tenções esclarecedoras separamos: "é preciso explorar sempre as estruturas léxicas, onde toda a palavra se insere e as es truturas semânticas, onde toda a palavra adquire sentido"6 º
.
O jeito, a forma , os processos e os recursos dependerão de quem se proponha a fazê-lo ; no caso, estudaremos a estra tégia da abordagem léxico-semântica de Ana Maria Machado.
5 . 2 . l - Recursos MorfolÕgicos 5 . 2 . 1 . 1 - Formação de Palavras 5 . 2 . 1 . 1. 1 - Derivação
No que diz respeito aos processos de formação de pala vras, ocupa a derivação papel importante na constituição do vocabulário de Ana Maria Machado.
Entendemos por derivação o processo pelo qual a palavras já existentes, acrescentam-se certos elementos formativos, fazendo com que elas adquiram sentido novo, que se referem
entretanto, ao significado da palavra primitiva . Na derivação se estrutura um vocábulo na base de outro . Talvez seja no es tudo dos prefixos e sufixos que observamos mais claramente a evolução e vida das palavras .
Os radicais, base fundamental dos vocábulos, elementos de significação geral, vaga e indeterminada , às vezes nas línguas de flexão, recebem dos prefixos e sufixos, seu modo de ser, sua individualidade e precisão, e, se aqueles radi-
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cais podem nestes influir, modificando-os, tanto em sua forma quanto nas modalidades de seu sentido, estes, por sua vez, influem nos radicais, introduzindo-lhes elementos novos, substituindo-os, aumentando-os, diminuindo-os ou eliminan do-os .
Estas duas séries de ações e reações caracterizam os elementos rnórficos dos vocábulos, oferecendo o radical o es boço da palavra; os prefixos e sufixos os instrumentos que lhe determinam os contornos, dando-lhe feições, corpo e fei tio conhecidos .
5 . 2 . 1 . 1 . 1 . 1 - Derivação Sufixal
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através da derivação sufixal que se formam substanti vos, adjetivos, verbos e advérbios, razão pela qual o sufixo pode s er classificado em nominal, verbal e adverbial . Assim, em português, os sufixos têm como função precipua - morfoló gica - formar novas classes gramaticais, sem alterar a sig nificação do radical .Corno elementos de formação vocabular que essencialmente sao, a sua posição no interior do sistema lingüístico é muito mais rnórfica do que semântica . Servem, principalmente, para transpor um radical de urna categoria de palavras para outra . Essa vacuidade nocional, com algumas exceções, facilita o fenômeno da saturação afetiva, e faz de muitos sufixos portu gueses vigorosos elementos estilísticos.
Ana Maria Machado por meio de sufixos acoplados a radi cais de significações diversas, vai nomear objetos, seres,
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situações. Isto se torna particularmente importante pois, de outra maneira, não conseguiria traduzir o que si gnificam, pe la dificuldade de expressão ao utilizar apenas termos conhe cidos da língua . Este processo concebe relações engenhosas e criativas, sendo importante observar que original é o produ to do sufixo anexado ao radical normalmente não combinado com o mesmo e não o sufixo em si. Corroborando isso, Machado Câmara Jr. na mesma linha do lingüista americano M. A. K. Halliday , nos diz que � para cada vocãbulo hã sempre a possi bilidade, ou a existência potencial de uma derivação"6 1
Examinemos, então, a utilização que Ana Maria Machado faz dos sufixos que podem formar :
5.2 . 1 . 1 . 1 . 1.1 - Substantivos
E a segunda coisa não podia ter mais redondice . • . Ben- to 13
.. . apesar de todas as minhas andanças e voanças por mui tas épocas . . . Pr 61
s . 2 . 1. 1. 1. 1 . 2 - Adjetivos
Tinha bichos mais abraçadores, feito o tamanduá , Jabu ti 4
- Vocês não viram um tatu-bola muito bem bolado bem aqui? Bento 13
84 5. 2 . 1 . 1. 1 . 1. 3 - Verbos
Em relação aos verbos , não encontramos exemplos com a caracteris tica mencionada , ou seja , a combinação de sufixos com radicais a que ordi nariamente não se unem . O que verifi camos é que Ana Maria Machado lança mão ou de bras ileirismos ou palavras de pouco uso na linguagem corrente , resgatando esses vocábulos em contextos que passivelmente não s ão muito usados .
