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120 baseia a distinção Hã alguns critérios propostos para a de�

finição de um nome próprio . Vamos apenas citá-los sem um exa­ me mais profundo: 1) unicidade, 2) identificação, 3) designa­ ção contra conotação, 4) som destinti vo, 5) critérios grama­ ticais.

Muitos filósofos lingüistas consideram os nomes próprios como marcas de identificação. Por oposição aos substantivos comuns , cuja função é inclui r espécimes particulares sob um conceito genérico - um nome próprio �rve só para identificar uma pessoa ou objeto, singularizando-os de entre as entida­ des semelhantes. Uma comparação usada freqüentemente é a de um "rótulo" fixado numa pessoa ou numa coisa para a i dentifi­ car, diferenciando-a de elementos similares. Esta analogia, apear de sua aparência moderna, é muito antiga, poi s rótulos contendo nomes próprios já eram encontrados em inscrições e papiros egipcios .

Para Ullmann, dos cinco critérios acima mencionados , o segundo é o mais Ütil. Os restantes crit;rios ou são de al­ cance limitado ou estão já implícitos na função identificado­ ra dos nomes.

A diferença essencial entre os substantivos comuns e os nomes próprios reside na sua função enquanto os primeiros são unidades significativas, os segundos são simples marca de identificação.

Embora seja fácil distinguir os nomes próprios dos subs­ tantivos comuns, a demarcação entre as duas categorias não é de modo algum decisiva, como por exemplo nome de lugar que na origem são substantivos comuns, apelidos, nomes de pes-

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O proces so inverso pelo qual o nome próprio se trans for­ ma num substantivo comum também é bastante freqüente . Estas mudanças j á são conhecidas e dispensam uma análise detalhada . Em termos gerais, enquadram-se em dois grupos . Alguns são

"metafóricos ", baseadas em qualquer tipo de semelhança ou as­ pecto comum. � o fator em j ogo quando uma pes soa ou um lugar dão o seu nome a uma clas se inteira de pes soas ou lugares se­ melhantes . O segundo grupo é "metonímico", baseado em qual­ quer relação, menos a semelhança : a que há entre o inventor e a invenção, entre o produto e o lugar de origem, por exemplo . A transparência do substantivo comum dependerá do maior ou menor grau de conhecimento do nome próprio. A derivação de um

substantivo comum a partir de um nome próprio pode também ser obscurecida por diferenças fonéticas .

Semanticamente, a trans formação de um nome próprio numa palavra vulgar envolve uma considerável ampliação do seu al­ cance. Quando . um substantivo comum se trans forma num nome próprio, a mudança pode ser acompanhada por uma restrição no

seu alcance, mas há certamente uma restrição quando um subs­ tantivo comum se transforma num nome de lugar, mas como nomes próprios designarão apenas um lugar ou, quando muito, um pe­ queno número de lugares homônimos . Em todos esses proces sos, a ampliação ou restrição que possa ter ocorrido é de impor­ tância secundária; o ponto principal é que uma marca de iden­ tificação se tornou num s ímbolo significativo ou vice-versa .

Ana Maria Machado em seu livro Re cado do Nome, Uma Le i-

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apresenta no primeiro capitulo a seguinte questão: "Nome Pró­ prio: Indice ou Signo?" em que vários autores se posicionam.

A seguir, transcrevemos alguns trechos merecedores de atenção especial.

As abordagens tradicionais da questão geralmente nega­ ram ao Nome todo e qualquer ca.ráter �igni.ficativo. Aristóte­ les, assinalando o aspecto convencional e arbitrário do nome em geral, observa particularmente que, no caso do nome pró­ prio, as partes dotadas de um significado originário o per­ dem para constituir o Nome. Pierce vê o nome próprio apenas como Índice. John Stuart Mill, negando no nome próprio a pos­ sibilidade de existência de conotação, conclui que ele é des­ provido de significado. Bertrand Russe l vê no Nome o modelo lógico do pronome demonstrativo cuja função não seria signi­ ficar, mas apenas mostrar, indicar. Para Gardiner os nomes próprios são marcas de identificação reconhecíveis, não pelo intelecto, mas pela sensibilidade, simples sonoridades dis­ tintivas, de caráter não significante. SÓ a partir de Lévi­ Strauss é que vamos encontrar uma interpretação áiametralmen­

te oposta, reconhecendo ao nome próprio uma significação e mesmo um papel de operador de classificação. Para ele, "Os nomes próprios são parte integrante dos sistemas tratados por nós como códigos: meios de fixar significações, transpondo-as em termos de outras significações11 9 5

O Nome não é índice, mas signo e elemento classificató­ rio. Não nos deixemos enganar pela expressão · nome próprio.

Próprio por quê? Propriedade de seu portador, Por um lado, se

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individuo que é nomeado, ele marca também sua pertinência a uma classe predeterminada (família , classe social , clã , meio cultural , nacionalidade , etc . ), sua inclusão em um grupo. O nome próprio é a marca lingüística peia qual o grupo toma posse do indivíduo , e esse fenômeno é geralmente assinalado por ritos , cerimônias de aquisi ção ou mudança de Nome . A de­ nominação é também a dominação do indivíduo nomeado pelo gru­ po.

O Nome marca também um aspecto da subjetividade ou da posj_ção social daquele que nomeia, e que é significado pelo Nome que escolhe . Portanto, o Nome é sempre significativo . E sempre uma forma de classificação.

Além disso, não é próprio por ser somente uma proprieda­ de de seu portador, mas porque lhe é apropriado. Duplamente apropri ado: marca de uma apropriação pelo outro, e escolhido segundo urna certa adequação àquele que é nomeado, para expri­ mir aquilo que lhe é próprio enquanto indivíduo , aquilo que nao é comum a toda a espécie . E com essa operação, volta-se a classificação . Significa ção e classificação estão sempre es­ treitamente li gadas no nome próprio .

Bá um� corrente que afirma que , em uma sociedade como a nossa , o nome indica o indivíduo, e os apelidos e alcunhas o significam .

Há os que acreditam que quando um autor confere um nome a um personagem , já tem uma idéia do papel que lhe destina , mesmo que , em certos casos, o nome aja sobre o personagem, até modificando-o . � licito supor que, em grande parte dos casos, o nome do personagem é anterior ao texto .

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