstitucional por colocar empecilho ao exercício da profissão de advogado, mesmo tendo cursado 5 (cinco) anos do curso de Direito e tendo obtido o Diploma de Graduação. Ressalta-se, contudo, que, em 26 de outubro de 2011, o Supremo Tribunal Federal manifestou-se acerca dessa questão e declarou a constitucionalidade do Exame da OAB, por decisão unânime entre os votantes. E como se pode acompanhar pelo cotejo entre o número de inscritos e o de aprovados, percebe-se que, a cada edição, o número de inscritos aumenta, enquanto que a porcentagem dos que são aprovados está, paulatinamente, diminuindo – embora haja bastante oscilação nas duas colunas. Os dados apresentados no Gráfico 4 foram divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que, desde 2010, por decisão do Colégio de Presidentes de Seccionais da OAB e de sua Diretoria, é a responsável pela realização do Exame de Ordem Unificado. A FGV fez um levantamento do perfil das IES que oferecem a graduação em Direito, com os dados coletados em 2013. A seguir, reproduzimos esse estudo:

Figura 1. Perfil dos cursos de Direito no Brasil: dados de 2013

Fonte: FGV (2016) com os dados coletados das sinopses estatísticas da Educação Superior, divulgadas pelo INEP e pela Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (SERES).

A partir dos dados da Figura 1, é possível traçar um perfil do alunado dos cursos de Direito e conjecturar suas expectativas com a sua formação. Como demonstra a Figura 1, são alunos majoritariamente matriculados em instituições privadas, estudam no período noturno, fazem uso de financiamentos públicos para custear o curso e possuem uma taxa de conclusão relativamente regular de 40%. Pelos dados do Gráfico 4, nota-se que há grande interesse em exercer a advocacia, porque a taxa de inscritos é bastante alta, em média mais de cem mil inscritos e contando que há, como mostra a Figura 1, o total de 95 mil concluintes – mesmo, ressalvando, que nem todo concluinte necessariamente presta o Exame, embora se saiba que a maioria das instituições de ensino os incentive e seja um desejo dos estudantes.

Partimos dos dados estatísticos para uma reflexão sobre os pensamentos que embasam o ensino jurídico e suas implicações sobre as expectativas do alunado de Direito. Ao analisarmos a evolução do Direito em

nossa sociedade, constatamos que a norma jurídica e os Tribunais foram compreendidos, muitas vezes, como instrumentos a favor da manutenção da ordem jurídica e política instituída. Entende-se, contemporaneamente, que a transformação social é algo que nem sempre é objetivado pelos profissionais de Direito.

Uma vez que o Exame de Ordem é uma meta-fim a ser conquistada, muitos cursos de Direito se voltam para uma formação restrita a essa etapa de formação do alunado. Com isso, o conhecimento jurídico acaba fundamentando-se num discurso conservador e técnico regido por uma pedagogia dogmática e formalista, centrada apenas no estudo dos códigos, nas formalidades legais, com aplicação da norma sem articulação com os domínios da ética e da política. Predomina, em sua maioria, a ideologia positivista e um ensino, não raras vezes, distante dos conteúdos sociais e humanísticos de nosso tempo. Para piorar esse quadro, as salas de aula contam com excessivo número de alunos, o que prejudica ainda mais a ministração das aulas. Além disso, ainda prevalece a didática superada e autoritária da pedagogia tradicional e do ensino bancário (FREIRE, 1987).

Uma formação conduzida nesses moldes não propicia aos bacharéis em Direito a possibilidade de entenderem os problemas atuais da sociedade brasileira. Ela acarreta na redução da capacidade de intervir e pensar nos problemas relacionados ao contexto sociopolítico. Com isso, as expectativas do alunado se reduzem, alinhadas apenas à técnica jurídica e afastada do poder de intervenção social que o conhecimento jurídico poderia proporcionar. Tudo fica reduzido, muitas vezes, a uma meta: passar no Exame de Ordem.

Atualmente, é vital relevar os aspectos sociais que revestem e impulsionam o Direito para fazer com que seja essencialmente justo, isto é, um instrumento a serviço da justiça. Para tanto, é preciso compreender a sua necessária interface com outras importantes áreas do conhecimento. Por isso mesmo, deve-se abarcar os fenômenos jurídicos de uma sociedade em constante transformação a outros fenômenos, que muitas vezes não estão previstos na norma emanada do Estado.

E qual a consequência de uma pedagogia do Direito que não reconhece sua responsabilidade social? O efeito é que o ensino se consubstancia apenas no aspecto tecnicista do Direito, com menosprezo ao

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