Tem jibóia quando es tá jiboiando . . . Bento 5
. . . debaixo da água morninha que caía, se esparramava e baru l hava gostosa , . . . Boi 16
5 . 2 . 1. 1 . 1. 1 . 4 - Sufixos Intensivos
Não incluímos os sufixos intensivos na re lação anterior por não formarem palavras novas, apenas sofrendo uma carga de
intensificação , permanecendo , porém , tai s palavras , com os seus sentidos primitivos .
Cons ideraremos sufixos i ntensivos aqueles que formarem os superlativos absolutos s intéticos e os graus aumentativo e diminutivo
5 . 2 . 1 . 1 . 1 . 1.4.1 - Superlativo Intensivo
Quanto aos superlativos intensivos , Mattoso Câmara Jr . coloca o assunto nos segui ntes termos :
Não h ã obri ga toriedade no emprego do adje t i vo com es se s ufixo de s uperlati vo, ou grau in ten s o . f a
85 rigor uma ques tão de es tilo ou p referência pes s oal. O u, ant es , trata-s e de um us o muito e s paça
do e es porá dico, em regra , e de tal s orte que certa freiUência nele logo parece abus o e excen tricidade 2. Ao que Said A li acres centa : á a forma adj etiva apropriada p ara exp res s ar que a qualid ade ou a tributo u ltrap as s a a no�ão comum que s e tem des s a qualidade ou atri buto 3.
O superlativo tem sentido claramente observável de in tensificação ou conteúdo suavemente irônico ou burlesco de paródia verbal. � digno de menção o fato de encontrarmos es se mecanismo ampliado até ao uso num substantivo e advérbio, com o transbordamento afetivo desse tipo de adjetivação o que , aliás, inj eta no estilo da autora forte dose de natura lidade, da espontaneidade viva na expressão falada em que o exag�ro pitoresco é fenômeno normal e comum .
Vejamos as ocorrências:
O novissimo síndico mandou quebrar o cimento, botar ter
ra .. • PU 24
... tinha alguém cozinhando uma comida cheirosissima . SÓ podia estar também gos tosissima . IQ 31
Não estou inventando porcaria nenhuma. � verdadeir{ssimo.
Boi 18
• . . embarafustaram a toda velocidade pelos reais corre dores compridíssimos e chegaram . .. Hist 12
.. . mestiço como Rafael e Marco, mui t íssimo mestiço como Luísa. Pr 83
Cabem ainda algumas palavras sobre o superlativo. Se considerarmos os seus dois tipos de manifestação, o sintéti co e o analítico, de modo geral, o emprego do sufixo imprime
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maior força intensiva à idéia . Aproveitando o primeiro exem plo acima apresentado, "O novíssimo síndico " parece-nos mais novo ( recente) - inclusive pela colocação do adjetivo - do . que um "sindico muito novo " .
Mas, é claro, a intensidade tem a ver também com o em prego do advérbio : dizer "pelos reais corredores excessiva mente compridos "equivaleria a "corredores compridíssimos" .
A linguagem popular, sempre em busca de maior expressi vidade, desconhecendo os advérbios chamados cultos (conside ravelmente, prodigiosamente, excessivamente e achando desbo tado o advérbio muito, inventa curiosos processos superlati vamentes como se verá em outra parte deste trabalho .
5. 2. 1. 1. 1. 1 . 4. 2 - Diminutivo
Segundo Mattoso Câmara Jr . , os diminutivos sao nomes substantivos derivados que, com grau implícito, denotam com sufixo lexical específico "diminuição de dimensão" em rela çao aos primitivos correspondentes, e aqueles que existem po dem ser usados ou não, numa determinada frase, de acordo com a vontade do falante .
Rocha Lima estabelece uma diferença interessante : aos substantivos atribui a gradação dimensiva, enquanto que aos adjetivos a gradação intensiva . Por outro lado, descortina possibilidades desse "acidente '' de grau aparecer excepcional mente nos pronomes, verbos e advérbios, com� as vezes, ocorre na obra de Ana Maria Machado . AÍ temos mais uma prova de di namicidade da língua, aberta a outras possibilidades que nao
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sejam as convencionais .
A autora, apesar de usar com fre�üência vocábulos com sufixos diminutivos, não os emprega, na sua quase totalidaqe com o sentido da "diminuição de dimensão " . à denotação dimi nutiva acrescenta normalmente a conotação de afetividade sen do que muitas vezes esta inclui aquela . Sobre esta questão Said Ali nos ensina que :
A per cepção dos s er es pequeninos , como crianças , cr ias de animais , obj etos de u s o comum del icados e de pequenas proporções , as s ocia- s e facilment e o s ent i do de carinho , e daí r es ulta dizerem - s e muitas vezes , t ão s omente par a des per t ar es t e s entido s ob a forma diminu t iva os nomes de s er es que na r e ali dad : n�o s i� pequenos , e es tender -se es t e u s o aos adJ e t i vos .
Acrescentamos que alguns assumem sentido pejorativo, depr€ciativo . Ã idéia de pequenez, às vezes, se junta a de coisa ridícula ou desprezível .
Em certos momentos o uso do sufixo inho e sua variante
z inho se alternará . Os procedimentos lingüísticos do emprego
de um ou de outro (vocábulo terminado por vogal ou consoan te) não serão obedecidos rigorosamente pois para Ana Maria Machado o importante é o resultado expressivo do emprego, podendo até, dependendo da ocasião, usar ora um ora outro exemplo . O ritmo da frase e o nível cultural do falante pos sivelmente interferem também na seleção .
As manifestações de ternura caracteri zam-se por sua in tensidade e natural exagero . Daí ser inevitável que o sufixo também se revestisse de um caráter superlativante .
A linguagem oral é uma fonte inesgotável de aproveita mento de certos recursos idiomáticos . A língua coloquial
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sempre gozou de grande liberdade de derivação e composição, graças ao seu caráter essencialmente afetivo . Ana Maria Ma chado não só aceita estas variações normais estabelecidas pelo idioma familiar, corno também produz, ela mesma, numero sas outras formas novas, dentro das linhas criativas natu rais da língua viva . Consegue, assim, efeitos de contraste de grande eficácia, corno, por exemplo, na aplicação de sufi xos aumentativos e diminutivos da expressão quotidiana a pa lavras que normalmente não os recebem . Com este recurso acres centa ao seu estilo a confiança, a intimidade, a naturalida de e a vivacidade da conversaçao.
Criações não se constituem, propriamente, em enriqueci mento do vocabulário, embora possam manter-se e até fixar-se pela imitação entre estilos individuais .
Eis exemplos de diminutivos:
E se eu não chegar logo com a comidinha de lez inho , o pa
trãozinho tem xilique . . . IQ 24
. . . , dá bem para reconhecer a cantoriazinha dele, . . . P 21 . . . tem que interromper e dar umas exp li cadinhas , . . . Pr 80
- Maj e s tadinha do meu coração, conta para mim, conta . . .
Hist 12
. . . o Preto Velho tinha dito que a ferrugem de Raul era pouquinha . R 38
.. . segurando no colo a irmã ainda bebez inha . . . O 14 . . . tinha uma amiga especial, uma bisavó - menininha lin da, linda, toda fofa, . . . Bisa 2 1
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